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A bacia do rio Jequitinhonha apresenta um clima bastante variado. A região ocidental, correspondente ao alto Jequitinhonha, é influenciada pelo regime continental tropical, onde nos meses de novembro a janeiro, o clima é quente e úmido, com chuvas concentradas, sendo frequentes os períodos de estiagem nos meses de junho a agosto.

A porção central, correspondente ao médio Jequitinhonha, corresponde a uma área de transição, representada por baixos índices pluviométricos. O clima predominante nesta região é o semi árido quente e seco, com precipitação média inferior a 1.000 mm, caracterizado pela estiagem rigorosa e pela estação chuvosa com curta duração.

A porção oriental da bacia sofre influência do regime marítimo tropical, apresentando índices pluviométricos anuais variando de 1.000 a 1.600 mm do interior para o litoral, com valores médios de 1.176 mm no baixo Jequitinhonha. Nessa região não há meses sem chuva e o déficit hídrico anual varia de 0 a 200 mm. A porção central, correspondente ao curso do médio Jequitinhonha é uma área de transição. Nela as massas de ar chegam exauridas de umidade, acarretando baixos índices pluviométricos, com médias anuais 815 mm no médio Jequitinhonha.

O clima predominante é o semi árido quente e seco, com precipitação média inferior a 1.000 mm, com estação chuvosa curta e estiagem rigorosa.

A temperatura média na maior parte da área é de cerca de 23ºC, sendo amenizada apenas nas áreas mais elevadas do alto Jequitinhonha. As temperaturas máximas ocorrem no médio Jequitinhonha e as mínimas no alto curso. A umidade relativa do ar oscila entre 70 e 80%, sendo maior na região próxima ao litoral, nos vales, e menor nas áreas interiores do médio curso. A evapotranspiração média é de 1.400 mm ou superior, sendo maior no médio Jequitinhonha, onde atinge 1.600 mm. Em geral, toda a área apresenta déficit hídrico, sendo da ordem de 1.000 mm anuais nos baixos vales e atingindo cerca de 800 mm no médio curso.

A região do vale do rio Jequitinhonha caracteriza-se pela falta de dados climatológicos consistentes, especialmente os relacionados às séries históricas expressivas. Segundo SPEC (2004), a análise climatológica da área da usina foi elaborada, principalmente, com base nos dados disponibilizados pelo Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, através da estação climatológica da cidade de Araçuaí, distante aproximadamente 70 km do local do empreendimento. Estes dados referem-se ao período de 1970 a 1990, onde as chuvas ocorrem com maior intensidade no intervalo compreendido entre os meses de outubro a março, com médias mensais variando entre 83 mm a 166 mm, conforme a tabela 3.3:

Tabela 3.3 – Precipitações médias mensais no período (1970/1990)

Figura 3.14 – Precipitações médias mensais no período (1970/1990)

Meses Temperatura média

compensada (ºC) Total Precipitação (mm) Nº dias chuva janeiro 25,7 139,1 11 fevereiro 26,5 83,8 8 março 26,1 101,7 9 abril 25,0 39,4 5 maio 23,4 10,6 3 junho 22,0 3,0 1 julho 21,2 5,9 3 agosto 23,1 4,9 2 setembro 24,7 19,4 2 outubro 25,4 105,9 9 novembro 25,1 166,6 12 dezembro 24,4 160,9 12 Valor Anual 24,4 841,2 77 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Nº dias chuva

Total Precipitação (mm)

Segundo SPEC (2004), a precipitação média anual na bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha apresenta características singulares, onde na região de Diamantina, na cabeceira, a precipitação média anual é de cerca de 1.400 mm, reduzindo no trecho entre Berilo e Itaobim, região do médio curso, para 841 mm anuais e tornando a aumentar à jusante, atingindo 877 mm anuais em Almenara e Salto da Divisa.

O valor de 841 mm/ano refere-se exatamente à região de abrangência da área do reservatório da UHE Irapé, correspondendo ao trecho com maior deficiência hídrica. De acordo com Moreira Filho (1999), esta condição de baixa pluviosidade é favorável para o acúmulo temporário de sais de sulfato disseminado praticamente em todo o sítio da barragem.

As temperaturas máximas e mínimas no período analisado apresentaram médias anuais de 31,1 ºC e 19,3 ºC, respectivamente, conforme a tabela 3.4:

Tabela 3.4 – Temperaturas médias e umidade relativa do ar (1970/1990)

Meses Temperatura média

compensada (ºC) Temperatura média máxima (ºC) Temperatura média mínima (ºC) Umidade relativa do ar (%) janeiro 25,7 32,2 20,8 76,1 fevereiro 26,5 33,4 21,3 72,7 março 26,1 33,0 21,0 72,4 abril 25,0 31,5 20,0 69,4 maio 23,4 30,4 18,0 72,3 junho 22,0 29,2 16,0 71,7 julho 21,2 28,7 15,3 70,0 agosto 23,1 30,2 16,6 66,2 setembro 24,7 31,2 19,3 62,3 outubro 25,4 31,2 20,9 71,6 novembro 25,1 30,6 21,1 75,9 dezembro 25,1 31,0 21,0 77,5 Valor Anual 24,4 31,1 19,3 71,5

Figura 3.15 – Temperaturas médias e umidade relativa do ar (1970/1990)

3.4.2 Hidrografia

O rio Jequitinhonha nasce na Serra do Espinhaço, no município de Serro/MG, a uma altitude aproximada de 1.300 metros e deságua no Oceano Atlântico, no município de Belmonte/BA. A área total da bacia é de 70.315 km2, dos quais 65.660 km2 (93,38%) correspondem à porção mineira e 4.655 km2 (6,62%) estão no território baiano. A porção mineira da bacia está compreendida entre os paralelos 15º39’ e 18º36’S e os meridianos 39º50’ e 43º48’W, com orientação dominante SW-NE.

3.4.3 Geologia regional

No seu percurso de 920 km, sendo 760 km em Minas Gerais e 160 km na Bahia, o rio Jequitinhonha atravessa litologias do Supergrupo Espinhaço, Grupo Macaúbas, substrato cristalino e Formação Barreiras, esta última presente apenas no estado da Bahia.

Segundo Ferreira (2009), o substrato geológico da bacia do rio Jequitinhonha pode ser agrupado em seis conjuntos litológicos (figura 3.16), definidos de acordo com suas

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Temperatura média compensada (ºC) Temperatura média máxima (ºC) Temperatura média mínima (ºC) Umidade relativa do ar (%)

características predominantes, principalmente aquelas relativas às propriedades hidrológicas, a saber:

• domínio dos complexos gnáissicos e rochas graníticas;

• domínio das coberturas detríticas

• domínio das rochas xistosas;

• domínio das rochas quartzíticas

• domínio dos depósitos aluviais.

Figura 3.16 – Conjuntos litoestruturais da porção mineira da bacia do rio Jequitinhonha (Ferreira, 2006).

Outras pequenas exposições de diversas litologias foram agrupadas em um sexto conjunto, caracterizados, por exemplo, por pequenas ocorrências de rochas pelíticas proterozóicas, que ocorrem em uma área restrita na extremidade ocidental da bacia.

O Grupo Macaúbas, de acordo com Pedrosa Soares (1996) é constituído, da base para o topo, por três formações: Formação Salinas, composta por um pacote de quartzomica e xistos bandados, Formação Chapada Acauã, constituída por quartzitos e metadiamictitos e Formação Nova Aurora, composta de metadiamictitos com intercalações de quartzitos.

O Supergrupo Espinhaço é caracterizado basicamente por rochas quartzíticas, cujas exposições ocorrem no setor ocidental da bacia, ocupando áreas significativas do conjunto morfológico da Serra do Espinhaço. Ao sul da depressão de Couto Magalhães, evidencia-se um amplo predomínio de quartzitos, verificando-se ainda, de forma secundária, rochas conglomeráticas, filíticas e vulcânicas de caráter ácido e básico (Ferreira, 2009).

Em relação às coberturas cenozóicas, verifica-se sua ocorrência em quase toda porção mineira da bacia do rio Jequitinhonha, principalmente à montante da confluência com o rio Araçuaí. As coberturas são verificadas capeando as rochas predominantemente xistosas do Grupo Macaúbas, sendo caracterizadas por superfícies planas ou levemente onduladas, funcionando como divisores de água entre várias sub-bacias, com destaque para as amplas superfícies que dividem as bacias do rio Araçuaí e Jequitinhonha (Chapada de Acauã) e bacias do rio Itacambiruçu e Vacaria (Chapada da Bocaina).

Conforme citado por Ferreira (2009) em seu trabalho, os depósitos detríticos quaternários aparecem generalizadamente junto à rede de drenagem, ao longo dos canais fluviais e planícies de inundação, ocupando áreas restritas, uma vez que na parte mineira da bacia do rio Jequitinhonha predominam vales relativamente estreitos. Nas bases destes depósitos verificam-se areias e cascalhos e nas seções superiores concentram-se areias finas, siltes e argilas.

A figuras 3.17 e 3.18 apresentam o perfil longitudinal de ambas as margens do rio Jequitinhonha destacando as formações geológicas predominantes desde a sua nascente até a foz no oceano Atlântico:

Figura 3.17 – Perfis longitudinais da margem direita do rio Jequitinhonha (Ferreira, 2006)

Figura 3.18 – Perfis longitudinais da margem esquerda do rio Jequitinhonha (Ferreira, 2006)

3.4.4 Geologia local

A área da usina situa-se no domínio da faixa de dobramentos precambrianos Araçuaí (Almeida, 1985) e a geologia local é definida por juntas de alívio abertas e alteradas próximas à região do canyon do rio e pela presença de quartzo-mica xisto grafitoso, com granulação variável de fina a grosseira, composto dos seguintes minerais, em ordem decrescente de freqüência (Furnas, 2000): pirrotita (Fe1-xS), pirita (FeS2), óxidos

de ferro (hematita e ilmenita), calcopirita (CuFeS2) e alguma grafita.

Segundo Sadowski, 2002, duas formações geológicas são dominantes no sítio da UHE Irapé e imediações. São representadas pelos grafita biotita quartzo xistos precambrianos da formação Chapada Acauã ou Salinas e coberturas sedimentares do Terciário- Quaternário da Formação São Domingos, nos chapadões acima da cota 600 m. Aluviões quaternárias, coberturas de solos residuais e de saprolitos são as ocorrências mais superficiais.

A presença de minerais sulfetados dispersos na matriz rochosa foi a principal condicionante geológica do projeto, afetando a produção de agregados para o concreto e de materiais de transição, resultando ainda na necessidade de proteção da interface concreto/rocha através da utilização de uma resina de base epóxi, o Fospox SF P235, e de um revestimento elastomérico à base de poliuretano, o Nitoproof 250. Esses dois produtos, associados a argamassas especiais, foram utilizados em diferentes estruturas da usina, de acordo com suas características de resistência mecânica, deformabilidade e estanqueidade, conforme descrito no trabalho de Pereira, 2008.

Os sulfetos estão distribuídos tanto disseminados ou em bandas de espessura mili a centimétrica geralmente subparalelas ao bandamento composicional. Estes sulfetos, quando expostos à água e oxigênio, tendem a se oxidar gerando sulfatos, tornando a matriz rochosa mais porosa e susceptível à decomposição.

Embora o entendimento do modelo geoestrutural e geomecânico tenha sido fundamental para o definição das soluções de projeto, não é pretensão desta dissertação aprofundar

este tema. Para isso, recomenda-se a leitura do trabalho de Lima (2009), que descreve de forma exaustiva o contexto geológico regional, através da caracterização das unidades litoestatigráficas, geologia estrutural e metamorfismo, ocorrências minerais e domínios hidrogeológicos, bem como as questões geológicas locais, tais como a litoestratigrafia, geologia estrutural, os aspectos hidrogeotécnicos e o modelo de lixiviação dos sulfetos.

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