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Estudos sobre a história da erva mate relatam que o produto era consumido de forma rotineira pelos índios Guaranis na bacia dos rios Paraná, Uruguai e Paraguai e também pelos índios Tupis no Mato Grosso do Sul. A predileção do mate pelo povos nativos antecede a colonização do Novo Mundo e foi marcada pelos povos andinos e incas, que além do consumo na forma de bebida, também utilizavam as folhas nos rituais de sepultamento (LINHARES, 1969; ARANHA, 1966; BERKAI, BRAGA, 2000; MAFRA, 2008).

No início do século XVI, o sistema produtivo começou a ser aperfeiçoado na presença dos jesuítas que visaram oportunidades lucrativas que poderiam ser obtidas com a comercialização do mate. A pesquisa dos missionários levou à racionalização do cultivo, tornando os jesuítas precursores do cultivo sistemático, coleta de sementes, produção de mudas e condução de erveiras (MAZUCHOWSKI, 1996).

Assim, o desenvolvimento no processo resultou no melhoramento da qualidade do produto, tornando-o mais cobiçado e conquistando a predileção comercial nos mercados de Buenos Aires, Assunção e Montevidéu, logo transformando as missões em monopólio (LINHARES, 1969).

Contudo, a economia do mate declinou ao final do século XVIII quando os jesuítas foram expulsos das missões portuguesas e espanholas, sendo que o processo de exploração do mate retrocedeu, voltando a ser produzido conforme as técnicas indígenas (COSTA, 1989).

No início do século XIX, a produção e a exportação brasileira de mate foram novamente incentivadas pelo desabastecimento do produto no mercado devido ao

3 Identificado como Maté: Ilex paraguariensis. As folhas secas de certos arbustos da família ilex que

bloqueio das exportações paraguaias em 1813 para as nações vizinhas, com exceção do Brasil. O Paraguai, maior fornecedor de mate para os mercados platinos, sofreu com o isolamento político sancionado pelo Ditador Francia que impediu o acesso dos correntinos a Misiones4. Em contrapartida, essa medida beneficiou o comércio da erva-mate brasileira, em especial as exportações paranaenses (OLIVEIRA, 1974).

Auguste de Saint-Hilaire em 1820, durante uma viagem à comarca de Curitiba e a Paranaguá, presenciou as atividades de exportação do mate brasileiro com destino ao Uruguai e Argentina, e seus registros relatam a importância econômica da atividade para a comarca.

"A cidade de Curitiba enviava ao porto de Paranaguá toucinho, milho, feijão, trigo, fumo, carne seca e mate, sendo esse em parte consumido pelos habitantes do litoral e em parte exportado para as cidades de Buenos Aires e Montevidéu, privadas pelos acontecimentos políticos, de obter essa mercadoria no alto Paraguai." (p. 108)"... o mate, ou congonha, como se diz em Minas, é para Curitiba importante artigo de exportação. A árvore da qual ele provém é comum nas matas das vizinhanças da cidade, principalmente nas da Borda do Campo, e isso foi talvez uma das razões que levaram os jesuítas a estabelecer-se ali." (SAINTE-HILAIRE, 1964, p. 137).

Em 1826, o mate liderava as exportações do porto de Paranaguá (μ=67,7%) em comparação aos outros produtos da pauta de exportação da época e foi durante esse período de ascensão que surgiram novas iniciativas para a inovação tecnológica, visando a melhora do processamento e do blend, que não era muito aceito pelos argentinos (HOFF, 1999).

Já na metade do século XIX, a economia ervateira oscilou entre momentos de prosperidade e depressão, principalmente afetada pelo desencadeamento de eventos históricos ocorridos, tais como a guerra do Paraguai e os bloqueios inglês e francês do porto de Buenos Aires que foram atribuídos à guerra contra a governança do General Rosas (VEGRO, 1994).

A partir de 1920, a crise ervateira no Brasil foi anunciada pelo cultivo intensivo do mate na Argentina, fomentado por uma política de incentivos (créditos bancários). Desta forma, esse país, que era comprador, passou a ser concorrente, pois além de cessar a compra a Argentina também começou a fornecer mate para Uruguai e Chile

4 Em 1821, o território de Misiones era anexado à república do Paraguai. A província foi cedida à

Argentina em 1852 em troca do reconhecimento argentino da independência paraguaia (MENDES JR et al., 1991).

(COSTA, 1989). Para amenizar a perda do mercado argentino o governo brasileiro, sem muito sucesso, incentivou a ampliação dos mercados internos incluindo o centro-oeste e o nordeste, intensificando para isso, as propagandas de mate nessas regiões (OLIVEIRA,1974).

Diferente dos sistemas produtivos do café, a economia do mate no Brasil evoluiu pautada no extrativismo vegetal dos ervais nativos, sem preocupações de organização da produção e racionalização do trabalho. Isso foi fator chave para causar disparidade entre as duas economias, conduzindo o café a conseguir melhores linhas de financiamento e comercialização, em especial a conquista do mercado europeu (ARANHA, 1966).

Por sua vez, o sistema produtivo do mate manteve-se concentrando em pequenos produtores e baseado na força do trabalho familiar (RUCKER, ORTIGARA, 2003), e suas exportações, em formato de commodity5, ficaram limitadas em grande parte à bacia do Prata (OLIVEIRA, 1974).

Além disso, os subsídios e os preços mínimos de garantia para culturas anuais determinados pelo governo na década de 706, pesaram na decisão de adotar

o plantio da soja e do trigo ao invés de manter os ervais nativos de pé, contribuindo para a eliminação de grande parte dos mesmos (COSTA, 1989; VEGRO, 1994).

Segundo Mazuchowski (1995, 1996), essa onda que ocorreu em busca da modernização agrícola, eliminou grandes parcelas florestais, desconsiderando os aspectos agrossilviculturais e a renda alternativa ao pequeno produtor, proporcionados pela erva-mate.

A partir da década de 80, a cultura da erva-mate começou a ser novamente analisada como forte componente de renda de pequenas e médias propriedades rurais e estudos na área surgiram objetivando apoiar e incentivar o seu

5Commodity é um termo de língua inglesa (plural commodities), que significa mercadoria. É utilizado

nas transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. O termo é usado como referência aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. Estes produtos "in natura", cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por determinado período sem perda significativa de qualidade. Possuem cotação e negociabilidade globais, utilizando bolsas de mercadorias (MDIC, 2013).

6 Gonçalves Neto (1997, p. 78) enumerou as mudanças do setor agrário brasileiro que ocorreram a

partir da metade dos anos 60 e que visaram melhorar a infraestrutura produtiva, tais como: a política de concessão de créditos, programas de subsídios para compra de insumos, isenções fiscais, o forte crescimento do uso da tecnologia mecânica (fabricação de tratores), de defensivos e adubos, a presença de órgãos de pesquisa e assistência rural.

desenvolvimento, bem como programas de incentivo visando a expansão dos mercados consumidores internos e externos (DAHER, s/d).

Apesar disso, os preços da soja e do milho mostraram-se mais atrativos que da erva-mate nativa e da cultivada em muitos anos do período de 1997 a 2011, (APÊNDICE A).

Segundo Medrado e Vilcahuaman (2010), a maior área ervateira está situada no Brasil e, apesar da ampliação da área cultivada, grande parte da produção brasileira advém de ervais nativos. Cabe salientar que, a Argentina, devido ter sua produção baseada em ervais cultivados, supera o volume da produção brasileira de erva-mate.

Por fim, a literatura histórica também menciona que o ciclo da erva mate pode ser considerado, no cenário econômico nacional, a indústria extrativista mais importante depois da borracha, sendo caracterizado no Paraná, como o mais longo e mais representativo economicamente, cujo volume das exportações proporcionaram ao estado sua emancipação política da 5º Comarca de São Paulo (OLIVEIRA, 1974; COSTA, 1995; MAZUCHOWZKI, 1988).

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