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O modelo da Morfologia Distribuída, proposto por Halle e Marantz (1993), afirma que aquilo que tradicionalmente é chamado de morfologia não está concentrado em um único componente da gramática, mas está distribuído entre diversos componentes. As principais características do modelo (cf. Harley & Noyer, 1999) são a inserção tardia, a qual afirma que as categorias sintáticas são compostas por feixes de traços sem conteúdo fonológico, recebendo expressão fonológica, através da inserção de itens de vocabulário apenas após a sintaxe; a subespecificação, que afirma que as expressões fonológicas não carecem de estar totalmente especificadas para os nós sintáticos nos quais podem ser inseridas; e, por fim a

estrutura sintática hierárquica all the way down (“até lá embaixo” em tradução livre), a qual

vincula os elementos da sintaxe e da morfologia dentro dos mesmos tipos de constituintes. Esse modelo teórico vincula os elementos da sintaxe e da morfologia dentro dos mesmos tipos de constituintes. A Morfologia Distribuída é baseada em partes (piece-based) no sentido de que elementos sintáticos e morfológicos são entendidos como unidades discretas ao invés de como resultados de processos morfofonológicos. O esquema geral do modelo de Halle e Marantz é apresentado a seguir (retirado de Harley e Noyer, 1999).

44 Figura Esquema geral do modelo de Halle e Marantz

Esquema geral do modelo de Halle e Marantz

Não existe “léxico” na Morfologia Distribuída no sentido oriundo da gramática gerativa das décadas de 1970 e 1980. Em outras palavras, a Morfologia Distribuída rejeita a hipótese lexicalista. As funções atribuídas ao léxico nas teorias mais recentes são distribuídas através de vários outros componentes. Em especial, chama-se a atenção para o fato de que as unidades as quais se assumem estarem estocadas no léxico distribui-se por três listas, cada uma delas abarcando um tipo de unidade. A primeira dessas listas é denominada Léxico

Estrito, e é composta por traços morfossintáticos e posições (conteineres) para raízes (roots).

A segunda é composta pelos Itens de Vocabulário os quais correspondem a unidades Características Morfossintáticas

Operações Sintáticas (merge, move, copy)

Operações Morfológicas Forma Lógica

Forma Fonológica Itens Vocabulários Lista B Interfaces Conceituais (Significado) Enciclopédia Lista C

45 fonológicas aos quais se associam certos traços que indicam as posições onde o item pode ser inserido. A última das listas é a Enciclopédia, repositório dos significados não previsíveis pelas operações computacionais.

Dessa forma, um item de vocabulário é determinado pela relação entre um string fonológico e uma informação sobre onde este string pode ser inserido. O conjunto de todos os itens vocabulares é chamado de vocabulário. Os itens vocabulares proveem um conjunto de sinais fonológicos disponíveis na linguagem para a expressão de morfemas abstratos. Na Morfologia Distribuída, o termo morfema se refere ao nó sintático (ou morfológico) terminal e seu conteúdo, não à expressão fonológica deste terminal, o qual é providenciado como parte de um item de vocabulário (vocabulary item). Morfemas são, portanto, átomos da representação morfossintática. O conteúdo de um morfema ativo na sintaxe consiste de traços sintático-semânticos retirados de um conjunto disponibilizado por propriedades especificadas pela Gramática Universal. Há ainda a distinção entre morfemas concretos, que são aqueles cuja expressão fonológica foi fixada; e morfemas abstratos, que são aqueles cuja expressão fonológica foi atrasada até após a sintaxe. Os morfemas também podem ser:

F-Morfemas: São definidos como morfemas para as quais não há escolha para a inserção vocabular. Em outras palavras, F-Morfemas são aqueles cujo conteúdo é suficiente para determinar uma única expressão fonológica.

L-Morfemas: São definidos como aqueles para os quais há escolha no spell-out. Por exemplo, em um L-Morfema que corresponde àquilo que preteoricamente seria chamado de “nome” podem ser inseridos as partes “dog”, “fish”, etc.

A distinção entre F-Morfemas e L-Morfemas corresponde aproximadamente à distinção convencional entre categorias funcionais e lexicais.

O termo idioma é usado para se referir a qualquer expressão (mesmo uma palavra simples ou uma subparte de uma palavra) cujo significado não é totalmente previsível da descrição da sua estrutura morfossintática. F-Morfemas são tipicamente não-idiomas, mas L- Morfemas são sempre idiomas. A Enciclopédia contém as entradas que relacionam os itens vocabulares aos significados. Em outras palavras, a Enciclopédia é a lista dos idiomas de uma língua. A operação de Spell-out insere itens vocabulares (partes fonológicas) nos morfemas. É também chamado de “inserção vocabular” e trabalha diferentemente dependendo do tipo de morfema que está sendo inserido (spelled-out), F-Morfema ou L-Morfema. Apesar disso,

Spell-out normalmente envolve a associação de itens vocabulares com morfemas abstratos.

46 spell-out de F-Morfemas. Em tais casos conjuntos de itens vocabulares competem para inserção, sujeitos ao princípio Subset (Princípio do Subconjunto), o qual diz que:

O expoente fonológico de um item vocabular é inserido em um morfema ... se o item preenche todos os traços gramaticais especificados no morfema terminal ou um subconjunto destes. A inserção não acontece se o item vocabular contiver traços não presentes no morfema. Onde muitos itens vocabulares encontram condições para inserção, o item que preencher o maior número de casos especificados no morfema terminal deve ser escolhido. (cf. HALLE e MARANTZ, 1993).

Para L-Morfemas existe uma escolha que se refere a qual item vocabular é inserido. Por exemplo, um morfema raiz em uma relação local apropriada com um determinante pode ser preenchido por “gato”, “cão”, “cavalo”, etc. Harley & Noyer (1998) propuseram que tais itens vocabulares não estão em competição, como estão os itens inseridos nos F-Morfemas. Estes itens vocabulares podem ser livremente inseridos no Spell-out sujeitos a condições de licenciamento. Licenciadores (licensers) são tipicamente F-Morfemas em certas relações estruturais com a raiz onde o item vocabular está inserido. “Nomes” são licenciados por determinantes; diferentes classes de verbos, tais como inergativos, inacusativos, e transitivos, cada qual é licenciado por diferentes configurações estruturais.

O que fica claro nos estudos sobre o léxico conduzidos sobre a ótica linguística é que as questões relativas ao desempenho são em grande medida preferidas, em favor de fatores concernentes meramente a descrição da formação morfológica das palavras. Isso significa que questões de processamento morfológico, tais como efeito de frequência, falhas de recuperação (slip of the tongue) e problemas de decodificação de leitura de palavras morfologicamente complexas, como é o caso da dislexia, não podem ser diretamente consideradas dessa perspectiva, mas apenas quando a correlacionamos com teorias do léxico mental e modelos descritivos da dislexia. Assim, certas proposições da teoria linguística sobre o léxico tornam imprecisas quando consideradas em si mesmo, por exemplo, a visão tradicional de léxico como uma lista não ordenada (DI SCIULLO e WILLIAMS, 1987, CHOMKSY, 1965). Explicar as dificuldades de leitura em termos puramente linguísticos torna- se, dessa forma, algo complicado, razão pela qual se recorre a outros aportes teóricos que supram as lacunas existentes. Portanto, ainda que caracterizem bem a competência lexical, modelos linguísticos falham quando considerados à luz do desempenho.

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3 METODOLOGIA E CONJUNTO EXPERIMENTAL

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