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Relação entre as licenças ambientais e os atos de outorga

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS ATOS DE OUTORGA

5.4.2 Relação entre as licenças ambientais e os atos de outorga

O presente tópico tem o escopo de apresentar como se relacionam as licenças ambientais e os atos de outorga do direito de uso de recursos hídricos, em diversos âmbitos, remontando, em um primeiro instante, à Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei n° 9.433/97, a qual, em seu artigo 3°, elenca a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental como uma das diretrizes gerais de ação para a implementação da política objeto dessa lei.

Nesse sentido, os artigos 29 e 30 da Lei n° 9.433/97 prescrevem que cabe ao Poder Executivo Federal, Estadual e do Distrito Federal, cada qual em sua esfera de competência, promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.

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Torna-se imperioso ressaltar que, conforme explicitado anteriormente, no processo de licenciamento ambiental, o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades, que utilizem recursos ambientais, considerados poluidores, seja de forma efetiva, potencial ou de qualquer outra que possa causar degradação ambiental.

Dessa feita, as licenças ambientais mencionadas no artigo 8º da Resolução CONAMA nº 237/97, a saber, Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO), aprovam a localização e concepção, instalação ou operação da atividade ou empreendimento, mediante a autorização do órgão ambiental competente.

A outorga de direito de uso de recursos hídricos, por seu turno, não analisa a concepção, implantação ou funcionamento de um empreendimento ou atividade, mas sim o direito, a forma e as características adequadas de se utilizar os recursos hídricos almejados com determinada finalidade, indicando se há disponibilidade hídrica para tal.

A Resolução CONAMA nº 237/97 expõe que, no procedimento de licenciamento ambiental, deverá constar a outorga para uso da água, nos casos pertinentes. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos, em 7 de dezembro de 2006, mediante a Resolução CNRH nº 65, estabelece diretrizes de articulação dos procedimentos para obtenção da outorga de direito de uso de recursos hídricos com os procedimentos de licenciamento ambiental.

Na Resolução CNRH acima citada, para a obtenção da Licença Prévia, de acordo com o que preceitua o artigo 4º, deverá ser apresentada ao órgão ambiental licenciador a manifestação prévia da autoridade outorgante competente ou, na ausência desse documento, a outorga de direito de uso de recursos hídricos.

Em relação à obtenção da Licença de Operação, bem como da Licença de Instalação, no último caso quando os usos ou interferências nos recursos hídricos forem necessários para implantação dos empreendimentos ou atividades, também há de ser expedida anteriormente a outorga de direito de uso de recursos hídricos, conforme dispõe o artigo 5º da Resolução CNRH nº 65/06, a fim de ser apresentada ao órgão ambiental.

Observa-se, tendo em vista as duas Resoluções abordadas neste tópico, que a outorga de uso da água deve preceder às licenças ambientais. Prusky e Silva (2005), ao tratarem da outorga de direito de uso de recursos hídricos em conjunto com o licenciamento ambiental, afirmam que tais “institutos jurídicos guardam uma grande

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aproximação, podendo até ser unificados, se para tanto houver interesse da administração pública e eficácia de resultados sociais”. Os referidos autores ainda salientam:

Enquanto estiverem diferenciados, a outorga dos direitos de uso tem um campo mais largo do que o licenciamento ambiental. A outorga dos direitos de uso, além do caso concreto do pedido analisado, deve considerar primeiramente o Plano de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica, dos estados e do país. Estando em desacordo com esses planos, o requerimento de outorga deve ser indeferido.

A apresentação da licença ou da autorização ambiental dependerá do que constar na legislação ambiental federal, estadual ou municipal pertinente. A outorga não exime o outorgado de obter o “licenciamento ambiental”, como, por exemplo, apontam os Decretos 41.258, de 31/10/96, do Estado de São Paulo (art. 5º), e 37.033, de 21/11/96, do Estado do Rio Grande do Sul (art. 6º).

O IBAMA, no Guia de Procedimentos do Licenciamento Ambiental Federal (2002), ressalta, para o licenciamento ambiental em nível federal, o artigo 2º e o artigo 10, §1º, da Resolução CONAMA nº 237/97, seguindo o entendimento de que no procedimento ora em análise deverá constar, nos casos previstos, a outorga para uso da água.

No âmbito estadual, verificam-se diversas conjunturas no que tange às relações entre a outorga do direito de uso dos recursos hídricos e as licenças ambientais. No Estado de São Paulo, por exemplo, existe a Resolução Conjunta SMA/SERHS nº 1, datada de 23 de fevereiro de 2005, a qual regula o procedimento para o licenciamento ambiental integrado às outorgas de recursos hídricos.

Nessa Resolução Conjunta estabelecida no Estado de São Paulo, a emissão da Licença Prévia, de acordo com o artigo 6º, tem como pré-requisito a outorga de implantação de empreendimento emitida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).

Quanto à outorga de direito de uso ou interferência nos recursos hídricos, a Licença de Instalação, para as atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, tem de ser expedida anteriormente, visto que será solicitada pelo DAEE para emissão da outorga em tela. Em relação à Licença de Operação, haja vista o versado no artigo 8º, a outorga de direito de uso configura-se como pré-requisito a sua emissão.

Em Minas Gerais, observa-se a Resolução SEMAD nº 390, de 11 de agosto de 2005, que trata das normas para a integração dos processos de autorização ambiental de

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funcionamento, de licenciamento ambiental, de outorga de direito de uso de recursos hídricos e de autorização para exploração florestal – APEF.

A concessão da outorga do direito de uso de recursos hídricos, na esfera do Estado de Minas Gerais, de acordo com a resolução mencionada, é necessária para a implantação de empreendimentos tais como barramento, canalização e retificação de cursos d'água, nos casos previstos, ficando condicionada, em relação à validade, à obtenção da Licença de Instalação.

Nos demais requerimentos, a concessão da outorga condiciona sua validade à emissão da Licença de Operação, salvo quando se tratar dos empreendimentos constantes do parágrafo único, artigo 9º, do Decreto nº 39.424/98, cuja validade também observa a Licença de Instalação.

No Estado de Pernambuco, de acordo com a Secretaria de Recursos Hídricos – SRH24, os requerimentos de outorga de direito de uso de recursos hídricos e de licenciamento ambiental tramitam em simultâneo, devendo ser entregues conjuntamente na Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – CPRH.

A solicitação de outorga será apreciada pela Secretaria de Recursos Hídricos estadual, enquanto que a Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos analisará o requerimento de licenciamento ambiental. Em caso de indeferimento da outorga ou da licença ambiental, conforme exposto pela SRH, não haverá emissão da outorga tampouco da licença ambiental.

No Estado do Paraná, segundo explicita o Instituto das Águas do Paraná25, “para novos empreendimentos que necessitem de licenciamento ambiental e empreendimentos existentes que ainda não possuam licenciamento ambiental deverá ser requerida primeiramente a Outorga Prévia e, posteriormente, a Outorga de Direito”. No caso de novos empreendimentos em que não se observe a necessidade de licenciamento ambiental, bem como quanto àqueles existentes que já tenham obtido o licenciamento em questão, deverá ser solicitada diretamente a outorga de direito.

24 Disponível em: <http://www.sirh.srh.pe.gov.br/site/outorga.php>. Acessado em: 17 de janeiro de 2012. 25 Disponível em: <http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10>. Acessado em: 17 de janeiro de 2012.

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Em relação à Paraíba, de acordo com a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), a licença para construção de obra hídrica, quando expedida, autoriza o desenvolvimento da obra almejada, sendo que, após seu término, deverá o requerente providenciar o termo de outorga para os usos da água. Observa-se que há a emissão dessa licença e, posteriormente, a obtenção da Licença de Instalação, expedida pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA). Em alguns casos, o contrário também é verificado, a saber, a emissão da LI e, então, a obtenção da licença para construção de obra hídrica.

O tópico em tela não apresenta o objetivo de esgotar o assunto acerca das diferenças existentes, em diversos âmbitos, quanto aos procedimentos referentes à outorga de direito de uso de recursos hídricos e ao licenciamento ambiental, mas intenta ressaltar que a interação entre esses institutos não é semelhante nos Estados brasileiros, quando comparados entre si, e também tendo em vista o nível federal.

Além disso, importa destacar que a relação entre as licenças ambientais e os atos de outorga do direito de uso de recursos hídricos também não se apresenta uniforme na esfera internacional. Conforme anteriormente explicitado, em países como a França, Áustria e Espanha, e em outros que fazem parte da União Européia, há uma diretriz quanto à unificação desses processos. Nos Estados Unidos da América, apesar de, em geral, ser verificada tal interação, deve-se observar as peculiaridades inerentes a cada Estado norte- americano. Por seu turno, na República Popular da China, como mencionado, existe uma distinção institucional em relação aos responsáveis pelos aspectos ambientais e no que tange à gestão das águas.

Assim, a questão abordada no presente tópico transcende os limites nacionais, sendo pauta de discussões também em outros países. Cabe ressaltar, no entanto, que a tendência, atualmente, a nível internacional, é pela realização do que concerne às licenças ambientais e aos atos de outorga em um mesmo processo, de forma unificada.

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