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2. O Setor Brasileiro de Papel e Celulose

2.1 Aspectos técnicos

A cadeia produtiva de papel e celulose é composta basicamente de três partes: a etapa florestal, a produção de celulose e a produção de papel e embalagens. A celulose é produzida a partir de fibras vegetais, fornecidas pela etapa florestal, constituindo a matéria- prima base para a produção dos mais variados tipos de papel. Outros vegetais – como o sisal, o linho, o algodão e o bambu - também podem ser usados para obter as fibras, mas estudos científicos apontam que as árvores de eucalipto e de pinus são as mais indicadas para esse fim, pois resultam em maior produtividade e em produtos de alta qualidade (Piotto, 2003). Os variados tipos de papel são classificados em seis grupos, de acordo com a sua finalidade (ver quadro 2): imprensa, imprimir e escrever, embalagens, tissue (para fins sanitários), cartões e cartolinas e especiais (Bracelpa, 2005a).

O tamanho da fibra usada na produção de celulose é um importante fator na determinação das especificidades de cada classe de papel. Em função disso, as fibras são divididas em dois tipos:

1) Fibra longa: obtida da madeira de coníferas; árvores em formatos de cones como a araucária e o cipreste. É a de maior tamanho, de 2 a 6 mm, e por isso a mais indicada

para papéis que necessitam de maior resistência mecânica, opacidade e capacidade de absorção como os papéis de embalagens, caixas de papelão e papéis absorventes. O corte das coníferas ocorre, em média, aos 25 anos (Nosso Papel, set./2005; Piotto, 2004; Fonseca, 2003).

2) Fibra curta: obtido de árvores folhosas; árvores com o formato arredondado como o eucalipto, a gmelina e o carvalho. O tamanho é menor que o das coníferas, variando de 0,4 a 1,5 mm. É usada em papéis que necessitam de boa qualidade ou de boa capacidade de impressão, maciez e também de alta absorção como os papéis de imprimir e escrever, sanitários e especiais. O corte das folhosas ocorre, em média, aos 7 anos (Nosso Papel, set./2005; Piotto, 2004; Fonseca, 2003).

As fibras também podem ser virgens ou secundárias. As fibras virgens são a celulose propriamente dita, enquanto as fibras secundárias são obtidas a partir de papéis usados e das aparas (restos de papéis da produção de papel e de seus artefatos). Essas fibras são de menor qualidade, pois suas propriedades fisico-mecânicas são danificadas ao longo dos processos de reciclagem. Dessa forma, o papel pode ser reciclado mais de uma vez, mas só poderá ser usado para fins menos nobres que o original (Nosso Papel, set./2005; Panorama Setorial, 2004).

A celulose, além de ser classificada segundo o tamanho da fibra, também pode ser classificada de acordo com o processo de produção. Este se divide em processo químico e de alto rendimento, os quais, de acordo com o quadro 1, possuem subcategorias. A escolha do processo produtivo está relacionada ao rendimento1 da pasta que se deseja

produzir e afeta as características do papel. O processo químico tem um rendimento muito menor que as pastas de alto rendimento (em torno de 90 a 95%), mas a polpa resultante desse último tem maior teor de lignina e, portanto, dá origem a um papel com tonalidade mais escura, afetando negativamente suas características de maciez e resistência (Corazza, 1996). Fonseca (2003) nota que cerca de 90% da celulose comercializada é fabricada por processos químicos (sulfato ou sulfito) e que, aproximadamente, 80% desse tipo de pasta é branqueada2.

1 O rendimento é a relação entre a quantidade de madeira utilizada e a quantidade da pasta obtida (Paladino,

1985 apud Corazza, 1996).

2 A lignina é a substância que liga as células entre si e dá rigidez, cor e resistência à madeira. A produção de

celulose consiste em separar os outros componentes vegetais, em especial a lignina, das fibras de celulose (Piotto, 2003).

Quadro 1 – Tipos de Pasta de Celulose (Piotto, 2003, p.143; Daura, 2004, p.74; Corazza, 1996, p.95)

1) Pastas químicas: é o tipo de pasta mais usado, comumente chamada de celulose,

assim denominada porque utiliza compostos químicos no processo de transformação da madeira em fibras. Em razão de suas características, tem muitas aplicações em quase todos os segmentos de papel. Possui as seguintes diferenciações:

1.1) Processo Kraft: a madeira é cozida sob pressão com soda cáustica e sulfeto de

sódio. O benefício desse processo é que dissolve a lignina preservando a resistência das fibras. O rendimento é de 50 a 60%. Essa pasta é muito usada para a produção de papéis que necessitem de resistência como o de embalagens (sacolas de supermercado e sacos de cimento);

1.2) Processo Sulfito: a madeira é cozida em uma solução ácida preparada com

compostos de enxofre e uma base como o hidróxido de sódio. O rendimento dessa pasta é de 40 a 60%. É de fácil branqueamento, de coloração clara, permitindo o seu uso mesmo sem o branqueamento;

1.3) Processo Sulfato: são usadas as mesmas substâncias do processo Kraft, porém

em maior concentração e o cozimento é feito em maior tempo em maiores temperaturas. É o processo mais utilizado no Brasil porque é muito adequado para a produção de pastas de eucalipto e de outras folhosas. Esse processo preserva a resistência das fibras e dissolve bem a lignina, formando uma pasta branqueável com boas propriedades físico-químicas.

2) Pastas de Alto Rendimento

2.1) Processo Mecânico: a desagregação da madeira ocorre pelo atrito mecânico,

usada principalmente em árvores coníferas. Possui alto rendimento, de 93 a 98%. Neste processo não é possível separar completamente as fibras dos demais constituintes, obtendo-se uma pasta barata, de aplicação limitada, pois o papel produzido com ela tende a escurecer mais rapidamente, mesmo que a pasta tenha sido branqueada, devido à oxidação da lignina residual. A pasta mecânica pura ou em composição com outra é muito usada para a fabricação de papéis de menor valor agregado (papel para jornal, revista, embrulhos, papelão, etc.);

2.2) Processo termomecânico: a madeira é submetida a um aquecimento a vapor com

uma temperatura média de 140º C, o que reduz a rigidez da madeira e essa passa para um estado plástico, depois segue para o desfibramento. O rendimento dessa pasta é menor, de 92 a 95%, porém é de melhor qualidade que a pasta mecânica, pois proporciona maior resistência e imprimibilidade ao papel;

2.3) Processo termoquimicomecânico: além do atrito mecânico e de um pré-

cozimento com valor, são usados alguns produtos químicos com baixa concentração, mas de forma a não reduzir muito o rendimento da pasta e assegurar a integridade das fibras, permitindo a obtenção de papéis de melhor qualidade.

Quadro 2 – Tipos de Papel (Daura, 2004, p.78)

1) Imprensa: usado na confecção de jornais e periódicos. Geralmente, esse papel é

produzido a partir de fibra longa e de processos mecânicos. Em razão de pressões ambientalistas, vem aumentado o uso de fibras recicladas na sua produção. A competição nesse segmento é por preço;

2) Imprimir e escrever: esse tipo de papel está dividido em revestidos e não-

revestidos. Os não-revestidos são usados nas áreas de publicidade (mídia impressa) e editoração (revistas e livros). Este papel se comporta como uma commodity, sendo, portanto, os ganhos de escala e o preço muito importantes. Os papéis revestidos são usados para xenografia, impressoras, formulários contínuos, livros e cadernos. Esse tipo de papel é mais sofisticado e caro que os não- revestidos que são, em geral, padronizados. A massificação da microinformática expandiu esse mercado já que aumentou o uso de impressoras e copiadoras;

3) Embalagens: inclui as embalagens de papel Kraft e embalagens leves (envelopes,

sacolas, sacos multifoliados e papéis para embalagens flexíveis). O papel Kraft, por ter grande resistência ao tracionamento, é o principal insumo usado na fabricação de sacos (como sacos de cimento e fertilizantes) de embalagens de papelão ondulado (caixas de papelão compostas por capa e miolo ondulado). A elevada escala, a integração com a fabricação de celulose não-branqueada, o predomínio do uso de processos químicos e de madeira fibra longa são as principais características do processo de produção do papel Kraft. É comum as empresas produtoras desse papel serem integradas para frente, ou seja, produzirem também caixas de papelão, sacos, envelopes e outros artefatos de papel. É cada vez mais comum o uso de reciclados;

4) Tissue: são os papéis higiênicos, as toalhas e os lenços de papel. Nesse segmento,

a baixa relação entre o valor agregado e o peso é o principal fator que determina a localização e a escala de produção, o que aponta para a proximidade entre fábrica e mercado consumidor. Dessa forma, a estrutura de oferta é baseada em um maior número de plantas industriais, de menor escala, espalhadas geograficamente. A maioria dessas empresas não integra a produção de papel e celulose, o que o segmento um dos maiores consumidores de celulose de mercado.

5) Cartões e Cartolinas: conjunto de cartões revestidos para embalagens de bens de

consumo, cartolinas e cartões para impressos. Existem três tipos de cartões para embalagens: cartão duplex (duas camadas, com uma base suporte e camada revestida com aplicação de látex); cartão triplex (contém três camadas e recebe aplicação em duas delas); e cartão branco. Utiliza-se muito a reciclagem (a base e o miolo são feitos de aparas), chegando a 100% em algumas empresas. Este segmento está vinculado ao parque gráfico, pois é quem faz a impressão sobre o cartão revestido. Dada a necessidade dessa parceria e o fato desses produtos serem muito customizados, as escalas de produção são menores.