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5. AMEAçAS à INDUSTRIA DE ALIMENTOS BRASILEIRA

5.1. Aspectos Tributários

O risco de elevações tarifárias repentinas está associado ao cenário econômico e, principalmente, fiscal de cada País. Ilustra este caso a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre determinados produtos alimentícios no Brasil neste ano. Em edição extra do Diário Oficial da União de 29 de janeiro deste ano, foi publicado o Decreto n° 8.656/2016 alterando a legisla- ção do IPI a fim de modificar as regras de tributação dos chocolates e sorvetes, dentre outros produtos, que, até então, eram tributados em reais por unidade de medida (alíquotas ad rem). Os chocolates estavam sujeitos a uma tributação de nove centavos (chocolate branco) e doze centavos (demais chocolates) por quilo. Os sorvetes de dois litros sujeitavam-se a um imposto de dez centavos por embalagem.

De fato, com a mudança, a partir de 1º de maio de 2016, tais produtos passaram a ser tributados da mesma forma que a generalidade dos produtos: alíquota percentual (alíquotas ad valorem) sobre o preço de venda praticado pelo contribuinte. Os chocolates e sorvetes estão desde então sujei- tos a uma alíquota de 5%, aplicada sobre o preço de venda. Como os setores impactados viriam a argumentar junto ao Governo posteriormente, a principal questão foi a falta de previsibilidade e transparência para que pudessem apresentar propostas alternativas ou mesmo se preparar fi- nanceiramente para tanto. Em cenário de agravamento da crise econômica no País, a capacidade de remanejamento dos custos se vê prejudicada e tais medidas podem efetivamente impedir a continuidade de operar de determinadas empresas a depender de seu porte.

De forma similar, também associado ao contexto econômico do país, a indústria alimentícia, como outros setores, se viu alvo da aplicação de medida de salvaguarda no Equador em 2015. Em 06 de março de 2015, a República do Equador publicou a Resolução do Comitê de Comércio Exterior nº 011, que institui uma medida de Salvaguarda para 2.955 itens tarifários importados pelo país a partir do dia 11 de março – o que, em termos monetários, representou aproximadamente 30% de todas as importações do país em 2014. Essa medida consiste em uma sobretaxa, que varia de acordo com a classificação fiscal do produto, podendo ser de 5% até 45%, sobre o valor CIF da importação, e possui um caráter multilateral, ou seja, é aplicada a todos os países que exportarem para o Equador, incluindo aqueles com os quais possui acordos comerciais. Justificada com base nos efeitos negativos da flutuação do Dólar (moeda local) na economia doméstica e na sua balan- ça de pagamentos, a Resolução não menciona término da vigência e, embora a expectativa inicial fosse de que a medida estaria em vigor até o primeiro semestre de 2016, já há comunicados ofi- ciais sobre a possibilidade de transformá-la em mecanismo permanente de equilíbrio de preços.

Novamente, o que se observa na aplicação da medida no Equador, assim como no caso do Bra- sil, é a falta de transparência necessária na condução das políticas econômicas, cujo objetivo é garantir nível suficiente de previsibilidade para a elaboração de estratégias mercadológicas com- patíveis e sustentáveis. Pode-se dizer, no entanto, que estas medidas não se aplicam somente à indústria de alimentos e, ainda, que não são regra geral na América Latina. Por outro lado, tem-se observado uma tendência – incluída no contexto global – crescente de propostas de elevação de impostos especificamente no setor de alimentos e bebidas associada ao combate à obesidade e à promoção da saúde e bem-estar.

Em 2013, o México instituiu imposto de 10% sobre bebidas açucaradas a fim de conter as crescen- tes taxas de obesidade e diabetes num dos países com consumo mais elevados de refrigerantes do mundo. Pesquisas mais recentes indicam que as vendas de refrigerantes estão subindo naque- le país dois anos após a adoção da medida. “A Coca-Cola Femsa SAB, maior engarrafadora de Coca-Cola do país, informou na semana passada que suas vendas de refrigerantes por volume no México cresceram 5,5% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2015. A Arca Continental SAB, a segunda maior engarrafadora, divulgou uma alta de 11% no volume”.38 A despeito disso, os governos de outros países da região estudam propostas semelhantes. Segundo Barry Popkin, professor da Faculdade Gillings de Saúde Pública Global da Universidade da Carolina do Norte, o imposto sobre refrigerantes no México segue as iniciativas contra o fumo que foram adotadas em vários países e terá efeitos positivos no longo prazo.39

A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) vem recomendando exatamente isto. Em abril deste ano, a OMS publicou um relatório sobre diabetes, que consta que 62 milhões de pessoas possuem diabetes no continente americano – três vezes a incidência da doença em 1980 – e a expectativa é que 110 milhões de pessoas serão afetadas pela doença até 2040. O relatório reco- menda que governos tomem medidas urgentes para prevenir e controlar a doença. Neste contex- to, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) exaltou as conquistas do México na luta contra a diabetes, através do aumento de impostos para bebidas açucaradas. Mais informações sobre as questões tributárias podem ser encontradas no Capítulo 7 deste estudo.

é importante notar que o aumento dos níveis de sobrepeso e obesidade e das doenças cardio- vasculares associadas a isso na região trazem impacto econômico nestas sociedades, o que impulsiona os governos a buscar diferentes fontes de receita e, paralelamente, formas de inibir hábitos considerados menos saudáveis. O que se observa, no entanto, como resultado indeseja- do destas medidas arrecadatórias é o risco da migração dos consumidores para produtos mais baratos e sem melhoria nutricional. Talvez por isso, elas vêm sendo acompanhadas também por medidas regulatórias.