• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 5 Modelagem da informação de edificações existentes

5 MODELAGEM DA INFORMAÇÃO DE EDIFICAÇÕES EXISTENTES

5.3 ASPECTOS METODOLÓGICOS RELACIONADOS AO AS-IS BIM

Nesta seção, são abordados aspectos metodológicos relacionados à geração de modelos BIM a partir de "nuvens de pontos". São apresentados métodos relatados em artigos, e

109

Rhinoceros é um programa desenvolvido pela empresa Robert McNeel & Associates, muito difundido e utilizado atualmente para modelagem de formas complexas, especialmente para as áreas de design (diversos ramos), arquitetura e engenharia mecânica.

110

Midas é um programa desenvolvido pela MIDAS Information Technology, muito utilizado internacionalmente para análise estrutural, inclusive de formas complexas.

discutidos aspectos observados, em pesquisas realizadas ao longo dos últimos anos, sobre processos e ferramentas específicas para auxílio à modelagem BIM a partir de "nuvens de pontos". Depois, são tratadas as principais etapas envolvendo esse tipo de modelagem, desde a fase de aquisição de dados até a modelagem e verificação do modelo. Ao final, são apresentadas diferentes abordagens sobre nível de detalhe associado à documentação de edificações existentes, e discutida a importância na definição clara dos objetivos do modelo BIM para determinação dos níveis de detalhe e de precisão adequados.

5.3.1 Panorama de processos para geração de modelos AS-IS BIM

Os processos mais comuns de criação de modelos as-is BIM são através de: (1) uso das informações representadas em desenhos já existentes, correspondentes à fase de projeto; (2) realização de levantamento cadastral por medição direta (ALVES; OLIVEIRA, 2010). A grande limitação desses processos refere-se à simplificação da representação de formas mais complexas e irregulares. Além disso, é comum haver inconsistências e falta de correspondência entre os elementos representados e suas formas reais.

O uso de tecnologias para captura de "nuvens de pontos" tem permitido acelerar o processo de aquisição dos dados geométricos das edificações, e aumentar a precisão e nível de detalhe do levantamento. Apesar das vantagens da utilização das "nuvens de pontos", observou-se que na grande maioria dos artigos pesquisados, esses modelos são usados de modo indireto ou subutilizados111. É comum a importação da "nuvem de pontos" em ferramentas CAD tradicionais (com auxílio de plugins específicos, como Cloudworxs) e sua utilização como referência para geração de desenhos (BRUMANA et al., 2013), para conferência de informações de registros já existentes (ATTAR et al., 2010; GIUDICE; OSELLO, 2013) ou para modelagem de trechos mais complexos da edificação (WOO; WILSMANN; KANG, 2010).

As maiores dificuldades citadas nesses trabalhos referem-se a: modelagem de formas irregulares através das ferramentas BIM, importação de objetos complexos gerados em outros programas, determinação do nível de detalhe adequado do modelo, associação de

111

Acredita-se que o uso indireto ou a subutilização do modelo de "nuvens de pontos" para geração de modelos BIM deva- se à falta do estabelecimento de métodos adequados de trabalho para manipulação/utilização desse tipo de modelo diretamente na ferramenta BIM, aliado à possibilidade, relativamente recente (desde a versão 2012 do Revit), de inserção da "nuvem de pontos" no software BIM mais difundido e utilizado atualmente, o Revit da Autodesk.

atributos semânticos aos elementos construtivos e falta de famílias de componentes adequados às edificações existentes, especialmente as históricas. Os processos mais comuns encontrados na literatura com relação à modelagem BIM a partir de "nuvens de pontos" são:  desconsideração das irregularidades dos elementos (como paredes fora de prumo e com "barrigas") e simplificação da representação de objetos complexos e detalhados, para utilização das famílias existentes na biblioteca do programa;

 criação e utilização de uma biblioteca de objetos paramétricos (HBIM), baseado em tratados de arquitetura;

 modelagem dos objetos de formas mais complexas em modeladores geométricos ou em programas específicos para processamento de "nuvem de pontos", para a posterior importação na ferramenta BIM112.

O primeiro processo é o que permite maior rapidez na modelagem, mas é o que apresenta maiores limitações de precisão e nível de detalhe.

A criação e utilização da biblioteca HBIM, proposta pelos pesquisadores do Dublin Institute of Technology (DIT) na Irlanda (DORE; MURPHY, 2012, 2014), representa uma forma de gerar modelos detalhados de modo mais automatizado, no ArchiCAD. No entanto, a biblioteca de elementos e os parâmetros relativos à composição de fachadas são adequados a estilos arquitetônicos comuns no centro histórico da Irlanda, o que não é realidade para todos os países.

O terceiro processo (importação de formas complexas) parece mais adequado para a modelagem dos objetos complexos, considerando as irregularidades e deformações dos objetos existentes, uma vez que os programas de modelagem complexa e específicos para manipulação de "nuvens de pontos" apresentam mais recursos de modelagem. O grande problema desse método está relacionado à interoperabilidade entre os programas, para não somente evitar a perda de informações, como para permitir que a geometria seja transformada em elemento construtivo existente na ferramenta BIM.

112

Alguns autores relatam os problemas de importação de objetos modelados fora da ferramenta BIM, uma vez que não conseguem associá-los aos elementos construtivos, sendo utilizados somente para a visualização da geometria.

De modo geral, verifica-se que o processo de criação de modelos BIM a partir de "nuvem de pontos", conhecido como "Scan to BIM"113, é ainda bastante interativo, apesar de alguns avanços ocorridos nos últimos cinco anos. A seguir, um breve relato sobre as técnicas utilizadas nos últimos anos, começando pelas mais antigas e que demandavam maior tempo de trabalho e/ou mais recursos:

 geração interativa de modelos de superfície (sejam primitivas tridimensionais ou malha triangular irregular) em programa para engenharia reversa, ou no AutoCAD com auxílio de plugins, somente para permitir a importação dos objetos tridimensionais na ferramenta BIM e, assim, possibilitar uma nova modelagem com os elementos construtivos próprios da ferramenta BIM (processo de dupla modelagem interativa);

 surgimento de programas mais automatizados para modelagem, como o EdgeWise da ClearEdge3D, para o reconhecimento e geração automática de faces a serem importadas na ferramenta BIM, para a realização uma nova modelagem (agora interativa), tomando-se as faces como referência (MAUCK; GEE, 2010);

lançamento do plugin ScanToBim (Imaginit Technologies), que possibilitou a importação direta da "nuvem de pontos" no Revit;

 possibilidade de importação direta da "nuvem de pontos" a partir da versão 2012 do Revit e do AutoCAD. Esse fato, junto ao desenvolvimento dos recursos de modelagem do módulo de criação de massas (Conceptual Mass), facilitou a criação de formas mais complexas dentro da própria plataforma Revit;

 surgimento de novos programas para processamento junto ao Revit, como o CloudWorks (Leica) e VirtuSurv (Kubit), bem como novas versões do Scan to BIM, com mais possibilidades para manipulação e modelagem sobre a "nuvem de pontos";  lançamento do Autodesk Recap Pro, para importação, manipulação e exportação de

"nuvens de pontos" para diversos programas, especialmente os da Autodesk.

Desses fatos, destacam-se a possibilidade de importação de "nuvens de pontos" diretamente no Revit e os plugins Scan to BIM e o VirtuSurv.

113

O termo Scan to BIM está associado também a um plugin da Imaginit Technologies e a uma empresa que gera modelos BIM a partir "nuvens de pontos".

O Scan to BIM permite modelar de modo semiautomático elementos construtivos como paredes, pilares, pisos e tubulações a trechos selecionados da "nuvem de pontos". Apresenta recursos que facilitam a visualização da "nuvem de pontos", permite a comparação entre o modelo BIM e a "nuvem de pontos", visando a detecção de interferências e a verificação da precisão do modelo gerado (através de gráficos ou planilhas com os valores dos desvios detectados).

Figura 103 - Visualização do modo de trabalho com o VirtuSurf: à esquerda realiza-se a seleção dos elementos construtivos sobre o panorama e à direta visualiza-se no Revit os elementos sendo modelados

Fonte: Disponível em: <http://www.kubit-software.com/CAD/Products/VirtuSurv/3D_Laser_Scanning_ VirtuSurv_Revit.php. Acesso em: 5 jul. 2014.

O VirtuSurf permite a modelagem dos elementos construtivos (como paredes, pilares, janelas e portas) a partir da seleção de pontos sobre o panorama gerado na varredura a laser. É um programa do tipo standalone, entretanto, trabalha integrado ao Revit desde 2013, apresentando uma interface de janelas (Figura 103) para visualização simultânea dos dois programas (VirtuSurf e Revit). A versão de 2014 permite a criação de famílias de componentes diretamente a partir da seleção de pontos sobre o panorama e possibilita a inserção de "nuvens de pontos" no editor de famílias do Revit, um avanço em relação aos outros plugins.

O Recap Pro permite importar "nuvens de pontos" em diversos formatos de arquivos, registrar diversas cenas, recortar trechos, apagar e limpar áreas selecionadas e exportar para formatos compatíveis com os programas da Autodesk. Seu uso é interessante, pois permite substituir, em muitos casos, a necessidade de programas para Engenharia Reversa, nas fases

de pré-processamento, que compreende tarefas como registro, limpeza e recorte da "nuvem de pontos".

Apesar desses programas acelerarem a modelagem, na medida em que apresentam uma série de recursos automatizados para associação dos elementos construtivos e visualização da "nuvem de pontos", eles limitam-se à utilização de famílias de componentes presentes na biblioteca do programa e não apresentam recursos para facilitar a modelagem de formas complexas e irregulares.

Figura 104 – Fluxo de trabalho com o GreenSpider: (a) "nuvem de pontos" de um trecho da edificação; (b) seccionamento da "nuvem de pontos"; (c) importação dos pontos com splines; (d) geração do modelo

paramétrico no ambiente de massa conceitual

(a) (b) (c) (d)

Fonte: adaptado de Garagnani e Manferdini (2013).

Garagnani e Manferdini (2013) propõem um novo método para facilitar a modelagem de formas complexas no Revit, conferindo maior precisão aos modelos gerados a partir de "nuvens de pontos". Eles apresentam algumas experiências realizadas com o plugin GreenSpider114, desenvolvido para o Revit visando superar a sua limitação de não permitir a seleção precisa (snap) de pontos específicos da "nuvem de pontos", e da exigência em se trabalhar com planos de referência para criar e/ou modificar os contornos dos objetos. O processo inicia-se com o seccionamento da "nuvem de pontos" através de planos paralelos em programas para Engenharia Reversa (Figura 104b), visando reduzir a quantidade de dados, mas, ao mesmo tempo, garantindo a precisão requerida. Para cada seção deve ser gerado um arquivo em formato ASCII. Com o GreenSpider, esses arquivos são importados no Revit no ambiente de modelagem de massa conceitual, visando sua visualização ou seleção

114

O GreenSpider pode ser baixado gratuitamente no website <http://www.tcproject.net/pivotx/?e=149>. Na versão atual é possível executar somente dois comandos: GSpoints, para importação dos pontos da nuvem, e o GScurves, para traçar uma curva do tipo spline a partir da conexão dos pontos.