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Aspectos da fase inicial de projeto encontrados nas abordagens clássicas

2.2 A FASE INICIAL DO PROCESSO DE PROJETO

2.2.1 Aspectos da fase inicial de projeto encontrados nas abordagens clássicas

Para que se possa explorar a questão da modelagem é preciso antes ter uma visão do tipo de informações geradas durante o processo de projeto informacional.

A área de metodologia de projeto é uma área que tem evoluído rapidamente e com uma multiplicidade de formas. Analisando-se alguns dos principais autores em teoria de projeto do produto, observa-se claramente o caráter evolutivo e complementar dos trabalhos desenvolvidos nesta área. Em seguida expõem-se pontos de vista de diversos autores quanto à fase inicial do processo de projeto.

A natureza, necessidade e forma pela qual iniciou-se a sistematização do processo de projeto são discutidas por Pahl e Beitz [42] (pág. 4 a 19). Os autores, citam, por exemplo, as

contribuições dadas por Kesselring e o seu método das aproximações sucessivas, cujo principal elemento constituía-se na avaliação de formas variantes. De acordo com Pahl e Beitz [42], a fase inicial do projeto consiste na ‘clarificação da tarefa’, que envolve a coleta de informações quanto às necessidades que deverão ser incorporadas no produto, assim como das restrições que deverão ser impostas (Pahl e Beitz [42], pág. 40). Para os autores o desenvolvimento de um produto precisa ser planejado através da: análise da situação e definição dos objetivos da empresa, descoberta de idéias para novos produtos, seleção e definição do produto; e da clarificação da tarefa: especificações do produto - lista de requisitos (Pahl e Beitz [42], pág. 45 a 56). Embora os autores dêem algumas indicações da natureza das informações na fase inicial de projeto, o seu trabalho está mais voltado à proposição de métodos e à sistematização destes. Hubka e Eder [26] pesquisaram o desenvolvimento dos sistemas técnicos. Entre as principais contribuições da teoria dos sistemas técnicos os autores ressaltam o estabelecimento de uma base comum para a coordenação e compreensão dos sistemas técnicos e o seu potencial como fonte de conhecimento para o projeto de engenharia e a ciência do projeto (Hubka e Eder [26], pág. 211). Propõem uma classificação baseada no sistema de classificação da biologia (e.g., sistema técnico, super-filo, filo, classe, família, genus, sub-genus, série e tamanho seriado) e critérios para análise de sistemas (e.g., função, modo de ação, grau de abstração, grau de complexidade)(Hubka e Eder [26], pág. 213 e 225). Classificam as transformações realizadas pelos sistemas técnicos em três grupos: material, energia e informação (dados e comandos) (Hubka e Eder [26], pág. 234). Ressaltam que a listagem completa das propriedades pode ser melhor obtida considerando-se classes de propriedades; observam que todos os sistemas técnicos possuem todos os tipos de propriedades, tenham elas sido planejadas conscientemente de acordo com os requisitos, ou não.

A necessidade pode ter, segundo Ullman [51], três fontes: o mercado, o desenvolvimento de uma nova tecnologia ou a necessidade oriunda de um sistema maior (Ullman [51], pág. 91). É colocado que, para a maioria dos projetos, o primeiro passo é a formação da equipe de projeto. O planejamento / desenvolvimento das especificações inicia-se com o desenvolvimento das necessidades do consumidor (o mercado), os quais são utilizados posteriormente para avaliar a concorrência e gerar os requisitos de engenharia ou especificações que finalmente determinarão a qualidade do futuro produto (Ullman [51], pág. 93).

Roozenburg e Eekels [44] lembram que o projeto do produto faz parte de um processo maior chamado ‘desenvolvimento do produto’. Segundo os autores, a especificação de projeto não deve determinar uma solução em particular para o problema de projeto, ela deve fornecer critérios através dos quais o ‘valor’ ou a ‘qualidade’ dos resultados (intermediários) do processo de projeto possam ser avaliados (Roozenburg e Eekels [44], Pág. 131). Enunciam propriedades chamadas ‘desejáveis’ no conjunto das especificações de projeto: validade, ‘completeza’ (completeness), operacionalidade, não - redundância, concisão e praticabilidade (Roozenburg e Eekels [44], pág. 143 a 148). Propõem a utilização do ciclo básico em projeto análise -> síntese -> avaliação.

que as decisões sobre os produtos são baseadas em atributos que podem ser arranjados em oito categorias, identificadas pelo acrônimo $APPEALS (‘atratividades’), os quais são: custo, disponibilidade, aparência, desempenho, facilidade de uso, garantia, custo do ciclo de vida e padrões sociais. Cita também quatro níveis para as necessidades dos consumidores: esperadas, verbalizadas, não-verbalizadas e excitadoras (Magrab [33], pág. 89 a 92). Recomenda a utilização do método do QFD e da Casa da Qualidade.

PSfrag replacements Satisfação do consumidor Incorporação das características desejadas T odas Algumas Satisfação Insatisfação Bom desempenho Desempenho básico Desempenho inesperado Øfator de excitação

Figura 2.3 : Os fatores de qualidade e o modelo de Kano.(extraído de Baxter [2])

Baxter [2] diz que o primeiro fator a ser levado em consideração é a percepção do consumidor sobre a qualidade do produto. Fala das expectativas básicas, dos fatores de excitação e fator desempenho do produto, cujo relacionamento é mostrado na chamada curva de Kano (ver Figura 2.3). Diz que a classificação das necessidades não é estática no tempo. Ao converter as necessidades em objetivos técnicos, é preciso conseguir o equilíbrio entre utilidade, precisão e fidelidade. Define as especificações do projeto como algo que “procura antecipar tudo o que poderia causar o fracasso comercial do produto. Essas causas são removidas durante a elaboração dos requisitos de projeto.” Sugere como procedimento quatro etapas: levantamento de informações, especificação preliminar, revisão da especificação e versão final da especificação (Baxter [2], pág. 221 a 222).

2.2.2 Projeto Informacional

Diversos autores da área de projeto tratam da questão do início do processo, no entanto, o PI constitui, até então, um dos poucos que tem por objetivo a sistematização do processo de obtenção das especificações de projeto de produtos. Por esse motivo vai-se discutir alguns

Modelagem de Informações para a Fase de Projeto Informacional. Estado da Arte. 23 pontos do Projeto Informacional6.

Inicialmente, Fonseca [16] realiza extensa revisão dos conceitos das necessidades humanas, da estrutura constitutiva dos produtos industriais, estrutura do processo de projeto e do estado da arte com relação à obtenção das especificações de projeto de produtos.

Problema de projeto Início do projeto

Fase 1 Projeto Informacional do produto industrial

Etapa 1.1 Análise do problema de projeto

Tarefa 1.1.1 industrial pelo tipo de projeto, tipo de produto e tipo de produçãoRevisar o estudo de marketing prévio. Identificar o produto Tarefa 1.1.2 Pesquisar em sites da internet por informações relacionadas ao produtoindustrial, bancos de patentes, empresas fabricantes etc.

Tarefa 1.1.3 Resumir a pesquisa inicial: listar produtos concorrentes, tecnologia básicade produção, objetivos do projeto, metas, restrições e desejos explícitos Etapa 1.2 Definir o ciclo de vida e os atributos do produto

Tarefa 1.2.1 Estabelecer as fases do ciclo de vida do produto industrial clientes e usuários

Tarefa 1.2.2 Definir os atributos para o produto

Etapa 1.3 Definir as necessidades do projeto

Tarefa 1.3.1 Definir as necessidades em cada fase do ciclo de vida do produto. Agrupar e classificar as necessidades obtidas.

Tarefa 1.3.2 Aplicar a matriz de geração das necessidades

Etapa 1.4 Converter as necessidades dos clientes em requisitos do usuário do produto industrial

Tarefa 1.4.1 Escrever as necessidades sob a forma de expressões verbais; de preferência contendo os verbos ser, estar ou ter Tarefa 1.4.2 Verificar consistência dos requisitos de usuário: fundir, eliminar Etapa 1.5 Converter requisitos do usuário em requisitos de projeto

Tarefa 1.5.1

Aplicar a matriz de conversão de requisitos de usuário em requisitos de projeto (observando atributos específicos do produto). Os requisitos de usuário são convertidos em expressões mensuráveis, definidas e classificadas. Etapa 1.6 Avaliação dos requisitos de usuário versus requisitos de projeto

Tarefa 1.6.1 Aplicar a casa da qualidade

Tarefa 1.6.1 Selecionar e definir as especificações de projeto

Especificações de projeto do produto Adequadas?

Fase 2 Projeto conceitual do produto

Não Sim Pesquisar novas informações, rever estágios anteriores e refazer o estágio em desenvolvimento Base de dados da metodologia de projeto de produtos industriais Saída

Figura 2.4 : Fluxograma do processo de projeto informacional segundo Fonseca [16]. Para o autor, o desenvolvimento de produtos é “o conjunto de atividades voltadas ao projeto, produção e lançamento de produtos industriais, atendendo às condições de mercado, abrangendo desde a definição primária do produto, segundo captado dos clientes e usuários potenciais, até sua incorporação plena no mercado”. A fase de projeto informacional está inserida entre a atividade de pesquisa inicial do mercado e as atividades posteriores de projeto. A pesquisa de mercado responsabiliza-se por, a partir de informações mínimas do produto, agregar informações até a formação de uma “idéia do produto”, que passará a constituir o

6Porém não será aprofundada a discussão em torno da teoria de projeto que introduziu o projeto informacional,

problema de projeto. A partir daí, o projeto informacional transcorre como um sistema de transformação de informações, no qual as necessidades são identificadas e transformadas em categorias de informação que o autor classifica como ‘relevantes’ e ‘realmente existentes’, tais como requisitos de usuário, requisitos de projeto e especificações. Uma síntese do processo proposto por Fonseca é mostrado na forma de um fluxograma na figura 2.4.