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4. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

A extensão universitária, entendida como um dos tripés que sustenta as ações acadêmicas de uma instituição de ensino superior, teve sua origem pautada em momentos distintos da historia, tal qual o ensino e a pesquisa. Esta ação acadêmica, presente na Universidade brasileira desde 1911, é mencionada na Constituição Federal de 1988 como indissociada do ensino e da pesquisa e está regulamentada em outras Leis e Decretos.

Para se ter uma compreensão do significado da extensão nas universidades brasileiras, é interessante considerar alguns aspectos históricos que vão de sua gênese até os dias atuais, passando do simples oferecimento de cursos à comunidade para sua ampliação intervencionista em ações políticas, pedagógicas e científicas, visando à formação acadêmica e à melhoria da qualidade de vida da população.

Entendemos que neste estudo, não há necessidade de um aprofundamento sobre este aspecto, apenas relatar alguns momentos marcantes de sua trajetória na educação superior do Brasil, até porque vários educadores já teceram considerações mais detalhadas. Entre eles, podemos citar: Gurgel (1986); Botomé (1996); Michelotto (1999); Nogueira (2005); Souza (2000); Correia (2000); Silva (2003) e Silva (2008).

De acordo com os autores, a incorporação da extensão universitária como uma ação acadêmica ocorreu após o ensino e a pesquisa. Ela não surgiu com a Universidade.

Nogueira (2005) descreve que a Universidade passou por grandes transformações até chegar ao que encontramos hoje. Segundo o autor, entre os séculos XII e XIII, começaram essas transformações. De um lado, a então Faculdade de Teologia, com seus ensinamentos fechados e uma submissão absoluta ao seu pensar acadêmico e, por outro lado, a então

Faculdade de Artes, que propunha a liberdade de expressão. Desta dicotomia, ensino fechado e ensino mais aberto, deu-se início ao processo de liberdade de pensamento. A partir desta época, os envolvidos no processo acadêmico começaram a ter maior possibilidade de expressarem seus pensamentos e buscarem novos conhecimentos.

Outro momento marcante para a Universidade foi a abertura para questões sociais. Passou-se do absolutismo religioso, simples transferência dos ensinamentos da Igreja, o que se achava importante para ser repassado, sem um pensar reflexivo, para a preocupação com os interesses da sociedade. Este episódio significativo para a Universidade aconteceu no final do século XVIII, com a Revolução Francesa, na qual o povo se rebelava contra as ações absolutistas da nobreza e do clero. Nesta época, iniciou-se um processo de separar os assuntos da Igreja com os assuntos da vida pública das sociedades. Até este período, a Universidade estava pautada apenas no ato de ensinar.

Já no início do século XIX, comenta Nogueira (2005), a Universidade viu nascer outro pilar de sua sustentação, a pesquisa. Neste período formalizou-se a primeira articulação no meio acadêmico, ou seja, o envolvimento do ensino e da pesquisa para a aquisição de novos conhecimentos e para o desenvolvimento da sociedade.

Em meados do século XIX, na Inglaterra iniciou, segundo Paiva (1986), a terceira base de sustentação da Universidade, a extensão universitária. Segundo o autor, este fato ocorreu da necessidade da instituição atender a um público que não fazia parte da vida acadêmica, bem como as populações menos favorecidas. Gurgel (1986) reforça a idéia quando comenta que, nesta época, surgiram na Europa as universidades populares com o propósito de levar o conhecimento desenvolvido na instituição ao povo. A extensão surgia na Inglaterra com característica de curso, educação continuada.

Já Nogueira (2005) descreve que alguns anos mais tarde, nas universidades americanas, foram registradas outras formas de extensão universitária: a prestação de serviço. Nesta atividade, aconteciam os aconselhamentos ligados à área rural, principalmente para atender as necessidades dos pequenos agricultores, caracterizando esta ação como prestação de serviço, o qual se estendeu também para a área urbana, na forma de consultorias.

No início do século XX, na Universidade de Córdoba, Argentina, Gurgel (1986) e Nogueira (2005) destacam a importância do movimento estudantil em prol da transformação da Universidade latino-americana. Neste movimento, os acadêmicos pleiteavam um comprometimento da instituição com as transformações sociais do ponto de vista democrático e popular e pela projeção da cultura universitária à comunidade. Desse manifesto surgia, segundo os autores, o embrião da indissociabilidade da extensão com o ensino e a pesquisa.

No Brasil, a extensão universitária surge no início do século XX com estas duas vertentes. O modelo europeu oferecido pela antiga Universidade de São Paulo, criada em 1911. Cunha (1986), esta instituição foi a primeira no País a desenvolver atividades de extensão, oferecendo cursos gratuitos à população. Já o modelo americano, prestação de serviço, surgia na Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, MG, em 1926. (NOGUEIRA, 2005). Para Michelotto (1999), este tipo de extensão tinha uma característica técnico-profissional.

Gurgel (1986) comenta que a extensão em forma de cursos, apesar de ser a primeira ação acadêmica voltada para a comunidade, ainda continua acontecendo, em algumas universidades, com as mesmas características de sua forma original, desvinculada do ensino e da pesquisa, não acompanhando a evolução do entendimento sobre o papel da extensão universitária para a academia.

Nogueira (2005) e Lima (2003) relatam que a extensão teve seu primeiro registro oficial nos estatutos das universidades brasileiras com o Decreto nº 19.851 de 11/04/1931 do Ministro Francisco Campos. Neste Decreto (BRASIL, 1931), em seu Art. 42, ficava clara a ação desta extensão, ou seja, ―a cursos e conferências de caráter educacional ou utilitário‖. Em seu parágrafo 1º, também deste artigo, observava-se que cursos e conferências destinavam-se à ―difusão de conhecimentos úteis à vida individual ou coletiva, solução de problemas sociais e propagação de idéias e princípios que salvaguardem os altos interesses nacionais‖. Pode-se perceber em suas entrelinhas uma propagação da classe hegemônica política e econômica que se instaurava no País. O uso da extensão a serviço dos interesses do Estado pode ser também evidenciado em outras épocas, como no período da revolução de 1964, com a criação do Projeto Rondon.

Consideramos dois pontos fundamentais para a afirmação da extensão universitária no meio acadêmico. Uma delas foi a criação do Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, em 1987, como organizador de políticas públicas para a extensão, e a outra, a promulgação da Constituição Federal de 1988, artigo 207, (BRASIL, 1988) tornando-a indissociada do ensino e da pesquisa.

A seguir, apresentaremos algumas datas significativas para elucidar a trajetória histórica da extensão universitária no Brasil.

a. 1911 - Primeiras ações extensionistas nas Universidades Brasileiras, Antiga Universidade de São Paulo. A forma de extensão era em cursos e conferências destinados à população adulta, seguindo o modelo de extensão Europeu;

b. 1926 - Ações extensionistas voltadas à prestação de serviços, modelo americano de extensão universitária. Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, MG;

c. 1931 – Registro, pela primeira vez em um documento oficial, da expressão ―extensão Universitária‖. Decreto nº 19.851 de 11/04/1931 do Ministro Francisco Campos (BRASIL, 1931), caracterizando a forma da extensão em curso e conferência;

d. 1937 - Início do movimento estudantil em ações extensionistas em prol de uma sociedade mais justa e preocupada com os problemas nacionais;

e. 1958 – Reforma da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e participação dos acadêmicos, influenciados pela Ação Católica de se engajarem nas realidades concretas dos problemas brasileiros;

f. 1964 – iniciava-se um período marcado pela participação extensionista a serviço dos projetos e programas governamentais;

g. 1965 – Com a Lei 4881, de 06 de dezembro de 1965 (BRASIL, 1965), dá-se uma atenção à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. A extensão fica com o propósito de prestação de serviço e a função de disseminar os conhecimentos produzidos no ensino e na pesquisa;

h. 1968 – com a Lei 5.540/68, a ―Extensão ressurge, tornando-a obrigatória em todas as Instituições de Ensino Superior (IES). Entretanto, não houve avanço no sentido de melhor identificar a sua prática‖. (LIMA, 2003, P.18).

i. 1969 – Participação de extensionistas no Projeto Rondon. Neste período aconteceram os Campi avançados, atuação das ações extensionistas fora dos muros da Universidade. Para Gurgel (1986, p.116), a participação dos acadêmicos no Projeto Rondon permitia ao ―universitário conhecer outras realidades, comprometendo-se com o governo na solução de problemas em áreas estratégicas de seu interesse, contribuindo para o desenvolvimento econômico do país‖. Neste período, a extensão começa a ganhar uma dimensão nacional;

j. 1975 – Elaboração do primeiro Plano de trabalho de extensão Universitária, pelo MEC. A extensão teria uma característica assistencialista, atender as necessidades das populações carentes. Também nesta época o Ministério da Educação criou a CODAE - Coordenação das Atividades de Extensão. Segundo Silva (1980, p.18), a idéia fundamental da extensão, no documento da CODAE, é um processo de comunicação entre a Universidade e a sociedade. Lima (2003) aponta que este

processo ficou apenas em teoria, pois na prática não se refletia o que se propunham.

k. 1987 – Criação do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão Universitária das Universidades Públicas Brasileiras. Com a criação deste Fórum, terão início as reflexões sobre conceituação da extensão e seu papel na função social da Universidade;

l. 1988 – Nova Constituição Federal: com ela as Universidades atenderão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, conforme o Art. 207. A partir desta data, a extensão começou a ter uma outra visão dentro da Universidade;

m. 1995 – Criação do Programa de Fomento à Extensão Universitária pelo MEC; n. 1999 – Criação do Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das

Universidades e demais instituições de Ensino Superior Comunitárias;

o. 2003 – Criação do Programa de Apoio a Extensão Universitária (PROEXT) pela Secretaria de Educação Superior. Este programa busca dar ênfase na inclusão social, visando fortalecer as atividades extensionistas das Instituições Públicas de Ensino Superior.

p. Consolidação do SIEXBRASIL3, ―um sistema pioneiro no domínio da Extensão Universitária. Seu lançamento desempenhou um papel importantíssimo na integração das ações de extensão no País. É um sistema de informação na Web, com objetivo de padronizar, nacionalmente, a terminologia aplicada no registro de ações de extensão, criando assim um cadastro único da Extensão Universitária no Brasil. A característica principal desse sistema é a possibilidade de registro e consulta sobre programas, projetos, cursos, eventos, prestação de serviços, publicações e outros produtos acadêmicos promovidos pelas universidades públicas‖, (FORPROEX, 2007, p. 21). Hoje, todas as Instituições de Ensino Superior tem acesso a este banco de dados.

A partir da década de 80 do século passado, iniciaram-se, em todo território nacional, discussões sobre extensão universitária, principalmente sobre conceitos de extensão e seu papel na academia. Nos próximos subcapítulos, tentaremos apresentar algumas dessas

considerações, principalmente na contribuição da extensão para a aquisição e disseminação dos conhecimentos e a importância de projetos direcionadas às pessoas com deficiência.

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