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3 METODOLOGIAS

4.6 VARÍAVEL DIRECIONADORA (DRIVING VARIABLE): CONSTRUÇÂO DO NOVO

4.7.3 Aspectos da implementação

A primeira dificuldade encontrada nesta pesquisa foi selecionar um quadro teórico e metodológico em percepção ambiental, que incluísse métodos de pesquisa de campo. A análise de percepção ambiental (PA) foi a escolhida por prover opções no uso de técnicas de pesquisa de campo, e pela utilização da teoria dos sistemas para a interpretação dos dados. A segunda dificuldade deu-se com a interpretação dos dados. Não foi oferecido um método de interpretação baseado na teoria dos sistemas. A opção metodológica foi utilizar um método sistêmico mais adaptado aos processos humanos e sociais.

Na pesquisa bibliográfica foi identificada apenas uma dissertação de mestrado que utilizou a metodologia de PA de Whyte (1977). Na interpretação dos dados a pesquisa em questão centrou-se nas variáveis de percepção ambiental e nos intervalos das respostas as

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perguntas do questionário que se relacional com dada variável. Para obter dados relevantes, o universo amostral foi maior, o questionário era fechado e foi possível fazer um tratamento estatístico das respostas. Nesta pesquisa feita na BRP, o questionário foi semiaberto, o universo amostral foi menor, constituído de uma amostra intencional com atores chave, e com maior aprofundamento das variáveis de percepção através das perguntas do questionário e o uso de outros métodos que formaram um esquema metodológico junto com a PA: a observação participante periférica, as técnicas de pesquisa qualitativa, e as matrizes SWOT e S.

O trabalho de campo não foi simples, pois as áreas estudadas e as comunidades de agricultores e gestores estavam passando por um período intenso de transformações sociais. Tive o espaço adequado para apresentar minha pesquisa e fui tratado de maneira respeitosa, e de acordo com as negociações feitas com agricultores e gestores, foi acordado que as escolhas e interesses dos informantes seriam as balizas da interpretação dos dados. Uma pesquisa de percepção com um questionário para agricultores, com 45 perguntas, acompanhadas da observação dos modos de vida na propriedade, é algo complexo de se realizar, e exige colaboração dos informantes.

Realizar uma experiência científica é ao mesmo tempo estimulante para o pesquisador, pois refaz os caminhos epistemológicos traçados por outros pesquisadores da tradição da ciência, e ao mesmo tempo tem um caráter individual e único, traduzível em parte na interpretação dos dados. Contudo, o campo de trabalho traz em si determinações históricas que marcam o relacionamento da ciência com os objetos de estudo, com as comunidades, e atores sociais. As comunidades visitadas já tinham tido experiências com outros pesquisadores, e as relações estabelecidas lhes pareceu assimétrica. Ou seja, o conhecimento produzido não retornou ao seu território. Do ponto de vista da governança, isso contribui para uma perda de confiança nos pesquisadores e nas instituições de pesquisa, nas universidades e nos centros de pesquisa, bem como no método científico, e no governo. Contudo, segundo um dos gestores do PPA-Pipiripau essa desconfiança com a ciência, não aparece somente entre os agricultores mas também entre os gestores, que reclamam da dificuldade de acessar o conhecimento gerado pela universidade.

A simetria nessa relação pode ocorrer quando o pesquisador é objeto da intenção do ator local, de fazer sua percepção do problema chegar a outros pontos do território do problema, seja o território físico ou institucional (DUARTE et al, 2010). Esta busca por influenciar o pesquisador é legitima, e informa o pesquisador das intenções, interesses e objetivos dos atores. Neste sentido, estas formas de influenciar o pesquisador são usadas também como informação valiosa de pesquisa.

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A leitura das entrevistas de agricultores e gestores identificou 3 temas de discussão para a BRP. A partir de cada entrevista identificou-se o tópico emergente (assunto principal levantado por cada entrevistado de cada entrevista). Estes tópicos foram agrupados em temas. Uma oficina participativa foi agendada para fazer o repasse dos primeiros resultados, e promover o debate em torno dos temas de discussão identificados. Infelizmente a oficina não foi realizada. A associação de produtores do núcleo rural Pipiripau (ANPROVAP), através de sua diretoria manifestou o interesse de que a oficina fosse feita na sede da associação dos produtores do assentamento Oziel III (APRACOA). Infelizmente devido a conjuntura interna da associação dos produtores do assentamento Oziel III, na qual a direção da associação estava envolvida em intenso trabalho de recepção dos projetos governamentais de transferência de renda não houve uma data disponível para a realização da oficina, reunindo agricultores das duas áreas agrícolas e os gestores. Os gestores, no período em que a oficina deveria ser realizada, dezembro de 2013, estavam na execução de suas agendas institucionais. A etapa metodológica da oficina era necessária para certificar os dados coletados nas entrevistas, com os entrevistados e promover o debate sobre os temas de discussão identificados nas entrevistas. As principais ideias surgidas a respeito dos temas seriam então cotejadas com a literatura científica disponível.

Como alternativa metodológica, me concentrei na estruturação do diálogo entre percepção e literatura científica naqueles tópicos que identifiquei como conflitos de percepção para o grupo de gestores e o grupo de agricultores. Uma seção de síntese dos temas de discussão, acompanhada de tabelas com os tópicos emergentes, identificados para cada entrevista, foi criada e disponibilizada no Anexo II. Esta síntese pode servir para oficinas e futuras pesquisas na BRP. Na seção 4.7.7, a análise sistêmica dos sistemas de percepção ambiental de agricultores e gestores aborda aspectos dos temas de discussão destacados pelos entrevistados: participação e integração institucional, mercados de água e terra, e eficiência hídrica e agrícola.

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