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Aspectos relevantes da formação dos especialistas que contribuíram para o

CAPÍTULO III A LEITURA À PRIMEIRA VISTA NA ÓTICA DE

3.2 A leitura à primeira vista na formação e profissionalização dos

3.2.1 Aspectos relevantes da formação dos especialistas que contribuíram para o

A iniciação musical e no violão

No capítulo anterior foi problematizado como a forma que se inicia na música e no violão pode influenciar na habilidade da leitura à primeira vista. Questões como a idade, motivações, influência de parentes, abordagem de professores, entre outros, podem ser fatores pertinentes a essa questão. A partir dos testemunhos, vejamos como estes aspectos estiveram presentes na formação e carreira de violonistas especialistas.

O meu início em música foi muito incerto, foi muito descontínuo. Eu não me lembro de como eu aprendi a ler música, eu me lembro de olhar (...) os cadernos de música da minha irmã, e ela ainda pegou o finzinho da Era do

canto orfeônico, então ela tinha aula de música obrigatória na escola e na

época, que me lembro muito claramente dos cadernos dela, ela deveria ter uns doze ou treze anos, e eu deveria ter uns sete [...]. Eu gostava de ouvir música e me lembro de aprender a ler música por aquele caderno, eu não sei como, eu só sei que foi por ali que eu aprendi a ler notas, ler valores [de duração], essas coisas. E era meio assim, eu via música escrita e ouvia a música, e eu relacionava uma coisa com a outra [...]. Eu queria aprender a ler música. Para mim o status era ter uma partitura e entender. (Fábio Zanon). Houve um fator na minha formação inicial que foi o fato de eu ter estudado piano, algo como, seis, sete anos de idade por tradição familiar do lado da minha mãe – a mãe dela era professora de piano e pianista profissional – que, apesar de ter estudado conta sua vontade, chegou a tocar bem, peças de nível intermediário. Eu sentia facilidade, talvez, pela relação matemática [...] nessa fase aos seis, sete, e oito anos, quando se começa a estabelecer conexões [...]. Comecei a tocar violão clássico com dezessete (Nicolas de Souza Barros).

A iniciação na música começou muito cedo. Na minha casa se escutava muita música clássica, então eu cresci ouvindo. No violão (...) meu pai estudou uma época e tocava, tinha instrumentos em casa, e se deu a casualidade que tinha alguém disponível por perto que estudou com Segovia [...] Tenho um irmão gêmeo que começou junto. Comecei aos sete anos, mas não levava muito a sério, depois, aos dezesseis eu retomei os estudos (Eduardo Fernández).

Tenho o violão desde cedo na minha vida porque minha família tocava música popular, então comecei muito pequeno. Com quatro anos já tocava

música popular, mas a questão da leitura começou aos dez anos (Mario Ulloa).

Eu iniciei no violão e na música simultaneamente, desde terna idade, muito criança ainda, indo regularmente às aulas de violão uma vez por semana. Eu tinha oito anos e meio, quando iniciei (Eduardo Meirinhos).

Eu primeiramente estudei e toquei violino (a partir dos oito anos, e durante um longo tempo), e comecei no violão mais tarde, aos quatorze, aproximadamente. De início para me divertir, tocar o popular, canções. Aprendi a entender a música lida ao mesmo tempo em que tocava, por causa do violino, no qual é impossível tocar sem escutar os intervalos e a afinação (Caroline Delume).

Esses comentários revelam que a iniciação precoce na música, tal como na linguagem, pode proporcionar uma melhor fluência na leitura de partitura, bem como motivações próprias para se engajar no estudo, influência positiva de familiares e ter essa iniciação ocorrido inicialmente em outro instrumento.

Estudos e profissionalização como violonista

A continuação dos estudos no violão mostrou caminhos diferentes na formação musical de cada um, mas é possível observar interesse inicial por buscar conhecimentos não apenas técnico-instrumental, como relatam:

Depois de ver o Antônio Guedes tocando, nós [ele e o pai] ficamos chocados com o que o violão poderia fazer, e ele [pai] falou para ter aulas. Comecei tendo aula particular, mas o Guedes fazia aula de um jeito muito curioso. Ele dava aula, naquela ‘horinha’, passava lição, dava dever de casa, conferia tudo o que você fazia, mas isso era num sábado à tarde e a gente chegava lá, tipo umas duas da tarde, e ficava até umas seis. Então eu tinha aula com ele, mas eu assistia às aulas dos outros, e daí se ele tinha um aluno mais iniciante; ele pedia para a gente dá uma força ali e tomar a lição do outro aluno enquanto ele trabalhava com um mais adiantado [...]. Daí eu entrei na USP para composição [curso superior], porque na época não existia violão [curso superior]. No nosso terceiro ano começou o bacharelado em violão e eu fiz o bacharelado, mas daí eu assistia às aulas de regência e algumas de composição como ouvinte (Fábio Zanon).

Aos dezesseis anos decidi que queria levar a sério [o estudo do violão]. Comecei a estudar música a sério e terminei estudando com Santórsola, que não era violonista nem professor de violão, era compositor, regente e tocava viola também. E muito rapidamente me dei conta que o que eu queria fazer, ou o que Santórsola me indicava, não conseguia fazer tecnicamente, porque não tinha ensino para tal. Então fui estudar com Abel Carlevaro também, simultaneamente, e estudei com os dois por uns cinco anos. [Com] Carlevaro quase cinco e Santórsola sete anos (Eduardo Fenández)

Fiz seis anos de conservatório, entrei na faculdade, na universidade e terminando a universidade consegui bolsa do Governo Alemão e passei uns quatro anos e meio na Alemanha, estudando num conservatório [...]. E depois voltei e fiz também o curso de música Barroca, e também fiz cursos com outros professores que não faziam parte do currículo (Mario Ulloa). Aos quinze anos de idade eu entrei no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, tive algumas aulas com Isaias Sávio. Estudei com o Henrique Pinto por algum tempo, e eu fui para a Alemanha, década de 80, e lá eu frequentei a Musik Hochschule [...]. Eu acredito que minha formação na Europa foi decisiva, assim, para que eu encarasse a vida profissional de uma forma um pouco mais racionalizada [...]. Como eu não tive, na época, o reconhecimento em nível de mestrado reconhecido no Brasil, eu fiz um novo mestrado na USP. E minha qualificação mais recente é o doutorado na Florida State University nos Estados Unidos (Eduardo Meirinhos).

Este último violonista, Eduardo Meirinhos, ainda complementa com uma questão pertinente à profissionalização, que denota a importância do “professor-promotor”, muitas vezes implícita na formação:

Bem, na verdade, a gente vai ter que definir o que é ser profissional. É a partir do momento em que você começa a ganhar dinheiro com música? Ou ser profissional é a partir de certo nível que você começa a tocar ou exercer sua profissão, e que nível é esse? Na verdade, minha preparação para a vida profissional foi muito com o Henrique Pinto, por que na época quando estudei com ele, ele, em São Paulo, me punha para tocar em muitas cidades do interior de São Paulo. Toquei muito em São Paulo, e MASP, conservatórios diversos por ali. Participei de concursos, ganhando uns, perdendo outros. Quer dizer, a gente pode considerar essa fase uma preparação para vida profissional, muito embora, o elemento de exercício da vida profissional já está lá, que é subir no palco com o violão e tocar, fazer concerto, acho que é isso (Eduardo Meirinhos).

Outras práticas dentro da formação

Alguns destes violonistas relataram o estudo e atuação acerca de outras disciplinas da música, que possivelmente contribuam para uma formação mais holística e versátil do músico e possivelmente, com a aptidão para a habilidade da leitura à primeira vista.

[...] trabalhei como regente de coral. [...] eu fiz regência como segundo estudo (Fábio Zanon).

[…] Depois eu fiz estudos de composição, também em [aula] particular com Héctor Tosar, e, como compositor, fui a vários seminários dado por compositores estrangeiros de todo lugar [...].(Eduardo Fernández).

Tive uma formação que vai um pouco além do violão e também um pouco além só dessa música, que chamam música de ‘concerto’. Participava de

cursos, de masterclasses com outros professores [...]. Bom, isso também no sentido de que eu participei de muitos eventos com outros músicos, muitas músicas de diversos tipos com vários músicos. Tenho tocado também muito músicas populares (Mario Ulloa)