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Dentro do contexto da investigação de acidentes, eventos adversos e segurança de equipamentos, é importante resgatar conceitos relacionados à perícia e à engenharia de segurança.

Ampliando o conceito, pode-se definir perícia como o exame realizado por profissional especialista, legalmente habilitado, visando verificar ou esclarecer determinado fato, apurar as causas motivadoras do mesmo, ou o estado, alegação de direitos ou a estimação da coisa que é objeto de litígio ou processo (MEDEIROS JÚNIOR, 1996). Nesse contexto, a perícia tem como objetivo elucidar determinados aspectos técnicos de situações ou fatos (ocorrências), envolvendo coisas e/ou pessoas, os quais são geralmente especificados através de quesitos.

A perícia é realizada por requisição formal de instituição, pública ou privada, ou de pessoa jurídica, buscando comprovar a verdade, como, por exemplo, uma determinada situação de trabalho e seus riscos à saúde, ou quando da ocorrência de acidentes (PEREIRA E KAISER, 2002).

O Vocabulário de metrologia legal (VML) define a perícia metrológica como:

Conjunto de operações que tem por fim examinar e certificar as condições em que se encontra um instrumento de medir ou medida materializada e determinar suas qualidades metrológicas de acordo com as exigências regulamentares específicas.

Os resultados da perícia são apresentados através de laudo pericial técnico com parecer sucinto ou simplificado, apenas com respostas aos quesitos formulados, ou através de parecer com nível rigoroso de detalhamento dos elementos investigados, sua análise e fundamentação das conclusões, além da resposta aos quesitos formulados (PEREIRA e

KAISER, 2002).

O laudo pericial torna-se, então, um relato dos resultados de exames e vistorias, assim como eventuais avaliações com ele relacionado. Logo, o procedimento do perito nessa atividade está ligado não apenas à coleta ou verificação dos fatos (peritus percipiente), mas também à apreciação ou interpretação dos mesmos (peritus deducendi).

O VML define o Certificado (laudo) de Perícia Metrológica como “documento que indica as condições em que foi executada a perícia metrológica, as investigações realizadas e os resultados obtidos” (INMETRO, 2000c).

Com base no laudo pericial, o requisitante apreciará os fatos para formar seu convencimento. Desse modo, verifica-se que a perícia não é prova, mas sim um meio probante (TEIXEIRA FILHO, 1997). Já, com relação ao perito, o Código de Processo Civil prevê: “Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421”.

Nesse contexto, o perito torna-se um auxiliar do Juízo, contribuindo, mediante compromisso, com a sua cognição técnica para o descobrimento da verdade dos fatos, pois a finalidade do laudo é de aproximar o juiz dos conhecimentos verdadeiros

3.4.1 A Prova Pericial

A perícia é considerada um dos meios de prova, que é o meio processual para se buscar a verdade formal sobre os fatos controvertidos, relevantes para a solução de um litígio. As provas tornam-se, então, os meios que possibilitam ao requisitante formar sua convicção sobre os fatos discrepantes alegados pelas partes, para poder julgar a ação (PEREIRA e KAISER, 2002).

O campo de atuação do perito é pertinente aos meios de prova definidos na prova pericial e inspeção judicial. Haverá a prova pericial quando o requisitante necessitar de suprimento de fatos técnicos que fogem ao seu conhecimento.

No exame, a atividade do perito consiste em inspecionar pessoas, coisas móveis ou semoventes, para a verificação de fatos e circunstâncias relevantes à demanda. Já, na vistoria, o perito inspeciona imóveis e, na avaliação, por sua vez, implica atribuir-se um valor monetário às coisas ou obrigações.

O VML define o exame metrológico como “conjunto de operações efetuadas para constatar se um instrumento de medir ou medida materializada satisfaz às exigências regulamentares” (INMETRO, 2000c).

3.4.2 Classificação das Perícias

Quanto à classificação das perícias, tendo como ponto de referência a existência ou não de ação em curso, pode-se classificar a perícia quanto à natureza do objeto da perícia, quanto às espécies de perícias e quanto aos tipos de ocorrências que podem envolver as perícias.

Quanto à natureza do objeto, as perícias podem contemplar: imóveis, máquinas, equipamentos e veículos, instalações, frutos, direitos e responsabilidades.

Quanto às espécies de perícias, elas podem ser: arbitramentos, avaliações, exames, vistorias e outras.

Quanto aos tipos de ocorrências, as perícias podem envolver ações judiciais, ações administrativas e extrajudiciais.

A perícia judicial decorre de um processo judicial, sendo o meio pelo qual a Justiça se informa, analisa e decide um conflito de interesses em que a pretensão de uma parte é resistida pela outra. A demanda ocorre por iniciativa de uma das partes interessadas na busca de novas provas de atos e fatos para fundamentar um direito pleiteado; pode decorrer por iniciativa do juiz para conhecimento e esclarecimento dos mesmos atos e fatos. Nos mesmos moldes, a perícia administrativa decorre de um processo administrativo, envolvendo os mesmos trâmites da perícia judicial.

A perícia extrajudicial tem o objetivo de caracterizar, classificar ou delimitar as atividades insalubres ou perigosas, ou quando empresas, instituições ou sindicatos representativos requererem perícia técnica na esfera institucional/administrativa (VIEIRA e JÚNIOR, 1997).

A perícia extrajudicial é realizada além das barras dos tribunais e, a princípio, não é perícia oficial destinada a instruir feitos sub judice, mas trabalho pericial oficial, governamental ou institucional. Entretanto, podem existir perícias extrajudiciais que, de uma forma ou de outra, podem chegar aos tribunais e, então, serem tomadas como meios de provas. Em muitos casos, as perícias extrajudiciais são denominadas de “pareceres técnicos”, sendo pertinentes ao objet o peritado visando reforçar um laudo pericial.

Independentemente de a perícia decorrer de ação judicial ou não, este tipo de atividade está sujeita a normas, regras e formalidades legais que disciplinam os atos nos diferentes processos. Essas regras podem apresentar-se com várias formas (fontes formais): leis (principal fonte), decretos (regras de comportamento), portarias/regulamentos/ordens de serviço/regimentos internos (regras jurídicas de comportamento), costumes,

convenções/acordos coletivos (convênios celebrados), etc. Para tanto, o profissional nomeado perito, ou indicado assistente técnico de uma das partes, deverá ter o conhecimento das características peculiares da perícia e dos diferentes dispositivos e princípios legais que a regem.

3.4.3 Perícia de Engenharia de Segurança e a Engenharia Clínica

Os requisitos exigidos em uma perícia estão, em geral, diretamente relacionados com as informações e objetivos que se pretenda atingir e indicam seu nível de rigor no detalhamento e profundidade de análise. Assim, esses requisitos variam de acordo com a abrangência das investigações, a confiabilidade e adequação das informações obtidas, a qualidade das análises técnicas efetuadas e o grau de subjetividade empregado pelo perito, e aspectos definidos pelos seguintes pontos:

a) quanto à metodologia empregada;

b) quanto aos dados, informações e documentos levantados ou constatados; c) quanto ao tratamento dos elementos coletados e trazidos ao laudo ou parecer. O engenheiro clínico pode atuar como perito de segurança em equipamentos médicos, pois é o profissional que tem capacidade de investigar, documentar, relatar e tratar acidentes e eventos adversos envolvendo equipamentos médicos (DYRO, 1998).

Conforme Bruley (1994) e Dyro (1998), o engenheiro clínico tem papel único e sem igual na garantia de segurança do paciente e nos esforços para melhorar a segurança do paciente, atuando na investigação de acidentes envolvendo EMH como perito de engenharia de segurança de EMH.

Para aumentar a segurança do paciente, segundo ACCE (2001), o engenheiro clínico pode em primeiro lugar, melhorar a habilidade de aprender com os erros; deve realizar uma investigação com perícia dos acidentes, compartilhando dados e responsabilidades na busca da causa-raiz do erro. Em segundo lugar, o engenheiro clínico pode melhorar sua habilidade para antecipar possíveis problemas, uma vez que está inserido no sistema de assistência à saúde. A cooperação entre os profissionais de todas as áreas que atuam nos EAS é que vai aumentar a capacidade de sondar as fraquezas do sistema de assistência à saúde.

4 CREDENCIAMENTO E HABILITAÇÃO DE LABORATÓRIO

O credenciamento de laboratórios é de natureza voluntária e aberto a qualquer laboratório que realize serviços de calibração e/ou de ensaios, em atendimento à própria demanda interna ou de terceiros, independente ou vinculado a outra organização, público ou privado, nacional ou estrangeiro, independentemente do seu porte ou área de atuação (INMETRO, 2001a).

A concessão de credenciamento é baseada na NBR ISO/IEC 17025, em requisitos estabelecidos pelo Inmetro, nas diretrizes da ILAC e nos princípios de Boas Práticas de Laboratório (BPL) da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD). O credenciamento pelo Inmetro pode ser concedido a laboratórios permanentes para realizar serviços de calibração e/ou ensaios nas próprias instalações e/ou em campo (INMETRO, 2001a; ILAC, 2001). A partir deste ponto do texto, a norma NBR ISO/IEC 17025 será referida apenas como NORMA.