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2 AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE OS TEMAS “ASSEMBLEIAS DE

7.3 ASSEMBLEIAS DE CLASSE E SUA CONTRIBUIÇÃO NA EXPERIÊNCIA DE

Sabemos que o trabalho com as assembleias de classe é um importante instrumento que pode auxiliar num ambiente mais democrático na escola. E não só democrático, mas também que contemple a formação para viver em sociedade. Formação humana, ética, cidadã, solidária, participativa e crítica.

Isso significa educar de maneira integral e integradora. Educar para a vivência democrática para que todas as experiências possíveis, possam contribuir para vida pessoal e grupal.

Sobre a relevância da prática das assembleias de classe, o entrevistado 6 coloca que,

“Sim, eu acredito muito que funciona e que realmente é efetivo, mas porque tu está desenvolvendo no estudante não só as questões cognitivas, mas as outras questões que envolvem ele como ser humano. Então toda questão da democracia, do posicionamento crítico, dele saber se posicionar, dele respeitar a opinião do outro, de tentar achar solução para os problemas, tudo isso tu está formando “de uma maneira integral”, enfim, tudo está

relacionado a uma formação integral que é humana e paralela ao conteúdo. Está formando esse cidadão para a vida depois, com toda essa bagagem que ele está tendo de resolução de conflitos, de democracia, no fortalecimento dos vínculos no grupo, isso é essencial. Então eu acredito muito mesmo!” (22/09/2017)

A fala do entrevistado mostra a coerência entre o que acontece na prática com os estudantes e como ele vê esta transposição das experiências da escola para a vida. E quando falo em coerência, não só da prática para a vida, mas também com aquilo que está descrito nos documentos da instituição e suas intencionalidades. Quando o entrevistado coloca “uma formação integral que é paralela ao conteúdo”, chama a atenção ao que traz também o documento norteador (PEBM, 2010) quando fala sobre a importância de pensarmos na multiplicidade de estudantes que estão em nossas instituições de ensino e suas realidades,

É necessário reconhecer que, no contexto contemporâneo, se dá a emergência de um novo estudante, com novas necessidades, capacidades, racionalidades e desejos. As populações escolares, nos múltiplos cenários atuais, são compostas por uma diversidade de infâncias, adolescências, juventudes e modos de vida adulta. Isso implica compreendê-las como um “fenômeno de impressionante complexidade”, constituído por novas e distintas categorias sociais, que sentem, pensam e significam o mundo de um jeito muito próprio (PEBM, 2010, p.57).

Sabemos que, um dos objetivos da escola é a sistematização dos conteúdos acumulados historicamente, mas é imprescindível a construção de um ambiente que favoreça e oportuniza a participação dos estudantes nas decisões cotidianas do ambiente escolar, que leve em conta suas necessidades e desejos e que acredite em suas potencialidades como agentes transformadores da sociedade.

Outro ponto que merece destaque e que comunga com as questões descritas neste subcapítulo, é o que nos traz as Matrizes Curriculares do Brasil Marista34 (2016,

p.9), também um documento de extrema relevância na instituição.

As Matrizes possibilitam formar os sujeitos da escola para o compromisso de cultivar as capacidades e as potencialidades pessoais, para ter melhor vida e condição de cuidar da vida, da natureza e das pessoas em todas as suas dimensões, assim como compreender os conhecimentos como produção coletiva da humanidade e a serviço do bem comum. Consideram o cultivo dos valores estéticos, culturais, políticos e éticos [...].

34 Matrizes Curriculares do Brasil Marista- As Matrizes Curriculares, emanadas do Projeto Educativo do

Brasil Marista, constituem-se em uma malha/teia curricular que apresenta interconexão entre os conhecimentos, saberes, valores, discursos e competências a serem construídos pelos estudantes maristas no seu percurso formativo, bem como formaliza as intencionalidades e as políticas curriculares da Rede Marista de Educação Básica.

Esse excerto das Matrizes nos permite construir uma reflexão. Faz pensar como estamos contribuindo no processo formativo dos nossos estudantes. Quando cita, principalmente, sobre os valores políticos e éticos, estes também são trabalhados nas assembleias, no momento em que o estudante se posiciona frente às situações de debate, que precisa respeitar a opinião do outro, que faz o exercício da empatia e, principalmente, o que é falado/trabalhado nos momentos das discussões, é uma combinação ética, de não ser trazido para outros momentos da sala, somente no momento das assembleias.

Na perspectiva das assembleias, muitas dimensões podem ser contempladas juntamente com o que está previsto nos documentos da instituição, mas a principal delas é que ela se torna um caminho para geração de dinâmicas coletivas de conscientização e transformação social, ou seja, contribuição na experiência de vida. E esta conscientização e transformação vai favorecer a diversidade, a conectividade, a democracia, a autonomia, a criticidade dos estudantes em todos os espaços de convivência e contextos, seja na escola, na família, no bairro, nos grupos sociais.

O entrevistado 6, em atendimento a algumas famílias, coloca como este tema das assembleias chega para as famílias dos estudantes da instituição.

“E as famílias ficam encantadas com isso, porque elas pensam assim: olha o colégio não está trabalhando só a questão cognitiva que a gente sabe que já tem de excelência acadêmica, comparando com as demais escolas de Porto Alegre. Mas está formando meu filho como cidadão, meu filho para a vida, como que ele vai ser “lá fora”, como que ele vai saber lidar com os seus problemas “lá fora”, como que ele vai saber mediar alguns conflitos, como que ele vai saber se posicionar em relação aos outros, então isso é extremamente importante.” (22/09/2017)

Sabemos que, mesmo a família não entrando no escopo de nossa análise, é interessante percebermos que o trabalho que acontece na sala de aula com os estudantes, produz “eco” em outros momentos e grupos com os quais esse estudante convive e participa, como é o caso da família.

É possível observar, a partir das colocações do entrevistado que, em alguns momentos, o significado daquilo que é conversado nas assembleias de classe, extrapola a sala de aula e a escola, revelando, assim, para estes estudantes, a importância das relações baseadas nos valores, no diálogo, na escuta e na mediação de situações do seu cotidiano.

Em educação, falamos muito em resgatar as famílias, seus valores e sua participação na escola. Sabemos que educar é uma função de todos nós. Para tanto, as instituições de ensino devem promover experiências e vivências que ajudem o estudante a pensar, conviver, construir caminhos, tomar decisões, assim como ocorrem nas assembleias.

Sendo assim, estas vivências da escola contribuirão, de certa maneira, em novos diálogos com as famílias, novas maneiras de resolver conflitos, de se posicionar frente às adversidades, refletindo, assim, na experiência de vida dos estudantes e deles na família.

Sobre a importância das assembleias, como experiência de vida, o entrevistado 5 coloca que

“Eu vejo que a prática das assembleias ajuda no amadurecimento de pensamento, de atitudes dos estudantes em sala de aula e no próprio colégio, onde eles ao “ouvirem-se”, onde eles falando, eles têm o tempo de falar, o tempo de ouvir, eles conseguem, aos poucos, ir buscando algumas alternativas para as turmas, mas ao mesmo tempo, assim, de se autorregular, aonde a gente consegue perceber uma maturidade até de se expressar nas próximas assembleias porque eles já estão sabendo como funciona. Onde eles têm uma postura extremamente crítica e aí conseguem externar aquilo. Então eu vejo sim, como uma proposta de educação integral onde eu me autorregulo a partir do que eu ouço e também aonde eu tenho a possibilidade de fazer as minhas falas, enfim, da minha exposição.” (27/09/2017)

Cabe aqui uma reflexão sobre o amadurecimento nas atitudes dos estudantes com a prática das assembleias. Amadurecimento esse que se traduz pelos movimentos de escuta, de posicionar-se, de saber discernir as questões que são trazidas para as discussões em sala de aula e buscar soluções a curto ou a longo prazo para suas inquietudes. E esse amadurecimento, assim como reflete nas famílias, reflete na escola e em todos os grupos de relações e de convívio dos nossos estudantes.

A escola ainda se configura como um dos principais espaços onde os estudantes têm a oportunidade de relacionar-se com seus pares. E esse espaço, podemos dizer é um dos mais importantes meios para promoção de vivências e experiências significativas de trocas e aprendizagens.

O PEBM (2010) em relação ao espaçotempo do aprendizado político e ético: da pedagogia da negociação e dos acordos, da interação com a diferença, coloca que,

A escola marista torna-se espaçotempo de reflexão, discussão e participação responsável nas questões que envolvem a dinâmica da comunidade, procurando garantir o direito da expressão de todos, o exercício do pensamento reflexivo, da crítica e da autocrítica, o colocar-se no lugar do outro e a busca de alternativas e soluções compartilhadas na resolução de conflitos, pautadas pelo respeito às diferenças. Esse espaçotempo se concretiza nos mais diversos ambientes e situações pedagógicas que envolvem tomada de decisão, representatividade e respeito à coletividade. Pode se manifestar nos espaços de representação estudantil, nos projetos de intervenção social, na participação em conselhos, assembleias e fóruns e na participação em processos decisórios da escola que envolvem a vida dos estudantes (PEBM, 2010, p.69).

As intencionalidades que os documentos revelam e os relatos dos entrevistados sobre as assembleias mostram-nos a relevância desta experiência como contribuição na experiência de vida dos nossos estudantes. Percebe-se que há um “olhar” das famílias em relação a atitudes e mudanças significativas. Os entrevistados também apresentam uma reflexão interessante sobre esta maturidade de posicionamento, de atitudes e mudanças no dia-a-dia da sala de aula.

A assembleia e sua contribuição na experiência de vida passam pelo nosso olhar de educador na construção deste sujeito de direitos e deveres, que tem as suas subjetividades, que está em constante transformação e que precisa ver este espaço de escola com encantamento, com oportunidades, com motivação, com desejos, com aprendizagens significativas para que possa construir-se no individual e no coletivo.

7.4 CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR- A VOZ E A VEZ DOS