• Nenhum resultado encontrado

2 – PROVAS PERICIAIS

2.2 – ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

A Criminalística é um termo utilizando em língua portuguesa para fazer referência à Ciência Forense e à Perícia criminal e está relacionada aos métodos científicos utilizados pela polícia para a materialização de provas (ARAÚJO, 2011). Segundo Carvalho (2006), a Criminalística é uma ciência que, para atender aos seus objetivos, se utiliza de outras ciências, de algumas artes e disciplinas, e, sem se subordinar a nenhuma delas, lhes faz exigências nos procedimentos técnicos científicos, quando lhes oferece o mínimo de material para ser examinado e requer que os resultados extraídos possam ser novamente refeitos.

A execução das atividades da Criminalística no país pode ser dividida em dois segmentos: federal e estadual. No âmbito da União Federal, o Departamento de Polícia Federal, órgão de polícia judiciária, possui a atribuição de realização das perícias criminais, através dos policiais ocupantes do cargo de Perito Criminal Federal. No âmbito dos Estados e do Distrito Federal, as perícias criminais são realizadas também por Peritos, cujos cargos têm várias nomenclaturas. No segmento estadual, os Institutos de Criminalística nem sempre estão ligados a órgãos policiais, em muitos casos, são órgãos independentes inseridos dentro da estrutura da Secretaria Estadual de Segurança Pública.

A característica comum dos profissionais da Criminalística, independente da nomenclatura, está no fato de que realizam exames técnico científicos no interesse de processos criminais (ARAÚJO, 2011). Esses exames são materializados através do Laudo Pericial, documento

oficial que expõe em detalhes os procedimentos periciais realizados sobre o fato delituoso, bem como os resultados auferidos no trabalho. E, segundo Carvalho (2009), o trabalho do perito criminal é árduo e importante, pois é esse profissional o responsável pela produção da prova material, necessária à elucidação de casos onde a infração penal deixar vestígios, fornecendo à justiça elementos necessários que permitem a um juiz condenar ou absolver, com segurança, um acusado. O autor acrescenta ainda que a tarefa é árdua, pois impõe ao perito a busca de um aprendizado permanente e evolutivo das ciências, artes e disciplinas afins, bem como do conhecimento e operacionalidade de equipamentos de tecnologia sofisticada e, a aplicação, sem sofismas, deste aprendizado nas pesquisas técnico científicas.

A Criminalística, como Ciência, apresenta também doutrina própria, com postulados e princípios que subsidiam e auxiliam o trabalho do perito criminal. Cabe destacar neste momento, os principais postulados da Criminalística (DOREA, STUMVOLL e QUINTELA, 2010):

1) O conteúdo de um Laudo de Perícia Criminal é invariante em relação ao profissional Perito Criminal que o produziu, pois como os resultados de um trabalho pericial são invariavelmente baseados no método científico, seja qual for o perito que recorrer a ele para analisar um fenômeno criminalístico, o resultado não poderá depender dele, indivíduo.

2) As conclusões de um Laudo Pericial Criminal são independentes dos meios utilizados para alcançá-las, pois utilizando-se os meios adequados para se concluir a respeito do fenômeno criminalístico, esta conclusão durante a reprodução dos exames será constante.

3) Os resultados de um trabalho pericial são invariáveis com o tempo, ou seja, a partir da realização dos exames, os resultados aferidos no trabalho, por utilizarem o método científico, são imutáveis com o decorrer do tempo, desde que as evidências não sejam voláteis.

Já os princípios fundamentais da Perícia Criminalística referem-se à observação, à análise, à interpretação, à descrição e à documentação da prova, como mostrado abaixo (DOREA, STUMVOLL e QUINTELA, 2010):

1) Princípio da Observação: também chamado de Princípio da Troca de Locard, em virtude do famoso médico criminalístico, Edmond Locard, qualquer um ou qualquer coisa, que entra em um local de crime, leva consigo algo do local e deixa alguma coisa para trás quando parte.

2) Princípio da Análise: a análise pericial deve sempre seguir o método científico. A perícia científica visa a definir como o fato ocorreu (teoria), através de uma criteriosa coleta de dados (vestígios e indícios), que permitem estabelecer-se conjecturas sobre como se desenvolveu o fato, formulando-se hipóteses coerentes sobre ele. É esse o método científico que baseiam as condutas periciais.

3) Princípio da Interpretação: também chamado Princípio da Individualidade, preconiza que a identificação deve ser sempre enquadrada em três graus, ou sejam, a identificação genérica, a específica e a individual, sendo que os exames periciais deverão sempre alcançar este último grau.

4) Princípio da Descrição: os resultados dos exames periciais, baseados em princípios científicos, não podem variar pela passagem do tempo, ou seja, os resultados obtidos devem ser os mesmos; e, ainda, considerando que qualquer teoria científica deve gozar da propriedade da refutabilidade, os resultados da perícia, quando expostos através do Laudo, devem ser de uma forma bem claros, racionalmente dispostos, bem fundamentados e reproduzíveis.

5) Princípio da Documentação: este princípio, baseado na Cadeia de Custódia da prova material, visa a proteger, seguramente, a fidelidade da prova material, evitando a consideração de provas forjadas, incluídas no conjunto das demais, para provocar a incriminação ou a inocência de alguém. Assim, todo o material apreendido deve ser oficializado in loco. Ainda, todos aqueles que manipularem qualquer dos materiais apreendidos, devem documentar o feito, procurando manter a integridade das evidências.

Após apresentar brevemente a Criminalística neste trabalho, cabe por fim, neste capítulo, retratar alguns exames periciais que se relacionam com o tema deste trabalho e fizeram parte, de certa forma, da motivação para o desenvolvimento desta pesquisa. Serão apresentados dois exames periciais: exames de locais de crime e exames de reconhecimento facial.