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As vivências teatrais do Projeto “Cala a boca já morreu”

No documento VERA SOLANGE PIRES GOMES DE SOUSA (páginas 49-52)

CAPITULO I: EM CENA, O GRUPO DE TEATRO DA UNIPOP.

Foto 3: Visão Panorâmica do Porão da Unipop

1.4. As vivências teatrais do Projeto “Cala a boca já morreu”

O projeto Cala Boca Já Morreu foi elaborado pelo Núcleo de Cultura da Unipop em1987. Inicialmente, teve a coordenação de Lucília Matos e, posteriormente, Wlad Lima, que deu ao projeto o caráter de experimentação teatral aos movimentos sociais. A partir do interesse dos alunos do curso de Teologia em aprofundarem conhecimentos sobre representação, sobre o fazer teatral, Wlad Lima propôs a Unipop um projeto que possibilitasse a vivência artística. Naquele período, anos oitenta, Belém não detinha espaços públicos para o

Teatro Popular e a Unipop assumiu a proposta do projeto cujo objetivo era a vivência da arte a partir dos experimentos teatrais.

Nesse período, o Porão foi utilizado como o espaço de referência para os encontros de todas as sextas-feiras e era aberto ao público em geral. Segundo Wlad Lima (2004), os encontros apresentavam “um trabalho mais anárquico que contaminava quem ia, ou de outra forma repudiava, pois quem entrava ali sofria impacto, uma coisa raivosa que despertava para a experimentação ou não”.

Durante o período de sua efetivação, muitas foram suas ações envolvendo as comunidades de bases, pois, segundo Wlad, a movimentação da Unipop se fazia com as paróquias, entidades não-governamentais e a comunidade de bairros de Belém. O relatório trienal demonstra, em dados estatísticos, que as ações promovidas pelo projeto abrangiam 50% do público total que passou pela Unipop. Com o projeto Cala Boca Já Morreu, não somente o teatro foi privilegiado. O espaço da Unipop foi utilizado, também, para oficinas de fotografia, de cinema, exposição áudio-visual sempre com o objetivo de participação popular.

Wlad Lima relata que, a princípio, o objetivo do Núcleo de Cultura era possibilitar a vivência da arte. A intenção da Unipop era possibilitar a formação humana na pluralidade e, com a parceria da cooperação internacional de verba, a Unipop teve condições de expandir as ações como exposições, oficinas culturais, cinema, o que só foram possíveis porque o projeto, no relatório anual, apresentava dados que confirmavam os gastos.

No início de 1993, a Unipop decidiu fazer um levantamento sobre a situação de planejamento e abrangência dos projetos viabilizados por ela. De acordo com o levantamento, as ações do projeto Cala Boca Já Morreu haviam influenciado não somente o teatro, mas, também, a abrangência de formação pela arte para as demais entidades de base. O resultado do levantamento apontou que 66% das 23 entidades envolvidas com a Unipop possuiam um setor de formação e mesmo assim, 88% delas recorriam à Unipop para ajudar na formação de seus militantes. Desse total de entidades que buscavam formação, 10% delas procuravam a formação específica em arte pelo projeto Cala boca Já Morreu.

Outro fato importante é que Cala Boca Já Morreu possibilitou a troca de experiências entre os alunos do curso de Teologia, artistas que já trabalhavam no teatro e o público. A cada sexta-feira, havia cerca de 60 pessoas, segundo Vanda, que discutiam e pensavam o teatro como uma arte revolucionária, com conteúdo crítico para refletir sobre a realidade.

Dessas discussões nasceu o projeto do Porão Cultural da Unipop que teve bastante repercussão na imprensa local, à época, sendo noticiado pelo Jornal O Liberal, conforme figura abaixo.

FIGURA 2: Unipop inaugura espaço cultural para o Telégrafo

Fonte: Jornal O Liberal Com as ações do Núcleo Cultural, a partir do projeto Cala Boca Já Morreu, a Unipop expandiu o seu diálogo com o público em geral a partir da notícia.

Após isso, o projeto Cala Boca Já Morreu foi colocado como eixo de formação humana pela via da arte e, então, constitui-se o projeto Arte Educação, atuante no Curso de Iniciação Teatral. O relatório da Unipop referente ao ano 1993 revela que o Núcleo Cultural conseguiu por meio do projeto Arte Educação, promover oficinas de canto, expressão corporal, teatro de formas animadas, leitura e interpretação de textos e a montagem do espetáculo Hamlet, dado como sucesso de público.

O projeto Cala Boca já Morreu investiu na arte-educação, principalmente no teatro e no que existia de criação artística. Assim, era necessária a produção de uma nova experiência teatral. "O movimento popular solicitava um teatro que dialogasse com a heterogeneidade, vários grupos de bairros, o público universitário, assim como donas de casa, artistas trabalhadores, pessoas sintonizadas com a arte, marcavam presença” como afirma Wlad, comentando o propósito da Unipop de fomentar a formação humana.

O espetáculo Hamlet foi o primeiro resultado da criação coletiva, na perspectiva popular. Nesse sentido, o projeto fortaleceu sua proposta no coletivo da Unipop, pois, no início, os alunos do Curso de Iniciação Teatral “sentiam-se um pouco marginalizados do projeto global da Unipop, pois todas as suas atividades fugiam aos padrões convencionais e acabavam “perturbando” as outras atividades” (UNIPOP, 1995, p.7). O espetáculo marca, também, o reconhecimento da potencialidade de cada integrante na composição coletiva: montagem, cenário, figurino, iluminação, sonoplastia, tudo foi constituído coletivamente, em uma ação de intervenção cultural pela participação.

O projeto Cala Boca Já Morreu investiu na busca dos elementos necessários para a formação pela Arte-educação. Essa foi a razão da sua constituição: um ponto de ousadia na arte de enfrentar o medo de experimentar. O projeto Cala Boca Já Morreu desencadeou, por conseqüência, o Projeto Arte-educação que compõe o Curso de Iniciação Teatral e o Grupo de Teatro da Unipop, oportunizando ainda um enredo histórico pontuado por roteiros de espetáculos que arcaram a atuação do Grupo durante os dezoito anos da Unipop, conforme destacarei a partir do próximo item.

No documento VERA SOLANGE PIRES GOMES DE SOUSA (páginas 49-52)