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ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 - LOCALIZAÇÃO

O Distrito de Cachoeira do Campo está localizado a 18 km da sede do município de Ouro Preto MG (Figura 7), sendo cortado pela Rodovia dos Inconfidentes (BR – 356), que o liga à Capital do Estado, Belo Horizonte, que se encontra a 72 km deste. Este distrito se encontra inserido em uma importante província geológica do estado de Minas Gerais, o Quadrilátero Ferrífero, famosa por suas riquezas minerais, principalmente ferro e ouro. De acordo com Sobreira (1998), a forma rebaixada dentro do Quadrilátero Ferrífero (complexo metamórfico do Bação) é caracterizada por um comportamento intempérico diferenciado, que permitiu a formação de grandes pacotes de solos, o que facilitou a instalação de processos erosivos em forma de ravinas e voçorocas.

FIGURA 7 - Mapa de localização da área investigada. Fonte: Serviços da Terra,

3.2 - CLIMA

Segundo classificação do Koppen (Ayoade, 2003), o clima da região é do tipo CWb onde C representa climas temperados chuvosos e quentes, W representa estação seca de inverno, e b verão moderadamente quente (o mês mais quente tem temperatura média de 22ºC). São registradas temperaturas amenas e duas estações bem definidas, com uma estação chuvosa que se inicia em outubro e prolonga-se até março, e o período de estiagem, que vai de maio a setembro. A pluviosidade média anual fica em torno de 1.306mm (PARZANESE, 1991).

3.3 - VEGETAÇÃO

A vegetação da área (Figura 8) é condicionada pelos solos originados das rochas do Complexo do Bação, que se apresentam ácidos, consequentemente pobres em nutrientes. Assim, continua Salgado (2004), de forma geral a região apresenta uma vegetação de cerrado, com arbustos de galhos retorcidos, presentes em meio à vegetação rasteira que é em grande parte formada por gramíneas e árvores de pequeno porte, exceto nos fundos de vale, quando a maior concentração de umidade propicia uma vegetação mais exuberante, que coincide na maioria das vezes com nascentes ou pequenos arroios.

De acordo com Rodarte (2004), a existência e o vigor da vegetação dependem da disponibilidade de nutrientes e umidade do solo, fatores que normalmente se acham em níveis insuficientes em áreas erodidas, como em Cachoeira do Campo. Assim, como a área é condicionada aos solos pobres em nutrientes, derivados do intemperismo de rochas graníticas – gnáissicas, sobressai-se uma vegetação rala típica de cerrado, que segundo Delgado (1991), se constitui nos campos limpos predominante em porções consideráveis do Bação, representado por vegetação rasteira (gramíneas de um modo geral). Nas partes com boas condições de drenagem e nutrientes, que correspondem geralmente às áreas de nascentes, se desenvolve uma vegetação de médio e grande porte.

3.4 - GEOLOGIA

Como mencionado anteriormente, o distrito de Cachoeira do Campo insere-se na província geológica denominada Complexo Metamórfico do Bação, situado na parte central do Quadrilátero Ferrífero. Segundo Dorr (1969), a área do complexo é de aproximadamente 385 km2 e aparece como uma janela estrutural do embasamento cristalino, sendo orlado por uma sequência vulcanossedimentar, de idade arqueana, do supergrupo Rio das Velhas. Os principais tipos litológicos da bacia do rio Maracujá se encontram representadas no mapa (Figura 9).

Em seus estudos na bacia do rio Maracujá, que abrange grande parte do Complexo do Bação, Bacellar (2000) aponta que este tem se revelado mais heterogêneo que anteriormente se pensava, tendo sido individualizadas três unidades principais na bacia do rio Maracujá: unidade gnáissica, unidade granitoide, e unidade com rochas xistosas e ultramáficas.

Particularmente, a área de estudo no presente trabalho está situada na unidade gnáissica, mais precisamente no gnaisse Funil. Segundo Moraes (2007), essa unidade é dominante no Complexo do Bação e é composta por rochas onde predominam o quartzo, o feldspato e a biotita em bandas félsicas e máficas, possuindo uma granulometria variando de fina a grossa e textura granolepidoblástica ou granuloblástica. Bacellar (2000) relata que esta unidade é composta por gnaisses ora mais bandados e migmatizados ricos em biotita, como o gnaisse Funil, ora menos bandados, gnaisse Aramantina e Praia. Ainda segundo este último autor, esse bandamento nem sempre é evidente, sendo caracterizado pela alternância de bandas milimétricas a centimétricas claras, ricas em quartzo e feldspatos e bandas escuras, ricas em biotita e anfibólio. Esse tipo de estrutura favorece o intemperismo e a formação de regolitos mais espessos.

De acordo com Bacellar (2000) essa unidade (gnaisse Funil) é de composição global granodiorítica, e de granitoides ricos em quartzo. A foliação (bandamento gnáissico), segundo Drumond e Bacellar (2006), é muito variada.

3.5 - GEOMORFOLOGIA

De acordo com Valadão e Silveira (1992) o relevo predominante na área do Complexo do Bação é caracterizado por mares de morros, ou meias laranjas, com encostas suaves e topos convexos, circundados por serras com vertentes mais íngremes. O domínio sul, onde se insere a área da presente pesquisa, possui um relevo pouco dissecado com morrotes menos acentuados de topos convexos.

Nessa porção, de acordo com Sobreira (1998) destacam-se na paisagem as grandes ravinas e voçorocas, com uma morfologia dendrítica, anfiteátrica ou alongada, que chegam a atingir cerca de 30-40 metros de profundidade, avançando até quase a linha de cumeada com grandes proporções.

Para Figueiredo et al. (2004), que também descreveram a geomorfologia do Complexo do Bação, este se apresenta como uma paisagem de colinas policonvexas, de baixa declividade quando no domínio gnáissico.

Bacellar (2000) apresenta (Tabela 3 e Figura 10) as características dos domínios geomorfológicos da bacia do rio Maracujá e mostra a distribuição espacial destes domínios. No domínio 1, na área 1A, que corresponde ao local do presente estudo, há predomínio de colinas e morrotes, com um desnivelamento inferior a 70 metros, exibindo um relevo mais suave com pequenos desníveis. A unidade que apresenta declividade predominantemente inferior a 30% é aquela com maior densidade de voçorocas, explica o autor (op. cit.).

Tabela 3 - Características dos domínios geomorfológicos da bacia do rio Maracujá

(Bacellar 2000).

Domínio Área litológica Unidade dominante

Formas

de relevo Desnivelamento (metros)

Controle por nível de base a jusante Domínio estrutural 1A embasamento (gnaisse Funil) Colinas e morrotes < 70 sim Holanda, Alto Maracujá e Dom Bosco 1 1B embasamento (gnaisses e granitoides) e supergrupo Rio das Velhas Colinas e morrotes, com maior proporção de planícies de inundação < 70 sim Padres, Médio Maracujá e Holanda 2 embasamento (gnaisses e granitoides) e supergrupo Rio das Velhas Colinas e morrotes 70 - 140 não Holanda, Padres e Médio Maracujá 3 embasamento (gnaisses e granitoides) e supergrupo Rio das Velhas Morros > 70, frequentemente > 140 não Todos

4A Supergrupo Minas Morros 70 a 140 não Maracujá Alto 4

FIGURA 10 - Carta dos domínios geomorfológicos da bacia do rio Maracujá. Modificado

3.6 - SOLOS

Para Sobreira (1998) os solos do Complexo do Bação, na região de Cachoeira do Campo, possuem horizontes espessos em função do alto grau de intemperismo sofrido pelos gnaisses que formam o embasamento, generalizadamente Latossolos Vermelho–Amarelos.

No mapa pedológico da bacia do Rio Maracujá (Figura 11) apesar de indicado Cambissolos para a área em estudo, as análises de campo mostraram que os solos da região próxima da voçoroca são Latossolos Vermelho-Amarelos. Os mesmos são caracterizados por possuírem espessura maior no horizonte Bw com intemperização elevada.

Parzanese (1991) também observou a formação de Latossolos Vermelho–Amarelos como dominantes na região, destacando que os Cambissolos restringem-se às áreas mais acidentadas. Segundo Guerra e Botelho (2003) os Latossolos, de um modo geral, apresentam reduzida suscetibilidade à erosão. Os autores reafirmam também que a boa permeabilidade e drenabilidade e a baixa relação textural B/A (pouca diferenciação no teor de argila do horizonte A para o B) garantem na maioria dos casos, uma boa resistência desses solos à erosão.

No entanto, na bacia hidrográfica do ribeirão Carioca, em área situada na porção sudoeste do Complexo Metamórfico do Bação, Mergajeto Neto e Sobreira (2006) constataram no Latossolo Vermelho-Amarelo um alto percentual de processos erosivos (97,62%). Segundo Bacellar (2000) isso ocorre porque os saprólitos apresentam erodibilidade mais alta, o que explicaria a alta taxa de erosão constatada em locais onde ocorre o Latossolo Vermelho-Amarelo.

Outra explicação também pode ser verificada segundo DAEE/IPT (1989), os solos rasos que são relativamente mais erodíveis, podem não propiciar o aparecimento de voçorocas por serem justamente pouco espessos e não abrigarem no seu interior o lençol freático. Já os Latossolos, que são relativamente menos erodíveis, podem sofrer o desenvolvimento de voçorocas quando estas forem induzidas por elevadas concentrações de águas superficiais, sem dissipação de energia, cuja ação de aprofundamento no solo atinja o lençol freático.

Os Cambissolos Aplicos Distroficos (figura11) estão presentes na bacia do rio Maracujá na porção mais ao sul, e são de acordo com a classificação da Embrapa (1999) pouco desenvolvidos, com horizonte B incipiente e os Neossolo Litólico Distrófico que se desenvolvem no extremo sul (bacia do rio Maracujá), de acordo com o mesmo autor, tem como características horizontes pouco evoluídos, sem horizonte B diagnóstico definitivo.

3.7 - HIDROGRAFIA

As bacias hidrográficas são unidades de estudo que propiciam uma visão holística para a compreensão dos processos que ocorrem em cada compartimento do relevo. De acordo com Cunha e Guerra (2004) são consideradas um sistema aberto, recebendo energia e matéria fornecidas pela atuação do clima e da tectônica local, e eliminando fluxos energéticos e matéria pela saída da água e sedimentos solúveis. Assim, o entendimento dos processos de erosão podem ser mais bem discutidos quando abordados por uma unidade mais geral, como a bacia hidrográfica, onde ocorre uma dinâmica particular.

A voçoroca em estudo está localizada na bacia do rio Maracujá (Figura 12), que constitui um dos principais tributários da margem esquerda do alto rio das Velhas, que por sua vez desemboca no rio São Francisco em Minas Gerais. Segundo Figueiredo et al. (2002), a bacia do rio Maracujá apresenta uma rede de drenagem que se desenvolve sob controle estrutural, com rios pouco profundos.

Para Delgado (1991) no domínio Sul do Complexo Metamórfico do Bação os cursos principais e seus tributários se apresentam com tendência a um traçado aproximadamente retilíneo, sobretudo nos trechos onde em seus leitos afloram rochas granito-gnáissico- migmatiticas pouco intemperizadas que originam pequenas corredeiras no rio Maracujá.

3.8 - USO E OCUPAÇÃO DA ÁREA

Segundo Moraes (2003) a ocupação da região teve início com o ciclo do ouro no século XVII e XVIII, sendo Cachoeira do Campo um dos primeiros povoados desenvolvidos na região no período da exploração aurífera. Essa ocupação ocorreu para cultivar terras que iriam abastecer a população envolvida com a extração do ouro.

Assim, na mesma época estabeleceram-se grandes fazendeiros, senhores de terras, que com o comércio de alimentos enriqueceram e se tornaram membros de grande poder e influência política. Cachoeira do Campo serviu como ponto de abastecimento de alimentos na região, proporcionando destaque social e político aos donos de grandes glebas de terras. O histórico do uso e ocupação sugere que na época do ciclo do ouro a região foi grandemente impactada pela retirada indiscriminada da vegetação nativa para plantio de alimentos em grandes quantidades, os quais deveriam suprir a população da região do garimpo do ouro. As marcas de valas de divisa efetuadas nessa época e mais posteriormente como prática de divisão de propriedades têm sido apontadas por alguns autores (Sobreira, 1998; Parzanese, 1991 e Bacellar, 2000) como um dos pontos principais locais onde teve início o voçorocamento e/ou ravinamento.

Atualmente Cachoeira do Campo, de acordo com Sobreira (1998), apresenta-se como o segundo núcleo urbano em população e infraestrutura do município de Ouro Preto. A população nativa vive em pequenas propriedades, praticando uma agricultura de subsistência ou então trabalhando nas maiores propriedades, que em geral são casas de campo, muito comuns nessa localidade por ser favorecida pela BR 356-Rodovia dos Inconfidentes, que corta a região e propicia um fácil acesso à capital do Estado.

Quanto à economia local, o mesmo autor (op. cit.) relata que muitas indústrias se instalaram na região, gerando um surto de crescimento, o que propiciou uma otimização dos serviços que, em alguns aspectos, já se assemelham com o mesmo nível oferecido em Ouro Preto.

A área de estudo localiza-se entre os bairros Vila Alegre e Sacramento, e as constantes visitas de campo possibilitaram uma análise visual desse local relacionada à situação sócio econômica da população. O bairro Vila Alegre é caracterizado por uma população com baixo poder aquisitivo, que convive com a falta de infraestrutura básica em local crítico, como as imediações de uma grande erosão, a Voçoroca Vila Alegre. Isso não impede que continuamente sejam edificadas construções cada vez mais próximas da erosão. Decorre dessa ocupação desordenada maiores problemas que culminam com prejuízos materiais e humanos, posto que o local seja uma área de risco.

O bairro Sacramento é ocupado nas proximidades da voçoroca por indústrias que beneficiam rochas para revestimento e outra que fabrica objetos em pedra sabão para serem exportados. Estas atividades impactam o meio ambiente pelos resíduos que são depositados no local.

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