1.2 Psico‐Oncologia
1.2.1 Aspectos da Psico‐Oncologia no Brasil
Na expectativa de sistematizar essa área da psicologia, profissionais da saúde envolvidos com os diferentes níveis de intervenção, realizados em diversos contextos, onde a prevenção e o tratamento do câncer ocorriam, decidem se reunir e desses encontros temos hoje uma especialidade dentro da Psicologia da Saúde, com saberes e práticas definidas, validadas e referendadas.
Sob a perspectiva de Gimenes et al. (2002), serão citados a seguir os principais encontros ocorridos no Brasil, que constituem a história de uma luta em prol da Psico‐ Oncologia brasileira.
Em 1989, o Dr. Luiz Pedro Pizzatto presidiu, em Curitiba, Paraná, o I Encontro Brasileiro de profissionais da área, que reuniu aproximadamente 150 profissionais. A multidisciplinaridade, a etiologia e os aspectos psicossociais dos diferentes tipos de câncer foram os principais temas abordados, quando, também, se detectaram as lacunas existentes entre a formação e a prática profissional.
O II encontro foi realizado em 1992, na cidade de Goiânia, Goiás, sob a presidência da Profª Dra. Maria da Glória G. Gimenes e contou com 250 inscritos. Na oportunidade, houve troca de experiências, constatando‐se a necessidade de se expandirem as pesquisas e sistematizar as práticas. Foi nesse encontro que se atribuiu a denominação Psico‐Oncologia para essa área do conhecimento como Psico‐Oncologia.
Já o III encontro aconteceu em 1994, sob a presidência da Profª Dra. Maria Júlia Kovács, na capital de São Paulo. A inscrição de 450 pessoas justificou a sua divulgação como o III Encontro e I Congresso de Psico‐Oncologia.
A comissão organizadora desse evento estabeleceu metas muito importantes para o desenvolvimento e a divulgação da área no país. Houve grande divulgação pela mídia e a criação, em 1993, do Curso de Extensão em Psico‐Oncologia no Instituto Sedes
Sapientiae, em São Paulo, posteriormente transformado em curso de especialização. No
transcorrer desses encontros foi fundada a Sociedade Brasileira de Psico‐Oncologia (SBPO), com a escolha de sua diretoria.
Em Salvador, Bahia, em 1996, sob a presidência da psicóloga Aida Gláucia Baruch, aconteceram o IV Encontro e o II Congresso, com a presença de 600 profissionais e alunos da área da saúde, introduzindo também, para leigos, um curso sobre o câncer. Foi o primeiro encontro a premiar os três melhores trabalhos, dentre eles, destacou‐se o de Gandini et al., O teste de relações objetais de Phillipson, como facilitador do processo
psicoterapêutico com mulheres com câncer de mama, conferido pela comissão científica
do evento.
O evento seguinte, o V Encontro e o III Congresso Brasileiro de Psico‐Oncologia, foram realizados em 1998, na cidade de Goiânia, Goiás. Presidido pela psicóloga Edirrah Gorett Bucar Soares, as pesquisas e os temas abordados revelaram amadurecimento. Também se fizeram presentes ex‐pacientes oncológicos, com relatos de experiências sobre suas vivências com o câncer. Foram introduzidos ainda temas sobre espiritualidade e câncer.
Em reunião posterior, a diretoria da SBPO decidiu omitir a denominação encontro dos eventos, adotando a denominação de congresso, inclusive para os anteriores, devido a sua relevância.
Em 2000, portanto, acontece em Gramado, Rio Grande do Sul, o VI Congresso Brasileiro de Psico‐Oncologia, presidido pela enfermeira Eliane Rabin.
O VII Congresso Brasileiro de Psico‐Oncologia foi realizado em 2002 na capital de São Paulo, sob a presidência de Paulo I. Cyrillo, como parte da programação científica de um evento, que reuniu cancerologistas, oncologistas clínicos, mastologistas, enfermeiras, psicólogos, radioterapeutas e voluntariados do Brasil e de outras partes do mundo.
Em 2003, acontece o VIII Congresso Brasileiro de Psico‐Oncologia, também em São Paulo. Na mesma cidade, em 2006, aconteceu o IX Congresso Brasileiro de Psico‐ Oncologia, concomitantemente ao I Encontro Internacional de Psico‐Oncologia e Cuidados Paliativos, com o tema Avanços da Ciência e da Biótica em Psico‐Oncologia.
O X Congresso da Sociedade Brasileira de Psico‐Oncologia e o III Congresso Internacional de Psico‐Oncologia e Cuidados Paliativos, sob o tema Integralidade no
Cuidado, aconteceram em 2008, em Fortaleza, Ceará, sob a presidência de Conceição A.
M. de Souza Campos.
Fruto de esforço ímpar surgem serviços complementares ao tratamento de câncer de mama que merecidamente passam a fazer parte da história da Psico‐ Oncologia brasileira e que se prestam a assistir, orientar, conscientizar e a acolher mulheres acometidas pelo câncer de mama e a seus familiares. Dentre os serviços existentes no país, vale destacar o Serviço de Mastologia Maligna do Ambulatório e da Enfermaria de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, hoje denominado Programa de Psico‐Oncologia na Mastologia; o Grupo de Apoio a Mulheres Mastectomizadas – Gamma, oferecido pelo Hospital de Câncer de Barretos; o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na Reabilitação de Mastectomizadas – Rema , do Departamento de Enfermagem Materno‐Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto‐USP; o Núcleo de Enfermagem em
Oncologia – NEO do Departamento de Enfermagem da Unifesp; o Instituto Neo Mama, uma organização não‐governamental de Santos, o Centro de Integração Amigas da Mama – Ciam, na Região Norte; a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – Femma; a Assistência Fisioterapêutica às Pacientes Pós‐ Cirurgia do Câncer de Mama, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais; o Projeto de Assistência às Patologias da Mama, de Manaus; o Instituto da Mama, de Porto Alegre; a Liga Baiana contra o Câncer; a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Mama, de Palmas, além de vários sites de saúde feminina, especialmente o do Instituto Nacional do Câncer. Todos os serviços citados cumprem um papel social de extrema relevância, muitos inclusive preenchendo lacunas deixadas pelo poder público. Torna‐se importante ressaltar que não foi possível citar todos os serviços existentes no país, que, anonimamente, cumprem a sua missão, em virtude da inexistência ou dificuldade de acesso, via Internet.
A seguir, tem‐se um breve relato sobre a formação em Psico‐Oncologia no Brasil.
1.2.2 A formação em Psico‐Oncologia
Os primeiros psicólogos que atendiam pacientes com câncer, até a década de 1980, segundo relato oral de Gandini (2008), utilizavam‐se de práticas clínicas advindas da Psicologia Clínica tradicional. Aos poucos, a partir de pesquisas e da própria prática teve origem esse saber, a Psico‐Oncologia.
Conforme Gimenes et al. (2002), acontecia gradualmente a ampliação da formação de profissionais da saúde mental, que atendessem, tanto em consultórios como em atendimentos individuais ou grupais, à crescente demanda de