• Nenhum resultado encontrado

VOÇOROCA VILA ALEGRE

5.1 - ASPECTOS GERAIS

A voçoroca Vila Alegre está localizada nas imediações dos bairros Vila Alegre e Sacramento em Cachoeira do Campo/MG. A incisão mostra cinco dígitos, dos quais três seguem em direção à área urbanizada (Figura 13). (A escolha por uma imagem do Google Earth na representação dos aspectos gerais se deve a maior nitidez da imagem quando ampliada).

Também pode ser observada (Figura 13) a área ocupada pelas edificações (linha pontilhada em vermelho), que está voltada para a cabeceira do dígito mais ativo. A área não possui imagens atuais para acompanhar a ocupação mais recente mas, o que se percebe é que as muitas modificações que ocorrem no entorno da voçoroca Vila Alegre podem contribuir ainda mais para o seu avanço. Uma tentativa de contenção dos sedimentos provenientes da referida erosão foi efetuada no passado por meio de um dique (barramento), com extravaso por meio de um vertedouro (Figura 13).

Além do processo de erosão local, a vegetação de cerrado encontra-se bastante impactada pelas atividades que ocorrem nos arredores, como uma marmoraria e uma fábrica que beneficia artigos em pedra sabão.

Também torna-se importante um esclarecimento quanto ao nome da incisão, isto possibilitará uma melhor identificação e comparação com trabalhos realizados anteriormente na mesma área. Sobreira (1998) designou este conjunto de erosão descrevendo-os como voçoroca do “Véio”. Aqui optou-se por denominá-la voçoroca Vila Alegre por ser este o bairro mais vulnerável a sofrer as consequências da erosão acelerada.

FIGURA 13 - Voçoroca Vila Alegre. Imagem Google earth (2006)

Área ocupada recentemente

Formato da voçoroca Vila Alegre c/ 5 dígitos Dique de contenção

Quanto ao relevo local é formado por colinas suaves, ‘mar de morros’ com encostas suaves (Figura 14) e topos convexos. A voçoroca insere-se em uma colina suave não se diferenciando do padrão local. O tipo de vertente é representado pela convexidade na parte superior, e um segmento mais retilíneo, com uma pequena concavidade na parte inferior. Esse tipo de forma se caracteriza por apresentar um escoamento superficial difuso na parte superior e mais concentrado na inferior, favorecendo a erosão mecânica em sulcos, ravinas e voçorocas. A voçoroca ocupa a meia vertente e sua propagação recai preferencialmente para a lateral direita (vista de montante), que se encontra em franca atividade erosiva

O escoamento superficial também pode ter influenciado na direção de avanço, uma vez que a forma convexizada é propícia a esse tipo de escoamento. Também os solos do local (Latossolo Vermelho-Amarelo), contribuem para que as erosões, uma vez instaladas, progridam rapidamente devido a maior erodibilidade do horizonte C.

Vários autores (PARZANESSE, 1991; SOBREIRA, 1998; BACELLAR, 2000) discutiram a erodibilidade desses solos, que segundo os mesmos se mostram pouco erodíveis no horizonte B. Por outro lado, seu saprólito apresenta grande tendência a sofrer desagregação quando atingido pelas águas de superfície. A evolução da erosão atual coincide com o local ocupado mais recentemente no entorno da voçoroca.

5.2 - OBSERVAÇÕES DE CAMPO

A urbanização do bairro Vila Alegre e Sacramento avança cada vez mais em direção à voçoroca estudada o que representa constante preocupação. As novas edificações, de classes menos favorecidas, avançam em direção ao quinto dígito, local que ocorre a maior atividade erosiva. Além do perigo inerente de movimentos de massa esse tipo de erosão inutiliza grande extensão de terra.

Na chegada à face de montante da voçoroca, assim que se tem acesso via bairro Vila Alegre, percebe-se no caminho, junto à área ocupada mais recentemente, uma vala aberta que capta o esgoto e intercepta a enxurrada (Figura 15). Como possui pequenas dimensões, não se mostrou eficaz para a quantidade de água que flui para o local em dias de chuva. Ao transbordar a vala, a água escoa livremente para o interior da voçoroca, levando consigo a sujeira do esgoto e aprofundando a erosão. Essa vala foi idealizada para ir além da incisão, sendo o seu fluxo direcionado para E, desaguando na mesma vertente em meio à pastagem. O que se percebe nesta tentativa de melhoria, é uma transferência do problema, que poderá resultar em novos focos erosivos a jusante, pelo volume de água que se concentra na época das chuvas e que escoa livremente sem dissipação pela outra lateral da encosta.

Destaca-se também o despejo de entulhos na cabeceira da voçoroca, em mais uma tentativa isolada de medidas de contenção do avanço da incisão (Figura 16). Ao que tudo indica, a atitude mantém a expectativa dos moradores em relação a um possível fechamento da cratera pelo Poder Público, uma vez que cada vez mais as construções de classe menos favorecidas continuam avançando sobre o precipício formado pela erosão.

FIGURA 15 - Esgoto a céu aberto FIGURA 16 - Lixo na cabeceira da

incisão

A lateral esquerda da voçoroca, a jusante, é preenchida pelos resíduos de uma marmoraria, que aos poucos formam uma barreira lateral (Figura 17). Mais a jusante, recentemente foi implantado um novo vertedouro, que aumenta a altura do dique em mais ou menos 0,50 cm. Os sedimentos retidos pelo dique elevou o nível de base da voçoroca, formando uma área plana dentro da voçoroca, em sua porção mais distal.

Com o dique a água permanece concentrada no fundo da voçoroca, até mesmo no mês de agosto, período este caracterizado pela maior estiagem regional, que vai de maio a setembro (Figura 18A). No mesmo período do ano anterior (2010) era possível caminhar por toda a extensão no interior da incisão, que apresentava o assoalho quase totalmente seco, com apenas um filete de água (Figura 18B).

Não se pode definir ao certo a eficiência geral desse tipo de barramento sobre a evolução da erosão, pois se por um lado impede o assoreamento dos rios próximos, por outro lado pode estar contribuindo para que a água que permanece acumulada traga outras consequências relacionadas aos efeitos erosivos. Um barramento que permitisse uma maior

saída de água poderia beneficiar o escoamento. O fato de o solo permanecer encharcado dificultou o acesso aos trabalhos de coleta, que inicialmente foram planejados para o início da estiagem.

Outro ponto observado diz respeito ao traçado do arruamento derivado da ocupação urbana nas cabeceiras da erosão. Ele mantém suas maiores vias nas linhas de maior declividade (Figura 19), podendo gerar caminhos para a enxurrada, que ganha força e velocidade ao longo do trajeto, arrastando e destruindo obras e infraestrutura.

FIGURA 17 - Resíduos da marmoraria e pedra sabão (vista da cabeceira do 5º dígito)

FIGURA 18 A - Fundo encharcado

08/2011

FIGURA 18 B - Fundo seco 08/2010

Resíduos marmoraria

Resíduos pedra sabão

Ponto de referência Ponto de referência

FIGURA 19 - Aruamento na linha de maior declividade e habitações mais simples

Outro aspecto visualizado em campo está relacionado ao tipo de construção existente. As moradias mais antigas são de grande porte, evidenciando um melhor poder aquisitivo na ocupação inicial do bairro. Hoje, o que se percebe é um número crescente de habitações muito simples, que surgem rapidamente em meio a falta de infraestrutura básica, típico de ocupações irregulares, sem controle e planejamento urbano.

A falta de conhecimento da gravidade do processo pela população em geral, pode ser confirmada e explicada pela falta de cautela com que são tratadas as incisões de erosão existentes. Estas geralmente são vistas como uma cratera que será obliterada com facilidade, bastando apenas que se concentre no local o entulho disponível na cidade. Ou então abandonadas, negligenciadas e excluídas de qualquer projeto pelo poder público, pela grandeza das obras e o alto custo que esse tipo de forma.

Assim, pode-se identificar in loco que os principais fatores que podem estar contribuindo para a degradação da área e o consequente avanço das frentes de erosão estão diretamente ligados ao processo de ocupação, sem as devidas medidas de contenção. É oportuno salientar que a forma paliativa de preencher a cabeceira com entulho, no mesmo local do caminho preferencial das águas, pode fazer com que a erosão continue avançando a montante, sem ser percebida, porque os mecanismos de subsuperfície continuam agindo. Nesse caso, o local pode se tornar ainda mais perigoso para os caminhões que se aproximam rente à cabeceira para depositar o entulho, pois as vibrações e o peso da carga podem causar desabamentos.

Contudo, não se pode afirmar que sejam os fenômenos citados os únicos responsáveis pelo avanço das frentes de erosão que se instalaram no local e seguem contribuindo para erosão remontante.

5.3 - PARÂMETROS QUALITATIVOS DA VOÇOROCA VILA ALEGRE

Os componentes qualitativos, que fornecem as informações dos aspectos mais gerais de uma incisão de erosão, assim como suas medidas, estão diretamente associados aos diferentes mecanismos erosivos. Assim, espera-se que essa tipologia permita elaborar uma síntese do processo de erosão do tipo voçoroca, uma vez que aborda os vários aspectos exibidos na sua localização e configuração. Atualmente a voçoroca Vila Alegre exibe a configuração de acordo com o que segue abaixo (Tabela 5).

Tabela 5 - Características Qualitativas da Voçoroca Vila Alegre

Espaço

geográfico Rurais Urbanas X

Posição vertente Média X Alta Baixa

Tamanho G ≤ 500/50/20m X M ≤ 500/50/20m P < que as anteriores Linha de

inclinação/vert. Transversal Longitudinal X

Paredes Lisas Lobuladas X

Formas simples Ovoide lisa Ovoide lobulada Ovoide coalescente X Formas simples Periforme lisa Ortogonal Linear Outras Forma composta Mão aberta Semi-leque Flor de Liz Árvore X

Forma do fundo Formato V Formato U X

Estágio evolutivo Inicial Intermediário Maduro X Senil Sistema de

incisão Conectadas X Desconectadas

Para o caso da incisão em questão, não foi possível concluir com eficácia medidas absolutamente exatas de sua evolução devido a um problema de escala das fotografias aéreas (não permitem estabelecer limites precisos sem perder a nitidez e a margem de erro é em torno de 5m). No entanto medidas aproximadas foram obtidas, possibilitando caracterizá-la como uma incisão de grande porte, sendo o comprimento, a largura e a profundidade, respectivamente 417; 351; 30 metros.

Essa erosão apresenta uma medida excepcional na largura, sendo quase igualada ao seu comprimento, o que está fora de qualquer padrão pré-estabelecido (mesmo as medidas não sendo rígidas). Quanto à profundidade de 30m registrada rente ao talude montante, pode ser ainda maior, pois ainda restava um desnível considerável em relação ao fundo da voçoroca.

As paredes lobuladas, festonadas na parte superior da incisão, são os testemunhos da ação de diferentes mecanismos, como o fluxo superficial concentrado e difuso que se alternam no tempo e no espaço, agindo com maior intensidade ora em um ponto, ora em outro, conforme também vão ocorrendo às modificações do entorno.

A forma simples do tipo ovoide foi observada por se propagar pelas laterais da encosta, e coalescente por apresentar uma forte tendência para se transformar em uma incisão única juntando os três dígitos da lateral direita em um só (a referência direita /esquerda será feita em direção montante). A forma ovoide pode estar relacionada a fatores, como a geometria da encosta.

Na gênese da voçoroca Vila Alegre também podem estar associados fatores que diminuem a resistência ao cisalhamento do solo, como a textura silto-arenosa do saprólito, resultante da decomposição do gnaisse Funil. De acordo com Moraes (2003), a textura deste gnaisse se mostra bastante variável, mesmo quando derivado de uma mesma unidade litológica, exibindo maior erodibilidade nesse horizonte (saprólito). Isso desestabiliza as partes inferiores que propiciam o avanço da incisão e assim confeccionam uma aparência sinuosa, em toda sua borda. Lembrando que a atuação de outros mecanismos relacionados ao fluxo superficial e subsuperficial também devem ter contribuído para o avanço da incisão de erosão, pois nem sempre o último mecanismo a atuar pode ser responsabilizado totalmente pelo processo.

A forma arbórea da voçoroca Vila Alegre possui cinco frentes das quais algumas temporariamente estabilizadas. Esses dígitos que se expandem preferencialmente para uma direção são associados geralmente às fendas de tração geradas pelo solapamento dos taludes em decorrência do escoamento superficial, no caso da erosão em questão, causadas pelo direcionamento das águas “urbanas”. Nessa voçoroca, na lateral direita vista de montante, foi observado o maior número de fendas que coincide com o rumo do avanço da erosão. Rodrigues (1984), Moeyerson (1991) e Dietrich e Dunne (1993) citados por Pietrobelli (2007) identificam a importância das fendas de tração paralelas e subparalelas aos taludes de voçorocas na evolução lateral e longitudinal do processo erosivo.

A seção transversal apresenta a conformação em “U”, típica de feições erosivas com estágio evolutivo maduro, ou seja, já houve o tempo de aprofundamento, o que gera o aparecimento de paredes com algumas dezenas de metros. Nesse conjunto de erosões, principalmente o fundo se encontra entulhado por sedimentos ora representado por uma massa mole que afunda ao contato dos pés, nos locais onde a água está estagnada, ora por trechos com água corrente, mas que permite a passagem. O fluxo de água no fundo é normal e constante em voçorocas, pois estas já interceptaram o lençol freático, mesmo quando este fica reduzido a um pequeno filete em alguns pontos na época seca. No entanto essa erosão apresentou um comportamento diferente do habitual, atualmente, houve uma modificação no comportamento das águas, a voçoroca permaneceu com o fundo inundado durante todo o ano, mesmo durante estiagem pronunciada. O ano anterior apresentou o fundo bastante ressecado com crostas quebradiças. O fato dessa mudança talvez possa estar relacionado com o aumento mais recente da barragem, de mais ou menos 0,40cm, localizada a jusante, antes do vertedouro, que deve ter represado toda água que normalmente deveria escoar pelo local. Esse aumento já vem sendo realizado há algum tempo, pois o barramento antigo tem em torno de dois metros de altura.

O sistema de incisão é conectado a uma rede de drenagem o que significa que esta incisão teve início nas partes mais baixas da vertente e depois seguiu avançando para montante com predomínio de fluxos subsuperficiais.

Documentos relacionados