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3. Resultados e Discussão

3.2 Análise das entrevistas

3.2.1 O momento da notícia e o apoio recebido

A notícia do nascimento prematuro deflagra um turbilhão de sentimentos, medos e insegurança, pois a hospitalização do filho na UN estabelece uma condição não prevista durante a gestação: a de se tornar mãe acompanhante de um filho que requer cuidados intensivos para a sua sobrevivência.

Em estudo realizado sobre os significados atribuídos à vivência da mãe como acompanhante do RN pré-termo e de baixo peso, Vasconcelos et al. (2006) discutem sobre o grande impacto sofrido devido à separação radical do meio social em que vivia, após a condição inicial de estar grávida esperando um filho, que imaginava sadio e normal. Isso ocorre, em geral, em curto espaço de tempo, sem que ela seja orientada adequadamente sobre o que acontecerá a partir dessa condição. Desse modo, a mãe do bebê prematuro também é uma mãe prematura, e o momento da notícia deflagra sentimentos de dúvida e desamparo: “(...) Eu não entendia nada, assim, não tinha noção de como ia me relacionar, eu vim entender depois que cheguei aqui no Canguru”. (Diana, 33 anos, RN de 1.345 g).

Sendo o hospital, em que este estudo se realizou, referência para o atendimento de gestação de alto risco, os pacientes são provenientes do interior de Pernambuco e outros estados vizinhos. As mães chegam acompanhadas de seus familiares, porém, as normas internas não permitem a rotina de acompanhante, o que intensifica o sofrimento dessas mães, pelas dificuldades de enfrentarem sozinhas a notícia sobre o estado de saúde do bebê. Quando

interrogadas sobre a presença do acompanhante, responderam: “(...) eu queria, pois estava muito nervosa, com muito medo, chorei {__} (chorou nesse momento)”. (Isabela, 18 anos, RN

de 1.055g). Assim, o apoio da família seria um recurso fundamental para ajudá-las a superarem o impacto da notícia.

Apesar dos relatos sobre a ausência de parentes logo após o nascimento, o hospital adota medidas para a presença da família ao longo do processo de tratamento do bebê. Neste estudo, das 20 mães, apenas uma não recebeu a visita do pai da criança, sendo que sete receberam visitas frequentes, a despeito da distância ou do período de internação: “... sim ele veio me visitar todos os dias”. (Maria, 24 anos, RN de 1.520g). A família de Maria reside em

cidade distante, a cerca de 180 km. A presença do pai também foi constante para outras mães, uma delas permaneceu internada com o filho durante 62 dias: “(...) sim, ele veio todos os dias que eu estava aqui.” (Isabela, 18 anos, RN de 1.055g). Outro aspecto marcante foi a presença

dos avós, reforçando e fortalecendo os laços parentais. Ressalta-se, também, neste grupo de mães, a visita de irmãos, amigos, líderes da comunidade e a importante presença dos demais filhos.

Esses são dados diferentes de alguns aspectos apontados por Barros e Trindade (2007) em pesquisa com mães de prematuros, cujos relatos mostraram que a saudade dos filhos e a ruptura das tarefas cotidianas eram agravadas com a ausência de outros familiares nos momentos de dor e incerteza. Para que as visitas ocorressem, segundo as autoras, era necessário infringir as normas do hospital, indicando que não havia uma ação sistematizada para a participação da família na rotina da UTIN.

Conforme diversos achados (Garel et al., 2006; Hill et al.,2006; Rego, 2009), os processos de amamentação estão relacionados ao estado emocional das mães e pode-se questionar como é possível manter a produção de leite em situações tão adversas quando lhes falta o que o ser humano tem de mais primário: o apoio da família. Todas as mães desta

pesquisa obtiveram sucesso no processo de amamentação e, certamente, esse tipo de suporte foi fundamental para esse resultado satisfatório, o que está em consonância com os resultados de investigações que avaliaram as variáveis que influenciam o processo de amamentação (Braga et al., 2008; Vasconcelos et al., 2006).

Os relatos indicaram “as mães companheiras” como uma subcategoria de análise bem ressaltada pela amostra. O apoio dentro, do próprio grupo de mães, ocorreu de modo informal, uma vez que se sentiam seguras por estarem juntas, compartilhando a mesma realidade; e o convívio fez surgir novas amizades construídas no vínculo afetivo compartilhado pelo sofrimento. Com os olhos cheios de lágrimas, Janaina exclamou: “(...) Minha sorte foi duas colegas, L. e M.”. “(...) Fiquei um tempo lá na ginecologia sozinha num quarto, muito

sofrido, entrei em pânico, depois eu fui lá para o alojamento. {__} Já estava mais

fortalecida!” (Raquel, 25 anos, RN de 1.485g).

Para outra mãe, a amizade também viabilizou o compartilhamento de informações importantes para os cuidados com o bebê “(...) foi bom, fiz amizades, continuo entrando em contato com elas ... Adquiri conhecimento aqui com elas”. (Gabriela, 21 anos, RN de 1.560g).

Seidl et al. (2001) discutem que o apoio social pode ser um importante recurso auxiliar para a adoção de estratégias focalizadas no problema, como a busca de informações no grupo de iguais, para enfrentar melhor o estresse gerado pela situação de amamentar e cuidar do filho prematuro. Assim, durante todo o processo de permanência da mãe na UN, o apoio fornecido pelas companheiras criou um ambiente propício para um aprendizado compartilhado acerca do novo filho (Braga et al., 2008; Vasconcelos et al., 2006). Além da família, um suporte de igual importância ao processo de amamentação é aquele fornecido pela equipe (Jarvoski et al., 2006; Nascimento & Issler, 2004; Rego, 2009).

Entre as redes de apoio que foram surgindo no contexto hospitalar, destacamos os profissionais de saúde, que ampararam primeiramente a mãe e, por conseguinte, a família. A amostra avaliou o suporte profissional de forma positiva: “(...) Sabia que estava sendo bem cuidada e o hospital muito bom”. (Emanuela, 19 anos, RN de 1.250g). Paula foi enfática: “(...) A recuperação dela a cada dia e a atenção de todos que eu recebi aqui, o que me deixou encantada com o Dom Malan e toda assistência.” (Paula, 37 anos, RN de 1.410 g).

As mães reconhecem o apoio dos profissionais de saúde ao longo do período de hospitalização, embora, durante a primeira visita ao filho na UN, estivessem sozinhas ou somente em companhia da família. Esse é um momento sobremodo importante, e a ausência da equipe aponta para a necessidade de que o início do processo interativo entre mãe e bebê prematuro - base para a constituição do apego - seja conhecido pela equipe de cuidados intensivos neonatais, melhorando a qualidade da sobrevida do bebê (Alencar, 2009; Alfaya & Schermann, 2005; Braga et al., 2008; Rego, 2009; Scortegagna et al.,2005; Scochi et al., 2003).

Trata-se aqui de defender uma estratégia de ação que contribua para as práticas de humanização já adotadas para a integralidade da assistência à tríade mãe-filho-família, considerando que esse processo de permanência prolongada da mãe acompanhante sempre se mostra dolorido, sofrido e desgastante, até a concretização da alta hospitalar do RN (Vasconcelos et al., 2006).