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CAPÍTULO 2 OS ELEMENTOS MEDIADORES NA

2.1 ASPECTOS GERAIS DAS RELAÇÕES ENTRE OS

Desde o surgimento do homem, a relação deste com o contexto social em que vive, é mediada por diferentes elementos que contribuíram e continuam a contribuir para sua formação como ser humano. Marx e Engels (1845-1846/2013, p.87), destacam a importância de compreender o processo de modificação do Homem na sua relação com a Natureza. Segundo eles,

o primeiro pressuposto de toda a história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar é, pois a organização corporal desses indivíduos e, por meio dela, sua relação dada com o restante da natureza. […] Toda historiografia deve partir desses fundamentos naturais e de sua modificação pela ação dos homens no decorrer da história. [grifos nossos]

Vygotsky e Luria (1929-1930/1996), ao realizar o estudo do comportamento humano, afirmam que na sua evolução podemos

identificar três estágios: o primeiro tem como característica principal os “modos inatos do comportamento”, chamados de instinto. As reações instintivas, “atuam sem terem sido aprendidas e são estruturalmente inerentes ao organismo”, como o movimento inconsciente de mãos e pés, logo após o nascimento, suas necessidades fisiológicas que orientam sua relação com a natureza, incluindo suas relações com outros indivíduos da mesma espécie. As ações realizadas de forma direta, imediata, não têm outro fim, senão, satisfazer às necessidades para sua sobrevivência, como por exemplo, a alimentação e proteger-se do frio.

Por apresentar uma estrutura física diferente de outros animais, auxiliada por sua condição biológica, seu desenvolvimento se estrutura a partir de níveis mais complexos de comportamento. Surge, então o segundo estágio, que aparece sobre o primeiro, tem origem nas experiências individuais, na relação com o contexto e pode ser caracterizado como os reflexos condicionados. Esse estágio possui duas características, a primeira é que os reflexos condicionados surgem a partir dos reflexos incondicionados. Não produz uma nova reação, mas “novas conexões entre os condicionamentos inatos e estímulos ambientais” (VYGOTSKY, LURIA, (1929-1930/1996, p. 56). A segunda característica, forma uma nova “função biológica”, provocando modificações nos instintos, ou seja, “uma nova orientação tomada por uma reação intata devido às condições em que apareceu” (ibidem, p.57)

Segundo Marx e Engels (1845-1846/2013, p.93), nesse momento do desenvolvimento do comportamento humano, suas ações estão condicionadas pela vida material. Para eles,

a produção de ideias, de representações, da consciência, está, em princípio, imediatamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material dos homens, com a linguagem da vida real. O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens ainda aparecem, aqui, como emanação direta de seu comportamento material. O mesmo vale para a produção espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um povo. Os homens são os produtores de suas representações, de suas ideias e assim por diante, mas os homens reais, ativos, tal como são condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo

intercâmbio que a ele corresponde, até chegar às suas formações mais desenvolvidas.

Vigotski e Luria apresentam um terceiro estágio, que se manifesta pelo uso de instrumentos. Esse estágio se caracteriza como o “fim da etapa orgânica de desenvolvimento comportamental na sequência evolutiva” (VYGOTSKY e LURIA, 1930/1996, p. 52), e proporciona uma nova etapa em sua evolução. A partir do momento que o homem, no contexto das relações sociais que produz ao longo do seu desenvolvimento histórico, consegue adotar a postura ereta, libera as mãos para outras atividades, dá um passo decisivo em direção ao seu desenvolvimento como ser humano. O homem, por pertencer a uma espécie que possui as condições biológicas54 que permitem sua evolução, ao ter suas mãos livres, cria a possibilidade de realizar movimentos que vão, ao longo do tempo, se tornando mais complexos, e adquirem destreza que é passada de geração a geração.

A construção e o uso dos instrumentos transformam as relações entre o homem e a natureza, e dos homens entre si. Elas deixam de ser imediatas, passando a ser mediadas por objetos e pelo “outro”. Essa nova forma de agir, permite ao homem primitivo realizar atividades, de forma planejada, ampliar a força de suas mãos e braços, assim como, imprimir em sua memória indícios, imagens das ações já realizadas, produzir novas relações sociais, levando à criação da atividade do trabalho, afastando-o, cada vez mais, das características “primitivas” próprias de outros animais.

No entanto, não podemos compreender esse processo do desenvolvimento do Homem, como um processo linear, mas como produzido à medida que eram produzidas as condições materiais de sua vida. Marx e Engels (1845-1846/2013, p.87), demonstram a complexidade da produção da vida humana, quando afirmam que

pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou pelo que se queira. Mas eles mesmos começam a se distinguir dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, passo que é condicionado por sua organização corporal. Ao produzir seus

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Vygotsky e Luria (1930/1996) e Leontiev (1959/2004) apresentam estudos realizados com macacos antropoides, comparando-os com o desenvolvimento do homem primitivo até o homem contemporâneo.

meios de vida, os homens produzem indiretamente, sua vida material. [...]

O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da própria constituição dos meios de vida já encontrados que eles têm de reproduzir. Esse modo de produção não deve ser considerado meramente sob o aspecto de ser a reprodução da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de sua atividade, uma forma determinada de exteriorizar sua vida, um determinado modo de vida desses indivíduos. Tal como os indivíduos exteriorizam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, pois, com sua produção, tanto com o que produzem como também com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção. (MARX e ENGELS, 1845-1846/2013, p.87) [grifos nossos] Assim, diferentemente dos animais, os homens necessitam produzir seus próprios meios de vida, no entanto, o produzem sob determinadas condições, criadas mediante relações sociais com outros homens. Nesse sentido, os indivíduos, em determinadas relações de produção, “que são ativos na produção de determinada maneira, contraem, entre si, estas relações sociais e políticas determinadas” (ibidem, p. 93), essas relações produzem e são produzidas na atividade do trabalho.

Engels (1876/2004, p. 18), ao apresentar o trabalho como o principal elemento para a evolução do homem, descreve a relação entre o surgimento do trabalho e os instrumentos, afirmando que “o trabalho começa com a elaboração de instrumentos”, Com os avanços alcançados pela humanidade, podemos dizer que os instrumentos, meios e produtos do trabalho, são elementos mediadores dessa atividade fundamental. Sua produção responde a fins pré-determinados. Na criação e utilização dos instrumentos, a consciência permite o planejamento que antecede as ações para sua elaboração, de acordo com as necessidades desencadeadoras do trabalho.

O instrumento traz fixado, em sua forma, as habilidades necessárias para seu uso. Não é apenas produto do desenvolvimento do homem, mas acaba exigindo o desenvolvimento de novas habilidades para que possa ser usado e se constitua como um elemento cultural e

mediador do trabalho. A mão do homem “está incluída num sistema de operações elaborado socialmente e fixado no próprio instrumento e está submetida a ele” (LEONTIEV, 1959/2004, p.89).

Foi, por meio do trabalho, que o homem transmitiu para as gerações seguintes o material cultural existente até hoje, provocando nas espécies mais “primitivas”, alterações biológicas significativas, que favoreceram o surgimento do homem com as características atuais. Esse é o homem cultural, produto das leis sócio-históricas, ou seja, produtor e produto da cultura. Segundo Engels (1876/2004, p.11), o trabalho, “é a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem”.

Com a liberação das mãos, a criação da atividade trabalho, o surgimento dos instrumentos, assim como formas “primitivas” de linguagem, dá-se o impulso para a formação física e mental do homem atual, o que provoca

o domínio sobre a natureza, que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades até então desconhecidas” (Engels, 1876/2004, p. 15)

O homem imprime, na natureza, características de sua evolução e produz recursos necessários para sua própria existência, para a produção da sua vida material,

[...] quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua influência sobre a natureza adquire um caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. (ibidem, p.22)

Assim, o desenvolvimento do homem segue, de forma cada vez mais complexa, multifacetada e os objetivos dados às ações que realiza sobre a natureza compõem a cultura e passam a fazer parte da relação entre os homens, tendo uma importância fundamental no seu desenvolvimento como ser humano. Essas ações são compreendidas por Marx, em O Capital, como trabalho em geral. Segundo ele,

antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar- se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio. […] Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita, como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais.

Os elementos simples do processo de trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios. (MARX, 1867/1996, p. 297-298) [grifos nossos]

Ao comparar o trabalho de uma abelha ao de um arquiteto, Marx destaca as ações específicas da atividade humana, como a capacidade de planejamento e a vontade orientada a um fim, que se objetivam a partir do desenvolvimento do sistema de funções psíquicas superiores e ampliam a possibilidade de planejamento e execução de suas ações, podendo prever o que acontecerá posteriormente a cada ato realizado e, ainda, transmitir a outras gerações os resultados do seu trabalho.

Em continuidade ao pensamento de Marx, Lukács (1968, p.5) também contribui para o estudo da importância da categoria trabalho na formação humana. Segundo suas próprias palavras,

a essência do trabalho consiste precisamente em ir além dessa fixação dos seres vivos na competição biológica com seu mundo ambiente. O momento essencialmente separatório é constituído não pela fabricação de produtos, mas pelo papel da consciência, a qual, precisamente aqui, deixa de ser mero epifenômeno da reprodução biológica: o produto, diz Marx, é um resultado que no início do processo existia "já na representação do trabalhador", isto é, de modo ideal. [grifos nossos]

Mediante relações sociais, diferentes elementos culturais, produzidos pelo homem, se interconectam elevando qualitativamente o desenvolvimento humano. A atividade do trabalho, através do uso de instrumentos, decorre das condições sociais e relações humanas que requerem novas necessidades psíquicas, garantindo a formação de novas funções na psique, necessárias para a continuidade de seu uso. Segundo Marx (1847/1985, p.106)

as relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens mudam o seu modo de produção, e mudando o modo de produção, a maneira de ganhar a vida, eles mudam todas as suas relações sociais. O moinho de mão dar-vos-á a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalista industrial.

Os mesmos homens que estabelecem as relações sociais de acordo com a sua produtividade material, produzem também os

princípios, as ideias, as categorias, de acordo com suas relações sociais. [grifos nossos] Produção material e espiritual do ser humano se constitui, desse modo, por relações complexas que acompanham o homem no desenvolvimento da espécie. No decorrer desse longo processo de desenvolvimento humano, Vygotski (1931/1995), explica que alguns órgãos e funções psíquicas tornam-se inativos, a partir das novas forças produtivas. Ele afirma que os estudos da biologia demonstram a existência de órgãos rudimentares, que não exercem função no homem atual, mas contribuem para compreensão da linha histórica do desenvolvimento. O mesmo acontece com algumas funções psicológicas, chamada por ele de “funções rudimentares”55

, que são provas da evolução do homem, “[…] são resíduos vivos do desenvolvimento histórico da conduta e não da evolução biológica”56 (VYGOTSKI, 1931/1995, p. 65) e foram úteis para nossos antepassados, mas ao longo do desenvolvimento da vida humana, em particular das forças produtivas, perderam sua função. Para ele, algumas funções da estrutura psicológica desaparecem por não serem necessárias em outra etapa mais complexa dos meios de produção de vida. Outras surgem em função dos objetos e instrumentos, que são criados pelo homem, e necessitam de novas habilidades psíquicas para sua utilização. Podemos constatar, que determinadas tradições, rituais, formas de convivência, forças produtivas, enfim modos de produção da existência humana são produzidos e alterados no decorrer da história.

É por meio da criação e transformações históricas dos meios e dos modos de produção da atividade humana que a consciência se forma e se torna mais complexa. No homem “primitivo”, a sua relação com o grupo está ligada ao contexto social. A significação, a consciência social, e o sentido pessoal coincidem entre si, pois as suas relações dependem diretamente das condições para o seu desenvolvimento que, nesse período, tem como base uma relação biológica, satisfação de suas necessidades vitais. A coincidência, entre os sentidos e as significações, depende das características dos meios e modos de produção. No seu início, o homem vive para as comunidades, não consegue desligar-se do

55

No texto em espanhol, traduzido do russo, lê-se: “funciones rudimentarias” (Vygotski, 1931/1995c, p. 65)

56

No texto em espanhol, traduzido do russo, lê-se: “[…] funciones inactivas a que nos referimos son residuos vivos del desarrollo histórico de la conducta y no de la evolución biológica.” (Vygotski, 1931/1995c, p. 65)

seu modo de fazer e viver, determinados, como já afirmamos, pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas e pelas relações que os homens estabelecem entre si, ou seja, “a consciência [Bewusstsein], e o ser dos homens é o seu processo de vida real” (MARX e ENGELS, 1845-1846/2013, p.94).

Com o uso de instrumentos, o homem inicia uma nova etapa no seu desenvolvimento, principalmente porque eles modificam a forma de sua ação sobre a natureza, e produzem novas relações entre si.

Quando a atividade de trabalho se amplia, gerando sua divisão social, novas formas de compreender a realidade e se relacionar surgem e promovem uma estrutura mais complexa da consciência. A qualidade, dessa nova estrutura, pode ser mais ampla ou restrita, dependendo das condições sócio-históricas da atividade humana. Ao fazer referência a esse movimento humano, Leontiev (1959/2004, p. 148) afirma que

psicologicamente a consciência humana desenvolve-se, portanto, nas suas mudanças qualitativas por definhamento das suas particularidades anteriores que cedem lugares a outras. Na aurora da sociedade humana a consciência passa pelas diferentes etapas da sua formação inicial; só o desenvolvimento ulterior da divisão social do trabalho, da troca e das formas de propriedade acarreta um desenvolvimento da sua estrutura interna, tornando-a, porém, limitada e contraditória; depois, chega um tempo novo, o tempo das novas relações, que cria uma nova consciência do homem. [grifos nossos]

Assim, o homem, durante o seu desenvolvimento, por sua incompletude e impossibilidade de produzir, sozinho, sua existência, estabelece, para além da natureza, relações com outros indivíduos da mesma espécie. Para a satisfação de suas necessidades, através das relações sociais que medeiam as atividades entre o sujeito e objeto, o ser humano cria e se apropria do uso dos instrumentos. Dá a eles um sentido e significado social, que devem ser, também, apropriados pelas gerações posteriores, através da atividade pedagógica. Esse processo de formação e apropriação de sentido e significado social, de toda a criação humana, exige formas de relações sociais produzidas pelos próprios homens. No momento da criação dos instrumentos, o homem inicialmente faz uma descoberta, que fica registrada em sua memória, mesmo que rudimentar. Na continuidade das relações sociais de produção da sua existência, o

homem consegue transmitir a outros o uso de instrumento, permitindo ampliar seu uso e o espectro da criação humana.

Quando as bases para o desenvolvimento ilimitado do homem atingem esse elevado nível, que passa a ser regido por leis históricas, há a necessidade de que as novas gerações se apropriem do que foi produzido. Esse processo de apropriação tem uma característica específica, e se apresenta, externo ao indivíduo, fazendo com que sua filogênese adquira novas características, assim como o surgimento de novas formações psicológicas. Isso significa que para a apropriação, pela criança, do legado cultural produzido pelas gerações anteriores, é necessário que ela entre em contato com os objetos e, com eles, realize uma atividade prática, ou seja, entre em contato, pela sua percepção sensório motora, passe a manipulá-lo, faça uso e se aproprie das “aptidões humanas” presentes nele. Segundo Leontiev (1959/2004, p. 178)

mesmo os instrumentos ou utensílios da vida cotidiana, mais elementares, têm de ser descobertos ativamente na sua qualidade específica pela criança quando esta os encontra pela primeira vez. Por outras palavras, a criança tem de efetuar a seu respeito uma atividade prática ou cognitiva que responda de maneira adequada (o que não quer dizer de maneira forçosamente idêntica) à atividade humana que eles encarnam. Em que medida a atividade da criança será adequada e, por consequência, em que grau a significação de um objeto ou de um fenômeno lhe aparecerá, isto é outro problema, mas esta atividade deve sempre produzir-se.

Essa relação mediada, de forma interpessoal, entre sujeitos, entre sujeitos e objeto, sujeitos presentes e passados, é o que promove a aquisição das características humanas pelo homem. É através dela que ocorre o processo de humanização, e o “indivíduo fica apto para exprimir em si a verdadeira natureza humana, estas propriedades e aptidões que constituem o produto do desenvolvimento sócio-histórico do homem.” (ibidem, p. 179)

Em seu estudo sobre Desenvolvimento do Psiquismo, Leontiev (1959/2004) afirma que a fixação da produção humana pelas outras gerações, ou seja, a apropriação do que foi criado pelo homem, através de sua interação com a natureza, se dá por causa de uma “atividade

fundamental: o trabalho” (ibidem, p.283). Essa atividade continua a influenciar o desenvolvimento humano produzindo novas habilidades, à medida que os objetos criados se tornam mais complexos, e exigem novas formas de serem usados pelo homem. Desse modo, que

pela sua atividade, os homens não fazem senão adaptar-se à natureza. Eles modificam-na na função do desenvolvimento de suas necessidades. Criam os objetos que devem satisfazer às suas necessidades igualmente os meios de produção desses objetos, dos instrumentos às máquinas mais complexas. Constroem habitações, produzem as suas roupas e os bens materiais. Os progressos realizados na produção de bens materiais são acompanhados pelo desenvolvimento da cultura dos homens; o

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