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3 CARACTERIZAÇÃO DA APA DO RIO CURIAÚ: AMBIENTE, SOCIOECONOMIA E CULTURA

3.2 ASPECTOS SOCIOECONOMICOS

A dimensão econômica das comunidades é baseada na criação de gado (bovino [Bos taurus taurus] e bubalino [Bubalus bubalis]), agricultura de subsistência (produção de farinha de mandioca [Manihot esculenta Pohl], hortaliças, melancias [Citrullus lanatus (Thunb.)] e

maracujá [Passiflora edulis]), extrativismo animal (principalmente a caça) e vegetal (coleta do açaí e extração de madeira), pesca e turismo (AMAPÁ, 2010a; ATLAS, 2008; BRITO; DRUMMOND, 2007; TRINDADE, 1999; QUEIROZ, 2007). Embora muitos residentes também prestarem serviços na zona urbana de Macapá, a característica produtiva fundamental das comunidades são as atividades primárias com a finalidade de subsistência (em sua maioria).

Ultimamente esta característica fundamental tem competido com a existência de mecanismos mercadológicos de sobrevivência novos. Aumentaram desordenadamente o número de bares, restaurantes e pequenos comércios dentro da APA.

Mas não é o que estou lhe dizendo, as pessoas vive de bar, é casa noturna. É difícil meu amigo. As pessoas não fazem mais farinha, mas só querem viver de bar. Quando é fim de semana, noite, segunda feira o caboco vai traz duas caixas de tatuzinho, uma caixa de coisa, duas caixinhas de cerveja, coloca aí, aí passa o resto da semana todinha com a mão no queixo, esperando quem vai comprar. Ainda acha quem compra. Então, não fácil não meu amigo. (Joaquim Araújo da Paixão, 69 – Entrevista cedida em 03/07/2012)

Pelas argumentações acima é perceptível o reconhecimento do processo de perda dos costumes tradicionais. Por isso, é bastante visível nesta UC os enclaves territoriais que representam esta dinâmica, enquanto que na paisagem também é possível detectar o contraste socioespacial, por exemplo, entre a casa de farinha, locus de produção aos moldes tradicionais, e o bar, o qual, na parte das vezes, funciona como casa de shows.

A potencialidade turística engendrou por parte do poder público algumas ações de infraestrutura, tais como: o asfaltamento da rodovia do Curiaú (AP 070); a construção de um deck panorâmico acoplado com espaço para restaurante; loja de artesanato e adequação de um salão de beleza afro. O Centro de Cultura Local foi concebido para amostra da cultura das comunidades afro-descendentes, bem como o Espaço de Múltiplo Uso, equipamento turístico que permite a realização das manifestações culturais. Além da instalação de guaritas de apoio e fiscalização ambiental e placas de sinalização turística.

Ainda, segundo dados do Plano de Manejo, a População Economicamente Ativa (PEA) da APA tem a agricultura como principal fonte de renda, seguida do emprego no funcionalismo público e dos benefícios previdenciários – a renda média mensal por família não ultrapassa dois salários mínimos. De acordo com Brito (2003, p. 106), as condições sociais na APA são afetadas principalmente pelos problemas na educação e na saúde:

[...] as condições de educação nas seis comunidades são precárias, inclusive pela carência de professores e pelas dificuldades de acesso das crianças à escola [...] a saúde é mais grave. Em toda a APA existe apenas um posto de saúde, porém as condições de atendimento são péssimas, já que não existem médicos nem remédios.

Os níveis de escolaridade aprofundam tais preocupações (AMAPÁ, 2010a), pois, não chegam a oitono total da população, por exemplo, o número de pessoas com graduação.

No que diz respeito à posse da terra, a APA também enfrenta problemas graves, uma vez que, as terras reservadas às comunidades locais estão se reduzindo a pequenos aglomerados, imprensados por empreendimentos e propriedades particulares. A expansão da malha urbana cresceu, sobretudo, após a implantação da Zona de Livre Comércio de Macapá e Santana que, além do aumento da especulação imobiliária, propiciou a ocupação e consequente degradação da área de entorno, ameaçando a integridade física e geográfica da APA (AMAPÁ, 2010a; ATLAS, 2008; BRITO, 2003; TRINDADE, 1999; QUEIROZ, 2007). É observável também, a ocorrência de furtos e o aumento da violência no local, isso devido à quantidade grande de bares e ao policiamento deficiente.

Neste ponto, há de se corroborar com Queiroz (2007. p. 60), pois, “as perdas territoriais ocorridas no Curiaú comprometem os recursos naturais necessários para a sobrevivência das famílias”. Mais, as áreas de ocupação no entorno do quilombo comprometem o modo de viver das famílias que passam a conviver com a ameaça de perdas matérias e simbólicas no seu território. Isso somado às condições precárias dos bairros mais recentes (Jardim I e II, Novo Horizonte40) formados sem implementação de políticas públicas necessárias a uma vida digna dos moradores da periferia urbana de Macapá.

Na ocasião da pesquisa de campo, pôde-se ter contato com uma situação de invasão desordenada de terras na APA. Segundo relatos, um grupo de agricultores, os quais geralmente desenvolvem suas atividades do outro lado da BR 210, iniciaram uma ocupação não autorizada às proximidades do Lago do Bonito com a intenção não somente de plantar em uma nova área, mas também de ter acesso à pesca no rio Curiaú e em seus lagos. Até agora não se sabe da solução para este caso.

No âmbito mais político e organizacional destaca-se a fragilidade das associações existentes (BRITO, 2003; BRITO; DRUMMOND, 2007). Contudo, em 2012, a existência de cinco associações regulares demonstra um possível fortalecimento desse mecanismo de gestão do espaço. Existem atualmente na APA: a Associação de Mulheres Mãe Venina do Quilombo

do Curiaú (AMVQC), Associação dos Moradores do Quilombo do Curiaú (AMQC), Associação dos Moradores de São Francisco da Casa Grande (AMSFG), Associação dos Moradores da Comunidade Curralinho (AMCC) e Associação de Agricultores Familiares Agroextrativistas do rio Pirativa (AAERP).

Para Brito e Drummond (2007), no que se refere à alternativas e à propostas de soluções comunitárias

[...] fica evidente que em Curiaú de Fora, Curiaú de Dentro e Extrema há maiores possibilidades materiais, verifica-se maior experiência organizativa, melhor trabalho em grupo e mesmo uma certa desenvoltura, talvez, em virtude do seu sucesso anterior na luta pela designação do território remanescente de quilombo (BRITO; DRUMMOND, 2007. p. 130).

Os mesmos autores salientam ainda que nas demais comunidades, o estímulo à participação deverá ter resultados diferentes, até mesmo pela condição social inerente a cada uma. No entanto, pode-se afirmar que em termos de representatividade a APA está fortalecida, pois das seis comunidades somente Pescada não tem uma associação.

É interessante dirimir que a AMQC abrange Curiáu (de dentro e de fora), Mocambo e Extrema (a lembrar que esta não pertence ao limites territoriais da APA). Porém, de modo geral, no aspecto construtivo de engajamento para promover melhorias de bem estar e qualidade de vida à população local, as associações carecem ainda de poder estratégico de articulação institucional interna e externa. Isso dificulta a implementação de projetos que visem a sustentabilidade ali.