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Pode-se dizer, senso comum, que as cidades, independentemente de suas dimensões físicas ou formas geográficas, representam para a humanidade um misto de fascínio, associado a um desejo constante de mudanças que lhe atendam necessidades e preferencias diversas. Todas – da pequena vila à grande metrópole - estão na berlinda como objeto de discussão, de observação ou estudo, quer sob o sentimento de quem as habita e usufrui, ou sob o olhar de quem as perscruta para entendê-las em um contexto mais técnico ou mais amplo. Neste caso a observação subjetiva e espontânea dos fatos não é suficiente. É necessário que se tenha um cuidado, uma consciência ou compreensão capaz de problematizar os fatos observados e, a partir desta problematização, adotar uma sequência de fases e maneiras de examiná-los. Em outras palavras, a prática investigativa sobre o objeto problematizado exige formas e procedimentos específicos e claros como maneira de se estabelecer uma conexão próxima com as características do problema, as causas e consequências de sua existência. Severino (2007, p.102) esclarece que [...] “a percepção de uma situação problemática que envolve um objeto é fator que desencadeia a indagação cientifica”.

Nesta pesquisa considera-se como o problema, a investigação da existência de um tipo, de um perfil específico ou não, para o objeto observado - a “Cidade Média”. Utiliza-se conceitos e categorias de análise desenvolvidas pela teoria Sintaxe Espacial como artifícios e meios para a representação espacial e a análise da amostra selecionada. O eixo base da investigação é configuracional, uma vez que adota a metodologia de análise sintática do espaço urbano ancorada em variáveis morfológicas e socioespaciais. Mas o estudo permeia também outros aspectos como

12 A leitura morfológica das cidades da amostra será realizada a partir das variáveis espaciais e do comparativo com a média

os de estrutura socioeconômica e da função social da cidade13 considerando que estes se relacionam com a configuração urbana.

Do ponto de vista da configuração e do potencial de fluxos e movimento Medeiros (2013, p. 145) aponta que a Sintaxe Espacial oferece instrumentos de entendimento e representação do espaço urbano, considerado de âmbito público e definido como universalmente acessível ou que pode ser percorrido sem barreiras, de qualquer lugar para qualquer lugar. O autor argumenta ainda que, levando-se em conta a configuração da cidade, esse ir de qualquer lugar para qualquer lugar implica a percepção das conexões e articulações existentes na malha urbana e a percepção de que elementos componentes dessa malha, sejam vias, ruas, avenidas - eixos - estão inter-relacionados fazendo com que o espaço urbano seja potencialmente capaz de ordenar, sob certas condições sociais, encontros e esquivanças. Do ponto de vista da cidade como lugar de circulação de fluxos de pessoas, bens e capitais, os aspectos socioeconômicos são representativos para avaliar os diferentes níveis de determinações decorrentes da atuação dos agentes econômicos. Considera-se base não apenas os recortes territorial e populacional, mas também se considera as articulações entre as diferentes escalas geográficas e verifica-se os nexos que articulam as cidades escolhidas aos espaços regionais, nacionais e supranacionais, (SPOSITO et al.,2016, p. 22).

Para o desenvolvimento da pesquisa optou-se por associar ao método de análise, a síntese de algumas variáveis quantitativas extraídas da representação espacial das cidades – os dados configuracionais - e de dados estatísticos do IBGE/Censo (2010), bem como de outras estimativas divulgadas pelo IBGE cidades e pelo Ministério da Educação14– os dados socioeconômicos. Mas enxergar e entender as cidades em questão não decorre apenas da leitura descritiva ou quantitativa sobre elas, depende principalmente das relações entre os itens de conhecimento que as envolvem. Em outras palavras, é producente para o processo de análise das espacialidades urbanas observar características específicas das

13A função social da cidade, conforme o Estatuto da Cidade, tem como diretriz nº 01: “a garantia do direito a cidades

sustentáveis, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”.

14 O Ministério da Educação utiliza um sistema de consulta, o (e-MEC) que é um sistema eletrônico de acompanhamento dos

processos que regulam a educação superior no Brasil. Todos os pedidos de credenciamento e recredenciamento de instituições de educação superior e de autorização, renovação e reconhecimento de cursos, além dos processos de aditamento, que são modificações de processos, serão feitos pelo e-MEC.

atividades e funções exercidas no ambiente urbano e como elas estabelecem interação.

Ainda assim, esta pesquisa apresenta limitações. A primeira delas é de caráter condicional e temporal: conforme registro feito pela própria ReCiMe, adotou-se o critério eletivo para o desenvolvimento das pesquisas, considerando as condições: interesse e disponibilidade dos diversos pesquisadores, bem como a disponibilidade de custos financeiros para o projeto e para os deslocamentos. Dessa forma observa- se que as primeiras pesquisas se iniciaram com levantamentos e coleta de dados datados em torno de 2007 para as primeiras publicações e de 2014 para as últimas. Embora todas as pesquisas tenham acompanhado rigorosamente a metodologia definida, que estabeleceu quatro pilares para a investigação (difusão da agricultura científica e do agronegócio; desconcentração da produção industrial; difusão do comércio e serviços especializados e aprofundamento das desigualdades socioespaciais), toda pesquisa abriga o olhar particular, a visão de mundo, do pesquisador ou do grupo de pesquisadores para a necessária síntese da verdade observada. Assim, se o mundo pairasse nas condições ideais, seria pertinente e perfeito que um mesmo grupo de pesquisa realizasse, nas mesmas condições gerais e no mesmo intervalo temporal, a pesquisa de toda a amostra. Ou que esta pesquisadora, assim o conseguisse realizar... Como o mundo real funciona de maneira diversa, observadas as condições possíveis, optou-se por acrescentar ao estudo, variáveis qualitativas15, ainda que com outra limitação – construídas à distância do universo pesquisado e com base na avaliação subjetiva da leitura do material. As referidas variáveis assumem a pretensão de contribuir na avaliação de tendências para as cidades da amostra, consideradas médias ou em transição.

Dessa forma, na busca de se estabelecer procedimentos ou critérios mais abrangentes para observar a realidade do grupo de cidades eleito e com o intuito de examinar as diversas possibilidades de relação entre os atributos dessas cidades elegeu-se um quantitativo de variáveis de caráter socioeconômico, espacial e qualitativo e fez-se confrontá-las entre si numa tabela dinâmica. A síntese dos gráficos

15 As variáveis qualitativas avaliam conceitos sociais e dados específicos, interpretando fenômenos a partir da percepção do

grupo pesquisado. Têm caráter subjetivo e geram interação. Os dados são apresentados de forma descritiva e os resultados são frutos da perspectiva do grupo avaliado, (www.ibccoaching.com.br).

“Métodos quantitativos são amplamente usados nas ciências sociais e nas ciências da vida. Em geral, consistem na descrição do seu objeto, com o objetivo de conhecê-lo aprofundadamente. Método de ação participativa e Estudos de caso são exemplos de método qualitativo” (SERRA, 2006, p. 81).

resultantes da correlação feita não tem o objetivo de determinar uma relação fria de causa e efeito, ao contrário, busca sinalizar a presença de tendências que permitem refletir e inferir sobre características e comportamentos citadinos, os quais auxiliam na apreensão de um possível perfil para as cidades médias. Resumindo, a análise ora realizada, adota como base os dados espaciais da evolução diacrônica das cidades em questão, seus dados socioeconômicos em intervalos de tempo disponibilizados pelo IBGE e busca sintetizar, por meio da formulação de variáveis qualitativas, a realidade posta pela pesquisa ReCiMe referente aos quatro eixos metodologicamente pesquisados, conforme caracterização feita para cada cidade. Apresentam-se abaixo, as tabelas síntese das variáveis de configuração16 ou espaciais e uma síntese de suas definições, as variáveis socioeconômicas ou quantitativas 17 e as variáveis não espaciais ou qualitativas18 ora escolhidas para o desenvolvimento da pesquisa. Uma abordagem mais abrangente destas é realizada na segunda parte desta dissertação, durante a discussão dos achados.

16As variáveis de configuração são extraídas dos mapas axiais e de segmentos e estão divididas em variáveis geométricas e

variáveis topológicas. As variáveis geométricas remetem a características que não dependem de processamento no DepthmapX para serem obtidas, como as dimensões e as quantidades dos elementos; as topológicas estão associadas às relações de topologia e são dependentes do processamento para serem extraídas, (COELHO, 2017, p. 78).

Na pesquisa são utilizadas algumas dentre as variáveis apresentadas por serem mais significativas na avaliação das cidades.

17As variáveis socioeconômicas foram extraídas do IBGE cidades (2017) priorizando aquelas com base no Censo 2010. No

entanto foram escolhidas dentre todas as variáveis apresentadas aquelas mais significativas para o cruzamento de dados com as variáveis de configuração e qualitativas, considerado o foco da pesquisa.

18 As variáveis qualitativas apresentam a descrição das categorias na parte 2 desta pesquisa, quando da descrição dos

Tabela 2 - Variáveis configuracionais Fonte: Juliana Coelho (2017). Organização feita pela autora

TIPO VARIÁVEL

Nº de linhas

Compacidade nº de linhas

NAIN NACH

Análise de integração normalizada Analise de escolha normalizada Indica o número de linhas do sistema.

Indica a média do comprimento das linhas do sistema; medida indicadora do tamanho médio das ruas.

Indica a relação entre o tamanho médio da rua e a área do sistema. Indica o grau de adensamento do sistema.

Sinergia

Indica a correlação entre a integração global e local do sistema. Quanto menor seu valor, menor a sincronia entre as centralidades em nível global e as centralidades em nível local. Analisada no mapa axial.

Indica a média do comprimento dos segmentos do sistema; medida indicadora do tamanho da quadra ou quarteirão.

Características da malha

Conectividade Indica o número de conexões dos eixos do sistema, que influi diretamente na quantidade de possibilidades de rotas disponíveis. Analisada no mapa axial.

Integração Global (RN) Indica o potencial da acessibilidade global. Analisada no mapa axial e no mapa de segmentos.

Tamanho médio dos segmentos

Indica o tipo de malha(regular, orgânica, tabuleito de xadrez, colcha de retalhos) CONFIGURAÇÃO FUNÇÃO G e o m é tr ica s To p o gi ca s Inteligibilidade

Indica o grau de legibilidade do sistema, baixo valor da inteligibilidade indica que a cidade não é compreendida como um todo; é dada a partir da correlação entre a integração global e a conectividade. Analisada no mapa axial.

Escolha Indica a rede de caminhos com maior potencial de serem utilizados. Analisada no mapa de segmentos.

Conectividade visual Indica a conectividade visual entre os pontos do sistema; utilizada para compreender as relações visuais possíveis. Analisada no mapa de visibilidade. Integração Local (R3) Indica o grau de acessibilidade local. Analisada no mapa axial e no mapa de

segmentos. Tamanho médio das linhas

Compacidade tamanho médio das linhas

REGIÃO CENTRO OESTE Critérios Avaliação Itens de Avaliação Marília/SP Uberlândia/MG Dourados/MS

População(Nº de Hab)[2010] 216.745 604.013 196.035

Densidade (Hab/Km²)[2010] 185,21 146,78 47,97

População ocupada [2015] 31,40% 37,20% 32,70%

Taxa escolarização- 6 a 14 anos[2010] 97,80% 98,00% 97,10%

IDEB – Anos finais ens. Fundam. (nota média) [2015] 5,00 4,50 4,20

IES - Instituições Ensino Superior [2017]*** 7,00 12,00 5,00

Índice Desenvol.Humano Municipal(IDHM)[2010] 0,798 0,789 0,747

PIB per capita [2014] (em R$) 30.572,51 43.291,56 33.101,70

Agências de Instituições Financeiras [2016] 7 13 6

Estabelecimentos de Saúde SUS e outros [2009] 115 313 109

Mortalidade Infantil [2014](óbitos/1000 nascidos vivos) 13,74 10,03 15,86

Esgotamento sanitário adequado [2010] 96,80% 98,20% 50,70%

Arborização de vias públicas [2010] 95,40% 95,20% 96,90%

Urbanização de vias públicas [2010] 37,60% 33,00% 28,20% 30,80% SAÚDE TERRITÓRIO E AMBIENTE 31,10% 27,20% REGIÃO SUDESTE POPULAÇÃO TRABALHO E RENDIMENTO

Percentual da população com rendim. nominal mensal per capita de até 1/2 sal. Mínimo[2010]

EDUCAÇÃO

ECONOMIA

ASPECTOS SOCIOECONOMICOS

Critérios Avaliação Itens de Avaliação Londrina/PR Chapecó/SC Passo Fundo/RS

População(Nº de Hab)[2010] 506.701 183.530 184.826

Densidade (Hab/Km²)[2010] 306,52 293,15 235,92

População ocupada [2015] 38,60% 42,70% 36,20%

Taxa escolarização- 6 a 14 anos[2010] 97,30 % 98,40% 97,30% IDEB – Anos finais ens. Fundam. (nota média) [2015] 6,50 5,10 3,90 IES - Instituições Ensino Superior [2017]*** 16,00 8,00 10,00 Índice Desenvol.Humano Municipal(IDHM)[2010] 0,778 0,790 0,776 PIB per capita [2014] (em R$) 29.135,94 38.184,47 37.739,31 Agências de Instituições Financeiras [2016] 15 9 7 Estabelecimentos de Saúde SUSe outros [2009] 241 117 127 Mortalidade Infantil [2014](óbitos/1000 nascidos vivos) 8,68 6,43 9,59 Esgotamento sanitário adequado [2010] 85,20% 61,80% 54,10%

Arborização de vias públicas [2010] 96,30% 74,30% 71,70%

Urbanização de vias públicas [2010] 83,10% 29,30% 46,20% SAÚDE TERRITÓRIO E AMBIENTE 28,70% 24,70% 25,70% POPULAÇÃO TRABALHO E RENDIMENTO

Percentual da população com rendim. Nominal mensal per capita de até 1/2 sal. Mínimo[2010]

EDUCAÇÃO

ECONOMIA

ASPECTOS SOCIOECONOMICOS REGIÃO SUL REGIÃO NORTE

Critérios Avaliação Itens de Avaliação Marabá/PA Campina Grande/PB Mossoró/RN

População(Nº de Hab)[2010] 233.669 385.213 259.815

Densidade (Hab/Km²)[2010] 15,45 648,31 123,76

População ocupada [2015] 18,60% 27,60% 25,20%

Taxa escolarização- 6 a 14 anos[2010] 94,70% 97,60% 97,70%

IDEB – Anos finais ens. Fundam. (nota média) [2015] 4,00 3,40 3,70

IES - Instituições Ensino Superior [2017]*** 5,00 9,00 6,00

Índice Desenvol.Humano Municipal(IDHM)[2010] 0,668 0,720 0,720

PIB per capita [2014] (em R$) 24.579,70 18.716,38 21.883,09

Agências de Instituições Financeiras [2016] 7 7 7

Estabelecimentos de Saúde SUS [2009] 61 231 115

Mortalidade Infantil [2014](óbitos/1000 nascidos vivos) 11,12 12,71 12,91

Esgotamento sanitário adequado [2010] 31,80% 84,10% 64,60%

Arborização de vias públicas [2010] 10,80% 82,50% 75,50%

Urbanização de vias públicas [2010] 11,00% 19,40% 4,50% EDUCAÇÃO ECONOMIA SAÚDE TERRITÓRIO E AMBIENTE 41,30% ASPECTOS SOCIOECONOMICOS POPULAÇÃO TRABALHO E RENDIMENTO

Percentual da população com rendim. nominal mensal per capita de até 1/2 sal. Mínimo[2010]

REGIÃO NORDESTE

39,50% 38,00%

*** As Instituições de Ensino Superior – IES foram elencadas a partir de informações do site Ministério da Educação (MEC): http://emec.mec.gov.br

- Densidade demográfica: considera a quantidade de população residente por quilômetro quadrado

- População.que recebe até 0,5 salário.mínimo: consideram-se domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa

- Urbanização vias públicas: consideram-se vias com presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio. Tabela 3 - Dados socioeconômicos das cidades médias da amostra

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