CP III CEM III/B 20-
3.3 – ASPECTOS REOLÓGICOS
O tempo requerido de manutenção da consistência e da auto- adensabilidade depende do tempo necessário para o transporte e o lançamento, bem como da temperatura do concreto. Estes requisitos devem ser determinados e especificados e o CAA deve manter as propriedades requeridas no estado fresco durante esse período.
Segundo Alencar (2009), as características requeridas para o concreto auto - adensável no estado fresco dependem da aplicação e,
dos elementos de concreto; Quantidade e tipo de armadura, incluindo a presença de insertes, quando for o caso; Equipamentos disponíveis para moldagem (tipo bomba ou caçamba) e dos métodos de moldagem; Importância do acabamento.
A classificação da consistência para o concreto auto - adensável é dada segundo o nível de: Espalhamento; Viscosidade; Habilidade passante; Resistência à segregação.
Verifica-se que a relação água/cimento (a/c) influencia algumas características do concreto tais como: Menor relação água/cimento conduz a maior resistência à compressão axial; maior resistência à tração na flexão; maior resistência à abrasão; maior módulo de elasticidade; maior durabilidade; menor porosidade; menor retração; menor exsudação/segregação (Vaquero y Mayor, 2009).
Alencar (2008) chamou a atenção de que, para compreender melhor os fundamentos da reologia, é necessário entender a diferença entre materiais sólidos e líquidos. Conceituam-se fluidos ideais, líquidos e gases, como aqueles que se deformam irreversivelmente, onde a energia necessária à deformação se dissipa em forma de calor, não se recuperando após a eliminação da tensão aplicada. Já os sólidos ideais se deformam elasticamente, recuperando a energia ao se eliminar a tensão aplicada. Para a deformação nos sólidos tem-se a tensão de cisalhamento obtida dividindo-se a força pela área, onde N
(Newton) / m2 = Pa (Pascal). Para os líquidos a tensão de cisalhamento
provoca gradiente de velocidade de deformação ou taxa de deformação, velocidade (m/s) / distância (m) = 1/s. A tensão de cisalhamento e a
taxa de cisalhamento são obtidas através de ensaios experimentais com
utilização de viscosímetros ou reômetros. O concreto endurecido é um exemplo de material que apresenta características de sólido elástico e de líquido viscoso, sendo denominado viscoelástico.
Segundo Camões (2003), constatou-se que a tensão de cisalhamento (δ) exercida entre dois planos paralelos do fluido é proporcional à taxa de cisalhamento (γ) verificada numa direção perpendicular ao escoamento. Então, o fator de proporcionalidade
entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento é designado por viscosidade (η).
η (Pa.s) = σ (Pa) / γ (1/s) (equação 3.1)
Nos aspectos reológicos, o comportamento de um fluido que satisfaça essa proporcionalidade pode ser chamado de Newtoniano e é caracterizado pelo parâmetro viscosidade.
Daí, quanto maior a viscosidade, maior sua resistência ao escoamento, ou seja, menor é a taxa de deformação. Assim, identifica-se diferença entre um concreto facilmente trabalhável e outro “pegajoso”, difícil de ser bombeado e apresentando “bolhas” na superfície, segundo Alencar (2008). As Figuras 3.14 e 3.15 apresentam exemplos de gráficos para fluidos, denominado curva de fluxo, para definir seus comportamentos reológicos.
Figura 3.14: Líquido Newtoniano,
curva de fluxo (Alencar, 2008) Figura 3.15: Comparativo curvas de fluxo CC e CAA (Alencar, 2008)
Camões (2003), citando Ferraris (1999) sobre as expressões mais frequentemente utilizadas para caracterizar o comportamento reológico de fluidos e suspensões, concluiu que, salvo para os líquidos Newtonianos, foram utilizados pelo menos dois parâmetros para descrever a reologia dos fluidos. No caso, vamos nos fixar na equação proposta por Bingham que incorpora um segundo fator caracterizador
é necessária ultrapassar para que se inicie o escoamento.
A tensão de escoamento está relacionada com o espalhamento,
de forma que quanto maior σ0, menor a fluidez e vice-versa, porque
o concreto terá mais dificuldade para iniciar seu escoamento, o que representa redução de trabalhabilidade. O concreto auto - adensável
deve ter um valor pequeno ou nulo de σ0, de forma que se comporte
aproximadamente como um fluido Newtoniano (Alencar, 2009). Assim, reitera-se que o concreto fresco pode ser representado pelo modelo de Bingham – não flui até que a tensão aplicada supere um
valor mínimo (σ0).
O Guidelines for Viscosity Modifying Admixtures for Concrete
(EFNARC, 2006), indicou que o ponto de escoamento descreve a força necessária para o inicio da movimentação do concreto. Ele está relacionado com a trabalhabilidade do concreto e pode ser avaliado através de ensaios de abatimento (slump) para CC e escoamento (slump
flow) para CAA. Já a viscosidade plástica descreve a resistência do
concreto para fluir devido a esforço externo. A viscosidade é causada por atrito interno. A velocidade do fluxo do concreto está relacionada com a viscosidade plástica conforme mostrado esquematicamente na
Figura 3.16, e pode ser avaliada pelos ensaios t500 e slump flow ou pelo
tempo para fluir através do ensaio do funil V (V Funnel).
Figura 3.16: Desenho esquemático da velocidade do fluxo do concreto
(EFNARC, 2006).
Elevada viscosidade acarreta baixa velocidade da fluência
Desnerck (2012), em Properties of fresh self-compacting concrete
mixes, abordando a reologia do concreto, indica que para o concreto
fresco a mistura apresenta fluidez e, para o concreto endurecido, apresenta deformação plástica e fluência. Entende-se que o concreto simples é um material compósito, formado pelos agregados e a pasta, que, por sua vez, é formada pelo cimento + possíveis adições + água. Então, no estado fresco, considera-se trabalhabilidade como interação entre pasta e agregados. Assim, a aplicação da reologia ao concreto representa um desafio, onde as progressivas alterações físico-químicas dependem do tempo.
Como pressupostos básicos para a descrição de material por meio de equações / modelos reológicos, Desnerck nos apresenta materiais homogêneos de uma composição uniforme, material isotrópico e materiais contínuos, ou seja, sem apresentar descontinuidades. Assim, indaga-se se essas suposições válidas para o CC são também válidas para o CAA.
Assim, Desnerck (2012) nos apresenta as Figuras 3.17 a 3.20, contendo representações gráficas do comportamento de fluidos para estudo do comportamento reológico do CAA fresco.
A Figura 3.17 apresenta a curva de fluxo para fluido de comportamento newtoniano, onde uma medição permite determinar a viscosidade. A Figura 3.18 apresenta a curva de fluxo para líquido de comportamento não newtoniano, onde uma medição não é suficiente para determinar a viscosidade, utilizando-se o modelo reológico proposto por Bingham. A Figura 3.19 chama a atenção para a viscosidade aparente. A Figura 3.20 apresenta alguns modelos reológicos propostos, dentre os quais o de Bingham, mais usualmente adotado.
Figura 3.17: Comportamento
Newtoniano (Desnerck, 2012). Figura 3.18: Comportamento não Newtoniano (Desnerck, 2012).
Figura 3.19: Viscosidade aparente
(Desnerck, 2012). Figura 3.20: Modelos reológicos (Desnerck, 2012).
Comportamento Newtoniano Comportamento não-Newtoniano
Viscosidade plástica Uma medição
permite determinar
η Uma medição não é suficiente para
determinar relação
Viscosidade plástica Viscosidade aparente
Comportamento não-Newtoniano - viscosidade Reologia - modelos