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Segundo Heidegger (2001), se quisermos entender o ser humano e suas ações, necessário se faz nos basearmos no cuidado, pois seus valores, atitudes e comportamentos no cotidiano expressam constantemente a preocupação com o cuidado.

O cuidado é comum a todas as culturas, embora suas formas de expressão possam ser mais variadas, mas se buscarmos um ponto em comum a todas, verificaremos que a família, é quem essencialmente executa e se responsabiliza pelo cuidado.

Nos aspectos históricos do contexto familiar, o cuidador foi uma figura que sempre se fez presente e, geralmente, era uma função exercida pelas mulheres, sendo que para elas, esta era uma função natural incorporada as demais atividades familiares e domésticas enquanto aos homens era destinado o papel de provedor das condições materiais e de suporte nas tarefas do cuidado referentes a tomada de decisões.

exercício das atividades do cuidar/cuidado sendo profissionalizado. Inicialmente este espaço foi ocupado pelos profissionais da medicina, que prescreviam o tratamento para que a família o realizasse. Gradativamente foram surgindo os demais profissionais da área da saúde, e a Enfermagem surge como profissão a partir do trabalho e esforço de Florence Nightingale, em meados do século XIX, quando deu início ao ensino formal em enfermagem, apoiado em bases científicas. Segundo Nightingale, os seres humanos são dotados genuinamente de uma força interna que ela denominava de poder vital. Assim os cuidados de enfermagem tinham por objetivo proporcionar as melhores condições possíveis para que os seres humanos pudessem potencializar sua força vital com vista à cura ou a um viver saudável, tanto quanto possível (CARRARO, 1998).

Desta forma, é possível verificar que o cuidado faz parte da epistemologia da enfermagem, ainda que não seja exclusivamente dessa profissão.

As mudanças assinaladas por Nightingale, principalmente na Inglaterra, produziram um importante impacto na formação da enfermeiras nos Estados Unidos, contribuindo com isso para a criação da Visiting Nurses Association (Associação das Enfermeiras Visitantes – VNAS), que congregava as várias agências (empresas) de assistência domiciliar formadas a partir da virada do século XIX. (MENDES apud ALBIERO, 2003).

Essas organizações eram formadas em sua maioria, pelas associações ou sociedades de enfermeiras visitadoras, fundadas por mulheres que participavam sem receber nada pelo trabalho, ou seja, entidades filantrópicas, sempre ligadas a missões sociais sendo focadas na maioria das vezes em saúde pública e prevenção de doenças.

Já no início do século XX, as visitas domiciliares eram feitas por médicos que visitavam os doentes em caráter de emergência e individual, mediante pagamento.

O primeiro programa de assistência domiciliar, denominado de home care7, segundo

Albiero (2003) foi constituído por assistentes sociais e outros profissionais, em 1880 nos Estados Unidos, no Hospital da Caridade de Boston. O modelo continuou no início do século XX, quando a norma vigente era a visita domiciliar feita por médicos, porém com limitações de tecnologia e tratamentos.

Na década de 1940, surge o hospital St. Joseph, em Londres, onde a assistente social, Dame Cicely Saunders, iniciou o trabalho que culminou com o desenvolvimento da base do

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movimento moderno dehospice8.

Em 1947 um outro hospital, E. M. Bluestone, em New York , introduziu a noção de assistência domiciliar concebendo-o como um “hospital sem paredes” para cuidar dos doentes em suas casas, após terem alta do hospital e acompanhados por equipes especializadas. Os serviços eram coordenados por enfermeiras de saúde pública, que atuavam nos hospitais. Esses profissionais faziam elo entre o paciente e os serviços adquiridos, providos dentro e fora do hospital. O programa foi criado com a disposição dos modernos hospitais gerais, com um mínimo de despesas possíveis para viabilizar o atendimento. (MENDES apud ALBIERO, 2003).

Esta idéia se apresentou como trazendo resultados e benefícios principalmente aos doentes, e então o Dr. Bluestone, do Hospital Montefiore, no mesmo ano de 1947, iniciou o trabalho de assistência domiciliar, com uma equipe multiprofissional: médico 24 horas, assistente social, terapeuta ocupacional, enfermeira, incluindo serviço de transporte e trabalhadora doméstica para fazer serviço geral da casa, enquanto o paciente estivesse internado ou quando já tivesse em casa, mas sob o atendimento do programa.

Em 1967, em Londres, a mesma assistente social (Saunders), do Hospital St. Joseph, criou a casa de repouso St. Cristopher, que foi a matriz do movimento de hospedaria em todo o mundo.

Nos anos de 1970, os hospitais começaram se espalhar por todo o mundo, tornando-se independentes, com programas de cuidados domiciliares, unidades de cuidados contínuos e equipes para controle de sintomas.

Atualmente a ênfase dada aos modelos de “tratamento domiciliar” é a abordagem integrada, que inclui médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, entre outros, e se constitui em modelos de equipes que não representam custos adicionais para o hospital, em relação ao modelo tradicional de intervenção.

Todo o desenvolvimento e progresso que ocorreu ao longo do século XX na área da medicina e da saúde, aliado às melhorias da qualidade de vida, à diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade, nos levou a experienciar um outro fenômeno, uma rápida transição demográfica. Assim, a partir de meados desse século, no Brasil, começamos a observar um aumento gradativo da expectativa de vida ao nascer e da longevidade. Uma das conseqüências de todo esse processo foi a inversão dos problemas de saúde, ou seja, uma

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diminuição significativa das doenças infecto-contagiosas e um progressivo aumento das doenças crônico-degenerativas. Ainda que o envelhecimento não seja sinônimo de doença, não se pode negar que, à medida que as pessoas vivem mais, amplia-se também as suas chances de desenvolver doenças cuja prevalência aumenta significativamente com o passar da idade, como por exemplo, as demências.

Devido a este progresso e os importantes avanços científicos e tecnológicos, especialmente na área da medicina, conseguiu-se conter as infecções, erradicar muitas das doenças infecto-contagiosas, fazer diagnósticos cada vez mais precisos e precocemente, descobrir a cura ou tratamentos para controlar muitas doenças, recuperar e reabilitar problemas antes tidos como insolúveis, ampliar a expectativa de vida e atingir índices de longevidade nunca antes imaginados. Assim, entramos no século XXI com uma significativa parcela da população sendo constituídas por pessoas idosas ou da terceira idade. Muitas dessas pessoas gozam de boa saúde, porém algumas trazem consigo para a velhice problemas adquiridos na adolescência ou vida adulta.

Segundo Santos (2003), foi observado no século XX uma sistemática transferência do cuidado do campo familiar e do reduto da esfera doméstica para o campo profissional e para as instituições. Neste movimento, a família passou a ocupar uma função de coadjuvante no exercício das atividades do cuidado. Frente a isto, o que se vem observando desde a ultima década é uma espécie de contra-movimento, a qual a autora denomina de “reprivatização do cuidado”, junto ao segmento idoso. Tal movimento significa um retorno do cuidado para contexto domiciliar, tendo como seus executores os membros da família, também chamado de cuidadores familiares.