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DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE TRABALHO DE CAMPO DA PESQUISA

3 METODOLOGIAS

3.5 DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE TRABALHO DE CAMPO DA PESQUISA

3.5.1 Núcleo Rural Pipiripau:

A pesquisa de percepção ambiental foi proposta à diretora da associação de produtores rurais do núcleo rural Pipiripau, ANPROVAP, que indicou quatro agricultores integrantes do grupo mais ativo da associação composto por 6 famílias. As entrevistas dos agricultores foram organizadas então, seguindo as faixas biofísicas estabelecidas no processo de estratificação. O núcleo está situado entre a calha do Pipiripau e as faixas 1 (de 0 e 30 metros de cota) e faixa 2 (de 30 a 80 metros). A Faixa 3 está fora do núcleo, e é ocupada pelos produtores de grãos, com lotes médios (de até 300 hectares) e lotes grandes (acima de 300 hectares). As formas de subsistência estão ligadas a produção rural, feita por agricultores familiares que recebem recursos do governo (PRONAF), pequenos empresas agrícolas que buscam recursos financeiros (ou insumos) no mercado, e médias empresas agrícolas dedicadas à avicultura. Para a agricultora D.L, 95 % das famílias do núcleo vivem da agricultura.

Segundo o médico L.N da equipe do programa Saúde em Casa, poucos proprietários permanecem em seus lotes, cujas atividades de geração de renda são gestadas por

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caseiros, meeiros ou arrendatários, cuja origem é muito variada, predominando nordestinos e mineiros. Na média, as habitações são bem construídas em comparação com as do assentamento de reforma agrária Oziel III, e as famílias possuem carros de passeio. Há duas grandes festas anuais: a festa de confraternização dos moradores, o “Costelão”, e a festa do Maracujá, uma das principais culturas plantadas no núcleo, juntamente com os cultivos do tomate e do pimentão. A agricultura D.L relata que todas as famílias tem acesso á agua, mas que nesta estação seca de 2013, poços que nunca haviam secado, secaram. Este fato gerou preocupação na comunidade.

Em termos de estruturas ecológicas, as áreas de preservação permanente das margens do Pipiripau, tanto a direita quanto à esquerda fazem parte do núcleo, e foram ocupadas com atividades agrícolas. Elas são alvo dos objetivos de recuperação ambiental do PPA-Pipiripau, além da reforma das curvas de nível, reforma das estradas e construção de bacias de infiltração (este último objetivo já está com a implementação bem avançada). Segundo a agricultora D.L, as bacias de infiltração e as estradas reformadas foram construídas pelo conselho de desenvolvimento rural de Planaltina, da qual ela faz parte. As curvas de nível nos lotes ainda não foram construídas embora alguns agricultores com recursos próprios, e para evitar problemas de enxurradas na estação das chuvas, já construíram suas curvas de nível (ver figura 3.3).

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3.5.2 Assentamento de reforma Agrária Oziel III:

Eu propus o trabalho de campo de minha pesquisa de mestrado primeiramente á Associação dos Produtores do Assentamento Oziel III, APRACOA. A pesquisa foi apresentada, em 20 minutos, em uma das assembleias ordinárias da associação, e o pesquisador pediu ao final que os interessados, em serem entrevistados, que o procurassem ao lado de fora da sede. A partir do grupo de voluntários, foi selecionada uma amostra que representasse as diferentes cotas em que os lotes estão relativamente à calha do Pipiripau. Foram criadas então, três faixas biofísicas, e selecionados agricultores de acordo com esta estratificação. Na estação seca do ano de 2013, os poços da faixa 1 secaram o que gerou um alerta e a preocupação com a comunidade do Oziel III quanto à escassez de água. Poços nesta faixa nunca haviam secado na história conhecida do assentamento segundo os agricultores mais antigos. O preço do metro perfurado de poço na BRP do assentamento gira em torno de 100 reais. Agricultores nas faixas 2 e 3 necessitam de poços mais profundos ou artesianos, mas não recebem o apoio financeiro para fazê-lo. Uma exceção nestes anos de vazio institucional do estado local em relação ao assentamento Oziel III tem sido o programa Bolsa Família, que atende quase todas as famílias com filhos.

A estrutura das habitações é precária em sua maioria, com algumas casas de alvenaria bem construídas. Porém, observam-se algumas casas de veraneio, com moradores sazonais. Um dos líderes da associação APRACOA estima que até 10% o número de lotes vendidos para terceiros. Este fato tem gerado insegurança entre as famílias assentadas. Do ponto de vista das curvas de nível, o assentamento possui estruturas eficientes na contenção das enxurradas, os chamados murundus. São estruturas altas e bem construídas, obras que foram feitas pelo antigo arrendatário da Terracap, que por falta de pagamento perdeu o direito a exploração da área, que era dedicada ao plantio de grãos.

Em 2002, a área foi ocupada pelo movimento dos Sem Terra. Segundo os moradores com quem conversei na época da ocupação, o proprietário semeou o capim braquiária, para, segundo o agricultor N.L. impedir que eles ocupassem e produzissem. A área de quase 6.000 hectares tem 2.500 dedicados á reserva legal coletiva. O assentamento não tem acesso ao Pipiripau. A margem esquerda do ribeirão Pipiripau foi loteada e faz parte do núcleo rural Pipiripau, impedindo a retirada de água diretamente do ribeirão pelos agricultores do assentamento Oziel III. Este fato apareceu claramente nas entrevistas dos agricultores nas quais aparecem poucas referencias ao ribeirão. A exploração irracional da água subterrânea foi intensificada, com perfuração de poços sem outorga autorizada pela Agência de águas do Distrito Federal (ADASA), e sem controle do

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órgão público licenciador do uso da água na agricultura, o Instituto Brasília Ambiental, e do órgão responsável pela regulação do uso da água para consumo humano, a CAESB.

A área é coberta pelo capim braquiária, e devido à falta de água, a agricultura é praticada na época das chuvas. O vento sopra constantemente sendo um fator importante de dessecação. Participei de um dia de campo agroecológico no mês de outubro de 2013 promovido pela Emater, e conversei com o Deputado Distrital Joe Valle, parlamentar local dedicado às questões da sustentabilidade. Para ele, um design agroecológico para o assentamento incluiria inicialmente o plantio de espécies florestais em faixas nos murundus, para diminuir a ação dos ventos, na perda de umidade dos solos e plantas. Além disso, outra atividade que poderia ser promovida para garantir renda, durante o período de transição agroecológica do assentamento, seria a criação de galinhas “caipira”, com uso reduzido de recursos hídricos, e possibilidades de abertura de mercados. Nesta estação seca de 2013, os poços e cacimbas (na faixa 1), próxima à área de preservação permanente, secaram, alertando a comunidade, e afetando o comercio de venda de água destes poços. Segundo uma agricultora que mora próxima a reserva legal do assentamento, um pequeno riacho da reserva legal tem sido drenado para abastecer um pivô central na fazenda ao lado, a Fazenda Brava, ameaçando o equilíbrio hídrico da reserva legal (ver figura 3.4).

Figura 3.4. Assentamento de Reforma agrária Oziel III, sua reserva legal e o pivô central da fazenda Brava.

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CAPÍTULO 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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