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ASPECTOS HISTÓRICOS DO LIVRO E DA LEITURA NO BRASIL

Em relação ao Brasil, e sua acentuada diferença social, que ainda persiste em nossos dias, DaMatta (1986, p.46) relata: “[...] o fato contundente de nossa história é que somos um pais feito por portugueses brancos e aristocráticos, uma sociedade hierarquizada e que foi formada dentro de um quadro rígido de valores discriminatórios”.

No Brasil, a primeira tipografia teve sua abertura cancelada por Portugal, em 1706. Assim, livros de autores brasileiros até foram editados, mas em outros

países, como do autor Manoel Botelho de Oliveira (1705), seguido pela obra de Frei João Batista Morelli (1710) e Manoel Fernandes da Costa (1728). Após a chegada da família real portuguesa é que foi autorizada as Artes Tipográficas em solo brasileiro, na data de 13 de maio de 1808, pelo príncipe regente D. João (MELLO, 1972, p. 325, 332-3). Somente depois de três séculos de seu descobrimento, o Brasil passou a exibir parâmetros para produzir leitores: tipografias, livrarias, bibliotecas e a frágil escolarização (LAJOLO; ZILBERMAN, 2011, p. 18). Enquanto a Universidade Nacional do México foi implantada em 1551, no Brasil as universidades surgiram apenas na década de 1920, ou seja, há menos de um século. Desde o início os colonizadores portugueses implantaram um rígido código que somente permitia a submissão, e foram muito mais déspotas do que a colonização espanhola (ANDRADE, 2000, p.21).

Enquanto os europeus conseguiram a maturação sobre a democratização do ato de ler, chegando ao ápice sobre a palavra, formato e leitura, o que ocorreu duzentos anos depois da implantação dos tipos móveis, os brasileiros ficaram atrelados à imposição portuguesa colonialista, iniciada por conta da proibição ao prelo, a circulação dos livros, em conjunto com o analfabetismo.

Conforme Bosi (2002, p. 336):

Historicamente, não podemos esquecer que as camadas pobres da população brasileira (índios, caboclos, negros escravos, forros, mestiços suburbanos, subproletários, em geral) foram colonizadas pela cultura rústica ou, eventualmente, urbana dos portugueses, e pelo catolicismo ritualizado dos jesuítas; e agora, já em plena mestiçagem e em plena sociedade de classes capitalistas, estão sendo recolonizadas pelo Estado, pela escola primária, pelo exercito, pela indústria cultural e por todas as agencias de aculturação que saem do centro e atingem a periferia. A cultura expansiva é dominante, e a cultura letrada repartida e diluída pelos meios oficiais ou privados, pela escola e pela fábrica.

Muitas das publicações brasileiras foram lançadas primeiramente por jornais, alcançando sucesso de público com a mesmo modelo das atuais novelas, pois ao final da publicação o autor incitava um suspense a fim de prender a atenção do leitor para o próximo capítulo.

Conforme Scliar (2005, p.32), a exemplo do romance brasileiro no século XIX:

O guarani é um romance autenticamente brasileiro, colocando pela primeira vez em nossa historia - o índio como herói. [...] foi publicado em jornal na forma de capítulos, que sempre terminavam com um suspense destinado a manter a atenção do leitor para o capítulo do dia seguinte. [...] Quando foi lançado, em 1857, o romance o guarani, de José de Alencar, fez tanto sucesso que se formavam grupos de curiosos na rua para ouvir alguém ler, em voz alta, o capítulo do dia, publicado pelo jornal Diário do Rio de Janeiro.

O que ocorre é que os autores do período romântico brasileiro lançavam seus livros logo depois de tê-los publicados pela imprensa, como no folhetim, mas não alcançavam o mesmo sucesso.

O modelo de seriação da literatura foi implantado e transpassando às décadas subsequentes, autores como Olavo Bilac recebiam salários para escrever nos jornais, assim como Rachel de Queiroz e Dinah Silveira de Queiroz, na década de 1950, publicaram suas obras em revistas como “O Cruzeiro” (HALLEWELL, 2012, p. 237).

Qualquer semelhança não é mera coincidência, parafraseando o aviso que as novelas transcreviam no encerramento de seus capítulos.

3 LIVROS VERSUS TELEVISÃO?

Atualmente o lançamento de muitos livros dá-se quase que ao mesmo tempo do filme adaptado da mesma obra para o cinema, e assim como no cinema, muitos leitores são apresentados às obras literárias através da mídia televisiva.

Afirma Balogh (2005, p. 30-1):

[...] dado ao alcance dos meios de comunicação, é mais provável que o receptor seja primeiro um espectador em posteriormente, um leitor. [...] Hoje, na maioria das vezes, é a existência de uma minissérie ou novela ou até mesmo filme que aumenta a vendagem dos livros.

Diversas obras literárias tiveram tiragens significativas e entraram para as listas de vendas, como “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, minissérie exibida pela TV Globo em 1999, que dobrou sua média mensal de vendas durante a exibição de sua adaptação; “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, novela exibida em 1994 pelo SBT, vendeu mais de 48000 exemplares; “A Muralha”, de Dinah Silveira de Queiroz, tinha sua obra fora de catálogo, e após a exibição na TV Globo, em 2000, teve seu livro reeditado. A televisão divulga, e de certa forma orienta, a escolha de obras que foram odiadas pela obrigatoriedade da leitura na escola (REIMÃO, 2004).

Percebe-se que a televisão pode causar motivação àqueles que assistem à programação adaptada de obras literárias como no caso das minisséries pela mídia televisiva, bem como a busca pela obra original contida nos livros. A adaptação das letras para as cenas demonstra uma afinidade, um interesse que se pode afirmar mútuo. Lygia Fagundes Telles, autora de “Ciranda de pedra”, obra transcriada para a novela transmitida pela TV Globo em 1981, com título homônimo, declarou: “[...] se através da televisão conseguir que me leiam, acho que não estou fazendo nenhuma concessão, que não vendi a alma ao diabo” (AVERBUCK, 1984, p. 186).

Apesar de se deduzir que o assistir à televisão possa influenciar negativamente a formação de leitores, em um estudo realizado na década de 1950, Maccoby (1964 apud MELO, 2009, p. 68) apresentou:

[...] o uso da televisão pelas crianças não afeta negativamente o seu rendimento escolar. Nem tampouco reduz o interesse pela leitura. Em

síntese, o aparecimento de um elo, ao invés de se afigurar como desestimulador para o uso dos demais, na verdade atua como incentivador. Quem vê um filme, sente-se motivado a ler o livro que contem o texto original da obra.

Pode-se afirmar que programas adaptados da literatura, apresentados pela televisão, não concorrem com a leitura. Assim como tudo, a escolha em assistir um programa apresentado pela televisão ou ler um livro se equivalem no sentido que há, nas duas mídias, boas e más escolhas. Segundo Barreto (2004, p. 44): “Ocorre o aprendizado quando o sujeito é capaz de se apropriar da informação, modificando- se e atuando de forma transformadora no meio em que se insere”. Nesse aspecto, quando o indivíduo capacita-se, ele revela-se agente transformador não só do meio, como também de uma parcela da sociedade de um todo. Assim, a televisão por seu alto índice de penetração pode, através de seus programas educativos, entre eles a minissérie adaptada da literatura contribuir com essa transformação.