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Com essa abordagem expressa no item anterior, observa-se uma preocupação evidente com o uso desordenado do espaço litorâneo, o que induziu os gestores à busca de soluções capazes de minimizar os enormes prejuízos aos estoques dos recursos ambientais abrigados nessas áreas. Daí, o desencadeamento, por todas as partes do mundo, de inúmeras ações no sentido de conceber um plano para disciplinar a ocupação e assegurar a preservação dos atributos que envolvem esse ambiente como um todo, sendo o Ordenamento Territorial o principal instrumento de representação dessa proposta.

Diante dessas observações convém ressaltar que no caso da concepção de uma Política Nacional de Ordenamento Territorial, a questão ambiental também necessita ser tratada como prioridade, seja em termos da identificação dos passivos ambientais existentes no território usado, seja quanto ao uso futuro do patrimônio natural. Nesse particular, o conceito de fundos territoriais incorpora-se como uma categoria central do planejamento estratégico num país com as características geográficas do Brasil. A riqueza natural brasileira precisa ser bem dimensionada em face dos planos de desenvolvimento. O mar territorial e jurisdicional, por exemplo, carece de maior relevância na definição das estratégias de desenvolvimento nacional, conforme Moraes (2005). Enfim, diretrizes de planejamento ambiental estratégico necessitariam constar da política em discussão.

Ao focar nesse item a discussão na gestão costeira, convém atentar para os aspectos pragmáticos que envolvem a implantação de uma política de ordenamento territorial, enquanto instrumento da gestão costeira em países da União Europeia e da América Latina, analisando a forma como esses países conduziram esse processo.

Na França, o modelo de Ordenamento Territorial implementado caracterizou-se como descentralizador, porém, com matizes ainda centralizadoras, pois, ainda há uma grande concentração na tomada de decisões. Atualmente, foram estabelecidas algumas prioridades que conduzem o Ordenamento Territorial francês, tais como:

i) reforçar a competitividade dos territórios; ii) monitorar as transformações territoriais; iii) desenvolver ações de solidariedade territorial; iv) reforçar as parcerias com as coletividades locais; e

v) enfrentar os novos desafios europeus (BRASIL, 2006, p.114). Novos objetivos foram também definidos:

i) criar pólos de competitividade e os Pôles d’excellence rural; ii) apoiar e facilitar o desenvolvimento de metrópoles com uma escala

européia;

iii) facilitar o acesso às novas tecnologia da informação e de comunicação; iv) melhorar as infra-estrutura de transporte e o acesso aos serviços públicos; v) ordenar o desenvolvimento do litoral (BRASIL, 2006, p.114).

Para esse mesmo autor, Brasil (2006), a zona costeira francesa é um espaço bastante dinâmico do ponto de vista da expansão urbana, face aos atrativos que oferece não só pela qualidade de vida, mas também, pelas oportunidades de emprego. Esse fato contribuiu para a ocorrência de uma ocupação desordenada e degradação do meio ambiente motivando o

Estado francês a definir alguns objetivos visando favorecer ao ordenamento costeiro: i) o controle da pressão fundiária; ii) a diversificação econômica respeitando as vocações regionais; e iii) a integração do litoral e integração do interior numa abordagem global.

A Itália buscou ordenar o seu território a partir de um amplo conhecimento de sua base territorial, implementando políticas voltadas a incrementar as potencialidades locais e regionais, aproveitando o apoio de fundos da União Europeia que investidos processos produtivos de reconhecido potencial, ampliando as condições de desenvolvimento desses territórios.

No caso italiano, a maior parte dos instrumentos de gestão do território busca incitar e persuadir a promoção de ações transversais e parcerias aos arranjos produtivos bem sucedidos, com elevada representatividade no contexto territorial, a exemplo dos Pactos Territoriais e outros. “É um modelo, portanto, fortemente enraizado no território, pelo que pode ser chamado de governança territorial e é induzido pelo papel crescente e a diversificação dos atores territoriais, locais e regionais, nos processos de decisão e implementação das políticas” (BRASIL, 2006, p.117).

Em síntese, os mecanismos utilizados nos casos da União Européia, da França e da Itália dão prioridade:

- à definição veraz da problemática e à definição dos objetivos; - à forma e eficiência da alocação dos recursos;

- às formas organizacionais de implementação das políticas;

- às formas de cooperação horizontal e vertical com inclusão dos agentes privados e da sociedade civil; e

- aos mecanismos de gestão que envolvem a avaliação e monitoramento das ações implementadas” (BRASIL, 2006, p.117).

Em seus estudos sobre a zona costeira da Espanha, Barragán Muñoz (2001) ao analisar a gestão do litoral espanhol, como forma de ordenar sua ocupação, o faz a partir de um contexto mais amplo, quando não direciona suas atenções apenas ao próprio país, mas estendendo ao continente europeu, pois entende ser este marco operativo imprescindível para melhor compreensão dos processos ocorrentes. A razão para esse entendimento é o fato de que os sistemas de planejamento e gestão não podem ser compreendidos de forma isolada; por si mesmos, e pensando apenas no objeto ou no âmbito geográfico administrado. Para o autor, deve-se primeiro estabelecer as prioridades e oportunidades que cada país tem com relação à situação de seus recursos e de seu desenvolvimento.

Para Barragán Muñoz (2003 b) a Espanha se apresenta igual a muitos outros países, onde a gestão do território litorâneo tem sido basicamente, uma função pública; devido no essencial ser a que administra espaços e recursos de natureza, domínio e direitos públicos.

Continuando sua análise sobre o litoral espanhol, o autor propõe um diagnóstico para o planejamento e gestão de áreas costeiras, relacionando dez aspectos, considerados relevantes para a gestão do espaço litorâneo, a saber: política, normativo, competências, administração, estratégias, instrumentos, administradores, recursos, informação e participação.

Em registro do documento Brasil (2006), na América Latina, caso do México, houve uma integração com o North American Free Trade Agreement – Nafta, exigindo ajustes às normas regulatórias com suas peculiaridades, tanto na forma de inserção no processo de integração, como quanto ao posicionamento dentro do bloco. Constatou-se que a liberalização econômica provocou conseqüências marcantes em face da ampliação das desigualdades regionais e a abertura de novas dimensões de desigualdade territorial.

O citado documento assinala também que o processo de regionalização a que foi conduzido o México centrou-se na liberalização comercial, contribuindo para a implementação de políticas neoliberais. Em vista desse fato, houve um favorecimento de setores exportadores e ao segmento de indústrias maquiladoras, inseridas territorialmente ao longo da fronteira com os EUA.

Dessa forma, Brasil (2006) acentua que o processo mexicano em curso não tem se mostrado capaz de superar as profundas desigualdades territoriais existentes, contribuindo para agravar ainda mais essas desigualdades, em associação ao processo de integração no Nafta.

Assim, sob essa perspectiva, o modelo mexicano não segue a tendência de descentralização verificado na União Europeia, e acaba por recriar um modelo híbrido e contraditório, no qual, privilegia as empresas apenas setores socioeconômicos e, ao mesmo tempo, formula políticas e mecanismos visando superar suas desigualdades sociais.

Já na Venezuela, país pioneiro na América Latina em matéria de construção da política nacional de ordenamento territorial, que remonta seu início a 1976, sua experiência pode ser importante para o Brasil (ESTABA, 1999).

Sobre o Ordenamento Territorial esse autor pondera que:

A ordenação do território ou a sistematização do desenvolvimento no espaço geográfico constituem-se em outra estratégia rumo à modernidade e atada à idéia de descentralização, já que parte do reconhecimento do

desenvolvimento desigual das regiões de um país, tal como resultante do desmesurado centralismo na Venezuela (ESTABA,1999).

Cabeza (2002) afirma que a ordenação do território (Ordenamento Territorial) tem sido objeto de diversas interpretações no mundo. Ele afirma não haver unidade de critério, chegando-se inclusive a concepções ecléticas como a da Carta Europeia de Ordenação do Território.

Em Estaba (1999), encontra-se a assertiva de que a literatura examinada evidencia que se está diante de um conceito impreciso e polissêmico. O seu processo de construção, obviamente, reflete os diversos processos diferenciados das experiências de políticas de ordenamento territorial. Neste sentido parece ser significativa a experiência da Venezuela, porquanto sugere apontar para similitudes com a experiência brasileira de reforma do Estado.

Nesse país vizinho, o ordenamento territorial acena ser considerado como uma estratégia de desenvolvimento territorial associado aos processos de descentralização política. Tal enfoque talvez possa ser importante para uma reflexão.

No que diz respeito à Argentina, Barragán Muñoz (2001) descreve que este país apresenta em seu litoral quatro regiões distintas do ponto de vista dos aspectos físico-naturais e socioeconômicos, e vários problemas comuns que lhes afetam em maior ou menor grau, tais como: a) privatização do domínio público; b) planificação inadequada da urbanização costeira; c) contaminação associada a atividades industriais e centros urbanos; d) erosão costeira produto de manejo costeiro incorreto; e) sobre-explotação de recursos naturais; f) fragmentação de habitats, perda de biodiversidade e espaços naturais; g) incremento da vulnerabilidade costeira.

O autor em referência faz a seguinte proposição para o caso argentino:

Algunos puntos preliminares a considerar para el desarrollo de un Programa de Gestión Costera Integrada podrían ser los siguientes: a) Definición de una política gubernamental respecto al espacio y recursos costeros; b) Creación de una organización institucional específica básica; c) Asegurar la financiación del Programa; d) Establecimiento de mecanismos de coordinación y cooperación interinstitucionales; e) Generación de modalidades de participación pública, aumento de la concienciación y educación públicas en relación a los recursos costeros; f) Desarrollo de iniciativas vinculadas a la investigación e información; g) Capacitación y formación técnica específicas; h) Fomento de la cooperación internacional para mejor aprovechamiento de la experiencia adquirida (BARRAGÁN et al. 2003 a).

Em sua avaliação sobre o Chile, Barragán Muñoz et al. (2005) destacam que este país tem uma relação de extrema dependência da zona costeira e os seus recursos, em virtude das suas características territoriais e econômicas.

Após análise dos aspectos que mais interferem na ocupação ordenada da zona costeira chilena, o autor reúne um elenco de proposições que levadas a efeito poderiam melhorar a