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Aspectos gerais

No documento PAULO EDUARDO TELLES DOS SANTOS (páginas 49-53)

2.7 Perspectivas de melhoramento genético das características intrínsecas da

2.7.1 Aspectos gerais

De acordo com Larson (1963), os padrões básicos de variação na qualidade da madeira são herdáveis, mas o ambiente modifica estes padrões básicos de várias maneiras. A quantidade e distribuição de crescimento da madeira no fuste são determinadas em grande parte pelo tamanho da copa e conformação; no curso normal de competição dentro de uma plantação florestal estes valores de copa são relativamente estáveis e lentamente modificados com o tempo. A proporção de madeira juvenil em relação à madeira adulta e a qualidade ou estrutura da madeira dentro do anel de crescimento, por outro lado, são determinadas pelas flutuações estacionais do ambiente, que influenciam o crescimento da copa e pode variar rapidamente com o tempo. Embora seja conveniente dividir arbitrariamente os efeitos de curto prazo dos de longo prazo para finalidades de estudo, deve-se ter em mente que a separação clara não ocorre na natureza. Cada flutuação ambiental diária ou estacional pode provocar uma mudança no crescimento da árvore, mas essas mudanças podem variar acentuadamente entre árvores individuais. Cada árvore responde ao ambiente que prevalece dentro dos limites de seu potencial genético e de acordo com o desenvolvimento da copa ditado pela exposição anterior ao seu ambiente de longo prazo. Isto se aplica tanto às árvores crescendo em áreas experimentais bem como em áreas comerciais. As muitas variações nas propriedades da madeira entre progênies ou procedências, por exemplo, podem ser devidas às diferenças herdáveis em desrama natural, duração da estação de crescimento ou a outros processos fisiológicos sutis associados com o crescimento da copa. Porém, estas diferenças podem também ser parcialmente devidas ao ambiente, pois árvores com diferentes potenciais genéticos trazidas de outras áreas podem responder ao ambiente local de formas bastante diferenciadas.

Hillis (1978) relata que desde 1932 na África do Sul, sementes de árvores de

E. grandis selecionadas para várias características vêm sido colhidas

sistematicamente, incluindo rachamento mínimo das toras. A descendência tem exibido maior uniformidade e menos rachaduras quando cortadas. O autor comenta

ainda que outros trabalhos consideram que as variações entre árvores são principalmente devidas a fatores genéticos. Nesse sentido, diferenças significativas nos níveis de tensão têm sido encontradas em uma série de progênies de polinização aberta de E. regnans, por exemplo.

Um estudo intensivo foi feito por Malan6 citado por Van Wyk (1980), para investigar as rachaduras em extremidades de toras em E. grandis e os fatores que influenciavam este fenômeno. Suas investigações incluíram, entre outras, a distribuição da tensão de crescimento dentro das toras; a variação nas rachaduras de extremidades de toras entre regiões, entre árvores e dentro de árvores; a relação entre rachaduras de extremidades e propriedades da madeira e entre rachaduras de extremidades e características de crescimento.

Entre os resultados interessantes obtidos nesse estudo, os mais promissores com respeito à manipulação genética foram os seguintes: a) Uma variação média significativa entre árvores quanto às rachaduras de extremidades, sugerindo que a seleção de árvores para rachaduras reduzidas traria resultados positivos; b) Nenhuma relação aparente entre rachaduras e as propriedades da madeira examinadas, especialmente densidade, significando que a seleção a favor ou contra o aumento da densidade da madeira seria feita sem qualquer receio de aumento na quantidade de rachaduras; c) Nenhuma relação forte entre rachaduras e incremento médio anual, permitindo progressos na redução de rachaduras de toras pela manutenção de uma pressão de seleção simultânea para diminuição das rachaduras e para aumento da produção volumétrica; d) Influência positiva do comprimento da copa sobre as rachaduras de extremidades, implicando que as técnicas silviculturais deveriam ser previstas de forma a permitir que as árvores desenvolvessem copas longas; uma copa maior poderia estar associada a um aumento da produção volumétrica, passível de manipulação genética.

No programa de melhoramento conduzido na África do Sul, a ênfase principal foi colocada no melhoramento para produção de madeira serrada, selecionando-se

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MALAN, F. S. Algemane studie van endspleting in blokke van Suid-Afrikaans gekweekte Eucalyptus grandis (W. Hill ex Maiden). Stellenbosch, 1979. 188p. Thesis (M.Sc.) -University of Stellenbosch.

árvores com fustes retos, alta produção volumétrica, tamanho de ramo desejável e reduzidas rachaduras de extremidades (Van Wyk, 1980).

Num artigo procurando avaliar as perspectivas de melhoramento das características intrínsecas da madeira de E. grandis, Van Wyk (1980) comenta que a aprovação das árvores selecionadas (árvores "plus") com finalidades de melhoramento era bastante lenta no começo dos programas porque as toras de cada árvore tinham de ser processadas cuidadosamente para estudar a porcentagem de recuperação de madeira serrada. Isto não era mais necessário a partir do momento que Malan (1979), citado por Van Wyk (1980), mostrou que a avaliação de campo de rachaduras de extremidades estava altamente correlacionada com a porcentagem de recuperação de madeira serrada.

De acordo com Van Wyk (1980), uma árvore selecionada deve ter um volume maior que a média das árvores circunvizinhas. O fuste da árvore deve ser reto e uma boa autodesrama também é importante. O tamanho dos ramos deve ser relativamente pequeno com relação ao diâmetro do fuste e um ângulo aberto dos ramos é desejável, especialmente na parte superior da copa onde a autodesrama não prevalece. Cada árvore selecionada deve ser derrubada e cortada em toras de 4 m de comprimento até 20 cm de diâmetro. O aumento da circunferência das toras deve ser medido em todas as extremidades das toras 72 horas após o seccionamento. Este aumento pode ser influenciado por fatores externos, por exemplo, sítio e condições climáticas. Portanto, árvores selecionadas devem ser avaliadas em grupos para áreas específicas, visando eliminar eventuais vícios de amostragem. Como regra, o aumento médio na circunferência da tora não deve ser maior que 3,5%.

O mesmo autor relata ainda que as amostras de madeira devem ser tomadas no topo da tora basal para determinação da densidade da madeira e retração. Árvores jovens (de até 10 anos de idade) normalmente não racham muito após a derrubada e seccionamento. Portanto, árvores selecionadas para o pomar de serraria devem ter idades superiores a 15 anos. Para o programa de melhoramento para rotações curtas, porém, não se avaliam rachaduras e as árvores seriam aceitas principalmente considerando a produção volumétrica. Isto permite incluir antecipadamente estas árvores em testes de progênies do que no caso das seleções efetuadas em idades mais avançadas.

As árvores mais velhas, avaliadas para rachaduras de extremidades de tora, geralmente são propagadas para compor um pomar de sementes clonal. Árvores selecionadas de plantios jovens são testadas em experimentos que podem ser convertidos em pomares de sementes por mudas. Quando estas árvores parentais atingem a maturidade, as rachaduras devem ser avaliadas e tais árvores são então incorporadas em um teste de progênies criterioso, concebido para que elas passem no "teste de rachaduras". Assim, seus descendentes teriam um desempenho melhor que a média obtida a partir dos experimentos de curta rotação (Van Wyk, 1980).

No Sul do Brasil, em avaliações feitas por Assis (1999) foram verificadas variações genéticas significativas entre procedências para propensão a rachaduras de topo em E. grandis e E. pilularis, bem como entre clones de E. grandis, E. saligna e

E. grandis x E. urophylla. Os valores das estimativas de herdabilidade foram altos,

mostrando a possibilidade de se conseguir melhorar geneticamente esta característica. O autor comenta que atualmente, em virtude da possibilidade de utilização da clonagem em escala comercial, as variações que se apresentam como as de maior potencial em programas de produção de matéria-prima para a indústria madeireira são as variações entre indivíduos. Análises de rotina para a caracterização tecnológica de clones para serraria, em várias espécies e híbridos, têm demonstrado que os níveis de variabilidade são extremamente altos para a maioria das características, possibilitando selecionar árvores com propriedades tecnológicas destacadamente superiores em relação à média da população.

Assis (1999) enfatiza ainda que as variações verificadas nos diferentes materiais genéticos ocorrem, na grande maioria das vezes, de forma diferenciada, fazendo com que dificilmente se consiga encontrar grupos de árvores, ou mesmo indivíduos, dotados de um número elevado de características desejadas. Diante disto, a congregação dessas características em uma população ou em indivíduos torna-se muito importante para possibilitar a seleção de árvores que tenham maior quantidade de atributos tecnológicos na sua madeira, devendo se constituir o grande desafio dos programas de melhoramento genético do gênero Eucalyptus voltados à produção de madeira para a obtenção de produtos sólidos.

No documento PAULO EDUARDO TELLES DOS SANTOS (páginas 49-53)