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2 – ASPECTOS DO LAZER DE JOVENS EVANGÉLICOS

No documento waldneydesouzarodriguescosta (páginas 94-171)

Este capítulo é dedicado à descrição dos dados obtidos com a pesquisa. Suas três partes se completam. Inicialmente, apresentarei o contexto mais amplo no qual os eventos criados pelo grupo Fixados em Cristo se inserem, ampliando os horizontes das atividades com as quais os jovens evangélicos juizforanos se envolvem. Depois, descreverei como pude reconhecer o ―pedaço dos crentes‖ na PIB, apontando a possibilidade de distinguir pequenos grupos em meio ao grande contingente de seus frequentadores. Por fim, descrevo como esses grupos de jovens evangélicos apropriam-se do contexto mais amplo apresentado na parte inicial, destacando processos de decisão em torno das alternativas de lazer disponíveis.

2.1 – O circuito de eventos evangélicos em Juiz de Fora

Como venho explicando, durante a pesquisa, acompanhei jovens em meio a suas práticas de lazer, sobretudo nos eventos. Porém, os jovens com quem convivi não se reuniam apenas nos encontros promovidos pelo grupo Fixados em Cristo. Eles também se encontravam em eventos que não tinham conexão imediata com a PIB, tais como a Marcha pra Jesus, shows gospel ou alguma festa em outra igreja. São ocasiões que possibilitavam o lazer de forma mais desconectada da igreja de referência, mas não deixavam de estar ligados de alguma forma com uma religiosidade evangélica, entendida em sentido amplo. Sintetizo estas ocasiões de observação com a noção de circuito de eventos evangélicos.

Incorporei a noção de circuito da antropologia urbana brasileira. Faz parte de um conjunto de categorias criadas para viabilizar a análise da interação social no (e com o) espaço urbano, tais como pedaço, trajeto, mancha e pórtico (MAGNANI, 2002). O circuito:

[...] designa um uso do espaço e de equipamentos urbanos – possibilitando, por conseguinte, o exercício da sociabilidade por meio de encontros, comunicação, manejo de códigos –, porém de forma mais independente com relação ao espaço, sem se ater à contiguidade [...] (MAGNANI, 2002, p. 24).

É um conjunto de espaços situados em diferentes pontos da cidade que estão conectados por um uso comum que carrega certo padrão de sociabilidade.

Geralmente a noção de circuito é aplicada a espaços fixos conectados por determinadas interações sociais (MAGNANI; SOUZA, 2007). São redes de bares, casas de

shows, lanchonetes e restaurantes, entre outros espaços que possibilitam o encontro entre

pessoas que compartilham determinados códigos linguísticos e comportamentais. Contudo, em certas ocasiões, as relações sociais podem atribuir significados aos espaços diferentes daqueles que cotidianamente são atribuídos. É o que acontece nos eventos.

Por evento entendo um ―acontecimento excepcional, de tempo determinado, gerador de grande envolvimento e mobilização de um grupo ou comunidade‖ (GOMES, 2003, p. 228). São ocasiões em que os espaços ganham novos sentidos durante determinado período de tempo. Pensar em um circuito de eventos é pensar em um conjunto de espaços que em determinadas ocasiões se abrem a relações que nem sempre acontecem nesses lugares. Embora cada evento aconteça em um momento específico, tais ocasiões estão conectadas por determinados padrões de comportamento que as atravessam. Durante a pesquisa acompanhei alguns jovens em movimento por um circuito de eventos evangélicos reconhecível em Juiz de Fora (MG). Um circuito atravessado por práticas de lazer.

A expressão ―evento evangélico‖ já é utilizada por Frossard (2006, 2013). Mas o que é um evento evangélico? É quando o acontecimento excepcional supracitado envolve adeptos, curiosos e simpatizantes da fé evangélica. E como tais eventos se tornam lazer? Quando eles promovem práticas abertamente reconhecidas como lazer, como os esportes? Com certeza! Se atividades desse tipo podem ser pensadas como estratégias de captação de fiéis para as igrejas, como apontou Meinerz (2004, p. 128), não se pode negar que estes espaços também se fazem lazer para os fiéis, já convertidos, que neles se encontram. Mas o lazer não se resume aos esportes. Qualquer prática de busca pessoal por prazer presente no evento evangélico torna-o lazer. É aí que está o detalhe: todo evento evangélico movimenta uma prática social que é irremediavelmente lúdica: a sociabilidade. Chamada por Simmel (2006, p. 65) de ―forma lúdica de sociação‖ e pelos crentes de ―comunhão entre os irmãos‖, a sociabilidade67

faz com que todo evento evangélico seja potencialmente uma forma de lazer. Os crentes se divertem, e muito, quando se encontram. Os eventos são oportunidades para que isso aconteça.

A noção de evento evangélico que estou empregando implica em uma compreensão larga do objeto. Não apenas igrejas ditas neopentecostais, comumente vistas como menos ascéticas, seriam provedoras de eventos. Até as igrejas mais tradicionais promovem eventos, especialmente em ocasiões como aniversário de sua inauguração ou do pastor presidente. Qualquer igreja de matriz protestante que promova um culto especial ou reunião diferenciada,

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Para Simmel (2006, p. 66) a sociabilidade é a sociação que é realizada entre indivíduos sem objetivos formais ou institucionais, tendo em vista a satisfação do simples fato de estarem socializados. Não confundir com ―socialidade‖, que é outro conceito do autor.

alterando a rotina institucional e gerando maior envolvimento de pessoas, estaria promovendo isso que chamo de evento evangélico. Mas não só igrejas fomentam eventos desse tipo. Há pelo menos três categorias de agências promotoras: eclesiais (as igrejas), para-eclesiais e não

eclesiais.

Existem organizações religiosas que atuam paralelamente às denominações evangélicas. São as para-eclesiais (também chamadas de para-eclesiásticas). Pesquisadores do campo religioso brasileiro ainda não deram atenção à influência dessas instituições. Elas têm origem antiga no Brasil, nas atividades missionárias leigas (MENDONÇA, 1995, p. 65). É uma herança do associativismo típico dos Estados Unidos e sua atuação pode ter diferentes enfoques. Os exemplos mais claros são as juntas missionárias e os conselhos de pastores. São instituições que possuem algum envolvimento com igrejas, mas, a princípio, não são controlados por nenhuma. Como exemplo, cito que, no contexto juizforano, um dos maiores eventos evangélicos da região, a Marcha pra Jesus, é coordenado pelo COMPAS, o Conselho de Pastores de Juiz de Fora.

Não eclesiais são as agências que fomentam eventos evangélicos, mas não possuem vínculo algum com igrejas. Diferenciam-se em públicas e privadas. Estas últimas são mais fáceis de identificar. Trata-se de empresas, dirigidas por pessoas, religiosas ou não, que empreendem sobre o mercado de eventos evangélicos. Como grupo social, os evangélicos também representam um segmento de mercado com potencial lucrativo, especialmente através da venda de ingressos para eventos. Um exemplo seria a FRONT produções quando esteve organizando o evento Celebrar, A festa com Aline Barros, apesar de ser conhecida em Juiz de Fora por promover anualmente a Festa Country, um evento não religioso tradicional na cidade.

Há também não eclesiais públicas. Elas surgiram no contexto da lei federal 12590/2012. Esta lei foi promulgada tendo em vista reconhecer ―a música gospel e os eventos a ela relacionados como manifestação cultural‖ (BRASIL, 2012), alterando o texto da lei federal 8313/1991 (Lei Rouanet), criada para reestabelecer os princípios que instituem o Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC). Em termos práticos, significa que recursos públicos agora podem ser empregados na promoção de eventos gospel. É paradoxal a ressalva ―exceto aqueles promovidos por igrejas‖, no artigo 31-A da lei. Uma expressão cultural que tem origem em igrejas pentecostais (CUNHA, 2004, p. 123) é reconhecida juridicamente como cultura, desde que igrejas não estejam envolvidas em sua promoção.

Oficiosamente, recursos públicos poderiam já estar sendo utilizados na promoção de eventos evangélicos, mas a nova lei regula a prática, até mesmo possibilitando que

instituições públicas promovam eventos evangélicos. Em 2013, um show da cantora/pastora Cassiane abriu a 61ª Expo-feira de Juiz de Fora, evento fomentado pela prefeitura da cidade. No decorrer dos cinco dias de exposição, também ocorreram shows de artistas de música não religiosa, como Fernando e Sorocaba e Mc Naldo, mas quando a prefeitura atraiu para o evento a apresentação de uma cantora/pastora, atraiu com ela o público evangélico, incluindo- o nas atividades e, assim, fomentou um evento evangélico, ainda que dentro do evento geral68. Cabe um comentário. Diante disso alguém pode questionar: ―O Estado não é laico? Por que está promovendo um evento religioso?‖. É preciso considerar que laicidade não se traduz em total aversão à religião, até porque muitos cidadãos do Estado trazem demandas que condizem com suas visões religiosas de mundo (GAUCHET, 1998). E, para além da discussão sobre laicidade, minha interpretação é que, nesse caso, o Estado está promovendo a cultura, especificamente a dimensão cultural do lazer. Este é um direito social, inclusive dos cidadãos evangélicos. As culturas criam práticas de lazer e as culturas religiosas também. Os eventos que estão no foco dessa análise são alternativas de lazer para os evangélicos. O desfrute de sua cultura é um direito desses cidadãos que deve ser assegurado pelo Estado. Por essa razão não vejo problemas no incentivo.

O fato é que os diferentes tipos de agências que foram citadas disponibilizavam eventos aos jovens com quem convivi. Ao perceber como alguns eventos os atraíam, eu me vi em uma situação semelhante à vivenciada por Rumstain (2007) ao pesquisar jovens da Igreja Renascer em Cristo, em São Paulo (SP). O estudo da sociabilidade de jovens de uma igreja projeta o pesquisador pra fora dela (RUMSTAIN, 2007, p. 141). Para tentar entender o conjunto de ambientes frequentados pelos jovens que pesquisou, Rumstain trabalhou com a ideia de que existiria um ―circuito gospel‖ disponível aos evangélicos paulistas. Em Juiz de Fora (MG) há algo muito semelhante. Porém, como prefiro reservar o termo gospel para eventos musicais atravessados pelas relações de consumo (os shows), denomino este conjunto como circuito de eventos evangélicos69.

Cada evento acontece isoladamente. Nem sempre eles são anunciados nas mídias visando atingir um público vasto de evangélicos, mas, no fim das contas, todos eles são oportunidades para que grupos de amigos evangélicos se encontrem novamente. No encontro, há gozo e uma imensa alegria em estar com pessoas com as quais se identificam. Eles se

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Um grande evento, sobretudo quando perdura vários dias, pode tornar-se um conjunto de eventos menores (GOMES, 2003). Como os evangélicos de maneira geral dificilmente estariam presentes nos demais dias da festa, entendi que o dia do show da Cassiane era um evento (evangélico, no caso) menor dentro da festa.

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Chamá-lo desta forma também parece realçar o papel das igrejas, pois o termo gospel comumente sugere algo que está à parte delas. Na realidade há uma profunda relação entre elas e a ―cultura gospel‖ (CUNHA, 2013).

reconhecem como ―amigos mais chegados que irmãos‖. O evangélico que é membro de uma igreja geralmente não frequenta o culto de outra, mas no aniversário da igreja de um de seus amigos ele vai. Isso por que quando o culto é tornado evento o ―ir ao culto em outra igreja‖ é projetado para outra dimensão que altera a prática religiosa: a dimensão do lazer. Trata-se do prazer de estar com as pessoas de que se gosta.

Para análise da dispersão urbana das ocasiões favoráveis a esse tipo de encontro a categoria circuito revelou-se útil. O circuito de eventos evangélicos é um objeto teoricamente construído para viabilizar a sistematização do conhecimento sobre os eventos em conjunto. Dizer que é um objeto teórico não equivale a dizer que o circuito não exista empiricamente. Se levarmos em conta a premissa levistraussiana de que, se existe o nome, é por que provavelmente existe a coisa (LÉVI-STRAUSS, 1995), podemos inferir que isso que as agências publicitárias evangélicas chamam de ―o melhor do gospel na região‖ tem uma correspondência empírica. Quando elas utilizam frases desse tipo é do circuito que estão falando. Tais empresas são a maior prova da existência de um circuito.

As agências publicitárias evangélicas são empresas de comunicação voltadas para esse recorte social. Elas fazem uma espécie de articulação entre os eventos, amarrando-os de alguma forma e divulgando-os ao público evangélico em geral. Segundo o Censo 2010 há em Juiz de Fora 112.107 pessoas que se declaram evangélicas (21,72% da população da cidade – 516.247 habitantes)70. Imaginemos todas as igrejas evangélicas frequentadas por essas pessoas promovendo seus eventos. As empresas de publicidade não contemplam todos. Elas fazem um recorte dessa realidade, geralmente priorizando os eventos em que estão presentes personalidades de maior prestígio social no meio evangélico, especialmente cantores (ministros de louvor) e preletores (pastores) que possuem visibilidade na grande mídia, tais como o Fernandinho e o pastor Marcos Feliciano.

Para clarear esse argumento, tomo como exemplo a empresa Top Gospel JF, dedicada à cobertura dos principais eventos evangélicos que acontecem em Juiz de Fora e região. É muito conhecida por seu envolvimento na Marcha pra Jesus, sendo a agência responsável pela gravação e distribuição dos DVDs do evento. Observando uma página da galeria de fotos do seu site71 temos uma visão parcial do circuito:

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Dados conseguidos através do banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponível no site: <http://www.sidra.ibge.gov.br/>. Acesso em 9 jul. 2014.

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Cada imagem na figura acima corresponde a um link para a galeria de fotos de um dos eventos em que a empresa esteve presente. Nota-se que alguns eventos listados são os mesmos que utilizei como exemplo para os tipos de agências promotoras de eventos acima. São eventos em que eu estive durante a pesquisa de campo. Isso foi feito propositalmente para demonstrar como as instituições estão interligadas. Assim, é possível sustentar meu argumento de que o circuito não está restrito a nenhuma denominação evangélica e nem mesmo a igrejas, estando disperso no espaço público, embora tenha uma interface religiosa.

Aproveitando o exemplo da Top Gospel JF, também é possível discutir uma questão espacial no circuito. Na imagem abaixo procurei marcar no mapa de Juiz de Fora todos os endereços dos eventos da figura anterior (correspondem aos pontos verdes com letras). Apesar de alguns endereços se repetirem, os eventos estão distribuídos por diferentes pontos da cidade. No entanto é possível perceber uma concentração na região central. Isso acontece por que é onde se encontram igrejas de maior porte, como a PIB, que acabam promovendo eventos mais atrativos que interessam às agências de publicidade. Eventos que atraem

Figura 2 – Galeria de fotos do site Top Gospel JF. Disponível em: <

http://www.topgospeljf.com/index.php?view=gallery&page=1&option=com_joomgallery&Itemid= 53#gallery >. Acesso em: 24 ago. 2014.

evangélicos de denominações

situadas nas periferias.

Situação que

presenciei na pesquisa de campo e que também foi observada em São Paulo por Rumstain (2007).

É difícil medir a extensão do circuito. Como foi dito anteriormente,

qualquer igreja (e não somente igrejas) que

promove um

acontecimento

diferenciado em relação à sua rotina, potencialmente atrai jovens de diferentes denominações

evangélicas. Mas, pelo exemplo, é possível afirmar que os eventos

mais atrativos se encontram na região central da cidade, onde se situa a PIB. E em meio a essa dispersão pelo espaço urbano, se insere uma questão temporal. Grande parte dos eventos são esporadicamente criados, mas alguns acontecem de tempos em tempos. Isso cria um calendário de eventos evangélicos em Juiz de Fora, ainda que não seja controlado por ninguém. Quando alguma agência promotora se propõe a criar um evento, precisa observar se já não existe nenhum já agendado para a data pretendida. Um evento de grande porte já agendado pode atrair o público, inviabilizando outro evento menor. Para melhorar a visualização desse quadro, observemos a tabela abaixo, produzida também a partir do exemplo da Top Gospel JF:

Figura 3 – Endereços de eventos evangélicos em Juiz de Fora, MG. Imagem produzida pelo autor a partir da ferramenta Google Maps – Como chegar,

disponível em: <

https://maps.google.com.br/maps/ms?ie=UTF8&t=h&oe=UTF8&msa=0&ms id=109470840299930738494.000450f97f48bfec55b68&dg=feature >. Acesso em: 24 ago. 2014.

Tabela 3 – Datas de eventos evangélicos em Juiz de Fora, MG

Data Evento

09/05/2014 01/10/2013

Show da Eyshila

Show da Cassiane – 61ª Expofeira de Juiz de Fora

16/09/2013 04, 05 e 07/09/2013

Ação Social meu Bairro Feliz – Bairro Santa Paula Impact 2013

06/09/2013 Lançamento do CD do Ministério Restauração

13/08/2013 Primitivos

??/08/2013 Baile Casados para Sempre

23/07/2013 Aline Barros na IBREM

19 e 20/07/2013 07/07/2013 ??/06/2013 01/06/2013 14/05/2013 11/05/2013

Festa da Colheita – IEQ - sede

Companhia de Teatro Jeová Nissi – Peça Artigo 121 Rubem Teixeira na INOVA

Marcha pra Jesus

Workshop Juninho Afran Show do Fernandinho – Adora JF II

06/05/2013 Pastor Lucinho Barreto na IBREM

20/04/2013 Leonardo Gonçalves na IEQ-Eldorado

Fonte: Autoria pessoal, 2014.

Repare que durante todo o ano de 2013 aconteceram eventos que chamaram a atenção da agência de publicidade. A Marcha pra Jesus acontece todo ano no mês de junho. O ―Impact‖, encontro promovido pelo grupo de jovens da IBREM, também tende a acontecer todo ano, embora nem sempre em setembro. Não é sem motivo que o Show do Fernandinho foi chamado de Adora JF II, há uma expectativa de que aconteçam outras edições. E se na 61ª Expofeira de Juiz de Fora aconteceu o Show da Cassiane, há também uma tendência a acontecer outras apresentações deste gênero nas próximas edições da exposição. Tendência que se confirmou em 2014 com o show da cantora evangélica Léa Mendonça no primeiro dia da 62ª exposição.

Esta questão temporal se impõe às igrejas evangélicas da região e aos seus jovens que precisam adotar diferentes estratégias quando desejam estar em eventos que concorrem entre si. Discutirei essa questão nos próximos capítulos. Por hora, este exemplo, baseado em uma página da galeria de uma agência de publicidade evangélica (que não é a única que existe no município), serve para demonstrar um pouco da dinâmica do objeto analisado. Os eventos mais atrativos, ou seja, com a presença de personalidades de maior prestígio, são mais midiatizados e, assim, envolvem um número maior e mais plural de evangélicos, movimentando milhares de crentes em uma única ocasião, sejam eles pentecostais, neopentecostais ou protestantes clássicos.

Ademais, as agências publicitárias não são as únicas a fazer o contato entre diferentes tipos de evangélicos e os eventos. Há pelo menos mais dois tipos de agências articuladoras: as livrarias e as rádios.

Muito antes da existência de agências de publicidade voltadas para este recorte social as livrarias evangélicas já cumpriam um papel de colocar crentes de diferentes igrejas em contato. Tais livrarias são lojas que vendem artigos evangélicos diversos, mas são mais conhecidas pela venda de livros, sobretudo a Bíblia em suas mais variadas versões. Há pelo menos dois estudos relevantes sobre este tipo de estabelecimento comercial. O de Oro e Steil (2003) que pesquisaram diferentes lojas de artigos religiosos em Porto Alegre (RS) e o de Giumbelli (2008) que, com um enfoque sobre as evangélicas, estudou 14 estabelecimentos no Rio de Janeiro (RJ).

Oro e Steil interpretaram estes ambientes como expressão do consumo religioso em sua literalidade. Já o trabalho de Giumbelli foi mais detalhado. Entre os muitos dados discutidos ele demonstrou o caráter ―interdenominacional‖ das livrarias evangélicas. Das 14 lojas analisadas, apenas 4 pertenciam a alguma denominação e 3 destas tinham entrada independente dos templos, o que, para Giumbelli, indica maior abertura comercial a pessoas não ligadas à igreja. Entretanto, curiosamente, nenhum dos dois estudos discute os cartazes que geralmente são expostos nestes locais. Talvez porque não era relevante para o que os pesquisadores discutiram. No estudo que empreendi em Juiz de Fora é um detalhe de extrema importância. Vejamos nas imagens abaixo:

Figuras 4 e 5 – Entrada das livrarias Nova Sião (à esquerda) e Vinde (à direita). Fonte: Fotografias

Tanto a Livraria Vinde, quanto a Livraria Nova Sião são lojas de artigos evangélicos que não pertencem a igreja alguma. Comercializam produtos do universo evangélico em geral. Observe que há vários cartazes na entrada das livrarias. Eles são referentes a eventos promovidos por diferentes agências promotoras, inclusive igrejas. Gostaria de destacar que consta nas duas entradas cartazes do show do Fernandinho que ocorreu no dia 11 de outubro de 2014 na PIB. Sendo um espaço frequentado por evangélicos de diferentes igrejas (ou de igreja nenhuma), as livrarias são espaços estratégicos na divulgação dos eventos. E, além disso, funcionam como pontos de venda de ingressos para os eventos em que é cobrado algum valor para a entrada. Por esse meio, independente da agência promotora, o evento pode ser projetado para evangélicos de diferentes tradições.

As livrarias fazem uma articulação entre os eventos, mas buscam se isentar das responsabilidades de sua realização, como está demonstrado na informação carimbada no verso do ingresso na imagem abaixo. Mesmo isentas, elas cumprem um importante papel na

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