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5. AS ESCOLAS COMUNITÁRIAS RURAIS MUNICIPAIS (ECORMs): UMA

5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ECORMs

5.1.1 Aspectos Administrativos

As ECORMs possuem estatuto próprio desde a sua criação por ser uma modalidade de educação, com peculiaridades e especificidades próprias quanto aos aspectos pedagógicos (metodologia específica), de envolvimento e participação das famílias e de gerenciamento em parceria com os agricultores. São administradas conjuntamente pela Assembleia Geral e Conselho de Escola, cabendo ao diretor executar as decisões, juntamente com a equipe docente.

A estrutura de participação/decisão no processo ensino/aprendizagem desenvolvido nas ECORMs presente no seu Regimento Comum aprovado em 2003 pela Superintendência Regional de Educação Litoral Norte se encontra assim estruturado:

1. Conselho de Escola

O Conselho de Escola é o órgão de representação dos pais, monitores, estudantes, funcionários das escolas e representantes das comunidades. A composição dos Conselhos das ECORMs é formada por:

I Diretor;

II Um representante do pessoal administrativo;

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A respeito do processo de criação das Escolas Comunitárias Rurais de Jaguaré, sujeitos envolvidos, expectativas, utopias, estratégias de organização das famílias, dificuldades, ver Moreira (2000) e Cruz (2004).

III Um representante de cada comunidade do raio de ação da escola, que tenha o mínimo 03 (três) alunos matriculados;

IV Um representante de Associações das comunidades que compõem o raio de ação da escola;

V Um representante de alunos eleito pelos próprios alunos;

VI Um representante de ex-alunos eleito pela assembleia de ex-alunos; VII Um representante da categoria do magistério;

VIII Um representante dos pais eleito pela assembleia geral de pais; IX Coordenador da comunidade onde a escola está inserida.

Parágrafo Único – Na falta do representante de Associações a

representação de pais aumentará para duas vagas (Regimento Comum das ECORMs da Rede Municipal de Ensino, 2003, p. 13).

Com exceção do diretor, que é membro nato, os demais são escolhidos entre os seus pares. Os Conselhos se reúnem mensalmente para refletir e encaminhar as ações propostas pelas Assembleias Gerais das escolas. Essas reuniões são lavradas em forma de atas em livro próprio que são lidas no início de cada reunião, debatendo os pontos que por ventura não forem coerentes com o que foi dito pelos conselheiros. Geralmente é o diretor da escola que apresenta a pauta com os assuntos, prosseguindo com a coordenação pelo presidente ou vice-presidente do Conselho. Através da vivência constata-se que o único segmento que vai para a reunião com os assuntos propostos discutidos na equipe é o segmento monitor.

Os assuntos mais debatidos são: a preparação de Assembleias Gerais, a alimentação dos estudantes, a evasão de estudantes, atuação dos membros do Conselho, comportamento dos estudantes, avaliação final, encontro de formação das famílias, integração da escola com a comunidade, assembleia de ex-estudantes, a propriedade das escolas, entre outros. Essas reuniões duram em média três horas e ao final marca-se a próxima.

A respeito da função da associação, assim se expressou o diretor técnico da SMFR:

Uma organização local de base participativa, a ASSOCIAÇÃO, onde as famílias, as comunidades, as instituições locais, os profissionais do setor, junto aos promotores e as pessoas presentes no meio e comprometidas com o projeto, são responsáveis pela gestão e o desenvolvimento do meio. Puig (1999, p. 18).

O marco teórico a partir das MFRs e posteriormente das EFAs propõe como forma de organização das famílias a associação, inclusive esse é um dos pilares ou

princípios desse movimento. Ocorre que na época de criação das ECORMs, (1989/1990) essa instância de participação das famílias ainda não havia sido instituída nas EFAs do MEPES conforme analisa Begnami:

Nessa primeira fase da EFA no Brasil, em particular no Espírito Santo, a preocupação é criar unidades educativas. A associação gestora, formada pelas famílias, pessoas e entidades afins, um dos princípios fundamentais dessa iniciativa educativa, conforme os princípios do movimento, surge num período posterior: ou seja, o MEPES, enquanto mantenedora legal, assume também as responsabilidades financeiras e de gestão do sistema. Por isso, podemos afirmar que inicialmente a EFA no Brasil é uma escola para o campo e não, propriamente do campo. Begnami (2004, p. 6)

Nessa época, a prática de gestão dos agricultores nas Escolas Famílias do MEPES era através do Conselho Administrativo. Dessa forma o Regimento Comum das Escolas Comunitárias Rurais foi elaborado com base naquele das EFAs nos aspectos pedagógicos e administrativos de gerência e de participação. Com a reestruturação do Regimento Comum das Escolas Famílias e criação das associações como entidades jurídicas, não foi de interesse da Secretaria de Educação essa opção instituindo o Conselho de Escola conforme orientações do MEC para as escolas públicas do Sistema Brasileiro de Educação.

2. Assembleia Geral

Constitui-se na estância maior de decisão das ECORMs, sendo constituída de acordo com o Regimento Comum dessas escolas, arts 10 e 11, pelo Diretor da escola, pelas famílias, Conselho de Escola, Equipe Docente e demais Funcionários da Escola com as seguintes finalidades: decidir sobre as atividades administrativas e pedagógicas das Escolas como calendário escolar, funcionamento da propriedade, alimentação, viagens de estudo, aprendizagem e comportamento dos estudantes e outras atividades relacionadas ao funcionamento das escolas.

Durante o ano letivo são realizadas três assembleias gerais em cada ECORM. A primeira é utilizada com a finalidade de apresentar, debater e aprovar o planejamento anual das atividades, a organização das escolas, conhecimento dos pais, monitores e funcionários novos nas escolas e nas equipes. São apresentados os setores pedagógico, administrativo e agropecuário, também se discute com as

famílias as normas da escola, a aplicação dos recursos, as atividades de formação e de integração promovidas pela escola e pelo RACEFFAES. A segunda assembleia realizada geralmente no mês de julho às vezes é utilizada para avaliar as ações desenvolvidas no primeiro semestre ou é utilizada como momento de formação com as famílias sobre algum tema de necessidade sentida pela equipe ou sugerido pelos pais. Já a última assembleia realizada no final de novembro ou início de dezembro, tem como finalidade avaliar as ações desenvolvidas pelas escolas durante o ano letivo e definir as prioridades para o ano subsequente.

3. Comissão Municipal

Presente na prática e no Regimento Comum desde a criação dessas escolas, essa instância da estrutura administrativa tem como finalidade manter o relacionamento e a unidade administrativa e pedagógica entre as escolas, estabelecer relações com instituições e organizações relacionadas com a Pedagogia da Alternância, incentivar o aperfeiçoamento técnico-pedagógico dos monitores por meio de um plano de formação inicial e continuada específico dessa pedagogia, aprofundar e encaminhar as discussões gerais das escolas principalmente àquelas que dizem respeito ao conjunto das três e de avaliar as ações desenvolvidas nas Escolas Comunitárias Rurais, propondo ou sugerindo novas ações.

Essa comissão é formada pelo presidente do Conselho e pelo diretor de cada escola, pelo secretário municipal de educação e cultura e o coordenador pedagógico. Na prática tem se observado que não está claro para os pais e monitores, e mesmo os diretores e presidentes dos Conselhos das Escolas Comunitárias se é um órgão consultivo e/ou deliberativo. Há também uma discussão da necessidade de ampliação da quantidade de agricultores nesse canal de discussão e participação em função de se garantir uma equidade entre os segmentos participantes: pais (agricultores) e educadores, criando as condições para que de fato os agricultores tenham poder nas decisões e aconteça a almejada gerência do agricultor.