Aspectos da relação entre identidade e qualidade da participação dos sujeitos

Buscaremos agora explicitar relações entre os traços identificados de subjetividade, sob o olhar da professora, e a qualidade do processo comunicativo de negociação de significados. Com essa finalidade, traremos alguns dados das participações, no Matemáticos Educadores, tendo em vista o princípio da identidade, que, segundo Wenger (1998), envolve a totalidade da pessoa – fazer, pensar, sentir e pertencer – e o compartilhamento de códigos de comportamento (D‟AMBROSIO, 1988) e de elementos da cultura mental – mentefatos (D‟AMBROSIO, 1986), no contexto da Educação Matemática.

A forma escolhida para essa abordagem foi a exposição e discussão de algumas de suas participações, no contexto da dinâmica de interações, no blog ou dele decorrentes, que visam à caracterização dos sujeitos dentro do processo de negociação de significados, durante EDCA-82, tendo em vista a Educação Matemática.

Acreditamos que a proatividade, a autoestima e o compromisso de Felipe Carlo foram determinantes para a criação técnica e para a primeira edição do blog, e na sua participação no processo de negociação de significados, amarrando decisões e tomando compromissos importantes ao sujeito coletivo.

Felipe Carlo inaugurou o Matemáticos Educadores com a seguinte chamada:

O INSTITUTO DE MATEMÁTICA REALIZA O XI ENCONTRO DE MATEMÁTICA.

O diretório Acadêmico de Matemática da UFBA congrega hoje uma média de 350 estudantes do curso. Observando o cotidiano e preocupados com a formação acadêmica, no ano de 1997, o DAMAT (Diretório Acadêmico de Matemática), em parceria com o Instituto de Matemática, criou o "Encontro dos estudantes da UFBA". A partir do III Encontro o nome do evento foi modificado para "Encontro de Matemática da

O compromisso de Júlio está expresso em sua contínua participação nas discussões virtuais e seu equilíbrio aparece em comentários que comunicam também um compromisso com a negociação de significados. A preocupação de Júlio, no blog, é com a prática docente, incluindo reflexões e indicações de estudos que contemplam as tendências contemporâneas da Educação Matemática. No mesmo sentido, Roberto é um grande responsável ao estabelecimento de relações entre quaisquer referenciais teóricos estudados e a prática docente.

As primeiras postagens de Júlio César e Roberto, respectivamente, são comentários sobre a segunda matéria do blog - Blog como recurso didático - que, sob nosso ponto de vista, denunciam diálogos com a teoria e relações coerentes ao processo pedagógico da disciplina:

Concordo plenamente, o contato do professor com o aluno não precisa ficar restrito simplesmente a um espaço físico (sala de aula). Antes devemos aproveitar os recursos tecnológicos para um aprofundamento nos estudos e como consequência, uma maior aprendizagem.

A cada momento histórico as vantagens da tecnologia vão abrindo mais as portas para a educação. Cabe a nós, professores conscientizados e em busca de uma melhor educação, explorar mais esta ferramenta, os blogs, de uma maneira segura e inteligente, procurando também com isto integrar os nossos alunos na nova era da educação digital.

Na mesma matéria, outros traços identitários podem ser identificados. Marcus Vinicius e Tâmara, por exemplo, em suas primeiras participações, já demonstraram interesses por questões teóricas da Educação Matemática e seus comentários, respectivamente, abaixo, já expressam facilidade para emitir opiniões, argumentar e produzir textos próprios, mas fundamentados:

A tecnologia educativa tem se tornado uma importante ferramenta para o desenvolvimento da educação brasileira e da integração entre alunos e professores. Sendo assim, acho extremamente válido o uso do blog como um meio de discussões pedagógicas, no qual cada um pode exprimir suas ideias e ampliá-las com o auxílio dos colegas, professores e visitantes.

O blog é um instrumento de democratização de idéias, de socialização dos nossos conhecimentos com pessoas do meio matemático e também com pessoas que não são do meio, mas que querem conhecê-lo. Ele nos permite estar perto e sempre em debate com outras pessoas e essa interação, não só do professor com seus alunos, mas também dos alunos com o mundo é muito interessante para o crescimento intelectual do individuo.

A participação de Fellipe Antônio como editor contemplou uma diversidade de subtemas da Educação Matemática, com uma abordagem provocativa, normalmente em dois sentidos: concordância e dúvida em relação ao outro (teórico ou colega), como em seu comentário

sobre a utilização do blog, abaixo. É esse comportamento investigativo, julgamos, que o coloca, hoje, no grupo dos estagiários, como recordista em número de postagens, muitas delas com interações muito importantes à nossa pesquisa.

Acredito que qualquer iniciativa que se proponha a encurtar distâncias e favorecer o diálogo é bem vinda. Muitas vezes os estudantes carecem de espaços onde possam se expressar, o professor por sua vez não consegue fazer em sala tudo que gostaria; o blog é para essas duas realidades (e para muitas outras) uma alternativa coerente: motivando estudantes e educadores a trocar experiências e construir saberes.

O blog pode tornar-se também um meio de manter-se "por dentro" de inúmeras informações que "o outro" se interessa, mas que nós não enxergamos; enfim o blog pode ser uma extensão da sala de aula, um espaço para além de uma realidade física.

O contraste entre a informalidade característica dos comentários, num blog, e algumas matérias acadêmicas de maior densidade parece que não intimidaram João Paulo, que utilizou de sua grande criticidade para brincar com conceitos e com teorias, motivando respostas e, consequentemente, provocando interações muito significativas ao nosso trabalho. Em mesma matéria, João Paulo emite sua opinião:

O professor deve utilizar o maior número de recursos possíveis com responsabilidade. A internet é uma ferramenta poderosa e faz parte do mundo das crianças e adolescentes, seja por meio de computador pessoal ou lan houses. Utilizar o blog como meio de comunicação de idéias, possibilita, ao professor, sair ainda mais do mundo sisudo que muitas vezes a sala de aula se torna. Trazer curiosidades, textos e informações divertidas sem sair do foco da disciplina. Acabou o reinado absoluto dos logs [referindo-se aos logaritmos] agora os blogs, flogs, fotologs podem fazer parte do ensino da matemática.

A participação de Adam, sob nossa avaliação, demonstra a importância de suas reflexões pessoais em relação ao processo comunicativo do blog, e de ambas ao processo pedagógico da disciplina, sempre com visível interesse por tendência da Educação Matemática. Inaugurou sua participação, no Matemáticos Educadores, com uma edição própria, muito breve, somente indicativa de um site de jogos antigos, mas a primeira a gerar efetivamente reações emocionais, no grupo de estagiários. Seu comportamento provocador não aparece necessariamente nas edições de sua autoria, mas nos comentários às edições dos demais blogueiros, onde expressa claramente suas reflexões e seus interesses em discussões e aprofundamentos teóricos, como por exemplo, nessa edição sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN:

No que diz respeito ao ponto matemática e construção da cidadania, o que me fez refletir foi: como a Matemática pode dar ao indivíduo a condição do mesmo elaborar estratégias. Se possível professora, toque neste ponto nas próximas aulas. [...]

Elaine, conforme mencionado anteriormente, participou pouco ativamente da construção do blog, mas, segundo a professora, utilizou de um número considerável de seus referenciais à sua prática pedagógica, no estágio, e às suas produções acadêmicas. Podemos perceber, por exemplo, no trabalho acadêmico de sua coautoria sobre o estágio supervisionado, em uma de suas falas sobre sua própria formação, a expressão clara de sua preocupação com a prática orientada teoricamente:

[...] nessa teoria pedagógica, vão estar incluídos os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes Curriculares, que regem a nossa formação (...) a prática sem a teoria seria uma prática vazia: fazer a matemática só por fazer, ensinar só por ensinar, e aonde é que queremos chegar?. (SOUSA et al, 2009, s/p).