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O curso normal da amamentação de um filho prematuro encontra-se fragilizado pelo estado emocional da mãe (Rego, 2009). Diante do nascimento, esta experimenta sentimentos de medo e insegurança para iniciar e manter a lactação (Piccinini, Gomes, Moreira & Lopes, 2004).

As mães, muitas vezes, sentem-se culpadas ao se defrontarem com o filho tão sonhado, sofrendo em uma incubadora, gerando uma grande tensão, o confronto de um bebê, que idealizavam na gestação, com as condições de nascimento, o que poderá acarretar dificuldades na aceitação da realidade (Druon, 1999).

Barros e Trindade (2007) realizaram uma investigação em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a maternidade prematura na perspectiva da Teoria das Representações Sociais, que resgata a importância dos processos psicossociais no processo de saúde e doença. As autoras verificaram que, no início, ocorre, por parte das mães, uma reação de estranhamento frente ao bebê prematuro; posteriormente, à medida que as condições clínicas do bebê vão

melhorando, as mães se sentem mais aliviadas. Contudo, elas sempre são assaltadas pelo medo de possíveis intercorrências1. Aliado a todos esses temores, acrescenta-se, principalmente, a dificuldade de relacionamento com a equipe de saúde. A falta de comunicação, somada ao cumprimento de normas que restringem a relação com o filho, potencializa o sofrimento dos pais, por se perceberem destituídos de poder na legitimação parental.

Em outro estudo sobre as Representações Sociais do aleitamento para mães de prematuros em Unidade de Cuidado Canguru, foram identificadas as dificuldades dessas mães no processo de amamentar seu filho (Javorski, Caetano, Vasconcelos, Leite & Scochi, 2004). As dificuldades com a amamentação não foram correlacionadas à vinda do prematuro. Para os autores, se essas mães fizessem tal associação, estariam aumentando o sentimento de culpa por terem trazido ao mundo um ser imaturo. Na formação de uma representação social, as crenças e os conceitos passam primeiro por um processo de seleção, sendo algumas informações esquecidas, ficando apenas as que interessam aos sujeitos. Nesse caso, as mulheres entrevistadas podem ter evitado falar da condição do recém- nascido, já que os contextos que as circundavam eram os aspectos positivos da amamentação para os prematuros.

Ainda nesse estudo, Javorski et al. (2004) revelaram que a representação de mães que não amamentavam era a de ser negligente, condição enfatizada por uma das mães explicitamente, contrapondo-se ao discurso daquelas que amamentavam sem problemas. Estas se identificavam com uma boa mãe, reforçando o discurso dos profissionais de saúde e fazendo sofrer aquelas que não conseguiam amamentar os seus filhos.

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Silva e Segre (2010), em estudo recente sobre os fatores que influenciaram o desmame de 89 prematuros de baixo peso nascidos em uma maternidade pública da cidade de São Paulo, verificaram que a média de idade para o desmame parcial foi de 1,41 meses e para o desmame total foi de 2,93 meses. As autoras encontraram ainda como resultado que aquelas mães, que permaneceram internadas na Enfermaria Canguru, iniciaram a ordenha precocemente, e aquelas que voltaram ao trabalho interromperam o aleitamento materno mais tardiamente. Esses dados apontam para a importância de atendimentos centrados na humanização e integralidade do cuidado, com o objetivo de aumentar as chances de sobrevivência dos neonatos prematuros.

O nascimento prematuro deflagra estados de depressão materna (Garel, Dardennes & Blondel, 2006). Nessa situação, a separação imposta constitui fator de risco para a relação emocional mãe-bebê com implicações negativas no desenvolvimento psicossocial da criança (Brum & Schermann, 2005; Hill, Aldag, Demirtas, Zinaman & Chatterton, 2006; Klaus & Kennel, 1993).

Além dessas mães que sofreram partos prematuros ou outras complicações perinatais, outros grupos estão particularmente em situação de alto risco para problemas de ansiedade no período pós-parto imediato: as que não possuem uma boa relação marital ou outras formas de apoio social (Scott, Diet, Landers, Hughes & Binns, 2001; Zelkowitz, & Papagerorgiou, 2005).

Glasera, Bucherb, Moergelia, Fauchèreb e Buechia (2007) analisaram aspectos psicológicos de pais diante da perda do filho prematuro extremo (abaixo de 1000g). Pode-se, assim, obter uma compreensão mais profunda do lidar com o estressante evento, permitindo o oferecimento de apoio mais adequado pelos profissionais, no sentido de sensibilizar e capacitar a equipe de saúde para ajudar os

pais a suportar a dor da separação (Scochi, Kokuday, Riu, Rossanez, Fonseca & Leite, 2003).

Vasconcelos, Scochi e Leite (2006) realizaram um estudo qualitativo no Hospital das Clínicas de Pernambuco com o objetivo de identificar o significado de ser mãe acompanhante do recém-nascido pré-termo e de baixo peso. Os autores destacaram a importância da participação em um grupo de apoio multidisciplinar. Além disso, o apoio recebido da família também foi um suporte social imprescindível, sendo o primeiro recurso a ser utilizado pelas mães. Os sentimentos de afeto e de estima, que estavam presentes nesse tipo de suporte, são indicativos da superação dos problemas, o que pode trazer alívio para o sofrimento vivido. Tais aspectos devem ser incorporados aos programas de apoio organizados pelas equipes de saúde.

O processo de amamentação da mãe prematura pode ser mediado por diferentes fatores (variáveis pessoais e sociodemográficas; valores religiosos e culturais) e cenários ambientais (família e comunidade) nos quais está inserida. Nessa perspectiva ecológica, o desenvolvimento é compreendido como uma mudança duradoura na maneira como o indivíduo percebe e lida com o seu ambiente. Na medida em que o desenvolvimento humano se baseia nas interações, as influências ocorrem em ambas direções, tanto do ambiente para o indivíduo, quanto da pessoa para o ambiente (Bronfenbrenner, 1996). Assim, o significado da amamentação não pode prescindir de uma análise dos contextos da díade mãe- bebê. As equipes de cuidados de saúde precisam estar preparadas para lidar com as repercussões de fatos, que modificarão radicalmente o cotidiano dessas mulheres e suas famílias, e compreenderem que o desenvolvimento emerge da

inter-relação do indivíduo e dos seus vários contextos (Linhares, Carvalho, Padovani, Bordin, Martins & Martinez, 2004).

O sucesso da amamentação depende primordialmente do modo como à mãe é acolhida pelas equipes de cuidados de saúde. A sua capacidade de ser formadora de opinião, alicerçada no conhecimento científico, demonstrando conhecer a importância do leite materno, faz muita diferença nos resultados da lactação (Furlan, Scochi & Furtado, 2006; Matuhara & Naganuma, 2006; Nakano, 2003; Scochi et al., 2003; Serra & Scochi, 2004). O apoio familiar, juntamente com o suporte institucional, proporciona segurança e resultados positivos a favor da amamentação (Braga, Machado & Bosi, 2008).

Em função das dificuldades relacionadas à prematuridade, é relevante identificar quais seriam as estratégias implementadas pelas mães durante a hospitalização do bebê para adaptar-se ao momento vivenciado, bem como investigar a função desse conjunto de comportamentos.