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3 Incontinência urinária na pessoa idosa: o estado da arte

3.4 Terapia Comportamental como estratégia de cuidado para IUE

A “Terapia Comportamental” (TC) é o tratamento de primeira escolha para diminuir ou eliminar qualquer tipo de IU por ser de baixo custo, seguro e eficaz na maioria dos casos. Atualmente, preconiza-se que o tratamento para IUE seja iniciado com a técnica menos invasiva e que apresente o menor índice de efeitos colaterais para somente em caso de não ocorrer benefício submeter a pessoa incontinente a um procedimento cirúrgico51,59. Diante destas ponderações, o enfermeiro deve criar

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estratégias para os indivíduos mais acometidos pelo problema da IUE a fim de que estes sejam capazes de enfrentar esse problema ao longo da vida e melhorar a qualidade de vida por meio de tratamentos úteis, acessíveis, de forma padronizada e com relevância científica.

A TC é contemplada por várias intervenções de Enfermagem da NIC, com destaque para a “Modificação do comportamento” que contempla 42 atividades e a define como “promoção de uma mudança de comportamento”54:234. A TC é também apresentada por diversos autores com algumas variações, observadas nos tópicos que se seguem.

No DeCS89 da BVS, o termo que designa a TC em inglês é “Behavior

Therapy”, em espanhol “Terapia Conductista” e em português possui a mesma

determinação, sendo definida como “aplicação de teorias modernas de aprendizagem e de condicionamento para o tratamento dos transtornos do comportamento”. Na análise dos estudos35,39-40,51 acerca dessa temática, verifica-se que os termos “terapia conservadora”, “terapia não farmacológica” e “gestão não cirúrgica” são utilizados como sinônimos da “Terapia comportamental” ou, na maioria das vezes, englobam esta estratégia terapêutica, o que também é corroborado pelos protocolos e diretrizes clínicas74,87,90-91, contudo os termos “terapia conservadora” e “terapia não farmacológica” não são identificados entre aqueles elencados no DeCS.

A TC é considerada, atualmente, o ponto-chave da terapêutica em IUE, pois auxilia a pessoa a entender o funcionamento vesical, os mecanismos de perda urinária e o funcionamento do assoalho pélvico. Inclui também a mudança do estilo de vida, como hábitos alimentares saudáveis e exercícios regulares, redução de alimentos irritantes vesicais na dieta (cafeína, adoçantes artificiais, frutas ácidas, tomates, chocolates, laticínios e álcool) e cuidados básicos com higiene; além de orientação sobre a importância de cessar ou reduzir o consumo de cigarros, realizar exercícios do assoalho pélvico, monitorizar a ingestão hídrica por meio do diário miccional, adequar seus hábitos intestinais regulares e controlar o peso corporal39,52,86,103. Em pessoas idosas, a TC pode ser acompanhada por um cuidador, que, se necessário, observa as medidas orientadas86.

O tratamento conservador pode ser realizado ainda através de farmacoterapia, terapias comportamentais, dispositivos de tampão uretral e terapias físicas, como exercícios de Kegel, exercícios hipopressivos, cones vaginais, biofeedback,

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eletroestimulação e estimulação magnética. Existem várias modalidades de tratamento conservador para a IU, porém a eficácia é variável e requer estudos para identificar qual a terapêutica mais indicada de acordo com o tipo de IU, reiterando que a combinação de diferentes estratégias proporciona melhores resultados103.

É oportuno mencionar que, em mulheres idosas, a colocação de objetos intracavitários (probe da eletroestimulação, estimulação magnética, o uso do

biofeedback e de cones vaginais) na TC pode ser inoportuna por terem prejuízo na

lubrificação vaginal em detrimento da diminuição de estrogênios. Além disso, deve-se levar em consideração os aspectos culturais e o desejo das mesmas86.

Revisão sistemática acerca do tratamento não cirúrgico para IUE evidenciou que não há evidências científicas suficientes que determinem se o uso de eletroestimulação, biofeedback ou cones vaginais associados aos exercícios de assoalho pélvico trazem benefícios adicionais no tratamento de pessoas com IUE, entretanto faz alusão que esses métodos são importantes no treinamento apenas daquelas com pouca consciência corporal relativa à musculatura do assoalho pélvico104.

Na condução desta pesquisa, por se tratar da construção de um protocolo de intervenções específicas de enfermagem para mulheres idosas com IUE na Atenção Primária, não foram contempladas na TC a farmacoterapia em virtude de esta não ser ação do campo da Enfermagem; nem os dispositivos invasivos por seu uso envolver questões culturais, sexuais e fisiológicas, pouco mencionadas, além da falta de aparelhos e recursos nos cenários que serão aplicados o protocolo.

Mediante estas ponderações, para operacionalização da TC em mulheres idosas com IUE, o enfermeiro necessita apropriar-se de conhecimentos que envolvem a gerontologia, a uroginecologia, a estomaterapia, assim como os fundamentos da terapia cognitiva e comportamental, relativa à abordagem dos exercícios da musculatura pélvica e os fatores que reduzem e que agravam os sintomas de IU52.

Salienta-se, ainda, que o fundamento da TC consiste na implementação de uma técnica chamada de condicionamento operante. Isso ocorre quando os comportamentos recompensatórios tendem a ser repetidos, substituindo aqueles indesejados, na medida em que a mulher idosa observa a melhora da incontinência quando adere à terapia, ela passa a repetir as ações orientadas pelo profissional até fazer parte do seu cotidiano, então, observa-se que houve mudança no seu hábito de vida52.

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A partir do exposto, observa-se que os resultados obtidos por meio deste estudo representam subsídios importantes para o planejamento, construção de protocolos e implementação de intervenções de enfermagem específicas para a melhoria das condições de vida e do bem-estar de mulheres idosas com IUE, além de servir como base para o desenvolvimento de outras pesquisas que venham subsidiar a prática envolvendo o problema em questão.

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