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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.3. Aspectos legais

3.3.1. Aspectos legais para gestão dos recursos hídricos

Inicialmente a regulação da proteção das águas e de outros recursos naturais tinha o intuito de disciplinar os usos individuais, visto que, durante

muito tempo, o tratamento jurídico dado ao controle da qualidade e da quantidade de água, do solo, da atmosfera e do meio urbano esteve confiado a leis de proteção da saúde, em função do bem jurídico defender a saúde humana e não o recurso natural76.

Após a Conferência de Estocolmo em 1972, com o crescimento das populações e o aumento dos usos individuais, as normas legais de proteção das águas, de pesca, das florestas, dentre outras, passaram a ter reflexos ambientais, visando a proteção do ambiente e ampliando as formas de defesa dos recursos hídricos, e desencadearam discussões internacionais em busca de modelo de gestão das águas68, 76.

A preservação das bacias hidrográficas depende, além de outros fatores, de mecanismos de controle institucionais, como a regulamentação em legislação federal, estadual ou municipal, para tratar da preservação e proteção dos recursos ambientais. No Brasil a abordagem ao modelo de gestão das águas e dos recursos naturais iniciou a partir de 1980, com a promulgação das Constituições Federal de 1988 e Estadual de 1989, que incorporam a participação social nessa gestão de forma descentralizada, integrada e participativa. A Lei que regulamentou o inciso XIX do artigo 21 da Constituição Federal foi a nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997, que instituiu a Politica Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos68, 92.

No Estado de São Paulo, a Constituição de 1989 instituiu o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos em seu artigo 205. No artigo 208 vetou “o lançamento de efluentes e esgotos urbanos e industriais sem o devido tratamento em qualquer corpo de água”. E no artigo 213 obrigou a “inclusão de aspectos de proteção da quantidade e da qualidade das águas quando das normas legais relativas à floresta, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e demais recursos naturais e ao meio ambiente”68.

No entanto, o que marcou a gestão dos recursos hídricos no Estado foi a promulgação da Lei nº 9034/1994, que dispõe sobre o Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH. Esta lei estabelece diretrizes gerais,

sistematização e adequação da gestão de recursos hídricos, em busca da garantia de qualidade e quantidade, além de integrar esta gestão com gestão ambiental das bacias hidrográficas e dos sistemas estuarino e das zonas costeiras68.

Entre os instrumentos de gestão de recursos hídricos previstos na Lei Federal nº 9433/1997, os padrões de qualidade são definidos em legislação como limites máximos de concentração que determinada substância deve respeitar após o lançamento no corpo receptor, e dependem da classificação estabelecida de acordo com a qualidade requerida para os seus usos preponderantes – dos mais nobres aos menos nobres, atualmente regulados pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, que “dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes”, visando estabelecer limites para garantir a qualidade requerida para os seus usos preponderantes. Esta Resolução foi alterada e complementada pelas Resoluções nº 370 de 6 de abril de 2006, nº 397 de 3 de abril de 2008, nº 410 de 04 de maio de 2009 e nº 430 de 13 de maio de 2011, especificamente para condições e padrões de lançamento de efluentes48, 64, 68.

No Estado de São Paulo, o Decreto nº 10.755, de 22 de novembro de 1977, dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água receptores na classificação prevista no Decreto nº 8.468, de 08 de setembro de 1976, que regulamentou a Lei nº 997 de 31 de maio de 1976, e é utilizado como instrumento regulador da prevenção e controle da poluição do meio ambiente, com padrões de lançamento de efluentes e de qualidade estabelecidos no Decreto, além de instituir as diretrizes gerais de atuação da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB.

3.3.2. Aspectos legais – sedimentos

Para a avaliação da qualidade dos sedimentos, a CETESB adota os valores limites para substâncias químicas, estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 344, de 25 de março de 2004 (revista pela Resolução CONAMA nº 421, de 03 de fevereiro de 2010), que “estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais brasileiras, e dá outras providências” e utiliza como referência publicações oficiais canadenses e norte-americanas, como por exemplo, critérios de avaliações com limites determinados pelo Conselho Canadense de Ministérios de Meio Ambiente – Canadian Council of Ministers of the Environment, que engloba as variáveis TEL – Threshold Effect Level (nível de efeito limiar), também chamado de Nível 1 e PEL – Probable Effect Level (nível de efeito provável), também chamado de Nível 2.

Estas variáveis buscam evidências da presença de contaminantes em concentrações capazes de causar efeitos adversos, especificamente tóxicos, à biota aquática. TEL representa a concentração abaixo da qual se espera baixa probabilidade da ocorrência destes efeitos, e PEL representa a concentração acima da qual são previsíveis esses efeitos. Na faixa entre

TEL e PEL ocasionalmente são observados efeitos biológicos

deletérios48, 61, 63.

A Resolução estabelece em seu anexo a adoção de programa de investigação laboratorial que inclua:

• caracterização física básica pela classificação granulométrica dos sedimentos (areia, silte e argila);

• caracterização química para determinar a concentração dos poluentes nos sedimentos; e

• caracterização ecotoxicológica para complementar as

caracterizações física e química, a fim de avaliar os potenciais impactos à vida aquática63.

No Estado de São Paulo, em atendimento ao determinado na Resolução COMAMA nº 344/2004, sobre a necessidade de possuir regulamentação específica nos Estados para a atividade de dragagem, foi publicada em 21 de julho de 2004 a Resolução da Secretaria do Meio Ambiente – SMA nº 39, que estabelece as diretrizes gerais para a caracterização do material a ser dragado, por meio de análises físicas, químicas e biológicas, para o gerenciamento de sua disposição em solo, e para evitar que substâncias químicas possam causar efeitos adversos à biota, à saúde e ao meio ambiente83.

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