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SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO

2) Isolamento e recusa de comunicação A vítima é interrompida constantemente.

3.3 TRABALHO E FAMÍLIA

3.3.1 Assédio moral no trabalho e a família

Ainda que os estudos sobre trabalho e família venham aumentando ao longo dos anos, verificou-se produção incipiente especificamente no que se refere a interface entre assédio moral no trabalho e família. Essa informação justifica-se pela busca realizada em bases de dados nacionais e internacionais entre os meses de abril a outubro de 2014 para encontrar estudos sobre o tema em questão. Foi encontrado um único estudo sobre o assunto e trata-se, especificamente, de uma dissertação de mestrado desenvolvida no Brasil por Caldas (2007), na qual a autora relacionou assédio moral no trabalho, sofrimento e impactos na família.

No estudo de Caldas (2007), de abordagem qualitativa, a autora utilizou a Psicodinâmica do Trabalho e a Teoria Geral de Sistemas como principais bases epistemológicas. O estudo contou com seis participantes, trabalhadores de organizações públicas e atendidos pelo CEST (Centro Especializado em Saúde do Trabalhador). Os resultados indicaram que o significado do trabalho sofreu mudanças negativas em decorrência da situação vivida e que as consequências também atingiram as relações

familiares. Os dados mostraram, na perspectiva do trabalhador assediado, como as famílias lidaram com a situação, ao passo que alguns indivíduos receberam apoio incondicional dos familiares para suportar o sofrimento. De acordo com Caldas (2007), este apoio familiar possibilitou estratégias de enfrentamento e contribuiu para que alguns participantes da pesquisa optassem por denunciar a organização. Outros indivíduos relataram ter tentado todas as formas para esconder da família esta situação e procuravam manter intacta a imagem de provedor financeiro que lhes garantia respeito. A reprodução da violência também foi verificada no discurso dos participantes, sendo que alguns relataram alteração de conduta, tornando-se agressivos, impacientes e intolerantes com seus familiares. Para o relacionamento conjugal, as consequências estiveram relacionadas, principalmente a queda da libido. Aspectos econômicos referentes a perdas salariais e de benefícios influenciaram de modo negativo os relacionamentos familiares devido à mudança de status e da imagem do trabalhador diante de sua família.

Outros estudos apresentam brevemente consequências para as relações sociais e familiares dos assediados. Leymann (1996) e Freitas (2007) afirmam que as consequências do assédio moral no trabalho repercutem na família da vítima. Freitas, Heloani e Barreto (2008) mencionam que quando um indivíduo sofre violência no trabalho, ele tende a focar sua energia na sua dor e sua tristeza, tentando superá-las e isso pode resultar, com frequência, em afastamento do círculo social e da família. Nessa situação, os filhos podem ficar sujeitos a reação de descontrole e irritação do pai/mãe. Os autores enfatizam que os pais podem isolar-se, o que gera nos filhos um sentimento de abandono e sensação de não serem amados. Hirigoyen (2001, p.51) entende que “O assédio é uma patologia da solidão. As pessoas isoladas são prioritariamente as mais ameaçadas. As que possuem aliados ou amigos, estão mais protegidas.” Além do isolamento dos colegas, é possível que isso se repita no ambiente familiar. Para Barreto (2000) e Hirigoyen (1998, 2001) a falta de apoio familiar pode estimular o desenvolvimento de outros sintomas, especialmente os depressivos, além de sentimentos de inferioridade e incapacidade. Estas autoras destacam que a ausência de suporte emocional aumenta o sentimento de desespero, desamparo e melancolia.

Yung (2011) realizou um estudo de caso com uma vítima de assédio e os dados referentes às repercussões sociais apontaram danos à esfera familiar. Esta autora ressalta que a desestruturação familiar ocorre a partir do momento em que o sujeito começa a descarregar sua frustração nos familiares. Em outro estudo sobre os aspectos individuais,

organizacionais e sociais do assédio moral no trabalho, desenvolvido por Elgenenni (2007), o participante informou que a última ação do assediador foi trocá-lo para outra função, cujas atividades eram realizadas prioritariamente em outras cidades, o que exigia viagens constantes. Isso acabou por afastá-lo da família, as únicas pessoas com as quais mantinha contato, e resultou em crise no casamento.

Um material elaborado por Cassitto, Fattorini, Gilioli e Rengo (2003) em parceria com a Organização Mundial da Saúde aponta algumas consequências para o trabalhador assediado e sua família: falta de compromisso no papel e responsabilidades de pai, esposa e filho(a), despesas médicas, explosão de raiva e intolerância aos problemas familiares, piora no desempenho escolar das crianças, litígio, problemas conjugais e divórcio. Di Martino, Hoel e Cooper (2003) também mencionam o peso econômico do tratamento do assediado que caberá à família e aos amigos arcar.

Os estudos citados não tiveram como objetivo estudar questões relacionadas a família da vítima, mas obtiveram resultados interessantes sobre as consequências para a família. Invitti (2012) realizou uma pesquisa sobre autoconceito de trabalhadores assediados moralmente e identificou consequências para os relacionamentos sociais dos entrevistados: perda da confiança nas pessoas, diminuição de atitude social, aumento do convívio com a família, divórcio, alterações no relacionamento cojugal e isolamento social. Dificuldade de aceitar a gravidez e pensamentos sobre aborto também foram relatados pelas gestantes que participaram da pesquisa. No único estudo em que o foco eram as repercussões do assédio moral para a família do assediado (Caldas, 2007), apenas a vítima foi entrevistada.

Diante dessas questões, pode-se afirmar que o assédio moral no trabalho tem repercussões para a família do trabalhador assediado. As famílias dispõem de recursos diferentes para lidar com esse sofrimento, de modo que cada família encontrará possibilidades diferentes para reorganizar-se.

4. MÉTODO

Após a explicitação da base teórica que fundamenta os objetivos desta pesquisa, este capítulo refere-se ao esclarecimento do método que foi utilizado no estudo. No intento de alcançar os objetivos propostos, os seguintes aspectos serão detalhados a seguir: caracterização do estudo; fase exploratória; contexto e participantes da pesquisa; procedimentos e instrumentos que foram utilizados para a coleta de dados; análise e categorização dos dados e preceitos éticos da pesquisa.