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2.1 AFLATOXINAS

2.1.3 Aspectos toxicológicos

As aflatoxinas são tanto aguda como cronicamente tóxicas. São provavelmente as micotoxinas mais estudadas, desde a ocorrência da doença denominada Turkey X em 1960 no Reino Unido (Bennett and Klich, 2003). A doença foi identificada como sendo não infecciosa e associada com a ingestão de amendoim proveniente do Brasil contendo concentrações extremamente altas de aflatoxinas. As amostras foram enviadas para análise e concluiu-se que a toxicidade estava associada com diversas bandas fluorescentes detectadas por cromatografia de camada fina. Os cientistas concluíram que o amendoim estava contaminado com o fungo Aspergillus flavus. As toxinas foram denominadas como aflatoxinas do Aspergillus flavus.

Há mais de 30 anos, que se descobriu que as aflatoxinas são poderosos carcinogénicos e mutagénicos em animais de laboratório. A aflatoxina B1 (AFB1), o composto mais tóxico neste grupo, é reconhecida como sendo hepatotóxica, mutagénica, e hepatocarcinogénica (Busby and Wogan citado em Méndez-Albores et al., 2005).

Desde a sua descoberta, numerosas investigações foram conduzidas relativamente aos efeitos tóxicos das aflatoxinas em animais domésticos, com múltiplos problemas de saúde incluindo: dificuldade em sobreviver (vingar), crescimento retardado, ganho de peso mais lento, problemas reprodutivos e respiratórios, diarreia, hemorragia, produção reduzida de leite e de ovos e comprometimento dos sistemas imunológicos com consequente aumento das infecções virais e bacterianas, e mesmo morbidez animal (Newberne and Butler;

Guthrie citados em Méndez-Albores et al., 2005).

As aflatoxinas foram implicadas em efeitos sub-agudos e crónicos em seres humanos. Estes efeitos incluem cancro hepático primário (originado no próprio fígado), hepatite crónica, icterícia, hepatomegalia e cirrose através da ingestão repetida de níveis baixos de

aflatoxina. Considera-se também que as aflatoxinas podem ter um papel num certo número de doenças, incluindo o síndrome de Reye, de kwashiorkor e hepatites e podem também afectar o sistema imunitário (Pier citado em Aflatoxins Factsheet).

De um modo geral pode-se então dizer que as aflatoxinas são compostos altamente tóxicos, mutagénicos, teratogénicos e carcinogénicos e que foram implicados como agentes causadores da carcinogénese hepática e extrahepática humana (Dichter; Groopman et al.;

Massey et al.; Peers and Linsell; Shank et al. citados em Kamkar, 2005). Em 1987, a IARC estabeleceu que as aflatoxinas representam um potencial alto risco de cancro para os seres humanos e a AFB1 foi considerada como sendo um carcinogéneo do grupo I (IARC, 1987) e a AFM1 do grupo II (Cathey et al.; Dragacci et al. citados em Kamkar, 2005).

A idade, o sexo e o estado nutricional afectam todos, o grau da toxicidade. Os animais jovens são particularmente susceptíveis e os machos mais do que as fêmeas. O fígado é o principal órgão-alvo, embora o local do efeito hepático varie com a espécie e possa acumular-se no cérebro. Foram também observados efeitos nos pulmões, no miocárdio e nos rins e relatados efeitos teratogénicos após a administração de doses elevadas da aflatoxina em algumas espécies (inAflatoxins Fact sheet).

É aceite que existe uma correlação indirecta entre a ingestão de comida contaminada com aflatoxinas e o desenvolvimento de cancro em pessoas, particularmente em regiões quentes e húmidas tal como África, Índia e alguns outros países asiáticos (Amla et al.; Dvorackova

citados em Méndez-Albores et al., 2005).

A aflatoxina B1 é um potente agente mutagénico causando aberrações cromossomais numa variedade de plantas, animais e células humanas. A sua carcinogenicidade foi estudada em pelo menos 12 espécies diferentes. É considerada como sendo o heptocarcinogéneo natural mais potente e sabe-se que mais de metade dos tumores do fígado examinados num estudo efectuado na China, teve o mesmo ponto de mutação no gene p53 no DNA. A aflatoxina B1 forma um aducto com a guanina encontrada no gene p53.

Embora as aflatoxinas G1 e M1 tenham sido testadas menos extensamente, parecem ser toxicologicamente similares à aflatoxina B1. São hepatocarcinogéneos um pouco menos potentes mas carcinogéneos renais ligeiramente mais potentes. A aflatoxina M1 é citotóxica, como foi demonstrado pelos resultados de estudos in vitro em hepatócitos humanos, e a sua toxicidade aguda em várias espécies é similar à da aflatoxina B1. A sua ingestão diminui a produção de leite e no caso das aves, a produção e a eclodibilidade dos ovos. Nos patinhos e nos ratinhos, a toxicidade aguda e a curto prazo da aflatoxina M1 foi similar ou ligeiramente menor do que a da aflatoxina B1.

Em estudos de carcinogenicidade, a aflatoxina M1 foi cerca de um décimo tão potente quanto a aflatoxina B1, mesmo em espécies sensíveis tais como a truta de arco-íris e ratos

Fischer. A genotoxicidade da aflatoxina M1 in vitro foi similar à da aflatoxina B1 em

alguns sistemas de teste e entre um-meio e um-sexto do que a aflatoxina B1 noutros sistemas.

Considera-se que a carcinogenicidade e a mutagenicidade da aflatoxinas B1, G1 e M1 seja o resultado da formação de um epóxido reactivo na posição 8 e 9 do anel furano terminal e a sua subsequente ligação covalente ao ácido nucleico.

O efeito que a aflatoxina pode causar depende da dose e da frequência com que é ingerida e pode ser agudo (letal ou não) ou subagudo. O efeito agudo é de manifestação e percepção rápidas, podendo levar o animal à morte, por causa de alterações irreversíveis, e é resultante da ingestão de doses geralmente elevadas. O efeito subagudo é o resultado da ingestão de doses não elevadas que provoca distúrbios e alterações nos órgãos do Homem e dos animais, especialmente no fígado.

Ambos os casos dependem da espécie animal (umas são mais susceptíveis que outras), da idade (os mais jovens são mais afectados), do estado nutricional e do sexo. No ser humano, em indivíduos nutritivamente comprometidos, i.e., mal nutridos, o valor de 400 ppb é letal. Os cavalos são mortos a um valor de 50 ppb e a truta de arco-íris é a espécie mais sensível pois bastam valores inferiores a 1 ppb para se verificar a ocorrência de tumores do fígado.

A toxicidade crónica faz com que o fígado se torne amarelado, gordo na aparência, e altamente fibroso, sendo as suas funções normais fortemente deterioradas. Sabe-se, também, que ela pode provocar cirrose, necrose do fígado, proliferação dos canais biliares, síndrome de Reye (encefalopatia com degeneração gordurosa do cérebro), hemorragias nos rins e lesões sérias na pele, pelo contacto directo. Além disso, os produtos do seu metabolismo, no organismo, interferem com o sistema imunológico da pessoa ou do animal. Isto faz com que a resistência, às doenças em geral, diminua.

Além dos problemas já citados, já está comprovada a sua relação com a incidência da hepatite B e do síndrome de "kwashiorkor". Há, também, o risco do desenvolvimento de cancro primário do fígado.Em países da África e da Ásia, onde se consome, regularmente, alimentos contaminados com aflatoxina, a incidência de cancro no fígado é de, aproximadamente, 13 casos por 100.000 habitantes, por ano.

A aflatoxina B1 é aproximadamente 3 vezes mais tóxica do que a aflatoxina G1, sendo que a susceptibilidade dos animais à aflatoxina B1 pode ser classificada em três níveis, a saber: - Muito susceptíveis: (DL50 <1 mg/kg peso vivo) trutas, marrequinhos, cobaias, coelhos,

cães, gatos e peruzinhos.

- Susceptíveis: (DL50 até 10 mg/kg) porcos, bezerros, pintinhos, frangos, codornas, faisões, vacas, martas, ratos e macacos.

- Pouco susceptíveis: carneiros e camundongos.

Por conseguinte, em relação aos factos toxicológicos pode-se afirmar que:

- Há evidência suficiente da carcinogenicidade de misturas naturais de aflatoxinas e da aflatoxina B1 nos seres humanos.

- Há evidência suficiente da carcinogenicidade de misturas naturais de aflatoxinas e das aflatoxinas B1, G1 e M1 em animais experimentais.

- Há evidência limitada da carcinogenicidade da aflatoxina B2 em animais de laboratório.

- Há evidência inadequada da carcinogenicitdade da aflatoxina M1 nos seres humanos. - Há evidência inadequada da carcinogenicidade da aflatoxina G2 em animais de