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Levantamento das minisséries entre 1982-1991

1.2 E SURGIRAM AS MINISSÉRIES

1.2.1 Levantamento das minisséries entre 1982-1991

A primeira minissérie foi exibida entre 26 de abril a 08 de maio de 1982, e chamou-se “Lampião e Maria Bonita”, gravada em oito capítulos, sendo a primeira temporada de uma trilogia sobre o sertão nordestino, mas pelo fracasso da segunda minissérie “Padre Cícero”, em 1984, não houve a continuidade. Nesse período temas regionais foram abordados com frequência pela TV Globo.

Outros tipos de temas abordados foram os casos célebres de problemas nacionais retratados, os quais pretendiam esclarecer, informar e persuadir a população a compreendê-los. A TV Globo aumentou sua audiência, confrontando a arte com os problemas sociais, sendo que nos primeiros dez anos de exibição foram expostos problemas cotidianos tais como a violência contra mulher, apresentada em 1982, com o título “Quem ama não mata”. Esta minissérie tratou dos crimes ocorridos contra as mulheres por parte de seus companheiros. A minissérie “O portador”, exibida em 1991, mostrou a vida dos soropositivos do vírus HIV. As datas festivas também foram desenvolvidas como temas das minisséries, entre elas a comemoração dos 100 anos da Lei Áurea (1988) e da República (1989), com “Abolição” e “República”, respectivamente.

Pallottini (1996, p.73), ao abordar o assunto, afirma:

[...] o cotidiano regula a trama [...] acontecimentos marcantes ou circunstâncias da vida real – advento de festas nacionais e populares – Natal, carnaval -, de eventos políticos, mortes, catástrofes [...] fatos sociais que solicitam o autor de maneira imperiosa : as desigualdades, as greves, os problemas que afetam os pobres, negros, as crianças, as minorias em geral.

Minisséries com adaptações da literatura, principalmente a brasileira, foram produzidas a partir de 1984. A primeira obra adaptada para a televisão pela TV Globo, nesse segmento, foi a obra de Zélia Gattai “Anarquistas graças a Deus”, transmitida em nove capítulos, de 07 a 17 de maio.

Segundo Averbuck (1984, p. 4):

A literatura (primeira forma absorvida pela cultura de massa) em suas transformação, permanece ainda, como o grande irradiador, fornecendo a matéria prima para o roteiro cinematográfico, o enredo da televisão ou o texto da fotonovela.

A minissérie foi muito bem recebida, sendo tema de inúmeras reportagens na imprensa italiana; a venda do livro aumentou em quinze vezes; o diretor Walter Avancini recebeu o prêmio “Presença da Itália no Brasil”, além da homenagem aos atores Ney Latorraca, Débora Duarte e Daniele Rodrigues. Afirma Guimarães (1996- 7, p. 193): “Com o sucesso desta primeira minissérie adaptada da literatura a TV Globo passou a investir em grandes produções”.

Em comemoração aos 20 anos da inauguração da TV Globo foram produzidas novas minisséries: “O Tempo e o Vento”, de Erico Verissimo, apresentado em 25 capítulos; “Tenda dos Milagres”, de Jorge Amado, em 30 capítulos; e “Grande Sertão Veredas”, de João Guimarães Rosa, com 25 capítulos.

No período compreendido entre 1982-1991 foram exibidas, pela TV Globo, 29 minisséries, 48% das produções foram adaptadas da literatura, sendo treze produções da literatura brasileira e uma da literatura portuguesa, “O primo Basílio”, transmitida em 1988, e uma minissérie hibrida. Segundo Balogh (2005, p. 29): “[...] gêneros híbridos em que também se mesclem, de forma não delimitativa, a ficção e a realidade e/ou outros gêneros de texto (história, biografia etc.)”. A minissérie “Desejo”, de 1990, foi desenvolvida mesclando pesquisa à documentação e estudo biográfico. As demais foram obras originais sobre a vida cotidiana ou de pesquisa

em fatos históricos sociais, como “Anos Dourados”, de 1986, do autor Gilberto Braga. Duas minisséries desse estilo formariam a trilogia nordestina, iniciada com a transmissão de “Lampião e Maria Bonita”, seguida por “Padre Cícero”. Porém, o projeto não foi levado adiante, deixando a última sem ser gravada, sobre a vida de Delmiro Gouveia.

O gráfico 2 mostra o segmento dos primeiros dez anos de exibição das minisséries da TV Globo, dividindo-as em adaptadas e originais.

Gráfico 2 – Gráfico evolutivo das minisséries entre 1982 e 1991 Fonte: compilação da própria autora

O alcance e a gratuidade da programação televisiva potencializa o conhecimento das obras literárias adaptadas para esse meio de comunicação, muitas dessas já esquecidas no tempo. Conforme Kelly (1972, p. 145): “Ao serem transplantados para o cinema ou para a tevê, os grandes romances alcançam públicos indiscutivelmente maiores”.

Através da transcriação – a adaptação de um meio para o outro, é realizado uma nova leitura do texto literário, que reaviva a memória e transmite a novas gerações o que outras já tiveram oportunidade de conhecer. Assim, as minisséries adaptadas começaram a desempenhar uma aproximação dos telespectadores com as obras literárias.

Poderíamos dizer que há uma revivescência da história do Brasil, uma atualização da memória na telinha, que se coloca como foco de resistência (um ponto de vista crítico quanto à realidade dada) a uma visão globalizante e elitista quer da própria história oficial, quer dos meios de comunicação de massa. Foco de resistência porque, ao lado da presença da elite, representada pela aristocracia, pela nobreza ou pelos empresários capitalistas, há sempre espaço para a figura do povo – o jagunço, o escravo, o revolucionário. É nesse contexto que a televisão ocupa um lugar fundamental, mediando culturas, fazendo interagir diferentes personagens, eliminando fronteiras, mas, ao mesmo tempo, reforçando e até mesmo promovendo nossa identidade.

A adequação à contemporaneidade é fundamental para criar aproximação com o telespectador, isso se explica por que de tempos em tempos a mesma história é regravada, ao invés de retransmitida. São outras faces que têm proximidade com o público. Mesmo que outros atores tenham atuado estupendamente é preferível apostar na juventude de novos atores atuando, e da identificação com o público jovem - que é a maior percentagem de telespectadores. Assim, ilustra esse fato a preferência por se assistir Tiago Lacerda interpretando Capitão Rodrigo, no filme de 2013, a Tarcísio Meira, o Capitão de 1985.

2 O LIVRO : ASPECTOS HISTÓRICOS

“O melhor livro para o livreiro é o que vende”

Darnton (1992, p.133)

A história do livro, ou da inscrição da história escrita, remonta um passado de longa data desde que por um instinto o homem passou a descrever suas experiências e seus anseios em algum suporte que pudesse olhar e refletir, assim a escrita sugere um meio de lembrar sem precisar utilizar a memória. De acordo com Epstein (2002, p.11): “Ao nascer da nossa civilização letrada, a nova tecnologia da escrita permitiu que as histórias não precisassem mais ser memorizadas coletivamente em verso, mas pudessem ser escritas”.

Desde os desenhos descobertos no norte da Espanha feitos pelo homem pré-histórico, passando pelos hieróglifos no Egito, ideogramas na China, à escrita cuneiforme dos persas, e a todas que de alguma forma chegaram até nossos dias, a escrita que utiliza o alfabeto, representando os sons, foi uma grande evolução. Foram utilizados diversos tipos de suportes em que escrita foi inscrita, passando do suporte mineral, como as gravações feitas em pedra, bronze e argila, ao suporte animal, como o pergaminho11, e ao suporte vegetal, como o papiro12. O papel surgiu na China, inventado por T'sai-Lun, no século I d. C., e era feito de uma pasta das fibras do bambu e da amoreira.

Segundo Charaudeau (2006, p. 105):

Seria uma atitude ingênua pensar que o conteúdo se constrói independentemente da forma, que a mensagem é o que é independentemente do que lhe serve de suporte. [...] O suporte também é um elemento material e funciona como canal de transmissão fixo ou móvel: pergaminho, papel, madeira, uma parede, ondas sonoras, uma tela de cinema, uma tela de vídeo.

A tecnologia do suporte evoluiu constantemente, causando impacto na história cultural. Assim, dos manuscritos realizados em pergaminho até a invenção da imprensa ocidental, houve significativas mudanças. Nessa evolução

11 Vellum – pele de carneiro, cabra, novilho ou outros animais, especialmente preparada para servir de suporte à escrita e acondicionamento (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p.186).

12 Papiro: “[...] material sobre que escreviam os antigos egípcios, gregos e romanos e que era extraído da planta do mesmo nome”. Fonte: MAGALHÃES, Alvaro (Org.). Dicionário enciclopédico brasileiro ilustrado. Rio de Janeiro: Globo, [195-]. p.1222

tecnológica chegamos ao livro digital, o e-book (eletronic book)13 e conforme Chartier (2009, p. 88): “O novo suporte de texto permite usos, manuseios e intervenções do leitor infinitamente mais numerosos e mais livres do que qualquer uma das formas antigas do livro”. Vivemos, portanto, em uma época de transição de suportes: do impresso para o digital, assim, como foi do manuscrito para a prensa.

Segundo Chartier (1994, p. 186):

[...] o livro não é modificado pela invenção de Gutenberg. Por um lado até mais ou menos 1530, o livro impresso continua muito dependente do manuscrito: imita-lhe as paginações, escritas, aparências; acima de tudo, exige-se que o acabamento do livro seja obra da mão do iluminador que pinta letras iniciais adornadas ou historiadas e miniaturas; a mão do corretor, ou emendator, que acrescenta sinais de pontuação, rubricas e títulos [...].

Logo as transferências de formatos do livro se apoiam uns nos outros até a total absorção, finalizando a concepção de novo formato. Ainda sobre o tema, completa Darnton (1992, p. 232): “Durante o primeiro meio século de sua existência, o livro impresso continuou a ser uma imitação do livro manuscrito”. Deste modo, nesse meio tempo, a mudança de suporte será contínua até que o outro seja completamente substituído. Chartier ainda afirma que a prensa de Gutenberg não fez o “aparecimento do livro”, que já era um suporte apresentado tal qual hoje, com folhas dobradas reunidas em cadernos e encadernada. O autor sugere que a revolução do livro impresso para o digital é maior do que aconteceu com a prensa de Gutenberg.

Nessa evolução da apresentação de formatos do livro nos deparamos com a seguinte questão: os livros têm por finalidade não somente preservar a memória de uma cultura, que vem evoluindo constantemente, mas também, o papel fundamental do livro é a leitura do conteúdo. Quem lê? O quê lê? E para que lê? Que conteúdos foram desenvolvidos, e qual é a preferência popular de leitura?

13 eBook: dispositivos eletrônicos que permitem a leitura, o armazenamento e outros recursos para facilitar a leitura. Fonte: Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$ebook>. Acesso em: 08 maio 2014