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Avaliação da capacidade de autocuidado em pessoas com lesão medular

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA

ALANA GONÇALVES XAVIER

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE AUTOCUIDADO EM PESSOAS COM LESÃO MEDULAR

CAMPINA GRANDE

2019

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ALANA GONÇALVES XAVIER

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE AUTOCUIDADO EM PESSOAS COM LESÃO MEDULAR

Dissertação apresentada à Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, em cumprimento dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública, Área de Concentração: Saúde Pública.

Orientador: Prof. Dr. Alexsandro Silva Coura

CAMPINA GRANDE

2019

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ALANA GONÇALVES XAVIER

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE AUTOCUIDADO EM PESSOAS COM LESÃO MEDULAR

Dissertação apresentada à Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, em cumprimento dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública, Área de Concentração: Saúde Pública.

Aprovado em: 31 de maio de 2019.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Prof. Dr. Alexsandro Silva Coura (Orientador)

Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

____________________________________________________ Prof. Dra. Inacia Sátiro Xavier de França (Membro interno)

Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

____________________________________________________ Profa. Dra. Alexsandra Rodrigues Feijão (Membro externo)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me sustentado e me conduzido durante essa jornada.

A Bernardo, meu filho, por ter sido o combustível diário que me fez chegar até o fim.

A Deyvisson, meu esposo, que me incentivou mesmo antes da aprovação no processo

seletivo, que compreendeu minhas ausências e me deu suporte quando necessitei.

A minha mãe e meu pai, pelo incentivo, pelo investimento em minha educação e por se

fazerem sempre presentes.

As amigas Renata Clemente, Mayara Araújo, Amanda Rangel, Renata Araújo e Francilene Maciel, pois sem a contribuição delas neste eu não teria chegado até aqui, sou

grata por todos os momentos difíceis e felizes que partilhamos.

Ao professor Dr. Alexsandro Silva Coura, pelo aceite em me orientar, por ter me guiado na

construção desta pesquisa e por contribuir para o meu crescimento profissional.

Aos professores Dr. Alessandro Leite Cavalcanti, Dra Alexsandra Rodrigues Feijão e Dra Inácia Sátiro Xavier de França, pelas valiosas contribuições neste trabalho.

Aos demais professores do programa, por todo aprendizado acadêmico e de vida.

Aos colegas de curso, pela parceria, apoio e pelos momentos divididos juntos.

Aos colegas do grupo de pesquisa, pelas contribuições em vários momentos.

Aos participantes do estudo, por aceitarem colaborar com a pesquisa e por partilhar suas

histórias de vida.

Aos profissionais das Unidades de Saúde da Família, por colaborarem com a coleta dos

dados e pela receptividade.

Ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, pela oportunidade que me foi dada.

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RESUMO

XAVIER, A. G. Avaliação da capacidade de autocuidado em pessoas com lesão medular. 2019. 80 fls. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande/PB, 2019.

As pessoas com lesão medular (LM) estão propensas a complicações secundárias que podem reduzir sua qualidade de vida. A Teoria do Autocuidado propõe a participação ativa do sujeito na sua terapia visando à aquisição de independência. O objetivo desse estudo foi avaliar a capacidade de autocuidado em pessoas com LM. Trata-se de um estudo transversal, analítico e com abordagem quantitativa. Desenvolvido em Unidades de Saúde da Família do município de Campina Grande, Paraíba, Brasil, e nos domicílios de pessoas com LM adscritas nas USF, no período de dezembro de 2018 a março de 2019. A amostragem foi do tipo censitária, composta por 65 pessoas com idade igual ou maior de 18 anos. Foi utilizado o Instrumento para Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar às Pessoas com Lesão Medular, o qual permite classificar o indivíduo quanto ao grau de dependência. Os dados coletados foram analisados por meio do programa estatístico SPSS, versão 20.0 para Windows, e apresentados por meio de tabelas. As associações consideraram os intervalos de confiança em 95% (p<0,05). Foi feita a comparação com as proporções das frequências por meio do Teste Qui-quadrado e Teste de Exato de Fisher. Esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com os parâmetros da Resolução n° 466/2012 e da Resolução n° 506/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. O projeto obteve aprovação do CEP UEPB, parecer 2.530.586 e CAAE: 84353818.0.0000.5187. Os resultados foram apresentados por meio de um artigo científico derivado da pesquisa. Verificou-se predomínio de indivíduos do sexo masculino (70,8%), com média de idade de 43,3 anos, sem companheiro (58,5%), baixa escolaridade (63,1%), não brancos (60%) e renda per capita de até 1 salário mínimo (93,8%). Constatou-se o domínio da etiologia traumática (64,6%), lesão incompleta (72,3%) e paraplegia (81,5%). As facetas que apresentaram maior dependência foram: capacidade para mobilizar-se fora de casa e estabelecer relações sociais. A amostra foi classificada como grau leve de dependência, visto que apresentou pontuação global média de 48,2. Foram detectadas associações entre escolaridade (p=0,016), faixa etária na época da lesão (p=0,015), presença de condições pregressas de saúde (p=0,015), realização de cirurgias após a LM (p=0,010), alterações no padrão vesical (p=0,040) e intestinal (p=0,006) e, necessidade de acessibilidade no domicilio (p=0,005) com a capacidade de autocuidado. Constatou-se que os fatores sociodemográficos e clínicos podem interferir na capacidade de autocuidado em pessoas com LM. Acredita-se ter contribuído para a reflexão sobre essa problemática e, para o aperfeiçoamento da assistência de enfermagem, que deve avaliar esses aspectos na atenção a esse grupo.

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ABSTRACT

XAVIER, A. G. Evaluation of self-care capacity in people with spinal cord injury. 2019. 80 sheets. Dissertation (Mastership) - Postgraduate Program in Public Health, State University of Paraíba, Campina Grande / PB, 2019.

eople with spinal cord injury (SCI) are prone to secondary complications that can reduce their quality of life. The Self-Care Theory proposes the active participation of the subject in his therapy aiming at the acquisition of independence. The objective of this study was to evaluate the capacity of self-care in people with SCI. This is a cross-sectional, analytical and quantitative approach. Developed in Family Health Units of the city of Campina Grande, Paraíba, Brazil, and in the households of people with LMs enrolled in the FHU, from December 2018 to March 2019. The sample was a census type, composed of 65 people aged 18 or over. The Nursing Consultation Instrument was used in the Home Visit to People with Spinal Cord Injury, which allows to classify the individual as to the degree of dependence. The collected data were analyzed through the statistical program SPSS, version 20.0 for Windows, and presented through tables. The associations considered the 95% confidence intervals (p <0.05). Comparison with frequency proportions was done using the Chi-square test and Fisher's Exact Test. This research was developed in accordance with the parameters of Resolution 466/2012 and Resolution No. 506/2016 of the National Health Council of the Ministry of Health. The project was approved by UEPB CEP, opinion 2,530,586 and CAAE: 84353818.0 .0000.5187. The results were presented through a scientific article derived from the research. There was a predominance of males (70.8%), mean age of 43.3 years, without partner (58.5%), low level of schooling (63.1%), non-white (60%) and per capita income of up to 1 minimum wage (93.8%). The domain of traumatic etiology (64.6%), incomplete lesion (72.3%) and paraplegia (81.5%) were found. The facets that showed greater dependence were: ability to mobilize outside the home and establish social relations. The sample was classified as a mild degree of dependence, since it presented an average global score of 48,2. Associations between schooling (p = 0.016), age group at the time of injury (p = 0.015), presence of previous health conditions (p = 0.015), surgery after SCI (p = 0.010), changes in bladder (p = 0.040) and intestinal pattern (p = 0.006), and the need for accessibility at home (p = 0.005) with the capacity for self-care. It was found that sociodemographic and clinical factors may interfere with self-care capacity in people with SCI. It is believed to have contributed to the reflection on this problem and, for the improvement of the nursing care, that must evaluate these aspects in the attention to this group.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Perfil sociodemográfico das pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil,

2019 ... 37

Tabela 2. Perfil clínico das pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil, 2019 ... 39 Tabela 3. Frequências das facetas da capacidade de autocuidado em pessoas com LM.

Campina Grande/PB, Brasil, 2019 ... 41

Tabela 4. Associações entre o perfil sociodemográfico e capacidade para o

autocuidado em pessoas com LM. Campina Grande/PB, Brasil, 2019 ... 42

Tabela 5. Associações entre o perfil clínico e capacidade para o autocuidado em

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACS – Agente Comunitário de Saúde APS – Atenção Primária em Saúde

ASIA - American Spinal Injury Association

INCEVDOP-LM – Instrumento para Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar à Pessoa

com Lesão Medular

LM – Lesão Medular

OMS – Organização Mundial da Saúde PCD – Pessoas com Deficiência

PNSPD – Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência QV – Qualidade de Vida

SUS – Sistema Único de Saúde

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido USF – Unidade Básica de Saúde

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 09 2. OBJETIVOS ... 12 3. HIPÓTESES ... 13 4. REFERENCIAL TEÓRICO ... 4.1 Deficiência ... 4.2 Lesão Medular ... 4.3 Autocuidado ... 5. MÉTODO ... 5.1 Tipo de Pesquisa ... 5.2 Local da Pesquisa ... 5.3 População e Amostra ... 5.4 Critérios de Elegibilidade ... 5.5 Instrumento de Coleta de Dados ... 5.6 Procedimento de Coleta de Dados ... 5.7 Variáveis do estudo ... 5.8 Processamento e Análise dos Dados ... 5.9 Aspectos Éticos ... 14 14 17 21 24 24 25 26 26 27 28 30 31 6. RESULTADOS ... 32 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 53 REFERÊNCIAS ... APÊNDICES ANEXOS 55

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1. INTRODUÇÃO

A deficiência está relacionada ao impedimento de natureza física, sensorial, mental e intelectual, cujo desfecho pode resultar em limitações substanciais para o indivíduo realizar uma ou mais atividades importantes de sua vida(1). A lesão medular (LM) caracteriza-se como toda condição que possa afetar as estruturas contidas no canal medular (medula, cone medular e cauda equina), logo, abrange grande parte das deficiências físicas, uma vez que pode gerar um comprometimento das funções motoras, sensitivas, autonômicas e psicoafetivas(2).

A LM possivelmente se manifestará como paralisia ou paresia e desencadeará uma deficiência. Quando a lesão do seguimento medular é completa, ocorre a interrupção total da passagem de estímulos nervosos pela medula com comprometimento do movimento voluntário abaixo do nível da lesão, provocando perdas sensoriais, motoras no segmento cervical, torácico, lombar ou sacro da espinha dorsal, repercutindo na função sexual, perda do controle dos esfíncteres vesical e anal e complicações potenciais nas funções respiratória, térmica e circulatória, além de espasticidade e processos álgicos. Quando a lesão é incompleta, persiste algum movimento e sensibilidade nos segmentos corporais abaixo da lesão devido à preservação do funcionamento de algumas raízes nervosas(1,3-5).

Concernente à LM, as principais etiologias traumáticas envolvem os acidentes automobilísticos, acidentes de trabalho, de lazer e os episódios com arma de fogo. Entretanto, a LM também pode ter causas não traumáticas, como doenças infecciosas, vasculares, degenerativas e neoplasias(6).

O coeficiente de incidência de LM traumática no Brasil é desconhecido e não existem dados estatísticos oficiais quanto ao número de pessoas com LM, visto que esta condição não é sujeita à notificação, além disso, ressalta-se a escassez de estudos epidemiológicos com esse público(7,8). Estima-se que aconteçam a cada ano no Brasil, mais de 10 mil novos casos de LM, sendo o trauma a causa predominante, representando uma incidência muito elevada quando comparada com outros países(1).

Devido ao comprometimento neurológico, as pessoas com LM estão propensas a complicações como pneumonia, septicemia, infecções do trato urinário, doenças cardíacas, lesão por pressão e dor crônica. Estas complicações podem aumentam a gravidade clínica de suas condições de saúde e parecem estar associadas a limitações, o que pode reduzir sua qualidade de vida (QV) em comparação com a população em geral(4,9).

As complicações são comuns entre pessoas vivendo com LM por longos períodos e foram associadas com menor QV as seguintes complicações: dor musculoesquelética, lesões

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por pressão, espasticidade e constipação. Minimizar o impacto dessas condições secundárias de saúde deve ser uma prioridade no atendimento a longo prazo de pessoas com LM(10).

Assim, as consequências da LM interferem no desempenho das atividades de vida diária, a exemplo: caminhar, alimentar-se, mudar de decúbito, vestir-se. A pessoa acometida por essa condição, comumente apresenta déficit de autocuidado, sendo considerado dependente e assim necessitando de auxílio profissional, a exemplo dos cuidadores de enfermagem e/ou auxílio de cuidadores leigos, como familiares, para o desempenho das atividades diárias(11).

Nesse contexto, sabe-se que custos de cuidados à saúde das pessoas com LM são elevados, dependendo do nível e da gravidade da lesão, os gastos no primeiro ano podem chegar a 1 milhão de dólares por pessoa e nos anos seguintes podem atingir 186 mil dólares por ano para cada pessoa. Além disso, pacientes com LM tendem a necessitar de reinternações hospitalares e desenvolver complicações secundárias, contribuindo ainda mais para o aumento dos custos em saúde(7,12,13).

Acerca da atenção à saúde das pessoas com deficiência (PcD), a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência (PNSPD) instituiu as diretrizes no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre as quais, a garantia de acesso e de qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional(14,15).

Nessa perspectiva, a assistência de enfermagem à pessoa com LM deve abranger a prevenção e tratamento das condições secundárias à lesão, bem como promover a reabilitação, auxiliando-a na evolução do autocuidado, de forma individual e em parceria com familiares. Desse modo, o autocuidado diz respeito a uma gama de atitudes desenvolvidas pela pessoa, visando atender suas necessidades humanas básicas(16).

Nesse sentido, existem diversos modelos teóricos de enfermagem, contudo, em se tratando da assistência à pessoa com LM um dos modelos mais congruentes é a Teoria do Autocuidado proposta por Dorothea Orem. Essa Teoria tem como alicerce, a participação ativa do sujeito na sua terapia, incluindo o estabelecimento das metas, visando à aquisição do maior grau de independência possível(17).

Sendo assim, almejou-se, com essa pesquisa buscar respostas para as seguintes indagações: Qual a capacidade de autocuidado em pessoas com LM? Quais as necessidades de autocuidado das pessoas com LM? Existem associações entre os fatores sociodemográficos e a capacidade para o autocuidado? Espera-se que os resultados possam corroborar para maior efetividade da política de saúde destinada a esse grupo populacional, além de contribuir para o planejamento das ações e gestão em saúde.

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Portanto, pressupondo que as pessoas com LM enfrentam entraves de natureza biopsicossocioemocional e que estes afetam a sua autonomia, almejou-se avaliar a capacidade de autocuidado em pessoas com LM, bem como identificar suas necessidades de autocuidado.

Ressalta-se que o presente estudo se encontra em conformidade com o proposto pela Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, uma vez que tal documento compreende temas a respeito das condições de saúde de pessoas com necessidades especiais, sendo considerado objeto prioritário para saúde pública(18).

Ainda, a região Nordeste contempla os maiores índices de PcD, sendo o estado da Paraíba o segundo no ranking(19), sinalizando a necessidade do investimento em políticas públicas que contemplem essa população.

Nesse contexto, adverte-se a relevância da realização de novas pesquisas envolvendo os aspectos e as repercussões da LM, e também do perfil das pessoas vítimas desse agravo, visando contribuir com o planejamento de direcionamento de recursos na prevenção dessa condição, na promoção da saúde, e ainda recuperação da saúde deles e de seus familiares.

Logo, o estudo justifica-se pelo evidente problema de saúde pública relacionado às pessoas com LM, visto que estas vivenciam algumas dificuldades em seu cotidiano. Além disso, o conhecimento de fatores que podem interferir no autocuidado de pessoas com LM é imprescindível para o planejamento individualizado e específico às respostas humanas manifestadas por esse público. Com o desenvolvimento do estudo, pretende-se ampliar a produção científica nesta abordagem, contribuindo com o conhecimento acerca das necessidades de autocuidado do público alvo e possibilitando o fortalecimento de políticas públicas e o planejamento de ações de saúde centradas em intervenções específicas para melhorar os hábitos de vida e a autonomia dessas pessoas.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL:

Avaliar a capacidade de autocuidado em pessoas com lesão medular.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Descrever os aspectos sociodemográficos e as condições de saúde das pessoas com lesão medular;

Verificar as necessidades de autocuidado das pessoas com lesão medular;

Identificar associações entre os fatores sociodemográficos/clínicos e a capacidade para o autocuidado.

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3. HIPÓTESES

Hipótese Alternativa (H1):

o Pessoas com lesão medular possuem capacidade de autocuidado reduzida o Existe associação entre aspectos sociodemográficos e/ou clínicos e a

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

A seguir serão abordados alguns conceitos que possibilitam embasamento teórico para o desenvolvimento da pesquisa. São eles: deficiência, lesão medular e autocuidado.

4.1 DEFICIÊNCIA

Entende-se por pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de caráter físico, mental, intelectual ou sensorial, este entrave interagindo com barreiras, pode levar a um obstáculo na participação plena e efetiva na sociedade de forma equivalente às demais pessoas(20). Assim, são considerados tipos de deficiência:

 Auditiva: quando há perda bilateral, parcial ou total de quarenta e um decibéis ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz(21) .

 Mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média da população geral, se manifestando antes dos dezoito anos e com limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, a exemplo da: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho(21).

 Visual: acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60° ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores(21).

 Física: refere-se às limitações físicas de grau e gravidade variáveis, a depender dos segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida, levando ao comprometimento do aparelho locomotor, que compreende o sistema osteoarticular, o sistema muscular e o sistema nervoso(22).

As deficiências múltiplas seriam a associação de duas ou mais deficiências.

De acordo com o Relatório Mundial sobre PcD, mais de 1 bilhão de pessoas (15% da população) possui algum tipo de deficiência(23). Conforme o último Censo Demográfico realizado no Brasil em 2010, 45.623.910 pessoas, 23,9% da população brasileira, refere algum tipo de deficiência, destes, 13.265.599 casos correspondem à deficiência física, o que equivale a 6,95% da população do país. O Nordeste é a região com maior número de PcD e, dentre os estados federados, o estado da Paraíba ocupa o segundo lugar no ranking, ficando atrás do Rio

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Grande do Norte e na frente do Ceará(19). Nessa direção, indica uma demanda que precisa ser alvo das políticas públicas, bem como do planejamento das ações de saúde.

As PcD física são afetadas por uma variedade de condições neurossensoriais que repercutem em sua mobilidade, coordenação motora geral ou da fala, em decorrência de lesões nervosas, neuromusculares e osteoarticulares ou, ainda, de malformação congênita ou adquirida. Algumas pessoas que tem locomoção prejudicada alcançam autonomia e independência, através da ajuda de prótese, cadeira de rodas ou outros aparelhos auxiliares. Ao desenvolver determinadas habilidades, elas podem se deslocarem de um lugar para outro, manipular objetos e trabalhar(22).

Em se tratando das PcD, estas possuem direitos à saúde assegurados na Constituição Federal de 1988, os quais foram consolidados na Lei Orgânica de Saúde, a Lei 8.080/90 que estabelece o princípio da universalidade no SUS(24). Acerca dos marcos históricos relacionados às políticas públicas direcionadas às PcD, o Estado sancionou em 1989 a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e em 2002 a PNSPD, a qual já foi reformulada em 2010 e contempla entre suas diretrizes: a assistência integral à saúde, a promoção da QV, a organização do funcionamento dos serviços de atenção à pessoa com deficiência e a capacitação dos recursos humanos da área(25,26).

Ademais, no âmbito do SUS, o Ministério da Saúde lançou em 2013 o Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência, almejando promover as atividades de instituições ligadas à causa desse segmento social, sejam elas públicas, privadas ou de administração mista, através de incentivos fiscais em troca de investimentos nos projetos que beneficiem as pessoas com algum tipo de deficiência(27).

Mais recentemente, em 2015, entrou em vigor a Lei Brasileira e Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que prevê, entre outras questões, o direito das PcD à vida, à habilitação e reabilitação, à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho, à assistência social, à previdência social, à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer, ao transporte e à mobilidade, ao acesso à informação e à comunicação, à tecnologia assistiva, à participação na vida pública e política, ao acesso à justiça(20).

Todavia, mesmo com seus direitos de cidadania e acessibilidade aos serviços de saúde assegurados pela legislação, as PcD enfrentam dificuldades de acesso aos serviços de saúde e reabilitação devido à privação de recursos materiais que as impede de obter equipamentos que garantem maior autonomia, falta de investimento em sua educação e habilitação/reabilitação profissional(28).

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Além disso, ressalta-se que o cuidado à saúde das PcD ainda se encontra atrelado aos centros de reabilitação e outros serviços de atenção secundária, corroborando para a fragmentação do cuidado e consequentemente da integralidade da atenção. Ademais, as informações a respeito da organização desses serviços sob a perspectiva da estrutura física e da qualificação dos recursos humanos para assistir às necessidades desse público é incipiente(24).

Enquanto principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde, a Atenção Primária à Saúde (APS) configura-se como coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede. Sendo assim, é de sua competência assistir à pessoa com LM oferecendo ações de promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde(29).

No contexto da APS, suas características são pautadas na prática da resiliência em pessoas e famílias, na qual se configura uma relação muito próxima, que favorece a identificação riscos e maneiras de intervenção. Esta relação possibilita um cuidado à saúde que respeite o diálogo, em que a equipe se volte ao outro e permita que a dimensão não técnica dessa relação, possa complementar a dimensão técnica. Para tanto, a equipe necessita ser acolhedora e possuir vínculo com as famílias sob seus cuidados(14).

As necessidades de saúde das PcD são determinadas ou agravadas por processos sociais complexos, incluindo estereótipos e barreiras arquitetônicas(30), nessa perspectiva, é de extrema importância que a construção de práticas de cuidado considere as condições de vida e as questões subjetivas envolvidas. Os impactos sociais, econômicos e outros, devem ser valorizados, a presença de uma deficiência contribui para reforçar situações de pobreza e exclusão social nas famílias. Estas dimensões devem ser consideradas na implementação de práticas terapêuticas que almejam alcançar um sucesso prático(14).

Nesse sentido, a realização de visitas domiciliares contribui na identificação dos profissionais de saúde com os usuários com deficiência e suas dificuldades, os profissionais sentem-se corresponsáveis pelas mudanças possíveis e pela construção de projetos prósperos para as famílias. Deste modo, são despertados processos de criatividade nos profissionais, que potencializam a APS enquanto local de reabilitação(14).

Destarte, as práticas de saúde não devem ter como foco apenas o conhecimento científico, mas, também as necessidades do indivíduo, esta deve ser a direção que norteia os profissionais da saúde, deslocando-se a racionalidade da doença para a vida, dos resultados das intervenções e dos procedimentos técnicos para os avanços práticos e para a ressignificação da vida(14).

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As limitações que uma PcD pode apresentar impõe que esta precise transpor obstáculos em diversas situações da vida, dentre elas, no acesso aos serviços de saúde, esses obstáculos nem sempre se relacionam à dimensão física da deficiência, mas as barreiras arquitetônicas e a inaptidão do profissional podem acarretar em empecilhos no cuidado à saúde desses indivíduos. Logo, conhecer as dificuldades desse público é imperativo no que concerne ao atendimento de suas necessidades em saúde.

4.2 LESÃO MEDULAR

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 500 milhões de novos casos de lesão da medula espinhal ocorrem a cada ano(31). A LM ocorre devido ao dano na medula espinhal que resulta em perda transitória ou permanente da função motora, sensorial e autonômica. A etiologia varia entre diferentes países, etnias, idade e gênero, mas está universalmente associada a efeitos psicológicos, sociais e econômicos(32).

Calcula-se que a incidência da LM no mundo seja de 10,5 casos para cada 100.000 pessoas, resultando em aproximadamente 800.000 casos em todo o mundo por ano(33), no Brasil são 40 novos casos por milhão de habitantes a cada ano(34). Quanto às taxas de prevalência, em âmbito mundial existem cerca de 20 a 40 indivíduos para cada um milhão de habitantes por ano com LM(35), no Brasil, 130 mil indivíduos apresentam sequelas decorrentes desse evento(36). Pressupõe-se que o crescente número de casos esteja relacionado ao aumento da violência e dos acidentes de trânsito(37).

Concernente à etiologia, a LM pode ser de natureza traumática ou não traumática, dentre as etiologias traumáticas inclui-se os acidentes automobilísticos, acidentes de trabalho, lesões relacionadas ao esporte, quedas e agressões com armas de fogo. São exemplos das causas não traumáticas as doenças degenerativas, infecciosas, tóxicas, neoplásicas, císticas, inflamatórias, congênitas e vasculares(3,6,32).

As causas mais prevalentes de LM são colisões de veículos automobilísticos (46%), seguidas por quedas (22%), violência (16%) e lesões relacionadas ao esporte (12%) respectivamente(32). Contudo, há uma tendência para o aumento das causas não traumáticas que se atribui ao envelhecimento populacional(38).

Os acidentes automobilísticos e os episódios com arma de fogo são considerados importantes causas de LM, assim, o aumento da violência urbana tem influência na incidência desse tipo de lesão, constituindo-se então como um problema de saúde pública no Brasil e no mundo(9,16). Esse tipo de agravo causa um impacto na economia do país, uma vez que é

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comum em pessoas jovens, no auge de suas vidas produtivas(39), o financiamento do cuidado destinado à pessoa com LM também é alto(2). Ainda, a LM tem consequências em longo prazo, como alterações na mobilidade e na capacidade funcional, que afetam todos os aspectos da vida(40).

A deficiência neurológica, que leva a disfunções físicas sensoriais, é comum, com 53% dos pacientes tetraplégicos e 42% paraplégicos, a depender do nível da lesão. A mortalidade é maior durante o primeiro ano e em pacientes com maior grau de lesão(32). Com a melhoria da assistência à saúde e avanços no que diz respeito a reabilitação(5,41), houve aumento das taxas de sobrevivência, um maior número de pessoas vive com impactos de LM de longo prazo, incluindo o estado de saúde comprometido ou QV diminuída(42).

Concernente às complicações da LM, as respiratórias são a principal causa de morbidade e mortalidade na fase aguda após lesão traumática, até dois terços dos pacientes terão complicações como atelectasias, pneumonia ou insuficiência respiratória que requerem ventilação mecânica(43).

A dor neuropática também se constitui enquanto complicação da LM, esse tipo de dor leva à uma má QV e interfere na cognição, emocional e físico, além disso, a dor geralmente é severa, refratária ao tratamento e persistente por um longo tempo(44). A dor associada à LM está relacionada a dificuldades para as atividades diárias, baixa QV, depressão, raiva, ansiedade, sono e distúrbios de humor(45,46).

Nesse contexto, outro agravo comum em pessoas com LM é a Infecção do Trato Urinário, trata-se da causa mais frequente de internação nessa população(47). As complicações secundárias relacionadas ao sistema urinário têm repercussões que vão muito além das físicas, influenciando na saúde mental, no funcionamento emocional e satisfação sexual(48,49).

Ademais, pessoas com LM predispõem maior risco para doenças endócrinas, uma vez que a maioria se torna sedentária e com tendência ao aumento de peso, visto que normalmente, após a fase aguda e de reabilitação, podem estar presentes déficit musculoesquelético, resistência e força diminuídas, enfraquecimento neuromuscular, entre outros. Condições relacionadas ao estilo de vida, tais como o tabagismo, abuso de álcool e nutrição inadequada apresentam associação positiva para complicações(9,50).

Outros agravos secundários à LM incluem dificuldades para a execução das atividades de vida diária, deficiência, gerenciamento de tempo extra necessário para o autocuidado, regulação do esfíncter vesical e anal, bem como questões psicossociais, a exemplo da sexualidade e tristeza(51).

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No que diz respeito à ansiedade e depressão, pessoas vivendo com LM tem três vezes mais probabilidade de desenvolver transtorno de depressão maior em relação a população em geral(6). As mulheres, a faixa etária inferior a 50 anos, os pacientes indenizados, aqueles com menor escolaridade e deficiência anterior ao trauma estavam em maior risco de relatar problemas de ansiedade ou depressão. Enquanto que exercer atividade remunerada antes de ser acometido pela lesão foi associado a um menor risco de referir ansiedade ou depressão(4,42).

Ao longo dos anos, as taxas de mortalidade por idade em pessoas com LM aumentaram para acidentes, causas endócrinas, metabólicas e nutricionais, doenças do sistema nervoso, distúrbios musculoesqueléticos e transtornos mentais. As taxas de mortalidade diminuíram para o câncer, doenças cardiovasculares, acidente vascular encefálico, doenças arteriais, embolia pulmonar, doenças do trato urinário, doenças digestivas e suicídio(52).

A partir do conhecimento das complicações secundárias à LM, a prevenção desses fatores pode contribuir na melhoria das condições de saúde dessas pessoas, na sua expectativa e QV.

Visando classificar as lesões medulares, a American Spinal Injury Association (ASIA) criou uma Escala de Comprometimento, esta, se baseia na completude da lesão e na função motora/sensorial que é da seguinte ordem:

ASIA A – lesão completa, função motora e sensorial ausentes em S4-5.

ASIA B – lesão incompleta, função sensorial intacta, porém função motora ausente abaixo do nível neurológico da lesão e inclui o nível S4-5.

ASIA C - lesão incompleta, função motora intacta distalmente ao nível da lesão e mais da metade dos músculos essenciais distais ao nível da lesão têm um grau muscular abaixo de 3, numa escala que vai de zero a cinco.

ASIA D – lesão incompleta, função motora intacta distal ao nível da lesão neurológica, e mais da metade dos músculos essenciais distais ao nível da lesão neurológica têm grau muscular superior ou igual a 3.

ASIA E – Normal, funções motoras e sensorial intactas(53,54).

Além das repercussões físicas e emocionais, a LM também reflete no âmbito social, limitando a interação e interferindo na capacidade de desempenhar papéis(55).

No que concerne à assistência à saúde da pessoa com LM, sabe-se que uma intervenção precoce, ainda durante a fase aguda da lesão, traz melhores resultados e é imprescindível para o alcance da independência, ademais, as pessoas com LM também necessitam de reabilitação a longo prazo, incluindo acesso a uma variedade de tecnologias

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assistivas que ajudará a adaptar as mudanças e irá maximizar a independência. O cuidado à pessoa com LM envolve serviços de saúde nas três esferas hierárquicas: na atenção primária, secundária e terciária(56).

Em se tratando da assistência de enfermagem às pessoas com LM, estes profissionais realizam diversas intervenções, incluindo atendimento direto ao paciente, implementação de cuidados de enfermagem, educação em saúde direcionada para pacientes e cuidadores, gestão de cuidados e apoio emocional para pacientes e suas famílias. Outrossim, capacitam os pacientes, familiares ou cuidadores em assumir o controle e gerenciar seus próprios cuidados futuros(57).

Os profissionais de enfermagem visam um amplo espectro de funções corporais envolvendo praticamente quase todos os sistemas biológicos, algumas áreas de atividades e domínios de participação, especialmente aqueles relacionados à comunicação, mobilidade e autocuidado, incluindo e aspectos únicos do ambiente social, tais como a família e os serviços de saúde(58).

A incidência da LM vem aumentando tem todo o mundo, o mesmo ocorre com a prevalência, visto que as condições de assistência à saúde têm melhorado, no entanto, pessoas com esse agravo tendem a desenvolver complicações futuras e como consequência disso apresentam redução na QV. É importante investir na reabilitação tanto na fase aguda, como na crônica, não somente sob o aspecto físico, mas incluir a dimensão social, psicológica e a capacidade de autocuidado.

4.3 AUTOCUIDADO

A definição de autocuidado vem sofrendo alterações com o passar dos anos, este se relaciona à autonomia, independência e responsabilidade individual para comportamentos saudáveis, bem como o desempenho de atividades imprescindíveis para administrar e monitorar a situação de saúde(59). Assim, o autocuidado deve ser compreendido como uma conduta aprendida e executada pelo indivíduo em seu próprio benefício(60), visa alterar suas respostas cognitivas, comportamentais e emocionais necessárias para manter uma boa QV(61).

Manter um nível satisfatório de conforto físico e psicológico, além da diminuição da morbimortalidade, da utilização e custos com os serviços de saúde, aumento da satisfação do usuário e melhora da QV, se associam com o autocuidado na perspectiva das doenças crônicas(59).

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Concernente ao enfermeiro, a promoção do autocuidado é mister, especialmente quando se trata de uma situação crônica, a exemplo da LM, desse modo o autocuidado abrange atividades e habilidades que a pessoa deve aprender e pôr em prática, de maneira que contribua na melhora de sua QV(59).

Como estratégia de contribuição para aprimorar a assistência, se faz necessária a implementação de modelos e teorias. Nessa perspectiva, o modelo teórico proposto por Dorothea Orem pode ser indicado enquanto instrumento para nortear o enfermeiro na promoção da prática do cuidado, servindo como um alicerce para a sistematização da assistência de enfermagem(62).

O modelo teórico de Orem surgiu na década de 1950, com base na hipótese de que as pessoas podem cuidar de si, contribuindo para sua saúde e bem-estar. Nesse sentido, espera-se que as pessoas sejam capazes de desenvolver o autocuidado, sugerindo evidências para sustentar a consistência dessa teoria(63).

Nessa perspectiva, com o intuito de respaldar a práxis de enfermagem, esse modelo teórico vem sendo utilizado como base teórico-filosófica, no qual há ênfase na assistência a pessoas com doenças crônicas(64). Os pressupostos de Orem condizem com a proposta deste estudo, visto que abarcam ações de promoção e educação com incentivo à responsabilização do indivíduo pelo cuidado de sua própria saúde.

A articulação da Teoria do autocuidado, Teoria do déficit de autocuidado e Teoria dos sistemas de enfermagem compõem o desenvolvimento e refinamento da teoria de Orem(60), conforme representado na Figura 1

Figura 1 - Representação do Modelo de

autocuidado de Orem. Campina Grande-PB, Brasil, 2018. Teoria do Déficit de Autocuidado Teoria do Autocuida do

Teoria dos Sistemas de Enfermagem

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Quanto à Teoria dos sistemas de enfermagem, trata-se do conjunto de ações e interações dos enfermeiros e dos pacientes, os enfermeiros contribuem para a superação do déficit recuperando o autocuidado do indivíduo, logo, Orem propõe três sistemas fundamentando-se nos requisitos de autocuidado:

 Sistema Totalmente Compensatório: o enfermeiro realiza o autocuidado, compensando a incapacidade do paciente, o qual deve ser apoiado e protegido;

 Sistema Parcialmente Compensatório: o enfermeiro apoia o paciente, realizando algumas ações, porém existe ação bilateral;

 Sistema de Apoio - Educação: o enfermeiro apoia o autocuidado, porém é o próprio paciente quem executa as ações(11).

Uma vez que o conceito de déficit de autocuidado faz referência à relação entre o autocuidado e a exigência de autocuidado, está contido na teoria dos sistemas de enfermagem. Ele implica na necessidade de autocuidado, a qual, quando reconhecida, ativa um sistema de enfermagem. Há um déficit no autocuidado quando ocorre um desequilíbrio, no qual as habilidades do indivíduo para exercer o autocuidado necessário são menores do que as necessárias para satisfazer uma demanda conhecida de autocuidado.

Acerca da Teoria do Déficit de Autocuidado, a mesma é composta por três necessidades de autocuidado:

 Requisitos de Autocuidado Universais - comuns a todas as pessoas, durante a totalidade do ciclo vital, relacionado às necessidades básicas, a exemplo: nutrição, oxigenação, eliminação, higiene, necessidades psicológicas e sociais;

 Requisitos de Autocuidado de Desenvolvimento - cuidados que apoiam os processos vitais, de desenvolvimento e adaptação às mudanças durante etapas específicas da vida como infância, adolescência, idade adulta e velhice; e

 Requisitos de Autocuidado de Desvio da Saúde - cuidados para as pessoas que enfrentam processos de adoecimento. Deste modo, requisito de autocuidado pode ser compreendido como uma necessidade específica para regulação do desenvolvimento e funcionamento humano(11).

O comprometimento de alguns dos requisitos para o autocuidado que configura o déficit de autocuidado.

No que concerne à Teoria do autocuidado, está é fundamentada por definições relacionadas à:

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 Fatores condicionantes básicos - fatores sociodemográficos, o estado de desenvolvimento e de saúde, a orientação cultural e as características do sistema de saúde vigente;

 Autocuidado - ações que os sujeitos executam em seu benefício para a manutenção da saúde, do bem-estar e da vida;

 Ação de autocuidado - capacidade do indivíduo engajar-se no autocuidado(11). Nessa perspectiva, a teórica definiu os quatro conceitos do metaparadigma da enfermagem, considerando a Saúde como um estado de totalidade ou integridade que abrange os aspectos biológicos (corpo), as reações emocionais, os aspectos psicológicos, as atitudes e as razões. Para Orem, a Enfermagem é compreendida como o mecanismo de apoio para o autocuidado, quando o indivíduo não tem condições de suprir suas próprias demandas. O Indivíduo é o agente do autocuidado, possui a capacidade de refletir sobre si mesmo e o ambiente que o cerca, diferindo dos demais seres vivos, é um ser que se autocuida para manter seu bem-estar. E o Ambiente inclui os fatores que influenciam as habilidades para o autocuidado, podendo ser físicos, biológicos, ambientais, genéticos, psicológicos e socioculturais(11).

O modelo teórico de Orem se adequa aos indivíduos com LM, uma vez que esse grupo necessita da continuidade do cuidado no ambiente domiciliar, logo, o preparo do indivíduo, bem como de seus cuidadores para a independência se dá por meio da promoção do autocuidado.

Isto posto, uma vez que a visita domiciliar no âmbito da APS é uma das atribuições do enfermeiro, é fundamental que esse profissional reconheça e valorize as ações de autocuidado já realizadas pelas pessoas com LM e que identifique prováveis barreiras que estejam impedindo ou que possam vir a impedir a realização efetiva dessas ações.

Nesse contexto, os profissionais envolvidos no planejamento do cuidado à pessoa com LM, em particular os enfermeiros, precisam reconhecer as ações de autocuidado enquanto ferramenta-chave para a promoção de melhores condições de vida, apesar da doença.

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5 MÉTODO

5.1 TIPO DE PESQUISA

O presente estudo é do tipo transversal, analítico e com abordagem quantitativa. Os estudos transversais visualizam a situação de uma população em um determinado momento, como instantâneos da realidade(65). Este delineamento envolve coleta de dados em um pequeno período de corte temporal, tem como vantagem o controle da coleta da amostra e apresenta-se apropriado para pesquisas que visam descrever um fenômeno ou possíveis relações entre fenômenos em um determinado período de tempo estabelecido(66).

O método quantitativo utiliza a quantificação de dados utilizando técnicas estatísticas, conferindo precisão ao estudo, bem como previne possíveis distorções e inferências por parte do pesquisador(67).

5.2 LOCAL DA PESQUISA:

O estudo foi realizado na Rede de Atenção Primária à Saúde, em Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Campina Grande, Paraíba, Brasil e nos domicílios de pessoas com LM adscritas nas USF. O período do estudo compreendeu janeiro/2018 até maio/2019.

O município de Campina Grande está localizado no agreste da Paraíba, cuja área territorial é de 593.026 km2, e uma densidade demográfica de 648.31 hab/km2, e população estimada de 407.754 pessoas(68). Tem como limites geográficos os municípios de Puxinanã e Lagoa Seca (à Norte). Queimadas e Fagundes (ao Sul), Ingá e Massaranduba (à Leste) e Boa Vista (à Oeste).

(27)

Figura 2: Mapa de Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Fonte: Adaptado de Prefeitura Municipal de Campina Grande, Secretaria de Planejamento, 2017.

Segundo informações coletadas na Secretaria Municipal de Saúde, a Rede de Atenção Primária à Saúde (RAS) em Campina Grande-PB no âmbito do SUS, encontra-se estruturada contendo 84 USF que abrangem 102 equipes de saúde da família, além de 6 Centros de Saúde, 2 policlínicas e 2 equipes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde. É dividida em 10 distritos sanitários, sendo oito localizados na zona urbana e dois na zona rural (Distritos de Galante e São José da Mata).

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A amostragem foi do tipo censitária, a população foi composta por todas as pessoas com LM, cadastradas nas USF e residentes no município de Campina Grande, Paraíba, Brasil, durante o período do estudo. A amostra foi composta por 65 sujeitos com LM.

Optou-se por esse tipo de amostragem devido ao fato da prevalência de LM nessa população ser desconhecida, assim na amostra censitária não se calcula um ―N‖ amostral.

5.4 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE

Foram considerados como critérios de inclusão: apresentar LM completa ou incompleta por qualquer etiologia, ter 18 anos ou mais, residir em Campina Grande e estar cadastrado na USF.

Foram considerados critérios de exclusão: apresentar deficiência/limitação de qualquer natureza, além da LM. A presença de outra limitação poderia acarretar em viés de confundimento, uma vez que não seria possível isolar as limitações para descobrir qual delas interfere na capacidade para o autocuidado.

5.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Foi utilizado como instrumento de coleta de dados, o Instrumento para Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar às Pessoas com Lesão Medular (INCEVDOP-LM), desenvolvido e validado quanto ao conteúdo por Coura(69) e, posteriormente validado clinicamente por Dantas(70).

O INCEVDOP-LM tem por finalidade nortear o enfermeiro na consulta domiciliar à pessoas com LM, contribuindo para a determinação do grau de dependência no desempenho das atividades diárias e consequentemente para a identificação das necessidades de autocuidado dos indivíduos.

O INCEVDOP-LM constitui-se de cinco fases: I-Acolhimento; II-Identificação; III-Requisitos de autocuidado de desenvolvimento; IIII-Requisitos de autocuidado universais; V-Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde. Além de dispor de orientações acerca do seu preenchimento(69).

A fase Acolhimento diz respeito ao contato inicial entre profissional e indivíduo, visando favorecer o estabelecimento do vínculo e confiança. Subsequente ao Acolhimento, o

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tópico Identificação proporciona o conhecimento das características sociodemográficas de cada pessoa(69).

Quanto aos Requisitos de autocuidado de desenvolvimento, são contempladas questões referentes aos antecedentes pessoais, familiares e o exame físico. Os Requisitos de autocuidado universais incluem a investigação de seis domínios e suas facetas, abrangendo aspectos nutricionais, de higiene, eliminações, de mobilidade, sociais e psicológicos. Concernente ao tópico Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, são abortadas as questões relacionadas à Sistematização da Assistência de Enfermagem, queixas e a programação das próximas visitas domiciliares(69).

Ao final de cada um dos Requisitos de autocuidado universais há um espaço destinado a verificar a pontuação global, bem como determinar os escores, os quais são obtidos a partir das respostas dos indivíduos com LM, o entrevistador irá assinalar as opções correspondentes, somar as pontuações, posteriormente, determinar o escore e classificar o indivíduo como: Totalmente dependente; Substancialmente dependente; Moderadamente dependente; Levemente dependente e Totalmente independente(69).

Cada questão a ser respondida possui uma pontuação que varia de 0 à 20 pontos, o indivíduo que possui total dependência para realizar uma atividade marca 0 pontos, quando possui substancial dependência marca 5 pontos, para dependência moderada marca 10 pontos, leve dependência corresponde à 15 pontos e para total independência no desempenho da atividade são atribuídos 20 pontos(69).

O instrumento permite classificar o participante em até 5 escores, para pontuações até 0 pontos ele é classificado como Escore 1 (total dependência), correspondendo ao Sistema Totalmente Compensatório, para as pontuações de 5 à 20 pontos é classificado como Escore 2 (substancial dependência), pontuações de 25 à 40 pontos o classificam como Escore 3 (moderada dependência), de 45 à 75 pontos é classificado como Escore 4 (leve dependência), esses três escores (2, 3 e 4) o rotulam para o Sistema Parcialmente Compensatório, por fim, 80 pontos o classificam como Escore 5 (total independência), correspondendo ao Sistema Apoio-Educação(69).

5.6 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Foi realizada busca-ativa em todas as USF de Campina Grande, afim de localizar usuários com LM cadastrados em cada serviço de saúde, os enfermeiros e os Agentes

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Comunitários de Saúde (ACS) eram questionados quanto à presença de pessoas com LM na área de abrangência da sua equipe. Após a identificação dos usuários com LM no território das USF foi verificada a adequação aos critérios de elegibilidade, a estratégia para aproximação dos participantes e coleta de dados se deu através da visita domiciliar por intermédio dos ACS da ESF, responsáveis por cada micro-área específica. Os ACS foram previamente contatados nas respectivas USF.

Após contato com os ACS, as visitas eram agendadas com os usuários da USF, no primeiro momento foram apresentados os objetivos da pesquisa, posteriormente o instrumento de coleta de dados e em seguida foi questionado sobre o desejo de participar. A depender da disponibilidade, o participante respondia às perguntas naquela ocasião ou era agendada uma nova visita.

5.7 VARIÁVEIS DO ESTUDO

A variável dependente deste estudo foi a capacidade para o autocuidado, determinada pela pontuação global do INCEVDOP-LM e, classificada como dependente para o autocuidado ou independente, as variáveis independentes consideradas são referentes à caracterização socioeconômica, caracterização da lesão medular, variáveis clínicas, domínios e facetas que avaliam a capacidade para o autocuidado.

Quadro 1: Classificação das variáveis

Variável Verificação Classificação

Sexo Masculino/Feminino Qualitativa nominal Faixa etária 18 – 29 anos

30 – 39 anos 40 – 49 anos 50 – 59 anos 60 – 69 anos 70 – 79 anos Qualitativa ordinal

Estado civil Com companheiro Sem companheiro

Qualitativa nominal Religião Com credo religioso

Sem credo religioso

Qualitativa nominal Escolaridade Até 10 anos de estudo

Mais de 10 anos de estudo Qualitativa ordinal Raça Branca Não branca Qualitativa nominal Ocupação Aposentado

Recebe benefício social Exerce atividade

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remunerada

Exerce atividade não remunerada

Renda per capita 1 salário mínimo 2 salários mínimos Qualitativa ordinal Tempo de LM 0 – 19 anos 20 – 39 anos 40 – acima de 60 Qualitativa ordinal

Faixa etária na época da LM 0 – 19 anos 20 – 39 anos 40 – 59 anos 60 – 79 anos Qualitativa ordinal Etiologia Traumática Não traumática Qualitativa nominal Nível da LM Cervical Torácico Lombar Sacral Não sabe Qualitativa nominal Magnitude Completa Incompleta Qualitativa nominal Resultante Paraplegia Tetraplegia Qualitativa nominal Complicações Possui/possuiu

Não possui/não possuiu

Qualitativa nominal Condições pregressas Ausentes

Presentes

Qualitativa nominal Internações pós lesão Não

Sim

Qualitativa nominal Uso de medicamentos Não

Sim

Qualitativa nominal Antecedentes familiares Não possui

Possui Não sabe

Qualitativa nominal

Queixas atuais Ausentes Presentes

Qualitativa nominal Padrão de sono Ininterrupto

Demora a dormir Interrompido

Qualitativa nominal

Eliminação vesical Espontânea Incontinência Cateterismo vesical de alívio Cateterismo vesical de demora Qualitativa nominal

Eliminação intestinal Espontânea Constipação Incontinência Colostomia

Qualitativa nominal

Leão na pele Ausente Presente

Qualitativa nominal Acessibilidade na residência Ausente

Presente

Qualitativa nominal Domínio nutrição

- Capacidade para comer e preparar os alimentos

- Capacidade para alterar os hábitos alimentares Dependente/independente -Total dependência -Substancial dependência -Moderada dependência -Leve dependência -Total independência Qualitativa nominal

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Domínio higiene

- Capacidade para lavar-se - Capacidade para arrumar-se - Capacidade para alterar os hábitos de higiene

- Capacidade para manter o ambiente limpo Dependente/independente -Total dependência -Substancial dependência -Moderada dependência -Leve dependência -Total independência Qualitativa nominal Domínio eliminação

- Capacidade para evacuar e realizar a micção Dependente/independente -Total dependência -Substancial dependência -Moderada dependência -Leve dependência -Total independência Qualitativa nominal Domínio físico

- Capacidade para mobilizar-se - Capacidade para mobilizar-se fora de casa

- Capacidade para promover a própria saúde

- Capacidade para realizar atividades de lazer Dependente/independente -Total dependência -Substancial dependência -Moderada dependência -Leve dependência -Total independência Qualitativa nominal Domínio social

- Capacidade para estabelecer relações sociais Dependente/independente -Total dependência -Substancial dependência -Moderada dependência -Leve dependência -Total independência Qualitativa nominal Domínio psicológico

- Capacidade para enfrentar as mudanças decorrentes da lesão - Capacidade para manter-se espiritualmente bem Dependente/independente -Total dependência -Substancial dependência -Moderada dependência -Leve dependência -Total independência Qualitativa nominal *Pontuação global do INCEVDOP-LM = Capacidade para o autocuidado Independente/ Dependente Qualitativa nominal *Variável dependente.

5.8 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados foi criado um banco de dados no Software SPSS versão 20.0 para Windows, no qual também foi realizada a análise. As associações investigadas consideraram os intervalos de confiança em 95% (p<0,05).

Para análise dos dados sociodemográficos, clínicos e frequência das facetas utilizou-se a estatística descritiva. Para verificar o nível de significância entre as associações das variáveis independentes e capacidade para o autocuidado, optou-se por dicotomizar a variável dependente, sendo considerado dependente para o autocuidado o participante que apresentou pontuação compatível com a classificação: total dependência, substancial dependência,

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moderada dependência; sendo considerado independente para o autocuidado aquele que apresentou pontuação correspondente à classificação: leve dependência e total independência. Foi realizada a comparação com as proporções das frequências por meio do Teste Qui-quadrado e para as caselas menores que cinco, foi utilizado o Teste de Exato de Fisher.

Optou-se pela utilização destes testes, visto que são utilizados na associação de duas variáveis, verificando se há dependência entre elas.

5.9 ASPECTOS ÉTICOS

Após recebimento da carta de anuência da Secretaria Municipal de Campina Grande (ANEXO D), o presente estudo foi registrado na Plataforma Brasil e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UEPB, o qual obteve parecer favorável sob número 2.530.586 e CAAE: 84353818.0.0000.5187.

Na ocasião de início da coleta de dados os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), todavia, aqueles que não conseguirem assinar o nome tem a opção de fazer a impressão datiloscópica do dedo polegar da mão direita.

Cada participante foi esclarecido sobre os objetivos e benefícios da pesquisa e teve assegurado o sigilo, a privacidade e o direito a declinar, em qualquer momento da investigação, sem qualquer tipo de ônus devido a sua desistência, conforme preconiza as Resoluções 466/2012 e 506/2016 do Conselho Nacional de Saúde(71,72).

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6. RESULTADOS

Esta sessão está apresentada conforme determina as normas internas do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública/UEPB, por meio de um artigo científico original, o qual foi submetido a avaliação de periódico qualificado e com impacto acadêmico e científico na área de saúde pública.

O artigo intitula-se: ―Influência de fatores sociodemográficos e clínicos no autocuidado de pessoas com lesão medular‖. Verifica-se a associação entre fatores sociodemográficos e a capacidade de autocuidado em pessoas com lesão medular, respondendo aos objetivos dessa dissertação.

ARTIGO

INFLUÊNCIA DE FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS E CLÍNICOS NO AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM LESÃO MEDULAR

RESUMO

Objetivou-se verificar a associação entre a capacidade de autocuidado e os fatores sociodemográficos e clínicos de pessoas com lesão medular. Trata-se de um estudo tipo transversal, analítico e com abordagem quantitativa desenvolvido no âmbito das UBS de Campina Grande, PB, Brasil, no período de dezembro de 2018 a março de 2019. Participaram 65 indivíduos que responderam ao Instrumento de Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar às Pessoas com Lesão Medular. A associação entre as variáveis foi testada por meio do Qui-quadrado, Teste Exato de Fisher e razão de prevalência. Verificou-se que a escolaridade (p=0,016), faixa etária na época da lesão (p=0,015), presença de condições pregressas de saúde (p=0,015), realização de cirurgias após a LM (p=0,010), alterações no padrão vesical (0,040) e intestinal (p=0,006) e necessidade de acessibilidade no domicilio (p=0,005) apresentaram associação com a capacidade de autocuidado. Conclui-se que fatores sociodemográficos e clínicos podem influenciar a capacidade de autocuidado.

(35)

Introdução

A lesão medular (LM) ocorre devido ao dano na medula que resulta em perda transitória ou permanente da função motora, sensorial e autonômica. A etiologia varia entre diferentes países, etnias, idade e sexo, podendo ser traumática quando envolve acidentes de trânsito, quedas, violência, lesões relacionadas ao espore e, não traumática quando deriva de doenças degenerativas, infecciosas, neoplásicas, congênitas(1).

O coeficiente de incidência de LM no Brasil é desconhecido e não existem dados estatísticos oficiais quanto ao número de pessoas com LM, visto que esta condição não é sujeita à notificação, além disso, ressalta-se a escassez de estudos epidemiológicos com esse público(2). Estima-se que aconteçam a cada ano no Brasil, mais de 10 mil novos casos de LM, sendo o trauma a causa predominante, representando uma incidência muito elevada quando comparada com outros países(3).

A LM é um grave problema de saúde pública, uma vez que custos de cuidados à saúde dessas pessoas são elevados. Além disso, pacientes com LM tendem a sofrer reinternações hospitalares e desenvolver complicações secundárias, contribuindo ainda mais para o aumento dos custos em saúde(2,4).

Assim, as consequências da LM interferem no desempenho das atividades de vida diária, a exemplo: caminhar, alimentar-se, mudar de decúbito, vestir-se. A pessoa acometida por essa condição, comumente apresenta déficit de autocuidado, sendo considerado dependente e assim necessitando de auxílio profissional, a exemplo dos cuidadores de enfermagem e/ou auxílio de cuidadores leigos, como familiares, para o desempenho das atividades diárias(5). Destarte, são relevantes as investigações que explorem a capacidade de autocuidado das pessoas com LM, objeto de investigação do presente estudo.

O autocuidado se relaciona à autonomia, independência e responsabilidade individual para comportamentos saudáveis, bem como o desempenho de atividades imprescindíveis para administrar e monitorar a situação de saúde(6). Concernente ao enfermeiro, a promoção do autocuidado é mister, especialmente quando se trata de uma situação crônica, a exemplo da LM, desse modo o autocuidado abrange atividades e habilidades que a pessoa deve aprender e pôr em prática, de maneira que contribua na melhora de sua QV(6).

Em se tratando da assistência de enfermagem às pessoas com LM, estes profissionais realizam diversas intervenções, incluindo atendimento direto ao paciente, implementação de cuidados de enfermagem, educação em saúde direcionada para pacientes e cuidadores, gestão de cuidados e apoio emocional para pacientes e suas famílias. Ademais, capacitam os

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pacientes, familiares ou cuidadores em assumir o controle e gerenciar seus próprios cuidados futuros(7).

Acredita-se no pressuposto teórico de que fatores sociais e demográficos podem influenciar negativamente na capacidade funcional e consequentemente na capacidade para o autocuidado em pessoas com LM(8,9). Nesse contexto, objetivou-se verificar a associação entre a capacidade de autocuidado e os fatores sociodemográficos e clínicos de pessoas com LM.

O estudo se justifica diante de algumas lacunas nas publicações de dados oficiais acerca da LM no Brasil; pelo potencial em fornecer informações que contribuam para o fortalecimento de políticas públicas e o planejamento de ações de saúde centradas em intervenções específicas para melhorar os hábitos de vida e a autonomia dessas pessoas.

Métodos

O presente estudo é do tipo transversal, analítico e com abordagem quantitativa, realizado no período de dezembro de 2018 a março de 2019, em todas as 84 Unidades de Saúde da Família (USF) da cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Não foi realizado cálculo amostral, visto que a prevalência de LM nessa população era desconhecida, logo, optou-se por uma amostra censitária, incluindo todas as pessoas com LM dessa localidade. Assim, participaram 65 sujeitos que atenderam aos critérios de elegibilidade: apresentar lesão medular completa ou incompleta por qualquer etiologia, ter 18 anos ou mais, residir em Campina Grande e estar cadastrado na USF.

A estratégia para aproximação dos sujeitos e a coleta de dados foi a visita domiciliária, com o acompanhamento do Agente Comunitário de Saúde da Estratégia Saúde da Família responsável por cada micro-área. No primeiro momento, a pesquisa foi explicada e os participantes convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, as pessoas que concordaram em participar responderam ao Instrumento para Consulta de Enfermagem na Visita Domiciliar às Pessoas com Lesão Medular (INCEVDOP-LM), desenvolvido e validado quanto ao conteúdo por Coura(10), e posteriormente validado clinicamente por Dantas(11).

O INCEVDOP-LM tem por finalidade nortear o enfermeiro na consulta domiciliar às pessoas com LM, contribuindo para a determinação do grau de dependência no desempenho das atividades diárias e consequentemente para a identificação das necessidades de autocuidado dos indivíduos.

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O INCEVDOP-LM constitui-se de cinco fases: I-Acolhimento; II-Identificação; III-Requisitos de autocuidado de desenvolvimento; IIII-Requisitos de autocuidado universais; V-Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde. Além de dispor de orientações acerca do seu preenchimento(10).

A fase Acolhimento diz respeito ao contato inicial entre profissional e indivíduo, visando favorecer o estabelecimento do vínculo e confiança. Subsequente ao Acolhimento, o tópico Identificação proporciona o conhecimento das características sociodemográficas de cada pessoa(10).

Quanto aos Requisitos de autocuidado de desenvolvimento, são contempladas questões referentes aos antecedentes pessoais, familiares e o exame físico. Os Requisitos de autocuidado universais incluem a investigação de seis domínios e suas facetas, abrangendo aspectos nutricionais, de higiene, eliminações, de mobilidade, sociais e psicológicos. Concernente ao tópico Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, são abortadas as questões relacionadas à Sistematização da Assistência de Enfermagem, queixas e a programação das próximas visitas domiciliares(10).

Ao final de cada um dos Requisitos de autocuidado universais há um espaço destinado a verificar a pontuação global, bem como determinar os escores, os quais são obtidos a partir das respostas dos indivíduos com LM, o entrevistador irá assinalar as opções correspondentes, somar as pontuações, posteriormente, determinar o escore e classificar o indivíduo como: Totalmente dependente; Substancialmente dependente; Moderadamente dependente; Levemente dependente e Totalmente independente(10).

Cada questão a ser respondida possui uma pontuação que varia de 0 à 20 pontos, o indivíduo que possui total dependência para realizar uma atividade marca 0 pontos, quando possui substancial dependência marca 5 pontos, para dependência moderada marca 10 pontos, leve dependência corresponde à 15 pontos e para total independência no desempenho da atividade são atribuídos 20 pontos(10).

O instrumento permite classificar o participante em até 5 escores, para pontuações até 0 pontos ele é classificado como Escore 1 (total dependência), correspondendo ao Sistema Totalmente Compensatório, para as pontuações de 5 à 20 pontos é classificado como Escore 2 (substancial dependência), pontuações de 25 à 40 pontos o classificam como Escore 3 (moderada dependência), de 45 à 75 pontos é classificado como Escore 4 (leve dependência), esses três escores (2, 3 e 4) o rotulam para o Sistema Parcialmente Compensatório, por fim, 80 pontos o classificam como Escore 5 (total independência), correspondendo ao Sistema Apoio-Educação(10).

Referências

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