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Considerações sobre deformações de crescimento

No documento PAULO EDUARDO TELLES DOS SANTOS (páginas 29-34)

Quando uma tensão é aplicada, por exemplo, na madeira, ela produz uma deformação, medida como uma mudança dimensional. A deformação é proporcional à tensão (até o limite de elasticidade), de modo que para uma dada porção de madeira, a razão de tensão por deformação, expressa como "módulo de elasticidade", é constante. A tensão de tração é aquela que afasta uma extremidade da outra; a tensão de compressão junta-as (Kubler, 1987).

A tensão é medida como pressão, isto é, uma força (Newton, N) aplicada a uma área (metros quadrados, m2). Se a força é aplicada como um peso, isto é, como uma massa submetida à força da gravidade, então um peso de 1 kg é aproximadamente equivalente a 9,8 N (Kubler, 1987).

A deformação é medida como uma mudança em dimensão (comprimento) em termos da proporção do comprimento não tensionado, ou seja, trata-se de uma medida adimensional ε. Se a medida da alteração é expressa em micrômetros, e o comprimento não tensionado em metros, o resultado é em unidades de micro-deformação, µε (1 µε = 1 µm/m = 10-6 m/m), conforme Kubler (1987).

Na opinião de Kubler (1987), Jacobs (1938, 1939) fez as duas mais importantes descobertas no campo das tensões de crescimento. Primeiro, ele percebeu que as tensões de crescimento têm sua origem na camada cambial onde o fuste das árvores cresce em diâmetro; é lá que novas células geram as deformações de crescimento iniciais ou periféricas. Segundo, Jacobs descobriu que as deformações periféricas permanecem essencialmente as mesmas através da vida da árvore. Estas constatações tornaram-se mais evidentes a partir das medições de deformações de crescimento longitudinais em mais de 200 toras de E. gigantea (E. delegatensis) e em fustes de muitas outras espécies arbóreas.

Efeitos adversos severos de tensões de crescimento podem ser devidos às deformações médias elevadas, ou a deformações excessivas em algumas árvores, ou em partes das árvores. As deformações variam consideravelmente nos eucaliptos (Kubler, 1987).

Conforme comentado anteriormente, as tensões (e deformações) longitudinais de crescimento são as mais importantes do ponto de vista da utilização da madeira. Dessa forma, a seguir são dedicados alguns parágrafos para uma melhor visualização do fenômeno do ponto de vista de seu comportamento no interior dos fustes.

De acordo com Jacobs (1939), a força de tração longitudinal gerada pelas novas camadas de madeira comprime toda a madeira mais velha, desta forma reduzindo a deformação de tração em cada uma das camadas de crescimento anteriores. Os efeitos das novas camadas se acumulam e as deformações mudam progressivamente a cada distância a partir da periferia, levando o centro a uma deformação de compressão crescente. As forças de compressão no centro contrabalançam a tração perto da casca em cada fase do crescimento. De acordo com Kubler (1987, Figura 1), as deformações de crescimento longitudinais são quantificadas pela eq. (1), conforme proposição de Kubler (1959).

( )

[1 2

l

n r R ]

lp l

=ε +

ε

(1) Onde: l

ε

: deformação em um ponto qualquer entre a medula e a periferia

lp

ε

: deformação periférica (constante) R : raio do fuste

r : distância qualquer entre a medula e a periferia

A expressão que quantifica a tensão é idêntica, exceto que a tensão assume o lugar da deformação, conforme a eq. (2), do mesmo autor.

( )

[1 2 n r R ]

p

(r)

=σ +

l

As distribuições médias de deformação medidas em poucas árvores ou em poucas amostras por árvore variam demasiadamente para confirmação da equação. Os desvios das tensões individuais acontecem por causa de módulos de elasticidade variáveis e outros fatores que afetam a força associada com uma dada deformação. O padrão geral de tração perto da superfície e de compressão no centro, porém, tem sido observado muitas vezes (Kubler, 1987).

Figura 1 - Representação esquemática da distribuição das tensões de crescimento nos fustes. Áreas sob tensão (cor azul) estão indicadas com o sinal (+) e as sob compressão (cor amarela) com o sinal (−). À esquerda: fuste estreito; à direita: fuste largo (adaptado de Kubler, 1987).

Garcia (1992) comenta que a eq. (2) proposta por Kubler em 1959, impõe a condição de que a tensão de compressão imposta por uma camada em maturação é uniformemente distribuída sobre a camada de madeira anterior já formada e madura. O

autor sugere, assim, modelos alternativos de distribuição, que não fazem tal objeção. Um dos modelos é parabólico e o outro linear, conforme as eqs. (3) e (4), respectivamente.

Equação do modelo parabólico:

( ) ( )( )

2 p p (r) =-fc+3 fc -σ r R+2 2σ −fc r R σ (3)

Equação do modelo linear:

(

-2 3r R

)

p (r) =σ +

σ (4)

Onde:

σ(r) : tensão num ponto r entre a medula e a periferia da árvore;

σp : tensão de crescimento estimada na periferia da árvore;

fc : resistência da madeira à compressão (ou tensão no limite de resistência à compressão paralela);

r : ponto qualquer entre a medula e a periferia; R : raio da árvore tomado na periferia.

Nessas expressões, a tensão pode ser transformada em deformação dividindo-se pelo módulo de elasticidade.

O modelo parabólico adota a hipótese de que as tensões longitudinais oriundas da tensão de crescimento se distribuem parabolicamente ao longo do raio da árvore. Neste caso o ponto de transição não é fixo e depende da tensão longitudinal periférica e também do limite de resistência à compressão paralela. Este modelo é bastante versátil podendo-se substituir o valor "fc" na região da medula por qualquer valor desejado, por exemplo, a tensão de compressão no limite de proporcionalidade (Garcia, 1992). A Figura 2 mostra o modelo parabólico proposto tomando-se para "fc" o valor de 30 MPa e o modelo tradicional de Kubler (1959). Observa-se que a maior ou menor concordância entre esses dois modelos depende do valor adotado para fc e que, na região da medula, o primeiro resolve com facilidade o problema da singularidade apresentada pelo segundo.

Figura 2 - Modelo parabólico proposto e modelo simplificado de Kubler. Fonte: Garcia (1992).

No modelo linear a hipótese é a de que as tensões de crescimento se distribuem linearmente no raio da árvore. Observa-se que para σ(r) = 0, a relação r/R é igual a 0,66, exatamente dois terços do raio (ou um terço a partir da periferia) como já admitido por muitos pesquisadores. No caso do modelo de Kubler (1959) esta mesma relação é de 0,61.

A Figura 3 mostra o modelo linear proposto, também em comparação com o mesmo modelo de Kubler.

Figura 3 - Modelo linear proposto e modelo simplificado de Kubler. Fonte: Garcia (1992).

No documento PAULO EDUARDO TELLES DOS SANTOS (páginas 29-34)