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Aspectos formais

No documento douglimarmeirelesdeoliveira (páginas 116-120)

3.5 Características de análise

3.5.4 Aspectos formais

Para viabilização de seus projetos, Gehry recorre a programas modeladores como o Catia, que originalmente foi aplicado no design de aeronaves. O uso deste programa permitiu o mapeamento de todas as superfícies curvas de seus modelos (também aplicados no desenvolvimento do projeto para Marqués de Riscal), possibilitando uma exploração de soluções esculturais, e viabilização da construção de formas complexas (HITNER, 2005).

De acordo com Moura (2009), na Marqués de Riscal, Gehry mantém sua fidelidade quanto ao seu discurso de romper com as formas, mas mantendo as características e peculiaridades que definem suas obras assim como elementos de funcionalidade, implantação, luz e experimentação de materiais. A arquitetura do “caos” se manifesta tanto no interior quanto no seu exterior que passa a exibir toda a estrutura que até então não era comum em seus projetos (MOURA, 2009).

Este projeto explora diferentes características formais comuns de Gehry, podendo ser percebido em duas características mais marcantes. A primeira, com aspectos menos desconstruídos e liquefeitos, representa a estrutura base do projeto, marcada por formas retangulares sobrepostas de maneira a parecer aleatória, revestidas de um arenito que faz referência ao material e cor predominante na cidade medieval de Elciego. Esta característica formal, predomina em muitos dos projetos de Gehry, como, por exemplo, o centro Stata projetado para o MIT (Massachusetts

A segunda característica é representada pela sinuosa cobertura que paira sobre tal volume anteriormente mencionado. Essa cobertura reflete um gesto aleatório e expressa a ausência de formas modulares, o que Arantes (2008) descreve como uma “instabilidade semiótica” proposital, uma composição menos compreensível que destoa de matrizes visuais comuns. Essa característica formal é a mais comum de suas obras, como adotada no Museu Guggenheim de Bilbao.

Figura 23 – Aspectos formais Marqués de Riscal.

Fonte: do autor, 2019.

Na adega Ysios, Calatrava buscou um tratamento volumétrico que pudesse dar movimento ao seu edifício. A movimentação foi trabalhada tanto nas paredes externas da adega quanto na sua cobertura, que é o elemento formal que mais se destaca. Desta maneira, duas paredes de concreto de 196 metros de comprimento, colocadas a 26 metros de distância, traçam uma forma sinusoidal tanto no plano quanto na elevação (CALATRAVA, 2018).

A luz solar acentua o volume do telhado, criando um efeito cinético em contraste com o fundo calmo da vinha. O resultado é uma onda de superfície regrada, que combina superfícies côncavas e convexas à medida que evolui ao longo do eixo longitudinal. O edifício é delineado como um simples plano retangular, ao longo de um eixo leste-oeste para acomodar o programa linear para o processo de vinificação. Duas entradas nas fachadas laterais enfatizam essa linearidade (CALATRAVA, 2018). No centro do edifício, o telhado se projeta em um volume contínuo sobre o Centro de

Visitantes, que é concebido como uma varanda com vista para a cidade medieval de La Guardia e os vinhedos da propriedade.

Figura 24 – Aspectos Formais Ysios.

Fonte: do autor, 2019.

Este projeto de Calatrava revela uma de suas grandes habilidades em conferir um teor “escultórico” a suas obras, o que, de acordo com Figueiredo (2010), é consequência de uma tríade na sua formação como arquiteto, escultor e engenheiro. Esta habilidade em mimetizar formas da natureza criando edifícios com leveza, movimento, sensualidade contribuem para seu sucesso e espetacularização, que, segundo Almeida (2012), compõem um dos requisitos para a formação de ícones arquitetônicos.

Com relação aos aspectos formais na adega Portia, Foster buscou através de uma forma simétrica e geométrica, responder às exigências da silhueta espacial do contexto local. A composição pode ser percebida como aditiva, ao considerar um núcleo triangular completado por três retângulos e que, de acordo com Foster (2018), foi consequência de decisões técnicas e funcionais. Dentre os conceitos, é importante destacar também, no que tange à dimensão funcional, a preocupação com a visualização dos vinhedos ao redor da adega.

A forma de uma estrela de três pontas, marcada por suaves linhas retas, traduz a organização interna e funcional da adega. Cada ponta da “estrela” corresponde a uma

das fases de elaboração do vinho: fermentação, maturação em garrafas e maturação em barricas de carvalho. O triângulo central, correspondente ao núcleo, concentra o centro de visitantes com ambientes para visualização de tais etapas de produção.

Como uma decisão projetual relacionada a uma demanda energética, Foster, opta por “afundar” parte da volumetria na pendente natural do terreno, o que gera no seu exterior uma forma que parece “brotar da terra”, marcada por ângulos agudos que delineiam sua coberturaque é parte plana e parte inclinada (FOSTER, 2018).

Figura 25 – Aspectos formais Portia.

Fonte: do autor, 2019.

De acordo com Almeida (2012), o caráter sintético e sensual que os arquitetos adotam em seus projetos, é um fator que contribui muito para seu sucesso midiático e fácil reconhecimento. A propriedade de uma forma (edifícios) de ser reduzido a um ícone gráfico ou um selo, possibilita que a própria representação do edifício atue como uma marca de si próprio e da instituição que o abriga, não dependendo da criação de outro símbolo qualquer.

Esta característica é possível ser observada nos três projetos que aqui são exemplificados. As formas adotadas pelos arquitetos conseguiram ser suficientemente sintéticas a ponto de se converteram na logomarca destas adegas. Esse vínculo direto da associação da arquitetura como identificação da marca é amplamente utilizado nos três casos, sendo que tais aspectos formais contribuíram para sintetização em um

ícone fácil e reconhecível para a logo de tais marcas.

Figura 26 – Logomarca das adegas Poria, Ysios e Marqués de Riscal, que se caracterizam por uma sintetização formal de suas arquiteturas.

Fonte: do autor, 2018.

Montaner (2001) aponta que o uso de formas globais de caráter escultórico representa um marco no processo de modificação do tratamento da forma nas edificações contemporâneas. De acordo com o autor, foi no tratamento livre da cobertura que as revisões formais mais se expressaram, evidenciando a superação da discussão das coberturas planas e a ascensão das formas orgânicas.

Ao se tratar do contexto da enoarquitetura, é possível identificar claramente o que Montaner (2001) aponta, exceto pela adega Portia que faz uso de uma cobertura plana (devido a fatores funcionais da utilização de sua cobertura), as adegas Marqués de Riscal e Ysios sustentam coberturas com formas orgânicas que contrasta com caráter de uma enoarquitetura industrial. Este aspecto, de acordo com Almeida (2008), trata-se de um retorno na ênfase do valor escultórico das formas arquitetônicas, que neste caso são típicas das obras dos arquitetos que projetaram tais adegas exemplificadas.

No documento douglimarmeirelesdeoliveira (páginas 116-120)