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Após recebimento da carta de anuência da Secretaria Municipal de Campina Grande (ANEXO D), o presente estudo foi registrado na Plataforma Brasil e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UEPB, o qual obteve parecer favorável sob número 2.530.586 e CAAE: 84353818.0.0000.5187.

Na ocasião de início da coleta de dados os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), todavia, aqueles que não conseguirem assinar o nome tem a opção de fazer a impressão datiloscópica do dedo polegar da mão direita.

Cada participante foi esclarecido sobre os objetivos e benefícios da pesquisa e teve assegurado o sigilo, a privacidade e o direito a declinar, em qualquer momento da investigação, sem qualquer tipo de ônus devido a sua desistência, conforme preconiza as Resoluções 466/2012 e 506/2016 do Conselho Nacional de Saúde(71,72).

6. RESULTADOS

Esta sessão está apresentada conforme determina as normas internas do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública/UEPB, por meio de um artigo científico original, o qual foi submetido a avaliação de periódico qualificado e com impacto acadêmico e científico na área de saúde pública.

O artigo intitula-se: ―Influência de fatores sociodemográficos e clínicos no autocuidado de pessoas com lesão medular‖. Verifica-se a associação entre fatores sociodemográficos e a capacidade de autocuidado em pessoas com lesão medular, respondendo aos objetivos dessa dissertação.

ARTIGO

INFLUÊNCIA DE FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS E CLÍNICOS NO AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM LESÃO MEDULAR

RESUMO

Objetivou-se verificar a associação entre a capacidade de autocuidado e os fatores sociodemográficos e clínicos de pessoas com lesão medular. Trata-se de um estudo tipo transversal, analítico e com abordagem quantitativa desenvolvido no âmbito das UBS de Campina Grande, PB, Brasil, no período de dezembro de 2018 a março de 2019. Participaram 65 indivíduos que responderam ao Instrumento de Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar às Pessoas com Lesão Medular. A associação entre as variáveis foi testada por meio do Qui-quadrado, Teste Exato de Fisher e razão de prevalência. Verificou-se que a escolaridade (p=0,016), faixa etária na época da lesão (p=0,015), presença de condições pregressas de saúde (p=0,015), realização de cirurgias após a LM (p=0,010), alterações no padrão vesical (0,040) e intestinal (p=0,006) e necessidade de acessibilidade no domicilio (p=0,005) apresentaram associação com a capacidade de autocuidado. Conclui-se que fatores sociodemográficos e clínicos podem influenciar a capacidade de autocuidado.

Introdução

A lesão medular (LM) ocorre devido ao dano na medula que resulta em perda transitória ou permanente da função motora, sensorial e autonômica. A etiologia varia entre diferentes países, etnias, idade e sexo, podendo ser traumática quando envolve acidentes de trânsito, quedas, violência, lesões relacionadas ao espore e, não traumática quando deriva de doenças degenerativas, infecciosas, neoplásicas, congênitas(1).

O coeficiente de incidência de LM no Brasil é desconhecido e não existem dados estatísticos oficiais quanto ao número de pessoas com LM, visto que esta condição não é sujeita à notificação, além disso, ressalta-se a escassez de estudos epidemiológicos com esse público(2). Estima-se que aconteçam a cada ano no Brasil, mais de 10 mil novos casos de LM, sendo o trauma a causa predominante, representando uma incidência muito elevada quando comparada com outros países(3).

A LM é um grave problema de saúde pública, uma vez que custos de cuidados à saúde dessas pessoas são elevados. Além disso, pacientes com LM tendem a sofrer reinternações hospitalares e desenvolver complicações secundárias, contribuindo ainda mais para o aumento dos custos em saúde(2,4).

Assim, as consequências da LM interferem no desempenho das atividades de vida diária, a exemplo: caminhar, alimentar-se, mudar de decúbito, vestir-se. A pessoa acometida por essa condição, comumente apresenta déficit de autocuidado, sendo considerado dependente e assim necessitando de auxílio profissional, a exemplo dos cuidadores de enfermagem e/ou auxílio de cuidadores leigos, como familiares, para o desempenho das atividades diárias(5). Destarte, são relevantes as investigações que explorem a capacidade de autocuidado das pessoas com LM, objeto de investigação do presente estudo.

O autocuidado se relaciona à autonomia, independência e responsabilidade individual para comportamentos saudáveis, bem como o desempenho de atividades imprescindíveis para administrar e monitorar a situação de saúde(6). Concernente ao enfermeiro, a promoção do autocuidado é mister, especialmente quando se trata de uma situação crônica, a exemplo da LM, desse modo o autocuidado abrange atividades e habilidades que a pessoa deve aprender e pôr em prática, de maneira que contribua na melhora de sua QV(6).

Em se tratando da assistência de enfermagem às pessoas com LM, estes profissionais realizam diversas intervenções, incluindo atendimento direto ao paciente, implementação de cuidados de enfermagem, educação em saúde direcionada para pacientes e cuidadores, gestão de cuidados e apoio emocional para pacientes e suas famílias. Ademais, capacitam os

pacientes, familiares ou cuidadores em assumir o controle e gerenciar seus próprios cuidados futuros(7).

Acredita-se no pressuposto teórico de que fatores sociais e demográficos podem influenciar negativamente na capacidade funcional e consequentemente na capacidade para o autocuidado em pessoas com LM(8,9). Nesse contexto, objetivou-se verificar a associação entre a capacidade de autocuidado e os fatores sociodemográficos e clínicos de pessoas com LM.

O estudo se justifica diante de algumas lacunas nas publicações de dados oficiais acerca da LM no Brasil; pelo potencial em fornecer informações que contribuam para o fortalecimento de políticas públicas e o planejamento de ações de saúde centradas em intervenções específicas para melhorar os hábitos de vida e a autonomia dessas pessoas.

Métodos

O presente estudo é do tipo transversal, analítico e com abordagem quantitativa, realizado no período de dezembro de 2018 a março de 2019, em todas as 84 Unidades de Saúde da Família (USF) da cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Não foi realizado cálculo amostral, visto que a prevalência de LM nessa população era desconhecida, logo, optou-se por uma amostra censitária, incluindo todas as pessoas com LM dessa localidade. Assim, participaram 65 sujeitos que atenderam aos critérios de elegibilidade: apresentar lesão medular completa ou incompleta por qualquer etiologia, ter 18 anos ou mais, residir em Campina Grande e estar cadastrado na USF.

A estratégia para aproximação dos sujeitos e a coleta de dados foi a visita domiciliária, com o acompanhamento do Agente Comunitário de Saúde da Estratégia Saúde da Família responsável por cada micro-área. No primeiro momento, a pesquisa foi explicada e os participantes convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, as pessoas que concordaram em participar responderam ao Instrumento para Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar às Pessoas com Lesão Medular (INCEVDOP- LM), desenvolvido e validado quanto ao conteúdo por Coura(10), e posteriormente validado clinicamente por Dantas(11).

O INCEVDOP-LM tem por finalidade nortear o enfermeiro na consulta domiciliar às pessoas com LM, contribuindo para a determinação do grau de dependência no desempenho das atividades diárias e consequentemente para a identificação das necessidades de autocuidado dos indivíduos.

O INCEVDOP-LM constitui-se de cinco fases: I-Acolhimento; II-Identificação; III- Requisitos de autocuidado de desenvolvimento; IV-Requisitos de autocuidado universais; V- Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde. Além de dispor de orientações acerca do seu preenchimento(10).

A fase Acolhimento diz respeito ao contato inicial entre profissional e indivíduo, visando favorecer o estabelecimento do vínculo e confiança. Subsequente ao Acolhimento, o tópico Identificação proporciona o conhecimento das características sociodemográficas de cada pessoa(10).

Quanto aos Requisitos de autocuidado de desenvolvimento, são contempladas questões referentes aos antecedentes pessoais, familiares e o exame físico. Os Requisitos de autocuidado universais incluem a investigação de seis domínios e suas facetas, abrangendo aspectos nutricionais, de higiene, eliminações, de mobilidade, sociais e psicológicos. Concernente ao tópico Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, são abortadas as questões relacionadas à Sistematização da Assistência de Enfermagem, queixas e a programação das próximas visitas domiciliares(10).

Ao final de cada um dos Requisitos de autocuidado universais há um espaço destinado a verificar a pontuação global, bem como determinar os escores, os quais são obtidos a partir das respostas dos indivíduos com LM, o entrevistador irá assinalar as opções correspondentes, somar as pontuações, posteriormente, determinar o escore e classificar o indivíduo como: Totalmente dependente; Substancialmente dependente; Moderadamente dependente; Levemente dependente e Totalmente independente(10).

Cada questão a ser respondida possui uma pontuação que varia de 0 à 20 pontos, o indivíduo que possui total dependência para realizar uma atividade marca 0 pontos, quando possui substancial dependência marca 5 pontos, para dependência moderada marca 10 pontos, leve dependência corresponde à 15 pontos e para total independência no desempenho da atividade são atribuídos 20 pontos(10).

O instrumento permite classificar o participante em até 5 escores, para pontuações até 0 pontos ele é classificado como Escore 1 (total dependência), correspondendo ao Sistema Totalmente Compensatório, para as pontuações de 5 à 20 pontos é classificado como Escore 2 (substancial dependência), pontuações de 25 à 40 pontos o classificam como Escore 3 (moderada dependência), de 45 à 75 pontos é classificado como Escore 4 (leve dependência), esses três escores (2, 3 e 4) o rotulam para o Sistema Parcialmente Compensatório, por fim, 80 pontos o classificam como Escore 5 (total independência), correspondendo ao Sistema Apoio-Educação(10).

Os dados foram processados e analisados no software SPSS versão 20.0 para Windows e apresentados em tabelas. Utilizou-se a estatística descritiva para apresentar as variáveis, por meio de frequências absolutas e relativas.

Para verificar o nível de significância entre as associações da capacidade de autocuidado e os fatores sociodemográficos, efetuou-se uma dicotomização dos escores totais do INCEVDOP-LM (dependente = total dependência, substancial dependência e moderada dependência; independente = leve dependência e total independência), compararam-se as proporções de prevalência por meio do teste de Qui-quadrado ou Fisher quando as frequências foram menores que cinco. A razão de prevalência também foi utilizada em variáveis que possuíssem associações ou seja, p>0,05, considerando 95% como intervalo de confiança.

O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba, o qual obteve parecer favorável sob número 2.530.586 e CAAE: 84353818.0.0000.5187. Foram respeitados os princípios éticos de privacidade, sigilo, autonomia e direito dos participantes de declinar da participação a qualquer momento e sem nenhum ônus.

Resultados

Na Tabela 1 são apresentados os dados sociodemográficos relativos à amostra. A maioria dos participantes é do sexo masculino (70,8%); a idade variou de 18 à 79 anos (média = 43,3; DP ± 14,5), sendo a faixa etária mais prevalente acima de 40 anos (50,8%); a maioria declarou-se sem companheiro (58,5%), com credo religioso (83,1%), com até de 10 anos estudo (63,1%), não branca (60%), aposentada (53,8%) e com renda de até um salário mínimo (93,8%).

Tabela 1: Perfil sociodemográfico das pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil,

2019. Variáveis N % Sexo Feminino 19 29,2 Masculino 46 70,8 Faixa etária 18 – 40 anos 32 49,2

Estado civil

Com companheiro 27 41,5 Sem companheiro 38 58,5

Religião

Com credo religioso 54 83,1 Sem credo religioso 11 16,9

Escolaridade

Até 10 anos de estudo 41 63,1 Mais de 10 anos de estudo 24 36,9

Raça

Branca 26 40

Não branca 39 60

Ocupação

Aposentado 35 53,8 Recebe benefício social 17 26,2 Exerce atividade remunerada 8 12,3 Exerce atividade não remunerada 5 7,7

Renda per capita

1 salário mínimo 61 93,8 2 salários mínimos 4 6,2

Fonte: Dados da pesquisa. n=65; *Salário mínimo atual = R$ 998,00.

Na Tabela 2 constam os dados referentes ao perfil clínico das pessoas com LM, incluindo dados referentes à lesão propriamente dita, ao histórico pessoal e antecedentes familiares.

Quanto ao tempo de LM, a média foi de 13,2 anos, observa-se que a faixa etária adulto jovem foi mais prevalente na época da LM (52,3%) a média de idade no período da lesão foi de 30,2 anos, a etiologia traumática foi mais frequente (64,6%), os seguimentos medulares mais atingidos foram torácico e lombar (38,5% cada), a maioria das lesões foi incompleta (70,8%), a paraplegia foi mais prevalente (90,8%), 76,9% relataram que possuem ou já possuíram alguma complicação da LM, grande parte da amostra necessitou de internações hospitalares após a LM (70,8%), 69,2% apresentou alguma queixa no momento da pesquisa (exemplo: dor, espasmos), foram prevalentes alterações no padrão de eliminação vesical (61,6%) e intestinal (55,4%), 78,5% utilizavam a cadeira de rodas como dispositivo de locomoção, a maioria não apresentou lesão na pele (72,3%) e 75,4% referiram ausência de acessibilidade na residência.

Tabela 2: Perfil clínico das pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil, 2019. Variáveis N % Tempo de lesão 0 – 19 anos 51 78,5 20 – 39 anos 9 13,8 40 – acima de 60 anos 5 7,7

Faixa etária na época da LM

0 – 30 anos 33 50,8 Acima de 30 anos 32 49,2 Etiologia Traumática 42 64,6 Não traumática 23 35,4 Nível Cervical 12 18,5 Torácico 24 36,9 Lombar 25 38,5 Sacral 2 3,1 Não sabe 2 3,1 Magnitude Completa 18 27,7 Incompleta 47 72,3 Resultante Paraplegia 53 81,5 Tetraplegia 12 18,5 Complicações Possui/possuiu 50 76,9 Não possui/possuiu 15 23,1 Situação vacinal Completa 36 55,4 Incompleta 29 44,6 Condições pregressas Ausentes 46 70,8 Presentes 19 29,2 Internações após a LM Não 19 29,2 Sim 46 70,8 Cirurgias após a LM Não 37 56,9 Sim 28 43,1

Fonte: Dados da pesquisa; n=65.

Conforme dados da Tabela 3, as facetas com maiores percentuais de independência foram: capacidade para comer e preparar os alimentos (84,6%) e lavar-se (83,1%), já as facetas mais frequentes para dependência incluíram a capacidade para alterar os hábitos alimentares (56,9%), capacidade para mobilizar-se fora de casa (73,8%) e estabelecer relações sociais (60%). Não 32 49,2 Sim 33 50,8 Antecedentes familiares Não possui 12 18,5 Possui 46 70,8 Não sabe 7 10,8 Queixa atual Ausente 20 30,8 Presente 45 69,2 Situação do sono Sem alterações 26 40 Alterado 39 60 Eliminação vesical Espontânea 25 38,4 Alterada 40 61,6 Eliminação intestinal Espontânea 29 44,6 Alterada 36 55,4 Mobilidade Cadeira de rodas 51 78,5 Deambula com dispositivo 11 16,9 Deambula sozinho 1 1,5 Não deambula 2 3,1 Condição da pele Ausência de lesão 47 72,3 Presença de lesão 18 27,7 Acessibilidade na residência Não necessita 16 24,6 Necessita 49 75,4

Tabela 3: Frequências das facetas da capacidade de autocuidado em pessoas com LM.

Campina Grande/PB, Brasil, 2019.

Variáveis Capacidade de autocuidado Dependente Independente

Faceta N % N %

Capacidade para comer e preparar os alimentos 10 15,4 55 84,6 Capacidade para alterar os hábitos alimentares 37 56,9 28 43,1 Capacidade para lavar-se 11 16,9 54 83,1 Capacidade para arrumar-se 16 24,6 49 75,4 Capacidade para alterar os hábitos de higiene 20 30,8 45 69,2 Capacidade para manter o ambiente limpo 29 44,6 36 55,4 Capacidade para evacuar e realizar a micção 35 53,8 30 46,2 Capacidade para mobilizar-se 16 24,6 49 75,4 Capacidade para mobilizar-se fora de casa 48 73,8 17 26,2 Capacidade para promover a própria saúde 22 33,8 43 66,2 Capacidade para realizar atividades de lazer 29 44,6 36 55,4 Capacidade para estabelecer relações sociais 39 60 26 40 Capacidade para enfrentar as mudanças

decorrentes da lesão

18 27,7 47 72,3

Capacidade para manter-se espiritualmente bem 13 20 52 80

Fonte: Dados da pesquisa; n=65.

Os escores dos domínios corresponderam às medias das pontuações das facetas. Verificou-se que o domínio nutrição apresentou a pontuação média de 52,7; o domínio higiene obteve média de 53,3 pontos; o domínio eliminação alcançou a pontuação média de 42,8; a pontuação média do domínio físico foi de 43,6; para o domínio social a pontuação média atingiu 39,4; o domínio psicológico atingiu a pontuação média de 57,5 e a média da pontuação global do instrumento foi de 48,2. Assim, três domínios apresentaram classificação de leve dependência (45 a 75 pontos), bem como o escore global e, para os domínios eliminação, físico e social os indivíduos foram classificados como moderadamente dependentes (25 a 40 pontos).

Verificou-se associação entre escolaridade (p=0,016) e a capacidade de autocuidado (Tabela 4).

Tabela 4: Associações entre o perfil sociodemográfico e capacidade para o

autocuidado em pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil, 2019. Variáveis sociodemográficas Capacidade de autocuidado p valor †RP ‡(IC95%) Dependente Independente Sexo N % N % 0,875 Masculino 16 34,8 30 65,2 Feminino 7 36,8 12 63,2 Faixa etária 0,085 Até 40 anos 8 25 24 75 Acima de 40 anos 15 45,5 18 54,4 Estado civil 0,814 Com companheiro 10 37 17 63 Sem companheiro 34,2 13 25 65,8 Religião 0,733* Com credo religioso 20 37 34 63

Sem credo religioso 3 27,3 8 72,7

Escolaridade

0,016 2,780

(1,072-7,213) Até 10 anos de estudo 19 46,3 22 53,7

Mais de 10 anos de estudo 4 16,7 20 83,3 Ocupação 0,242* Aposentado/Beneficio social 20 38,5 32 61,5 Exerce atividade remunerada/não remunerada 3 23,1 10 76,9 Raça 0,672 Branca 10 38,5 16 61,5 Não branca 13 33,3 26 66,7 Renda 1,000* 1 salário mínimo 22 36,1 39 63,9 2 salários mínimos 1 25 3 75

Fonte: Dados da pesquisa; n=65; Independente = apresentou pontuação referente à

leve dependência ou independência total; Dependente = apresentou pontuação referente à dependência total, substancial dependência e moderada dependência; p valor < 0,05; Teste X2. *Para as frequências menores do que cinco, considerou-se o teste de Fisher; † RP = Razão de prevalência; ‡IC95% = Índice de confiança (95%).

Na Tabela 5, percebe-se que a idade que possuía quando sofreu a lesão (p=0,015), a presença de condições pregressas de saúde (p=0,015), a realização de cirurgias após a LM (p=0,010), condições de eliminação vesical (0,040) e intestinal (p=0,006) e a necessidade de adaptação nos cômodos da residência (p=0,005) são fatores associados com a capacidade de autocuidado em pessoas com LM.

Tabela 5: Associações entre o perfil clínico e capacidade para o autocuidado em

pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil, 2019.

Variáveis clínicas Capacidade de autocuidado p valor †RP ‡ (IC95%) Dependente Independente Tempo de lesão 0,754* 0 – 19 anos 19 37,3 32 62,7 20 anos ou mais 4 28,6 10 71,4

Faixa etária na época da LM 0,015 0,424 (0,202-0,892) 0 – 30 7 21,2 26 78,8 30 ou mais 16 50 16 50 Causa da LM 0,537 Traumática 16 38,1 26 61,9 Não traumática 7 30,4 16 69,6 Nível** 0,546 Cervical/Torácico 12 33,3 24 66,7 Lombar/sacral 11 40,7 16 59,3 Magnitude 0,427 Completa 5 27,8 13 72,2 Incompleta 18 38,3 29 61,7 Resultante 0,095* Paraplegia 16 30,2 37 69,8 Tetraplegia 7 58,3 5 41,7 Condições pregressas 0,015 0,451 (0,243-0,837) Ausentes 12 26,1 34 73,9 Presentes 11 57,9 8 42,1 Cirurgias após a LM 0,010 2,724 (1,152-6,442) Não 18 48,6 19 51,4 Sim 5 17,9 23 82,1 Situação do sono 0,244 Sem alterações 7 26,9 19 73,1 Alterado 16 41 23 59

0,040 0,444 (0,189-1,046) Espontânea 5 20 20 80 Alterada 18 45 22 55 Eliminação intestinal 0,006 0,345 (0,146-0,816) Espontânea 5 17,2 24 82,8 Alterada 18 50 18 50 Mobilidade 0,284* Cadeira de rodas/dispositivo 21 33,9 41 66,1 Deambula sozinho/não deambula 2 66,7 1 33,3 Condição da pele 0,127 Ausência de lesão 14 29.8 33 70.2 Presença de lesão 9 50 9 50 Acessibilidade na residência 0,005 0,139 (0,020-0,952) Não necessita 1 6,2 15 93,8 Necessita 22 44,9 27 55,1

Fonte: Dados da pesquisa; n=65; Independente = apresentou pontuação referente à

leve dependência ou independência total; Dependente = apresentou pontuação referente à dependência total, substancial dependência e moderada dependência; p valor < 0,05; Teste X2. *Para as frequências menores do que cinco, considerou-se o teste de Fisher; †RP = Razão de prevalência; ‡IC95% = Índice de confiança (95%).**Dois participantes não souberam informar o nível da sua lesão.

Discussão

O sexo masculino foi predominante entre os participantes do estudo. Tal constatação converge com a literatura nacional e internacional(12-14). Além disso, um estudo desenvolvido em Fortaleza, com 74 pessoas com LM, evidenciou que o sexo masculino apresenta maior dependência funcional(9).

A faixa etária acima de 40 foi a mais prevalente, divergindo de achados da literatura(12- 14)

. Homens jovens estão mais expostos à violência e acidentes de trânsito, fatores de risco para LM traumáticas(9).

Quanto às demais variáveis sociodemográficas, houve predomínio dos indivíduos sem companheiro, com baixa escolaridade e baixa renda. Tais resultados encontram-se em conformidade com a literatura(12.15,16). O predomínio de indivíduos sem companheiro pode ter

relação com as alterações físicas proporcionadas pela lesão, como perda do controle esfincteriano, e consequente dificuldade em relacionar-se(17). A baixa escolaridade em pessoas com LM pode correlacionar com a dificuldade em retomar os estudos e, a baixa renda se relaciona com a escassa inserção no mercado de trabalho após a lesão(15).

Com relação a raça e a religião, verificou-se a prevalência de não brancos e com credo religioso. Um estudo metodológico desenvolvido no Ceará com o objetivo de construir e validar uma cartilha educativa sobre atividade sexual de pessoas com LM, evidenciou as mesmas características(16). Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, grande parte da população brasileira se autodeclara não branca(18), o que se deve à mistura de etnias na nossa matriz. A crença religiosa parece ser uma estratégia para melhorar a qualidade de vida (QV) da pessoa com LM(19).

Os participantes desse estudo eram em sua maioria aposentados por invalidez, achados que concordam com a literatura(20). A situação de trabalho após a LM é inferior comparada a da população em geral(21,22), pode haver associação com dificuldade de inserção no mercado de trabalho para pessoas com LM, mesmo na existência de legislação que promova a inserção dessa população no mercado de trabalho. A literatura esclarece que após a LM, as pessoas tem dificuldade em se manter ocupadas de forma eficaz(23).

Quanto ao tempo de LM, apesar do envelhecimento populacional e dos avanços na assistência à saúde que promovem um aumento na sobrevida de pessoas com LM(24), na presente investigação, o tempo de LM foi inferior a 20 anos na maioria dos participantes.

Acerca da faixa etária quando sofreu a lesão, a maioria era adulto jovem (até 30 anos). Um estudo de coorte desenvolvido no Japão detectou que em LM traumáticas a faixa etária adulto jovem foi a mais acometida(25). A etiologia mais comum da LM foi a traumática, sendo as lesões neurológicas incompletas prevalentes em grande parte dos participantes. Um estudo transversal com 1.549 pacientes com LM realizado na Suíça, demonstrou que a etiologia traumática é mais prevalente, sendo mais comum a lesão incompleta(26).

Quanto ao nível da LM, os níveis torácico e lombar foram mais frequentes. De acordo com a literatura nacional e internacional, em pessoas que tiveram LM traumática o nível cervical foi o mais acometido seguido pelo torácico e lombar(25,27). Dados de uma pesquisa realizada no Japão demonstram que lesões torácicas e lombares foram mais comuns em pessoas com LM não traumática(25).

A paraplegia foi prevalente para esta amostra, um estudo transversal realizado na Arábia Saudita com 121 indivíduos e outro estudo desenvolvido no Brasil no estado do Rio Grande

do Norte com abordagem qualitativa e amostra de 33 pescadores com LM, apresentaram resultados semelhantes(12,15).

Alterações no padrão de sono foram relatadas entre os participantes deste estudo, essas

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