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3 Incontinência urinária na pessoa idosa: o estado da arte

3.1 Aspectos conceituais e epidemiológicos

Até 1998, a IU era considerada um sintoma. Após esse período, passou a ser entendida como uma doença pela Classificação Internacional de Doenças (CID/OMS)57. Atualmente, a IU é considerada uma das mais importantes e recorrentes síndromes geriátricas17,58-60. Ressalta-se que o Comitê de Padronização da International

Continence Society (ICS) define a IU como “perda involuntária de urina”, podendo ser

classificada a partir dos sintomas específicos referidos pelos portadores como: incontinência urinária de esforço, hiperatividade vesical e incontinência urinária mista44. Vale destacar que a nova forma de se entender a IU proposta pela ICS modifica também sua definição original, elaborada nos anos 1990, a qual concebia o evento apenas como perda urinária que causasse desconforto social ou higiênico no portador ou que se relacionasse negativamente à qualidade de vida. Na nova contextualização do fenômeno, a ICS preconiza que a IU compreende “qualquer queixa de perda de urina involuntariamente”, que deve ser abordada considerando-se um conjunto de fatores específicos e relevantes, tais como tipo, frequência, gravidade, fatores precipitantes, impacto social, efeitos na higiene e na qualidade de vida, medidas usadas para quantificar a perda, além de informação relativa à procura ou não de ajuda para aliviar os sintomas por parte da pessoa acometida 44,57,61.

A IU tem sido apontada por estudiosos como um problema de saúde pública que pode afetar pessoas de todas as faixas etárias, no entanto sua prevalência é maior na população feminina e aumenta com o avanço da idade 35,41-44 devido à magnitude de sua ocorrência e consequências. Verifica-se que, além de possuir múltiplas etiologias com grande complexidade terapêutica, a IU gera enorme impacto sobre a qualidade de vida dessas pessoas, principalmente quando se torna higienicamente inaceitável62.

Quanto aos índices que apontam a prevalência da IU nos diferentes contextos geográficos e sociais, estes, no geral, não guardam consonância, pois dependem das características da população investigada, como a idade, o sexo, as condições físicas e mentais; estado geral de saúde, definição de incontinência adotada; desenho metodológico e instrumentos de coleta de dados utilizados, além da quantidade inexpressiva de estudos envolvendo o tema45,61,63.

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A realidade ora exposta é ratificada pelos resultados de estudos aqui apontados: no contexto internacional, pesquisa afirma que a prevalência de IU afeta cerca de 30% a 50% das mulheres idosas residentes na comunidade, na qual verifica-se que 15% delas experimentavam episódios diários de IU35. Em estudo longitudinal com duração de nove anos, identificou-se uma prevalência de IU de 14% entre as mulheres idosas64.

Do mesmo modo, autores nacionais59, 62 afirmam que a prevalência da IU afeta cerca de 30% a 50% em instituições de longa permanência. Assim, evidencia-se que o índice geral de prevalência de algum tipo de perda urinária em mulheres idosas varia de 17% a 55% e para aquelas com perdas diárias varia de 3% a 17%65.

Pesquisa nacional envolvendo 270 idosas (60 a 92 anos) provenientes de uma amostra populacional de Porto Alegre verificou uma prevalência de IU de 57,4% 66. Outro estudo com mulheres idosas realizado no município de Petrolina, em Pernambuco, identificou elevada prevalência de IU correspondendo a 47,1%67. Na Paraíba, estudo censitário envolvendo pessoas idosas, realizado no município de João Pessoa, identificou uma prevalência de IU de 15% entre as mulheres68.

Nas mulheres, as estimativas da IUE variam, dependendo da população estudada, mas, na maioria dos estudos, os autores afirmam que é o tipo mais comum entre os tipos de IU na população feminina65, 69-70. Segundo a revisão das diretrizes internacionais fundamentais para IU, cerca de 50% das IUs é atribuível à IUE51. Já em pesquisa multicêntrica com 29.500 mulheres residentes na comunidade, em quatro países europeus (França, Alemanha, Espanha e Reino Unido), evidenciou-se que 35% relataram perda involuntária de urina nos últimos trinta dias; e a IUE foi o tipo mais prevalente71. No Brasil, pesquisa realizada envolvendo 456 mulheres em um inquérito domiciliar com queixa de IU conclui que, apesar da elevada prevalência de sintomas irritativos, a IUE foi a principal afecção urinária nas mulheres climatéricas, com 35% das mulheres que se queixaram de perda de urina por esforços, sendo que 10,7% referiram que essa perda ocorria sempre e 24,3% apresentavam perda urinária esporádica72.

As tendências demográficas globais sugerem ainda que a incidência de IU vai aumentar nos próximos anos, trazendo significativos problemas à saúde e implicações econômicas para os doentes e familiares73. Uma das justificativas respalda-se no aumento da expectativa de vida, em especial das mulheres, resultante do avanço da medicina, aliado à melhora das condições de vida. Dados da American College of

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Physician74 revelam que os gastos relacionados à IU, nos Estados Unidos, foram

estimados em 19,5 bilhões de dólares no ano de 2004 e cerca de 6% das internações nas instituições de longa permanência constituiu-se de mulheres idosas, que custou cerca de 3 bilhões. Estima-se que com o envelhecimento da população, os gastos deverão aumentar ao longo dos anos75.

Ante essa problemática, verifica-se a relevância epidemiológica do problema em virtude de suas implicações negativas para o indivíduo portador, para os familiares e para o sistema de saúde, em especial, por esse suscitar o aumento da demanda de cuidado, além da elevação dos custos econômicos. Calcula-se que 25% do cuidado de enfermagem dispensado em hospitais geriátricos são destinados à assistência a pacientes com IU, pois os mesmos requerem pelo menos duas vezes mais esse cuidado do que aqueles não incontinentes76.