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No universo dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, as WebTVs surgem como ferramentas apropriadas pelas instituições para estabelecer o diálogo com os segmentos sociais e promover a democratização do conhecimento, na medida em que representam instrumentos de transparência do ensino, pesquisa e extensão.

Os IFs nasceram com a proposta de contribuir para o desenvolvimento local e regional, a partir da oferta de educação em diferentes níveis. De acordo com Pacheco (2011, p. 29), o plano pedagógico dos IFs transcende as barreiras do ensino técnico e científico, envolvendo cultura, trabalho e ciência com foco na

emancipação cidadã47. “O que está posto para os Institutos Federais é a formação de cidadãos como agentes políticos capazes de ultrapassar obstáculos, pensar e agir em favor de transformações políticas, econômicas e sociais [...]”. O objetivo não é só formar profissionais especialistas em tecnologias, licenciaturas e procedimentos técnicos, mas criar atores da sua própria história, formados com base em valores de cidadania, tolerância, sustentabilidade e inclusão.

Como parte integrante dos segmentos da sociedade, os IFs estão próximos da população, que, por sua vez, participa ativamente de decisões didático- pedagógicas discutidas em conselhos de ensino, pesquisa e extensão. O Conselho Superior, por exemplo, é o órgão máximo dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. De caráter consultivo e deliberativo, ele é composto por representantes de cada segmento acadêmico, além de membros de organizações populares e sindicais e pais de alunos. Os segmentos da sociedade civil também decidem sobre implantação de novos campi e os cursos que serão ofertados.

Kunsch (1992, p. 09-10), se referindo a universidades, destaca que elas precisam “canalizar suas potencialidades no sentido da prestação de serviço à comunidade, revigorando os seus programas de natureza cultural e científica e procurando irradiar junto à opinião pública a pesquisa, os debates, as discussões [...]”. Assim como nas universidades, os IFs precisam articular o seu Plano de Comunicação para difundir o conhecimento produzido através dos seus canais de relacionamento. E isso não deve ser visto como dever, mas como uma responsabilidade social.

Os documentos que regulamentam as atividades da comunicação nos IFs são restritos, visto que não há ainda uma política que direcione o trabalho dos profissionais da comunicação na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Embora não seja recomendado por lei, Vidor et al. (2011, p. 95) destacam que “seria importante também a unificação da política de comunicação de cada instituto, afirmando a sua identidade e potencializando a sua atuação regional”,

47A proposta político-pedagógica dos Institutos Federais de Educação, Ciências e Tecnologia consiste

em ofertar educação básica, através de cursos técnicos integrados e subsequentes ao Ensino Médio, inclusive da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) e com foco na formação inicial e continuada de trabalhadores, em sua maior parte presenciais, oferecendo alguns cursos também na modalidade a distância. Em nível superior, são oferecidos cursos de graduação, licenciatura e bacharelado, e até de pós-graduação através de especializações, mestrados e doutorados. “Nesse contexto, a transversalidade e a verticalização constituem aspectos que contribuem para a singularidade do desenho curricular nas ofertas educativas dessas instituições”. (PACHECO, 2011, p. 23).

sobretudo diante da criação recente dos IFs, nascidos a partir da fusão dos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), Escolas Agrotécnicas e Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais.

Um dos Institutos que elaboraram suas próprias Políticas de Comunicação é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. Para essa instituição, tendo como base a premissa de que a educação é um instrumento de promoção e reafirmação de cidadania, a comunicação no ambiente educacional também se volta para essa concepção, deixando de lado interesses de pessoas ou grupos, tendo como foco a equidade, justiça social, a realização plena dos cidadãos e o desenvolvimento nacional (IFSC, 2013). A Política de Comunicação do IFSC é fundamentada na participação, interação permanente, no respeito pelo outro e na construção e planejamento coletivos. Prevalece a ideia de que a comunicação e a educação se entrelaçam a partir de duas perspectivas: a que predomina no processo de ensino e aprendizagem, juntamente com concepções humanitárias, dialógicas e libertadoras; e a que promove interação com os públicos, pautando-se na ética, transparência e no atendimento a suas necessidades.

O IFSC também é um dos Institutos que utilizam a WebTV como ferramenta da Coordenadoria de Jornalismo. A IFSC TV48 oferece uma programação variada, composta por reportagens, entrevistas, documentários e transmissões ao vivo de eventos do Instituto. Os vídeos tratam de temas diversificados, ligados à sustentabilidade, cidadania, solidariedade, educação e cultura.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná também tem seu guia de princípios básicos da comunicação realizada no âmbito de uma instituição pública. O manual, quando comparado ao documento do IFSC, prioriza uma discussão mais aplicada, com foco na descrição de atividades e institucionalização de instrumentos. Apesar de conciso, o manual mostra que é prioridade no IFPR ter o cidadão no foco dos processos comunicativos, pautando-se por temas de interesse público. Com base nas considerações de Paulo Freire, a política interna dessa instituição ainda ressalta que “a Comunicação Pública se alia a princípios como mais diálogo e menos divulgação; com o compromisso de colocar o interesse da sociedade antes da conveniência da organização”. (IFPR, 2014, p. 03).

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Página da IFSC TV. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/ifsccomunicacao/featured>. Acesso em 10 mar. 2016.

De acordo com levantamento que fizemos em junho de 2016, as WebTVs são utilizadas como ferramentas da comunicação em 20 Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia49. Com a ausência de Política de Comunicação para regulamentar a atuação dessas hipermídias, não há como traçar um perfil das WebTVs, mostrando por exemplo, se seus conteúdos são de interesse público, se as matérias são produzidas através de processos colaborativos entre instituição e segmentos da sociedade ou se essas ferramentas são utilizadas exclusivamente na comunicação estratégica.

As WebTVs utilizadas nesse estudo, assim como blogs, sites, Webrádios e perfis institucionais em redes sociais, também são criadas com a finalidade de compartilhar as atividades desenvolvidas nos Institutos e pautar a mídia, de acordo com relato dos coordenadores do Canal IFPE e da TV Bem Baiano. No Canal IFPE, conforme destaca o jornalista e responsável pela criação da WebTV, Gil Aciolly Dantas Jacinto, quando entrevistado para esta pesquisa, a publicação de algumas matérias produzidas pela WebTV despertam o interesse de produtores que atuam em TVs locais, e os temas entram na pauta desses sistemas midiáticos. “É interessante que, quando a gente produz essas pautas [sugeridas pelo usuário], acaba despertando interesse da imprensa, por exemplo, que vê aquele material e nos liga, interessada em fazer aquela mesma matéria"50.

Na TV Bem Baiano, sempre que há uma produção nova, o link da matéria é enviado para o e-mail de jornalistas da mídia local e regional e, em alguns casos, esses assuntos se transformam em pautas nesses sistemas midiáticos, conforme relata Vinícius de Jesus Almeida, coordenador da WebTV. “A TVE, por exemplo, nos convidou para falar do IF Baiano, em 2015, através de uma entrevista com o Reitor, a partir de uma matéria publicada por nossa TV”51.

49Os IFs que possuem WebTV são: Instituto Federal Farroupilha, Instituto Federal de Santa Catarina,

Instituto Federal Catarinense, Instituto Federal Fluminense, Instituto Federal do Rio de Janeiro, Instituto Federal do Sul de Minas, Instituto Federal do Norte de Minas, Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, Instituto Federal de Mato Grosso, Instituto Federal de Sergipe, Instituto Federal do Piauí, Instituto Federal de Pernambuco, Instituto Federal da Paraíba, Instituto Federal do Maranhão, Instituto Federal do Ceará, Instituto Federal Baiano, Instituto Federal do Tocantins, Instituto Federal de Rondônia, Instituto Federal do Pará e Instituto Federal do Acre.

50Trecho da entrevista com o jornalista e Assessor de Comunicação do IFPE, Gil Aciolly, via

webconferência, concedida para a pesquisadora no dia 26 de fevereiro de 2016. A entrevista completa está disponível nos Apêndices deste trabalho.

Não há registros de casos em que matérias produzidas pela TV IFPB tenham despertado o interesse de sistemas midiáticos locais ou regionais e influenciado a produção de pautas.

Nas seções seguintes, trataremos das WebTVs nos IFs selecionados para este estudo. Começaremos pela TV IFPB, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba.