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Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos do IMIP registrado no CEP sob o número 240 em 10/10/2003 (ANEXO 3).

descrição das características biológicas, sociodemográficas, comportamental e reprodutivas mensuradas nas 240 gestantes selecionadas para o estudo encontram-se na Tabela 1.

A

Verifica-se que aproximadamente 50,0% das gestantes apresentavam estado nutricional adequado para idade gestacional e 26,3% delas foram classificadas como sobrepeso /obesidade de acordo com os critérios propostos por Atalah et al. (1997).

A idade variou de 18 a 39 anos com uma mediana de 23 anos. Observou-se bom nível de escolaridade nesta população, onde 60,4% das gestantes tinham mais de oito anos de estudo e apenas 10,0% tinham 4 anos ou menos de estudo.

Quase as totalidades das mulheres moravam com o companheiro 92,5%. Em relação ao número de gestações, 57,5% estavam na primeira gestação. Entre as que já tinham tido filho, o intervalo intergestacional acima de dois anos foi observado em 74,5%.

Tabela 1. Características biológicas, sociodemográficas e reprodutivas das gestantes atendidas no pré-natal do CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Características n %

Idade (em anos)

< 25 140 58,3

≥ 25 100 41,7

Total 240 100,0

Estado nutricional inicial*

Baixo peso 61 25,4 Adequado 116 48,3 Sobrepeso/ Obesidade 63 26,3 Total 240 100,0 Procedência Recife 123 51,2 Outras localidades 117 48,8 Total 240 100,0 Situação marital Com companheiro 222 92,5 Sem companheiro 18 7,5 Total 240 100,0 Ocupação

Trabalha fora de casa 97 40,4

Não trabalha fora de casa 143 59,6

Total 240 100,0

Escolaridade (anos de estudo completos)

≤ 4 24 10,0 5 – 8 71 29,6 > 8 145 60,4 Total 240 100,0 Tabagismo Sim 14 5,8 Não 226 94,2 Total 240 100,0 Número de gestações 1 138 57,5 2 56 23,3 3 27 11,3 ≥ 4 19 7,9 Total 240 100,0

Intervalo inter gestacional (em anos)

< 2 26 25,5

2 – 5 45 44,1

≥ 5 31 30,4

Total 102 ** 100,0

Aproximadamente 54% das gestantes apresentavam anemia (Hb < 11,0 g/dl) e 70,0% apresentaram exames negativos para parasitose intestinal. (Tabela 2)

Tabela 2. Distribuição das gestantes de acordo com algumas morbidades associadas. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Morbidades associadas n % Anemia (Hb < 11,0g/dl) Sim 128 53,3 Não 112 46,7 Total 240 100,0 Enteroparasitoses Presença 68 30,1 Ausência 158 69,9 Total 226 * 100,0

* 14 pacientes não foram encontrados informações sobre as enteroparasitoses.

Não houve diferença estatisticamente significante entre a média de ganho de peso semanal do segundo trimestre (490g ±190g) e do terceiro trimestre (510g ± 290g) (Teste t de Student: -1,31 p=0,192; Tabela 3).

Tabela 3. Média do ganho ponderal total e semanal das gestantes segundo o trimestre gestacional. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Trimestre gestacional X Ganho de peso total (kg) X Número de semanas X

Ganho de peso semanal* (kg)

2° (14a 27 semanas) 6,55(±2,88) 13,23(± 2,12) 0,490 (± 0,19) 3° (28 a 42 semanas) 4,51(± 2,54) 8,93(± 2,19) 0,510(± 0,29) Total 11,06(± 4,27) 22,17(± 2,21) 0,500(± 0,19)

A tabela 4 mostra que não se verificou diferença estatisticamente significante, pelo teste t de Student, entre os ganhos médios semanais de peso do segundo e do terceiro trimestre mesmo quando se controlou o estado nutricional inicial (p=0,144 para baixo peso; p=0,181para eutrófica; p= 0,405 para sobrepeso/obesa). A análise de variância (ANOVA) mostra que o ganho de peso total apresentou diferenças estatisticamente significantes entre as três categorias do estado nutricional (p=0,029). O teste de comparações múltipla de Turkey mostrou que as mulheres com sobrepeso/obesidade tiveram um ganho de peso total estatisticamente menor do que as mulheres com baixo peso e com peso adequado (p<0,05) e que a diferença de ganho de peso entre as mulheres com baixo peso e peso adequado não foi estatisticamente significante (p>0,05).

Tabela 4. Média do ganho ponderal total e semanal das gestantes de acordo com o estado nutricional inicial, segundo o trimestre gestacional. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Estado nutricional

inicial

X

Ganho de peso total* (kg) X Ganho de peso semanal (kg) t de Student p Baixo peso 2° trimestre 6,65(±2,72) 0,499(±0,18) 0,144 3° trimestre 5,00(±2,82) 0,550(±0,30) Total 11,65(±4,57) 0,520(±0,19) Adequado 2° trimestre 6,85(±2,91) 0,508(±0,18) 0,181 3° trimestre 4,56(±2,32) 0,543(±0,29) Total 11,41(±3,90) 0,516(±0,17) Sobrepeso/obesa 2° trimestre 5,90(±2,92) 0,456(±0,21) 0,405 3° trimestre 3,95(±2,55) 0,429(±0,24) Total 9,85(±4,44) 0,444(±0,19) p=0,029 ANOVA * Teste de Turkey:

Sobrepeso/obesa difere de baixo peso e peso adequado p<0,05. Baixo peso não difere de peso adequado p> 0,05.

A figura 1 apresenta as distribuições da freqüência do ganho de peso semanal excessivo segundo o estado nutricional inicial no segundo e terceiro trimestre gestacional. O teste Qui-quadrado de tendência mostra que a freqüência de ganho de peso semanal excessivo aumentou de maneira significante em função do estado nutricional inicial apenas no segundo trimestre gestacional (p= 0,001). A comparação das proporções correlacionadas do ganho de peso semanal excessivo de cada estado nutricional entre o segundo e terceiro trimestre gestacional, não apresentou diferença estatisticamente significante pelo Teste de McNemar em nenhuma categoria (p=0,383 para baixo peso; p=0,878 para eutrófica; p= 0,678 para sobrepeso/obesa). Para o conjunto de todas as mulheres a freqüência do ganho de peso semanal excessivo foi de 45,7% no segundo trimestre e 46,3% no terceiro trimestre, perfazendo uma média de 46% de gestantes com ganho de peso semanal acima do recomendado pelo IOM.

Figura 1 - Freqüência do ganho de peso semanal excessivo de gestantes, segundo o trimestre gestacional considerando o estado nutricional inicial. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01. 31,1% 45,7% 60,3% 39,3% 44,0% 55,6% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Frequência de ganho de peso

semanal excessivo 2° trimestre 3° trimestre Trimestre gestacional Baixo peso p=0,383 Eutrófica p=0,878 Sobrepeso/obesa p=0,678

Teste Qui-quadrado de tendência:

Teste de McNemar

A Tabela 5 mostra a associação das variáveis estudadas com o ganho ponderal semanal excessivo no segundo trimestre de gravidez. Foi observada uma maior proporção de ganho de peso semanal excessivo nas gestantes com companheiro; com intervalo intergestacional superior a dois anos; multigesta; sem hábito de fumar; residentes fora da cidade do Recife; sem anemia; e com exame parasitológico positivo, porém essas diferenças não foram estatisticamente significativas.

Ao nível de significância de 5% constata-se que no segundo trimestre apenas a variável estado nutricional inicial apresentou uma associação significante com o ganho de peso semanal excessivo (p =0,005). A freqüência relativa do ganho de peso semanal excessivo em gestantes com sobrepeso/obesidade foi aproximadamente o dobro da freqüência relativa das gestantes de baixo peso.

Tabela 5. Associação entre as variáveis de análise de estudo e o ganho ponderal excessivo no

segundo trimestre. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Ganho ponderal semanal excessivo no 2ºtrimestre

Variáveis/ categorias Tamanho da amostra Não Sim %* p

Idade materna (em anos)

< 25 140 75 65 46,4 0,827

≥ 25 100 55 45 45,0

Estado nutricional inicial

Baixo peso 61 42 19 31,1 0,005 Eutrófica 116 63 53 45,7 Sobrepeso/obesa 63 25 38 60,3 Procedência Recife 123 69 54 43,9 0,538 Outras localidades 117 61 56 47,9 Situação marital Com companheiro 222 119 103 46,4 0,539 Sem companheiro 18 11 7 38,9 Ocupação

Trabalha fora de casa 97 52 45 46,4 0,886 Não trabalha fora de casa 143 78 65 45,5

Escolaridade (anos de estudo completos)

< 8 95 52 43 45,3 0,886  ≥ 8 145 78 67 46,2 Tabagismo Sim 14 10 4 28,6 0,182 Não 226 120 106 46,9 Número de gestações Primigesta 138 79 59 42,8 0,265 Multigesta 102 51 51 50,0

Intervalo intergestacional (em anos)

< 2 26 14 12 46,2 0,901 2 a 5 45 22 23 51,1  ≥ 5 31 15 16 51,6 Anemia (Hb< 11,0 g/dl) Sim 128 71 57 44,5 0,665 Não 112 59 53 47,3 Enteroparasitoses Ausência 158 92 66 41,8 0,122 Presença 68 32 36 52,9

A Tabela 6 mostra a associação das variáveis estudadas com o ganho ponderal semanal excessivo no terceiro trimestre de gravidez. Ao nível de significância de 5%, verifica-se que apenas as variáveis escolaridade e situação marital apresentaram associação estatisticamente significante com o ganho ponderal semanal excessivo. Especificamente, a freqüência relativa de ganho excessivo de peso foi maior entre as gestantes com oito anos ou mais de escolaridade (p= 0,011) e com companheiro(p=

Tabela 6. Associação entre as variáveis de análise e o ganho ponderal semanal excessivo no

terceiro trimestre. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Ganho ponderal semanal excessivo no 3° trimestre

Variáveis/ categorias Tamanho da amostra Não Sim %* p

Idade materna (em anos)

< 25 140 71 69 49,3 0,204

≥ 25 100 59 41 41,0

Estado nutricional inicial

Baixo peso 61 37 24 39,3 0,166 Eutrófica 116 65 51 44,0 Sobrepeso/obesa 63 28 35 55,6 Procedência Recife 123 65 58 47,2 0,674 Outras localidades 117 65 52 44,4 Situação marital Com companheiro 222 115 107 48,2 0,010 Sem companheiro 18 15 3 16,7 Ocupação

Trabalha fora de casa 97 55 42 43,3 0,516 Não trabalha fora de casa 143 75 68 47,6

Escolaridade (anos de estudo completos)

< 8 95 61 34 35,8 0,011 ≥ 8 145 69 76 52,4 Tabagismo Sim 14 10 4 28,6 0,182 Não 226 120 106 46,9 Número de gestações Primigesta 138 72 6 47,9 0,471 Multigesta 102 58 44 43,1

Intervalo intergestacional (anos)

< 2 26 18 8 30,8 0,278 2 a 5 45 25 20 44,4 ≥ 5 31 15 16 51,6 Anemia (Hb< 11,0 g/dl) Sim 128 68 60 46,9 0,729 Não 112 62 50 44,6 Enteroparasitoses Ausência 158 83 75 47,5 0,795 Presença 68 37 31 45,6

As Tabelas de 7 a 10 mostram os resultados da análise de regressão logística múltipla para avaliar o efeito conjunto das variáveis que apresentaram na análise univariada significância estatística ao nível de 25,0%. No segundo trimestre gestacional, apenas o estado nutricional inicial apresentou associação estatisticamente significante com o ganho de peso semanal excessivo (p= 0,006). No terceiro trimestre gestacional as variáveis que apresentaram associação estatisticamente significativa com o ganho de peso semanal excessivo foram a escolaridade materna (p = 0,008) e a situação marital (p= 0,013).

Tabela 7. Modelo de regressão logística múltipla relacionado ao ganho de peso semanal excessivo no segundo trimestre gestacional. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Variáveis/categorias OR ajustado IC 95% p Tabagismo 0,265 Sim 1 Não 0,5 0,15-1,69 Enteroparasitoses 0,156 Ausência 1 Presença 0,65 0,36-1,18

Estado nutricional inicial 0,004

Baixo peso 1

Eutrófica 2,28 1,13-4,61

Sobrepeso/obesa 3,85 1,74-8,51

Tabela 8. Fatores associados ao ganho de peso semanal excessivo no segundo trimestre gestacional de acordo com o modelo de regressão logística múltipla. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Variáveis/categorias OR ajustado IC 95% p

Estado nutricional inicial 0,006

Baixo peso 1

Eutrófica 1,9 0,97 - 3,57

Tabela 9. Modelo de regressão logística múltipla relacionado ao ganho de peso semanal excessivo no terceiro trimestre gestacional. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Variáveis/categorias OR ajustado IC 95% p

Idade materna 0,066

< 25 1

≥ 25 1,69 0,97 - 2,97

Estado nutricional inicial 0,105

Baixo peso 1 Eutrófica 1,31 0,67 - 2,53 Sobrepeso/obesa 2,24 1,04 - 4,82 Tabagismo 0,327 Sim 1 Não 0,53 0,15 – 1,88

Escolaridade (anos de estudo completos) 0,015

< 8 1

≥ 8 0,50 0,29 – 0,87

Situação marital 0,014

Sem companheiro 1

Com companheiro 5,04 1,38 – 18,39

Tabela 10. Fatores associados ao ganho de peso semanal excessivo no terceiro trimestre gestacional de acordo com o modelo de regressão logística múltipla. CAM/IMIP. Recife, PE, 2000/01.

Variáveis/categorias OR ajustado IC 95% p

Escolaridade (anos de estudo completos) 0,008

< 8 1

≥ 8 2,07 1,21 - 3,55

Situação marital 0,013

Sem companheiro 1

onsiderando que o ganho do primeiro trimestre em geral é muito variado (no máximo 2 a 3 kg) e pode ser até negativo BEREZOWSKI et al., (1989)e que, além disso, é a partir do segundo trimestre que o ganho de peso materno se torna mais significativo (ABRAMS, CARMICHAEL e SELVIN, 1995), no presente estudo a avaliação do estado nutricional foi baseado no ganho de peso durante o segundo e o terceiro trimestre em virtude da dificuldade de se obter os dados de peso do primeiro trimestre de gestação em cerca de 40% das gestantes.

C

Verificou-se que cerca de 50,0% das gestantes tinha estado nutricional inicial adequado e os índices de baixo peso e sobrepeso/obesidade praticamente se equivaleram (25,4% e 26,2% respectivamente). Com isso, se observa altos percentuais de inadequação nos estados nutricionais iniciais na população do presente estudo, tanto para o lado da desnutrição quanto para o sobrepeso. Estes dados foram muito semelhantes à pesquisa de STULBACH (2004), onde foi encontrado 21,0% de baixo peso e 24,0% de sobrepeso/obesidade na avaliação inicial das 141 gestantes em um serviço de saúde no município de São Paulo.

Apesar dos resultados encontrados nestes dois estudos, em regiões distintas do país, não se esperaria percentuais de desnutrição tão elevados para a região Nordeste, já que a desnutrição não mais representaria um problema de grande relevância, diante da atual transição epidemiológica e nutricional em que se encontra o Brasil. Caracterizada por uma mudança entre as duas tendências de sentindo contrário: declínio da desnutrição concomitante a emergência do sobrepeso /obesidade (MONTEIRO e MONDINI, 2001; ENGSTROM, 2002; SISVAN, 2002; BATISTA FILHO e RISSIN, 2003).

Dentro desta perspectiva, o estudo de NUCCI et al. (2001a), sobre avaliação de ganho de peso na gestação em seis capitais brasileiras, encontrou aproximadamente 25,0% das mulheres iniciando a gestação em situação de sobrepeso, mas apenas 6,0% com baixo peso. Embora ainda tenha sido constatado maior freqüência de sobrepeso nas capitais mais industrializadas (Porto Alegre, São Paulo, e Rio de Janeiro), enquanto as capitais situadas no Nordeste (Salvador e Fortaleza) apresentaram as maiores prevalências de baixo peso (9,2% e 6,9%, respectivamente) e as menores de sobrepeso/obesidade (23,9 e 20,8%, respectivamente). Essas diferenciações geográficas expressariam diferenciações sociais na distribuição da obesidade, existindo, em princípio, maior prevalência de sobrepeso/obesidade nas regiões mais ricas do Brasil (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003).

Estes dados foram ainda semelhantes aos encontrados em Nova Iorque-EUA, onde OLSON e STRAWDERMAN (2003) observaram que das 622 gestantes envolvidas no estudo 41,6% apresentavam sobrepeso/obesidade e apenas 9,0% baixo peso.

Permeando essas considerações, chama atenção também o fato da população estudada apresentar uma alta prevalência de anemia (53,3% das gestantes estudadas apresentaram concentração de hemoglobina abaixo de 11,0g% em torno da 16ª semana de gestação) e de parasitose intestinal (30,1%), desagregando as deficiências nutricionais, ou seja, numa mesma população encontra-se alta prevalência de anemia e parasitose intestinal e ao mesmo tempo alta prevalência de sobrepeso/obesidade. As mudanças nos padrões alimentares podem estar associadas a esses efeitos paradoxais como sugere BATISTA FILHO e RISSIN (2003) em seu artigo sobre transição nutricional no Brasil.

Na tentativa de explicar/entender esses efeitos, as gestantes estudadas poderiam ser alocadas em situação de “insegurança alimentar” entendido como “a limitação ou falta de disponibilidade de se obter alimentos seguros ou nutricionalmente adequados” (BICKEL, CARLSON e NORD, 1999). Há evidências de que a insegurança alimentar esteja associada à obesidade em mulheres adultas. Existem vários mecanismos propostos para explicar esta relação. Entre eles, o de que pessoas em situação de insegurança alimentar, apenas conseguem consumir alimentos baratos que possuem mais calorias resultando no acúmulo excessivo de energia e ganho de peso. Períodos de privação alimentar podem fazer com que o organismo utilize a energia disponível com mais eficiência e diante da disponibilidade não regular do alimento, as pessoas tendem a consumir mais do que necessitem levando a aumento de peso mesmo comendo menos calorias (ALAIMO, OLSON e FRONGILLO, 2001).

Neste estudo, foi encontrado um ganho total de peso médio de 11 kg (±4) a partir do segundo trimestre até o ultimo peso registrado no pré-natal, para o conjunto de todas as mulheres. Quando se controlou o estado nutricional inicial, observou-se que as gestantes inicialmente com sobrepeso/obesidade foram as que ganharam em média menos peso no total (9,8 kg), comparando-se com as eutróficas (11,4 kg) e as de baixo peso (11,6 kg).

Encontraram-se algumas semelhanças nos resultados do presente estudo quando comparado com o de Nucci et al. (2001a). A média no ganho total de peso entre o segundo e terceiro trimestre foi de 10,6 kg (±5) para o conjunto de todas as gestantes e houve também uma tendência de menor ganho de peso entre as inicialmente com sobrepeso/obesidade.

Embora no presente estudo, esses ganhos tenham apresentado diferenças estatisticamente significativas quando analisadas no seu conjunto, as diferenças ocorreram principalmente entre o sobrepeso/obesidade e as outras duas categorias (baixo peso e peso adequado) cuja diferença não foi significativa entre si. Este menor ganho de peso total entre as mulheres com maior IMC inicial (sobrepeso/obesas) tem sido registrado pelo IOM (1990), de modo que as mulheres com mais peso inicialmente, ganham menos peso no total, ainda que freqüentemente ultrapassem os limites das recomendações. E isto se observa porque é justamente esse o grupo cuja recomendação de ganho de peso é a mais restrita (IOM, 1990; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). Salienta-se que apenas para o grupo das obesas a recomendação poderia ter sido extrapolada, porém em virtude do reduzido número de gestantes nesta condição, elas foram analisadas em conjunto com as de sobrepeso e portando não sendo possível a análise desse pequeno grupo.

Não há consenso na literatura sobre qual seria o ganho ponderal materno total adequado (JOHNSON e YANCEY, 1996). O próprio Ministério da Saúde do Brasil ainda não tem uma normatização clara sobre o assunto e refere que o ganho de peso na gestação em geral varia entre 6 e 16 kg, recomendando por outro lado, que o ganho mínimo não seja inferior a 8 kg (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). Esta dificuldade na padronização provavelmente se deve a falta de uma base de dados consistente e de estudos que demonstrem os limites a partir dos quais, ocorreriam repercussões negativas para mulher e para as crianças.

Enquanto isso, os estudo demonstram divergentes resultados na média de ganho de peso das gestantes. OLSON e STRAWDERMAN (2003)encontraram uma média de ganho

ponderal total em gestantes americanas de 13,5kg (±5). POLETTI et al. (2000), estudando gestantes portenhas, obtiveram um ganho ponderal médio de 13,7kg (±6). WINKVIST et al. (2002), encontraram um ganho médio de peso de 8,3kg (±3) em gestantes na Indonésia. Enquanto em dois diferentes serviços de saúde no município de São Paulo, MACÉA, KRONFLY e MESERANI (1996) identificaram valor médio de 12,3kg e NUCCI et al. (2001a) obtiveram valor de 12,7kg (± 6).

A escolha do melhor método de avaliação do estado nutricional na gestação ainda é alvo de grandes discussões na literatura e nas instâncias responsáveis pelo monitoramento nutricional nos serviços de saúde no Brasil (COELHO, SOUZA e BATISTA FILHO, 2002; ENGSTROM, 2002). Enquanto se aguarda uma padronização do Ministério da Saúde, o SISVAN em 2002, publicou um documento adequando a avaliação nutricional das gestantes com base nas recomendações preconizadas pelos comitês internacionais de saúde: OMS e IOM (ENGSTROM, 2002).

Baseado então nos critérios do IOM (1990), foi observado que cerca de 46% do total das gestantes estudadas apresentaram ganho de peso semanal excessivo. Esse percentual está acima do encontrado em outros estudos que utilizaram os mesmos critérios. OLSON e STRAWDERMAN (2003) encontraram 42% de ganho de peso semanal excessivo em gestantes residentes em Nova Iorque. NUCCI et al. (2001a) registraram ganho de peso excessivo em 32,3% das gestantes avaliadas na 40a semana de gestação em estudo realizado em seis capitais brasileiras. STULBACH (2004) observou ganho de peso excessivo em 37% das 141 gestantes avaliadas em um serviço de saúde no município de São Paulo no período de 1997 a 1998.

Em uma revisão sobre ganho de peso gestacional constatou que apenas 30 a 40 % de gestantes ganham peso dentro do recomendado pelo IOM (HICKEY, 2000).Além disso, RHODES et al., (2003), numa revisão sobre a distribuição do ganho de peso excessivo durante a gravidez e macrossomia, observou uma elevação nas taxas de ganho de peso acima do recomendado de 19,8% em 1990 para 24,7% em 2000.

Diante desses dados, chama-se a atenção para duas vertentes de preocupação: a prevalência elevada no ganho de peso acima das recomendações parece ser uma tendência mundial e a alta freqüência de ganho de peso excessivo em nossa região quando comparado com outras regiões do país. Isto poderia estar refletindo as mudanças que estão ocorrendo no padrão alimentar para a consolidação da denominada “dieta ocidental” referida por MONTEIRO et al. (1995), ou seja, uma dieta rica em gorduras, particularmente de origem animal, açúcar e alimentos refinados e, reduzida em carboidratos complexos e fibras.

Apesar das gestantes com sobrepeso/obesidade inicial terem ganhado menos peso total e de maneira significativa (p<0,05) em comparação com as de baixo peso e eutróficas, foram as que mais ultrapassaram os limites do ganho de peso semanal. Embora isto tenha ocorrido de forma similar no 2o e 3o trimestres, houve uma tendência de ganho de peso semanal excessivo, ascendente e diretamente proporcional com o estado nutricional inicial, apenas no 2o trimestre gestacional (p=0,001).

A freqüência relativa do ganho de peso semanal excessivo das gestantes com sobrepeso/obesidade foi, aproximadamente, igual ao dobro da freqüência relativa das gestantes classificadas inicialmente como de baixo peso. O maior ganho de peso

semanal observado nas mulheres que já iniciam a gestação com peso acima do ideal têm sido referido, entretanto, é importante identificar até que ponto a transposição desses limites são prejudiciais ao resultado do parto. STULBACH (2004) evidenciou uma chance de ganho ponderal semanal excessivo duas vezes maior nas gestantes com estado nutricional inicial de sobrepeso/obesidade do que nas desnutridas e NUCCI et al. (2001a) igualmente encontrou ganho de peso acima do recomendado em torno de 50 % entre as que já eram sobrepeso. COGSWELL et al. (1995), num estudo realizado com mulheres de baixa renda dos EUA, também verificou resultados preocupantes, onde 68,0% das gestantes com sobrepeso e 52,0% das obesas ganharam peso acima do recomendando pelo IOM (1990).

Não está claro o que levaria a ocorrência deste fenômeno. STRYCHAR et al. (2000) estudando os fatores psicossociais e estilo de vida associados ao ganho de peso durante a gestação, sugere que gestantes com maior IMC inicial ultrapassam as recomendações de ganho de peso semanal e associa esta ocorrência às mulheres com menos atitudes favoráveis ao ganho de peso, menor conhecimento a cerca da importância de não ganhar peso excessivo durante a gravidez quando comparadas às mulheres que tiveram ganhado peso adequado ou abaixo do recomendado.

Em relação as variáveis avaliadas como possivelmente associadas ao ganho de peso semanal excessivo nesta população, apenas o “estado nutricional inicial” apresentou uma associação significante no segundo trimestre de gestação, de modo que as gestantes com sobrepeso/obesas teriam 3,4 vezes mais chance de ganharem peso semanal excessivo quando comparadas com as de baixo peso. Já no terceiro trimestre, ao invés do estado nutricional inicial, foram as variáveis “escolaridade” e “situação marital” as

que apresentaram associação estatisticamente significante com o ganho de peso semanal excessivo. Especificamente, o ganho de peso semanal excessivo foi maior entre as gestantes com oito ou mais anos de estudo (OR=2,07) e com companheiro (OR=5,05).

Comparando esses resultados com os obtidos por STULBACH (2004), que analisou entre suas variáveis algumas em comum com o estudo em pauta, encontrou-se a variável “escolaridade materna” associada ao ganho de peso semanal excessivo no segundo e trimestre de gestação. Além das variáveis “estado nutricional inicial” e “situação marital” apenas no 3o trimestre. Enquanto que no presente estudo a “escolaridade materna” só apresentou associação com o ganho de peso semanal excessivo no terceiro trimestre juntamente com a variável “situação marital”. O “estado nutricional inicial”, por sua vez, foi o único fator que esteve associado ao ganho de peso semanal excessivo no segundo trimestre. Desse modo, poderemos aceitar que de alguma forma o “estado

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