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3. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

3.2 CONCEITUAÇÃO

No mundo estima-se que a população de pessoas com deficiência atinja a casa dos seiscentos (600) milhões. Desse tão elevado número, cerca de quatrocentos (400) milhões vivem em países do terceiro mundo ou em desenvolvimento, comenta Vital (2008). Para a autora, há uma grande relação entre níveis de pobreza e deficiência. Segundo fontes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BRASIL, 2003), no Brasil, cerca de 27% deste segmento vive em situação de pobreza extrema e 53% são pobres.

Segundo o último censo, em 2000, do IBGE (2003), o Brasil atingiu a marca dos 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência física, mental, sensorial ou múltipla. Esses dados dão um percentual de 14,5% do total da população. Até o censo de 1990, os dados referentes ao percentual de pessoas com deficiência ficavam atrelados aos índices da ONU,

onde se estimava que, em tempos de paz, cerca de 10% da população de qualquer país seria constituída por este segmento da sociedade.

Este percentual diagnosticado pelo IBGE estabeleceu uma aproximação com o que relata Ribas (1983) e Araújo (1999) em que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses índices poderiam ser elevados até 20% em países do Terceiro Mundo.

O Brasil deveria apresentar outros índices, pois é considerado um País em desenvolvimento. Infelizmente, em decorrência de sua grande área territorial, e pelos descasos de alguns governantes, estamos enquadrados no rol dos países com índices da OMS. Há discrepância entre as regiões, algumas delas consideradas do primeiro mundo; já outras, do terceiro, em decorrência dos descasos dos governos Federais, Estaduais e Municipais em não elaborarem políticas públicas de prevenção, informação, saneamento básico, educação, saúde, garantias nutricionais mínimas à população, segurança, consciência e respeito às leis do transito, entre outras, nos colocam neste triste cenário mundial.

Na figura 06, podemos observar a distribuição da população com deficiência pelos Estados.

Figura 06 – Índice de casos de deficiência por estado Fonte: IBGE, 2001

Estes dados são preocupantes pelo seu elevado índice, induzindo a formulação de perguntas, tais como: O que está sendo feito para diminuir estes índices? Quantas dessas pessoas estão sendo assistidas? Quantas estão com seus direitos constitucionais garantidos? Quantas pessoas estão vivendo em situações de risco? Quantas estão inseridas no mercado do trabalho? E na área da Educação, como estão inseridas nas escolas? Seus direitos de ir e vir estão garantidos, com a eliminação de barreiras arquitetônicas? E no esporte e lazer, como estão suas participações?

Estas perguntas poderiam servir de propostas para as Universidades desenvolverem inúmeros projetos que visem a diminuir esta situação tão perversa em torno dessas pessoas. E a extensão, onde fica neste processo, já que tem a possibilidade de intervir? Discutiremos a temática ainda neste capítulo.

Com o avanço científico em muitas áreas do conhecimento e também nas legislações pertinentes à inclusão e acessibilidade às pessoas com deficiência, muito se têm discutido sobre a terminologia mais usual, para identificarmos esse segmento da população, academicamente falando. Responder esta pergunta não é assim tão simples como possa parecer.

Muito se tem discutido sobre as terminologias mais corretas e menos estigmatizantes quando se trata de pessoas que necessitam de atenção especial. O termo ―deficiência‖ muitas vezes era atribuído à negação de ―eficiência‖, como o ―anormal do normal‖, do ―incomum para o comum‖, da ―incapacidade para a capacidade‖. Autores como Ribas (1987), Goffman (1988), Bianchetti (1998), Fonseca (1995), Sassaki (2006), entre outros, manifestaram-se a respeito destas questões, direcionando o eixo das discussões por caminhos que tentavam mostrar os equívocos e as contradições geradas por elas.

A construção das definições/terminologias com relação às pessoas com deficiência vem atrelada historicamente às suas lutas e conquistas. Na literatura especializada, encontramos várias definições de termos a serem utilizados para caracterizar esta população. A gama de terminologias para caracterizá-la, provoca confusão, pois, em uma determinada situação, encontramos como caracterizando pessoas com necessidades especiais, em outra, como pessoas portadoras de necessidades especiais, ou como pessoas portadoras de deficiência, ou com deficiência, ou como pessoas com história de deficiência, entre outras definições.

Segundo Sassaki (2003), as discussões mundiais envolvendo as pessoas com deficiência, incluindo também o Brasil, chegaram a uma determinação, segundo até as próprias pessoas que mundialmente gostariam de serem chamadas de ―pessoas com

deficiência‖. Segundo a ―Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência‖, homologada pela ONU, em 13 de dezembro de 2006, (ONU, 2006) entrando em vigor em 03 de maio de 2008, reforça o uso desta expressão, quando se tratar de pessoas que apresentam perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, gerando incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano. Conforme já foi comentado, esta Declaração foi aprovada no Brasil em 02 de julho de 2008. O art. 1º desta Convenção explicita que pessoas com deficiência são todas ―aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas‖, (REZENDE e VITAL, 2008, p. 134).

Essas terminologias criadas ao longo dos anos vieram em oposição a padrões estipulados pela própria sociedade. Glat (1987) apresenta uma destas contradições quando referencia a terminologia ―normalidade‖, associando-a com o que é conhecido e com o qual podemos lidar. O ―anormal‖, o diferente, o desconhecido muitas vezes apavora, deixando-nos inseguros, porque obriga-nos a mudar nossa maneira de ser. Ainda as pessoas que se comportam de modo estranho, que são diferentes, deixam um determinado grupo de pessoas em situações novas e desconhecidas nas quais não sabem de antemão como agir.

Segundo a Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994, p.22), entende-se por pessoa portadora de necessidades especiais toda aquela que ―[...] apresenta, em caráter permanente ou temporário, algum tipo de deficiência física, sensorial, cognitiva, múltipla, condutas típicas ou altas habilidades, necessitando, por isso, de recursos especializados para desenvolver mais plenamente o seu potencial e/ou superar ou minimizar suas dificuldades‖.

O contexto educacional costuma chamar de pessoas portadoras de necessidades educativas especiais, uma vez que precisam de alguma alteração na metodologia ou no material pedagógico a ser utilizado como recurso para a aquisição ou transmissão do conhecimento.

Já por pessoa portadora de deficiência entende-se, segundo esta mesma Política Nacional (BRASIL, 1994, p.22),

A que apresenta, em comparação com a maioria das pessoas, significativamente, diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico e social.

A última Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiências, realizada no ano de 1999, na

Guatemala (GUATEMALA, 1999), utiliza o termo portador, como se eles portassem a deficiência. Este termo é muito usado na área.

Na academia é constante este debate por qual palavra deveremos utilizar para caracterizar este segmento da sociedade. As várias terminologias utilizadas são frutos de construções ideológicas e culturais. Em uma consulta prévia nos formulários de extensão da UFSC, deparamo-nos com os seguintes termos: pessoa com deficiência; pessoa portadora de deficiência; pessoa com necessidades especiais; pessoa com história de deficiência; pessoa com diagnóstico de deficiência; cultura surda; cegueira; comunidade surda; pessoas especiais, necessidades especiais; alunos com deficiência. É importante a definição de um termo comum para facilitar a busca aos projetos que trabalham com este segmento.

Mundialmente, já fecharam a questão: querem ser chamadas de "pessoas com deficiência", em todos os idiomas. Esse termo já fez parte do texto da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 2003, e promulgada posteriormente, através de lei nacional de todos os seus países-membros.

Eis os princípios básicos para chegarem a esse nome:

1.Não esconder ou camuflar a deficiência;

2.Não aceitar o consolo da falsa idéia de que todo mundo tem deficiência; 3.Mostrar com dignidade a realidade da deficiência;

4.Valorizar as diferenças e necessidades decorrentes da deficiência;

5.Combater eufemismos que tentam amenizar as diferenças, tais como "pessoas com

capacidades especiais", "pessoas com eficiências diferentes", "pessoas com habilidades diferenciadas", "pessoas deficientes", "pessoas, especiais", "é desnecessário discutir a questão das deficiências porque todos nós somos imperfeitos", "não se preocupem, agiremos como avestruzes com a cabeça dentro da areia" (i.é, "aceitaremos vocês sem olhar para as suas deficiências");

6.Defender a igualdade entre as pessoas com deficiência e as demais pessoas em termos

de direitos e dignidade, o que exige a equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência, atendendo as diferenças individuais e necessidades especiais, que não devem ser ignoradas;

7.Identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes e, a

partir daí, encontrar medidas específicas para o Estado e a sociedade diminuírem ou eliminarem as "restrições de participação" (dificuldades ou incapacidades causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência).

Martins (2008, p. 28) afirma que ―A pessoa com deficiência é, antes de mais nada, uma pessoa com uma história de vida que lhe confere a realidade de possuir uma deficiência, além de outras experiências de vida, como estrutura familiar, contexto sócio-cultural e nível econômico‖.

Podemos classificar as deficiências em:  Físicas;

 Mentais;

 Sensorial: visual ou auditiva;  Múltiplas

Ao se falar de pessoa com deficiência física, podemos entender como sendo aquela que apresenta uma variedade de condições não-sensoriais, que afeta o indivíduo em termos de mobilidade, coordenação motora geral ou fala, como decorrência de lesões, sejam elas neurológicas, neuromusculares, ortopédicas ou, ainda, de malformações congênitas ou adquiridas. (BRASIL,1994).

Já para pessoa com deficiência mental a Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994, p.15) caracteriza por

[...] registrar um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitantemente com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade de o indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunicação, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho.

Depois da Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, em 2004, a comunidade internacional tem usado esta terminologia para caracterizar as pessoas com deficiência mental. Esta nova terminologia, não exclui a anterior, pois, ainda é muito usual o termo deficiência mental. Entende-se que, esta nova terminologia, tenta referir-se ao funcionamento do intelecto e, não propriamente o funcionamento da mente.

Outro fator determinante para o uso desta nova expressão, está relacionado com a dicotomia, deficiência mental e doença mental. No senso comum, as expressões são sinônimas. O uso da terminologia deficiência intelectual viria para descaracterizar esta semântica.

Por deficiência visual podem-nos referir a uma limitação sensorial que pode anular ou reduzir a capacidade de enxergarmos, abrangendo vários graus de acuidade visual.

Na deficiência visual, podemos encontrar dois termos muito utilizados, ou seja: a pessoa cega ou a com baixa visão. Quando nos referimos à pessoa cega, caracterizamos aquele que possui uma acuidade visual até 6/60 ou um campo visual até 10. Como pessoa com visão residual ou baixa visão aquele que possui acuidade visual 6/60 e 18/60 ou campo visual entre 10 e 20.

Diz-se que uma pessoa tem acuidade visual de 6/60 se ela ficar a uma distância de 6 metros para ler o tipo-padrão que uma pessoa de visão normal pode ler a uma distância de 60 metros. E por campo visual a amplitude da área alcançada pela visão (visão tubular, visão central, visão lateral), sendo o campo visual normal de 180.

Por deficiência auditiva pode-se caracterizar aquela em que a pessoa tenha a perda total ou parcial da audição. Sua classificação é feita de acordo com a perda sensorial apresentada (medida em decibéis).

Para alguns profissionais da área, a deficiência visual e a auditiva, por estarem relacionadas com os órgãos sensoriais, também podem ser classificadas como deficiências sensoriais.

Entende-se por pessoa com deficiência múltipla quando encontramos associação de duas ou mais deficiências.

Com os dados obtidos pelo censo de 2000 (IBGE, 2003) foi possível identificar a distribuição da população segundo o tipo de deficiência. Neste foram diagnosticados 169.872.856 de brasileiros, sendo que 24.600.256 informaram ter algum tipo de deficiência ou limitação. Este número representa um percentual de 14,5% da população do País. Na tabela 02 podemos verificar melhor a distribuição desta população.

Tabela 02 - Distribuição da população segundo tipo de deficiência. POPULAÇÃO

Total Tipo de Deficiência

Pelo menos uma das deficiências enumeradas

Deficiência

mental Deficiência física Incapaz, com alguma ou grande dificuldade de enxergar Incapaz, com alguma ou grande dificuldade de ouvir Incapaz, com alguma ou grande dificuldade de caminhar ou subir escadas 169.872.856 24.600.256 2.844.937 1.416.060 16.644.842 5.735.099 7.939.784 Fonte: IBGE (2000)

Levar o conhecimento sobre os diferentes tipos e níveis de deficiência à sociedade é prepará-la para assumir seu papel diante do processo inclusivo. Este conhecimento permitirá

que a população tenha melhor entendimento sobre as limitações e as potencialidades dessas pessoas. Com este entendimento poderão surgir novas idéias, novas iniciativas que venham a garantir o acesso e a permanência em todos os serviços disponíveis na sociedade.

As Universidades têm um papel fundamental neste processo, pois através das ações de ensino, pesquisa e extensão poderão criar e disseminar novos conhecimentos, que permitirão a sociedade quebrar seus tabus e preconceitos em relação às pessoas com deficiência.

3.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS REFERENTES ÀS PESSOAS COM

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