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2 AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE OS TEMAS “ASSEMBLEIAS DE

5.2 DINAMIZANDO AS ASSEMBLEIAS NA SALA DE AULA – COMO ELAS

Em todas as turmas as assembleias são dinamizadas pela orientadora educacional com a participação voluntária do professor que está na turma naquele período/aula. Alguns professores assistem, outros não.

O encontro com cada turma é realizado quinzenalmente.

É feito um levantamento de temas/assuntos, com o auxílio dos representantes de turma, que serão discutidos e que serão o que chamamos de “pauta”. Esta pauta é dividida em dois blocos que denominamos “Quero conversar sobre...”, que se refere às queixas relacionadas às atitudes e aos comportamentos do grupo ou de um de seus membros. O segundo bloco: “Estou satisfeito com...”, ao qual enfatiza as pessoas, ações, atitudes que, durante a semana/quinzena, merecerão uma observação, uma análise mais especial. Outros temas também podem aparecer como pauta, tanto no grupo como no individual, como os relativos à convivência, às dificuldades do cotidiano, ao cumprimento das regras da escola e outros. Sobre o objetivo de uma assembleia, Araújo destaca que

O objetivo de uma assembleia é discutir princípios, atitudes e daí construir as regras de regulação coletiva e as propostas de resolução dos problemas.

Discutem-se as brigas na escola, a sujeira da classe, o fato das aulas estarem sendo prejudicadas por determinados comportamentos, e não quem está cometendo tais faltas. Isso porque as regras não podem jamais ser personalizadas. Não podem ser feitas para uma pessoa ou um pequeno grupo. Elas têm de ser coletivas. (ARAÚJO, 2004, p. 62).

É importante salientar que as críticas não devem expor as pessoas (quem fez), mas sim as atitudes (o que fez). Um aspecto bem importante a se considerar é que precisamos cuidar com questões discutidas que fogem do espaço da sala de aula, pois o momento é para se discutir o que realmente é significativo para a turma. A pauta do que vai ser discutido é construída coletivamente durante a semana, antes da data marcada para a assembleia.

Logo que os temas são definidos, é necessário organizar o espaço. A disposição física dos lugares na sala de aula é considerada de extrema importância para a realização das assembleias. Os lugares devem ser organizados de preferência em círculo ou semicírculo para que todos possam se enxergar e conversar frente a frente.

A prática das assembleias com turmas de Ensino Fundamental II é realizada sempre com a cedência de períodos dos componentes curriculares e tem a duração de 50 minutos. A rotina das assembleias envolve alguns momentos importantes: nos primeiros dez minutos, os temas que serão tratados na assembleia são apresentados a todos. Em seguida, durante meia hora, faz-se a discussão dos temas indicados pelos estudantes. Por fim, nas discussões finais, que ocorrem nos últimos dez minutos, são feitas as propostas de soluções e os encaminhamentos para os assuntos discutidos. Também durante esse processo, mais precisamente nas discussões finais, faz-se um resumo dos acordos que foram firmados, sendo esse último momento de extrema importância para relembrar aos estudantes os compromissos assumidos no coletivo (turma) e no individual (estudante).

Outro aspecto bem importante a se considerar é a periodicidade com que ocorrem as assembleias. Esse momento é muito importante para a turma e deve estar assegurado. Ele é um espaço conquistado, é uma referência na construção de valores e para a construção da verdadeira democracia. Assim, a participação e a efetivação desse momento, é essencial para que possamos construir valores socialmente desejáveis.

Sabemos que a realidade das nossas instituições escolares não é nem um pouco democrática, de diálogo e de escuta. Os conflitos que ocorrem nos espaços

escolares, muitas vezes, podem ser vistos como indisciplina e com soluções somente através de punições. Estas questões, muitas vezes, têm se constituído num dos principais desafios para os educadores. Tais problemas vêm afetando o contexto escolar em diversos aspectos como as relações interpessoais em sala de aula, constituindo-se em um cenário permeado por diversas situações que merecem atenção e investigação.

Dias e Colombo (2013) colocam que a indisciplina é, em parte, produzida pelas relações interpessoais e poderá ser superada com a promoção de um trabalho amplo relacionado aos aspectos sociais e, como uma proposta de superação, podemos citar as assembleias de classe.

Ainda, segundo as autoras, nos momentos das assembleias, os estudantes têm a oportunidade de dialogar com o objetivo de melhorar a convivência e o trabalho escolar. Assim, o espaço das assembleias de classe não se destina exclusivamente à resolução de conflitos, mas também de se falar das coisas positivas, de felicitar as conquistas pessoais e do grupo e de se discutir temáticas para projetos futuros.

Neste espaço não há imposição de normas e regras, mas sim uma construção coletiva de experiências e práticas de democracia na escola. Um momento propício e favorável para favorecer a construção da autonomia moral, da cooperação, da solidariedade, do exercício da empatia, contribuindo, assim, para uma formação integral do sujeito.

Ao impor as regras, impedindo que os alunos tenham as experiências necessárias para a aceitação interior e, portanto, para a legitimação das normas, os educadores tornam-se exteriores ao sujeito (pois não foram construídas por intermédio da reflexão ou tiveram suas necessidades descobertas por meio de experimentação efetivas). Assim sendo, passam a ser cumpridas apenas enquanto a autoridade que as institui estiver presente ‒ e isso se a pessoa que as impõe possui poder para exigir esse cumprimento, gerando uma obediência superficial e heterônoma que permanece somente enquanto há o medo de ser punido ou quando se espera uma recompensa. (TOGNETTA; VINHA, 2011, p.28).

De acordo com Tognetta e Vinha (2011), as regras negociáveis são aquelas construídas pelos alunos em assembleias de classe, numa relação de cooperação, geralmente conduzidas por um professor ou orientador. Podem ser discutidas e negociadas quando surgir uma necessidade, como para resolver um conflito, uma desavença, uma insatisfação que esteja causando embaraço no grupo. Em geral, essas situações são resolvidas em assembleias, sem privilegiar alguns ou prejudicar outros, visando ao bem-estar da turma.

Araújo (2000) coloca que, sendo a escola um espaço favorável e dinâmico para se trabalhar questões relativas a cidadania, valores, construção do conhecimento e outras tão importantes, deve promover espaços democráticos de escuta e diálogo, fazendo com que nossos estudantes tenham o máximo de oportunidades possíveis para o exercício da cidadania e para que atinjam seus objetivos como sujeitos autônomos.

E nesta linha de pensamento, Paulo Freire (1993) descreve e critica a educação escolar que denomina de bancária como uma educação que silencia o aluno, que não lhe permite expressar sua subjetividade e, portanto, o situa numa posição de inferioridade em relação àqueles que, legitimados em sua ação, interpretam o mundo e o transmitem.

Para Paulo Freire (1987, p.67),

A educação que se impõem, aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como ‘seres vazios’ a quem o mundo ‘encha’ de conteúdos; não pode basear-se numa consciência especializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como ‘corpos conscientes’ e na consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo.

Ainda, segundo o autor, precisamos sonhar com a ideia de uma educação transformadora, de um conhecimento transformador desta realidade que vivemos, levando em consideração as subjetividades e singularidades das nossas crianças, dos nossos jovens, dos sujeitos que estão em nossas instituições de ensino.

Uma educação inclusiva libertadora decorre do processo de adaptação da escola às necessidades educativas dos alunos para que possam estudar, aprender, crescer e exercer plenamente a sua cidadania. (Freire, 1974,1982,1997).

A proposta do trabalho das assembleias numa perspectiva de educação integral vem ao encontro do que foi comentado anteriormente. Nessa concepção, educador e educando constroem conjuntamente o mundo, através do diálogo entre iguais.

5.3 O INÍCIO DO TRABALHO COM AS ASSEMBLEIAS – UM POUCO DO SEU