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CAPÍTULO 2: VELHICE: RETRATAR PARA COMPREENDER

2.1 Aspectos sociodemográficos do envelhecimento

Uma análise sociodemográfica do envelhecimento considera dimensões como: aspectos culturais, aspectos no perfil demográfico, aspectos de escolaridade, aspectos familiares, aspectos de gênero, aspectos de nupcialidade, aspectos de seguridade social dentre outros.

Ao observarmos os aspectos culturais em torno do envelhecimento vemos que a família constitui-se em um espaço de troca de valores culturais intergeracionais. Muitas famílias partilham da convivência multigeracional, ou seja, a vivência de várias gerações em um mesmo domicílio ou em espaços diferenciados. Tal realidade favorece o exercício da avosidade. Para Goldfarb e Lopes (2006) a continuidade da cultura do grupo familiar relaciona-se com a convivência intergeracional. A avosidade é compreendida como uma relação estruturante para a ocorrência de uma relação de identificação entre os sujeitos do núcleo familiar.

A vivência da intergeracionalidade é possível devido ao crescimento relativamente mais elevado do contingente idoso, que é resultado de altas taxas de crescimento, em face da alta fecundidade prevalecente no passado, comparativamente às atuais reduções da

mortalidade e diminuição da fecundidade, que possibilitam a convivência de diferentes gerações no mesmo domicílio. Enquanto o envelhecimento populacional implica em mudanças na estrutura etária, a queda da mortalidade é um processo que se inicia no momento do nascimento e altera a vida do indivíduo, as estruturas familiares e a sociedade, conforme apontado por Camarano (2006).

Acerca do padrão etário da fecundidade a análise realizada pelo IBGE (2012) apontou que a tendência observada no Brasil até o ano 2000 era de um rejuvenescimento do padrão da fecundidade, indicado pelo aumento da concentração nas idades mais jovens dentro do período fértil. Na última década foi observada uma reversão desta tendência, já que os grupos de mulheres mais jovens, de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos de idade, que concentravam 18,8% e 29,3%, respectivamente, da fecundidade total, passaram a concentrar 17,7% e 27,0%, respectivamente, em 2010. O grupo de mulheres de 20 a 24 anos de idade ainda representa mais de ¼ da fecundidade brasileira, mas o padrão, em 2010, já se mostrava mais dilatado do que foi observado com os resultados do Censo Demográfico 2000. Ao mesmo tempo, para os grupos de mulheres acima de 30 anos de idade, observa-se um aumento dessa participação relativa.

Para compreendermos como está o padrão de fecundidade na Região Centro-Oeste (região que engloba a unidade da federação estudada), buscou-se informações do IBGE (2012) que apontou que a idade média da fecundidade apresentou comportamento semelhante ao do Brasil, passando de 25,2 anos para 26,4 anos, com o maior envelhecimento do padrão da fecundidade do território nacional.

A composição demográfica da população idosa brasileira Camarano (2006) é perpassada por aspectos sociais do envelhecimento que estão relacionados à mortalidade, renda, arranjos familiares, dentre outros aspectos. A autora discute aspectos de grande relevância para a leitura do processo de envelhecimento da população brasileira, a exemplo do processo de feminização da velhice, do perfil socioeconômico desta população. Esta foi diretamente impactada pela universalização da seguridade social brasileira, e por novos arranjos familiares presentes na sociedade brasileira.

Observa-se que a demografia da população brasileira é marcada por uma mudança na composição da pirâmide etária. Por décadas viveu-se em uma sociedade de jovens, todavia atualmente assistimos ao envelhecimento acelerado da população brasileira. Camarano (2006) – em sua análise – considera três dimensões das condições de vida da população idosa. Situa- se o envelhecimento relacionado aos aspectos familiares contemporâneos, à situação de saúde

das pessoas idosas, à situação de mortalidade e aos rendimentos disponíveis às pessoas que envelhecem. Nos gráficos abaixo se pode observar a composição da pirâmide etária da população do Distrito Federal em décadas diferentes. Estas contêm informações sobre sexo e idade.

Gráfico 1 - Representação gráfica da população por sexo segundo os grupos de idade no

Distrito Federal – 1980

Gráfico 2 - Representação gráfica da população por sexo segundo os grupos de idade no Distrito Federal - 2010

Fonte: IBGE, 2010

O IBGE (2010) mostra dados numéricos em relação às pessoas com 60 anos ou mais. Estas correspondendo ao valor de 197.613, enquanto as pessoas de 0-4 anos somam 189.080, ou seja, em 2010 o número de idosos já é superior ao número de crianças pequenas. Tal fato indica uma tendência de inversão da base da pirâmide etária.

O gráfico 1 traz a composição etária da população brasileira em 1980. Nota-se uma população predominantemente jovem, com base estreita, com zona central mais alargada que a base.

A pirâmide apresentada no gráfico 2 apresenta uma base estreita, com sua zona central tão larga quanto a base, apontando uma quebra na taxa de natalidade, conforme apontado pelos dados do IBGE (2010). O topo do gráfico é estreito em relação à base. Pode-se observar também uma maior diferença na composição por sexo nas faixas etárias de 25 a 39 anos e

entre a população idosa na faixa e 65 a 79 anos. Há uma diminuição da natalidade, e uma diminuição do crescimento natural, porém apresenta aumento da esperança média de vida dos habitantes do DF.

Ao comparar as duas pirâmides, observa-se que com o crescimento da expectativa de vida, gera-se um deslocamento das faixas etárias que estão no meio da pirâmide para as faixas etárias localizadas no topo da pirâmide. Por conseguinte, a população demanda cada vez mais serviços sociais específicos para quem envelhece. Principalmente, nas áreas de saúde, previdência e assistência social.

As alterações na composição etária da sociedade brasileira e os novos arranjos familiares estão fortemente associados a dificuldades sociais e familiares no fornecimento de apoio econômico, físico e psicológico a idosos dependentes e fragilizados. (GOLDSTEIN; SIQUEIRA, 2000, p. 120)

Dados referentes ao Censo Demográfico e Contagem da População realizado pelo IBGE em 2010, apontam que no Brasil existem 20.590.597 (vinte milhões, quinhentos e noventa mil e quinhentos e noventa e sete) idosos. Destes 11.434.486 (onze milhões, quatrocentos e trinta e quatro mil e quatrocentos e oitenta e seis) são mulheres idosas, ou seja, 55,53 % da população idosa. A tabela abaixo traz o número de homens e mulheres idosos, por grupos de idade.

No Distrito Federal existem 197.613 (cento e noventa e sete mil, seiscentos e treze idosos), com 43% de homens idosos e 57 % de mulheres idosas.

Tabela 1 – Percentual de homens e mulheres idosos distribuídos por idade no Brasil e no Distrito Federal – 2010

Brasil e

UF Sexo 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 a 89 anos 90 a 99 anos 100 anos ou mais Brasil Homem 14,77 10,80 8,10 5,30 4,76 0,71 0,04 Mulher 16,84 12,71 10,07 7,15 7,32 1,35 0,08 Distrito Federal Homem 15,63 10,71 7,97 4,50 3,66 0,50 0,03 Mulher 19,78 13,62 10,07 6,28 6,13 1,06 0,07

Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2010

A tabela acima mostra que no Brasil há uma maior predominância de mulheres e homens idosos na faixa etária de 60 a 64 anos, sendo maior o número de mulheres na mesma faixa (16,84%). No Distrito Federal, a concentração também é maior entre as mulheres na

mesma faixa etária com percentual superior ao nacional (19,78%). Em todas as faixas etárias, entre os idosos, há um número maior de mulheres idosas, em relação aos homens da mesma faixa etária.

Ao observarmos a distribuição de mulheres idosas nas áreas urbanas e rurais brasileiras nota-se uma predominância de mulheres residentes em áreas urbanas, com 97,69% das idosas. O perfil das mulheres idosas no DF é similar ao perfil nacional caracterizado no gráfico 2, havendo maior concentração populacional nas faixas etárias de 60 a 64 anos, totalizando 34,70 % das mulheres e 36,35 % dos homens idosos do DF. O número de mulheres idosas aumenta em relação ao número de homens quando observamos as idades mais avançadas, a partir dos 75 anos de idade. Conforme explicitado na tabela 2:

Tabela 2 – Representação gráfica por faixa etária das mulheres residentes em domicílios particulares na Região Centro – Oeste (2010)

Faixa etária % 60 a 64 anos 33,75 65 a 69 anos 23,60 70 a 74 anos 17,88 75 a 79 anos 11,66 80 a 84 anos 7,40 85 a 89 anos 3,65 90 a 94 anos 1,48 95 a 99 anos 0,47 100 anos ou mais 0,11

Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2010

No Distrito Federal, concentram-se 38,43 % das mulheres idosas da região Centro- Oeste e 2,14% das mulheres idosas brasileiras, de acordo com os dados do IBGE (2010). Há uma maior concentração entre as mulheres idosas na faixa etária de 60 a 69 anos, na região centro oeste, totalizando 57,35% de mulheres idosas nessa faixa etária no DF.

Um fator importante para compreender o acesso aos direitos fundamentais destas mulheres ao longo de sua vida é a escolaridade. A escolaridade dos idosos brasileiros é ainda considerada baixa. De acordo com os dados da PNAD (2009), 30,7% das mulheres idosas tinham menos de um ano de instrução. O nível educacional reflete o não-acesso a educação formal por parte das mulheres há décadas atrás.

Podemos observar que no Distrito Federal 13,9% da população idosa é analfabeta. Trata-se do terceiro menor percentual de analfabetismo do país. O menor percentual de

analfabetismo entre a população idosa está presente no estado do Rio de Janeiro (PNAD, 2009). Contraditoriamente, o Rio de Janeiro é o estado que apresenta a maior desigualdade escolaridade/sexo entre a população idosa brasileira.

A relação entre analfabetismo e sexo (PNAD, 2009) aponta o Rio de Janeiro com a maior parte dos idosos analfabetos do sexo feminino (70,4 %) e 29,6 % do sexo masculino. Apresentando a pior relação sexo e escolaridade no Brasil. No outro extremo temos o estado do Acre com: 45,8% das mulheres idosas não-alfabetizadas e, 54,2% dos homens idosos na mesma situação.

O Distrito Federal está na 21ª posição quando se analisa a desigualdade entre sexo e escolaridade em todas as Unidades da Federação. No DF, 60,7% das mulheres idosas são analfabetas em contraposição aos 39,3% dos homens idosos analfabetos. Os dados gerais sobre a escolaridade das pessoas idosas não refletem a desigualdade existente entre os sexos, tendo em vista que no Brasil há um contingente maior de mulheres idosas que de homens na mesma faixa etária.

Gráfico 3: Percentual de Analfabetismo em relação à população idosa por UF – 2009 10,5 13,5 13,9 16,3 17,2 17,9 21,8 27,9 28,3 29,4 30,5 34,5 35,0 37,9 38,4 39,6 42,2 43,0 46,0 47,0 47,5 47,8 47,8 52,2 53,0 54,5 56,9 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 RJ RS DF SC SP AP PR MG ES MS AM GO RR PA MT RO SE PE BA RN CE TO PB AC PI MA AL Percentual de Analfabetos

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - 2009

Outro fator de suma relevância para a compreensão da velhice são os aspectos familiares. A análise do contexto familiar na sociedade pós-moderna insere o idoso em novos formatos e distribuição de eventos demográficos como: casamentos, maternidade, divórcios e tipos de unidades domésticas, (GIACOMIN, 2012). Tais eventos são caracterizados pelos dados do IBGE.

Observa-se que a grande maioria dos idosos do sexo masculino chefia as suas famílias, proporção esta que não se alterou ao longo do tempo. Manteve-se ao redor de 90%. Também observou - se que as famílias brasileiras que tem pessoas idosas em sua composição estão em melhor situação financeira. (CAMARANO, 2006)

Os dados da Síntese de Indicadores Sociais – SIS (IBGE, 2010) fornecem subsídios para a análise do perfil socioeconômico e familiar deste segmento populacional. Eles apontam que na população idosa brasileira as mulheres são a maioria (55,8%). O estudo indica que 64,1% dos idosos ocupavam a posição de pessoa de referência no domicílio.

A organização familiar é impactada pela renda dos domicílios que as pessoas idosas residem. Das famílias com idosos, pouco menos de 12% viviam com renda domiciliar per capita de até ½ salário mínimo e cerca de 66% das pessoas idosas residentes já se encontravam aposentadas. Este dado aponta a importância do acesso à seguridade social das pessoas idosas, especificamente o acesso à política de previdência social.

Ao analisar a composição das famílias com pessoas idosas identifica-se um crescimento do número de famílias chefiadas por mulheres. Tal fenômeno é observado não só nas famílias chefiadas por mulheres jovens e adultas, mas também por mulheres idosas. Dados do IBGE (2007) apontam que no Brasil existem 2.646.041 famílias chefiadas por mulheres idosas, sendo 165.309 (6,26 %) na região centro-oeste brasileira. Ocorre uma concentração maior entre as idosas na faixa de 60 a 64 anos. Este dado reflete na importância das pessoas idosas para a composição dos rendimentos e arranjos familiares.

Tabela 3 – Percentual de mulheres idosas responsáveis pelo domicílio que residem de acordo com os dados do IBGE/2007

Idade Brasil e Grande Região Brasil Centro-Oeste 60 a 64 anos 27,53 31,65 65 a 69 anos 24,33 25,95 70 a 74 anos 19,40 19,01 75 a 79 anos 14,54 12,71 80 anos ou mais 14,19 10,68 Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2007.

Sobre a situação de rendimentos da população idosa brasileira os dados do IBGE (2000) apontaram que o Distrito Federal e o Rio de Janeiro apresentaram os maiores rendimentos médios por idosos do Brasil (R$ 1.796,00 e R$1.018,00, respectivamente) em 2000, sendo o Distrito Federal a unidade da federação com o maior rendimento médio.

Tabela 4 – Percentual de pessoas idosas por condição de atividade e de ocupação de acordo com os dados do IBGE/2010

Condição de atividade e condição de ocupação

Faixa etária Economicame nte ativas Economicamente ativas - ocupadas Economicamente ativas - desocupadas Não economicamente ativas 60 a 64 anos 12,50 12,12 0,39 14,60 65 a 69 anos 6,12 6,00 0,12 12,77 70 anos ou mais 4,59 4,49 0,10 26,20

Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2010.

As informações sobre a condição de atividade e ocupação dos cidadãos idosos apresentadas pelo IBGE (2010) trazem elementos sobre os reflexos da universalização da seguridade social no Brasil. Os dados apontam que na análise de ocupação das pessoas idosas a maioria deste grupo está na categoria de não economicamente ativo com 53,6%. Encontra partida 23,21% dos idosos encontram-se economicamente ativos.

O estudo realizado pelo IBGE em 2000, voltado para a identificação do perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil, apontou que os idosos têm na aposentadoria o principal componente da renda (54,1%), enquanto o rendimento do trabalho respondeu por apenas 36%. Já entre as mulheres idosas, aproximadamente 80% da renda referiram-se aos rendimentos de pensão e aposentadoria, indicando a relação entre a viuvez e a composição dos rendimentos das mulheres idosas.

Ao analisarmos os rendimentos por sexo, observou-se que no Distrito Federal apenas 30% das mulheres idosas contam com alguma fonte de rendimento de acordo com os dados do IBGE (2010). Estes dados indicam a pauperização deste segmento populacional, à medida que se analisa as implicações da feminização da velhice em termos sociais, dado que grande parte das mulheres são viúvas, dispõem de baixos rendimentos, vivem sozinhas e nunca tiveram uma inserção formal no mercado de trabalho, além de não dispor de uma e educação formal.

As mudanças no perfil demográfico da população brasileira apontam que se deve examinar a velhice e o envelhecimento populacional como uma tendência que afeta a organização da sociedade e das famílias, seus rendimentos, arranjos, modo de organização

dentre outras dimensões. Tais mudanças impactam diretamente no modo como a sociedade brasileira está organizada. Relacionando-se aos aspectos sociais do envelhecimento.

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