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5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS ATOS DE OUTORGA

5.4.1 Aspectos do licenciamento ambiental

De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)23, o licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento, atividade potencialmente poluidora ou que degrade o meio ambiente. Nessa esteira, pode-se remontar às palavras de Tomanik (2011), a saber:

A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, assim como os empreendimentos capazes de, sob qualquer forma, causar degradação ambiental, necessitam de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

O IBAMA ressalta, ainda, que o licenciamento ambiental apresenta, como uma das características mais significativas, a participação social quando das tomadas de decisão, mediante a possibilidade da realização de audiências públicas no decorrer do processo.

Milaré (2004) entende que, “ao contrário do licenciamento tradicional, marcado pela sua simplicidade, o licenciamento ambiental é ato uno, de caráter complexo, em cujas etapas intervêm vários agentes, e que deverá ser precedido de estudos técnicos que subsidiem sua análise”.

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A obrigação legal concernente ao licenciamento em questão tem de ser observada pelos órgãos estaduais de meio ambiente e pelo IBAMA, como partes integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). No caso específico do IBAMA, sua atuação é, principalmente, no licenciamento de projetos de infraestrutura cujas dimensões envolvam impactos em mais de uma Unidade da Federação, bem como em atividades do setor de petróleo e gás na plataforma continental, entre outras atribuições específicas.

A Política Nacional do Meio Ambiente, disposta na Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, institui o SISNAMA e a estrutura deste, introduzindo, também, as diretrizes para o licenciamento ambiental. No artigo 9º, inciso IV, da lei supracitada, o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras são elencados como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Ainda, conforme versa o artigo 10:

Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. § 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente.

Quanto ao artigo descrito, é explicitado na Lei nº 6.938/81, mais especificamente no artigo 11, que as normas e padrões para implantação, acompanhamento e fiscalização do licenciamento previsto devem ser propostos pelo IBAMA ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Conforme salienta Sirvinskas (2003), o licenciamento ambiental e sua revisão é um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente previsto no art. 9°, IV, da Lei nº 6.938/81, tratando-se de um procedimento administrativo complexo, que tramita perante o órgão público estadual ou, supletivamente, perante o órgão público federal (IBAMA). Segundo Godoy (2005), na esfera da Política Nacional do Meio Ambiente, o licenciamento ambiental se encontra na perspectiva de restrição colocada pela Lei nº 6.938/81, da seguinte forma:

A Política Nacional do Meio Ambiente privilegia o controle direto das atividades econômicas visando à proteção do ambiente pela restrição ao seu uso, mais do que assumir uma atitude incentivadora de novos usos dos recursos naturais e da tecnologia como instrumentos de ampliação e proteção do meio.

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No âmbito dos documentos legais acerca do licenciamento ambiental, a Resolução CONAMA nº 001, datada de 23 de janeiro de 1986, apresenta-se como uma das mais relevantes e paradigmáticas. Ao estabelecer as definições, responsabilidades, critérios básicos e diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, a referida Resolução, em seu artigo 2º, restringe o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente à elaboração de estudo de impacto ambiental (EIA) e respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA).

As atividades relacionadas no artigo 2º como exemplos de modificadoras do meio ambiente abrangem um rol de dezesseis incisos, sendo que, no inciso VII, observa-se a necessidade do licenciamento ambiental para obras hidráulicas com a finalidade de exploração de recursos hídricos, como barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação.

Em todas essas atividades, o estudo de impacto ambiental e o respectivo relatório de impacto ambiental devem ser submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA, em caráter supletivo. O licenciamento de atividades que, por lei, é de competência federal, depende do EIA e do correlato RIMA, os quais têm de ser apreciados e aprovados pelo IBAMA, conforme expõe o artigo 3º da resolução ora em pauta.

Antes de elencar ressalvas quanto ao estudo de impacto ambiental e ao relatório de impacto ambiental, a Resolução CONAMA nº 001/86 ainda aborda um ponto importante no artigo 4º, qual seja, a necessidade de compatibilização, por parte dos órgãos ambientais competentes e pelos órgãos setoriais do SISNAMA, dos processos de licenciamento com as etapas de planejamento e implantação das atividades modificadoras do meio ambiente, em observância à natureza, ao porte e às peculiaridades de cada atividade.

Em relação a demais marcos legais quanto ao licenciamento ambiental, é essencial a análise da Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Essa resolução considera a necessidade de revisão dos procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental, definindo-o, de acordo com o artigo 1º, como:

Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou

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daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

A Resolução CONAMA nº 237/97 especifica as competências federais, estaduais e municipais no que tange ao licenciamento ambiental, explicitando-as em seus artigos 4º, 5º e 6º. Nesse sentido, salienta-se o Parecer nº 312/CONJUR/MMA/2004, proveniente do Ministério do Meio Ambiente, acerca de conflitos de competência para licenciamento ambiental. No referido Parecer, concluiu-se, dentre outros pontos, que “o critério para definição do membro do SISNAMA competente para a realização do licenciamento ambiental deve ser fundado no alcance dos ‘impactos ambientais’ da atividade ou empreendimento, conforme o regrado pela Resolução CONAMA nº 237/97”.

Importa, em relação à Resolução CONAMA nº 237/97, ressaltar, no artigo 8º, as licenças ambientais que, como atos administrativos pelos quais o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental no licenciamento ambiental, deverão ser expedidas conforme a fase do empreendimento ou atividade e de acordo com os requisitos pautados, podendo ser classificadas em Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) ou Licença de Operação (LO).

Ainda, em referência ao artigo 10, são definidas as etapas a que o procedimento de licenciamento ambiental deverá obedecer, sendo obrigatória constar nesse, conforme o parágrafo primeiro do artigo em questão, quando for o caso, a outorga para o uso da água, emitida pelo órgão competente.