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4. Conflituosidade e a reconstrução da comunidade de imigrantes japoneses no

4.2 A reconstrução da Comunidade de Imigrantes Japoneses no Brasil

4.2.2 Assimilação e integração de Imigrantes

Em segundo lugar, os descendentes de imigrantes que já cresceram no Brasil tinham já uma forte identificação com a sociedade brasileira. No final de 1947, a Associação Cotia (uma associação de imigrantes japoneses no Brasil) organizou uma reunião com o tema: Pensando na Segunda Geração de Imigrantes. Na reunião, jovens imigrantes japoneses de segunda geração levantaram questões a seus pais, indicando o seu desejo de independência e de boas oportunidades de crescimento no seio da sociedade brasileira.

Ao mesmo tempo, esses imigrantes de segunda e terceira geração participam na sociedade de acolhimento, o que também mudou o pensamento de seus pais - a primeira geração de imigrantes japoneses - e os libertou da psicologia de convidados temporários. Após a derrota, a situação interna era difícil e a qualidade de vida era difícil de garantir no Japão. No entanto, os seus filhos receberam uma educação brasileira e se integraram na sociedade de acolhimento. Mesmo que eles retornassem, seria difícil a sua integração de volta na sociedade japonesa. Assim, parece não haver outro caminho que não seja criar raízes no Brasil.

Em terceiro lugar, esta assimilação e integração também se reflete num processo de superação dos problemas existentes na comunidade imigrante no passado. É justamente por causa do isolamento da comunidade japonesa no Brasil antes da guerra que eles tinham dificuldade em se integrar na sociedade de acolhimento há muito tempo. A maioria deles tinha inclusive uma atitude negativa em relação à participação política. Isso também dificultava a oportuna compreensão dos movimentos das autoridades brasileiras quando ocorria um incidente, ou da necessidade de exercer a sua influência na arena política para salvaguardar os seus direitos. Esta é também uma importante razão pela qual muitos imigrantes japoneses foram separados de suas esposas e filhos e caíram em uma situação trágica sob a pressão das autoridades brasileiras durante a guerra.

Após a II Guerra Mundial, os adultos entre os imigrantes japoneses de segunda geração começaram a participar conscientemente na vida política. Em janeiro de 1948, o imigrante de segunda geração Luiz Yukishige Tamura foi eleito vereador na cidade de São Paulo. Em 1950 e 1954, foi eleito deputado estadual e

federal. Foi muito ativo nos círculos políticos brasileiros. Depois de Tamura, muitos outros imigrantes japoneses foram eleitos como conselheiros locais ou como prefeitos ou se tornaram burocratas.187

A mudança ideológica geral dos imigrantes japoneses também trouxe grandes mudanças em suas vidas. Antes da guerra, a comunidade japonesa, que esperava ser estável e não receber muita atenção, também aos poucos passou a compreender e participar de todos os aspectos da sociedade brasileira. Alguns imigrantes partiram conscientemente para o interior do Brasil para encontrar terras adequadas à exploração e ao desenvolvimento agrícola; enquanto outros começaram a mudar-se para os subúrbios próximos a São Paulo. Por um lado, aqui podiam cultivar produtos hortícolas para abastecer a cidade, por outro, tinham em conta oportunidades de uma melhor educação para os seus filhos. Como resultado, a taxa de matrícula de crianças imigrantes japonesas aumentou rapidamente após a guerra, e a educação foi vista como um caminho para alterar o seu estatuto social e econômico. Essa tendência continuou até a década de 1980. Naquela época, a proporção de estudantes japoneses atingiu mais de 13%.188

O aumento das qualificações acadêmicas trouxe consigo a diversificação ocupacional dos imigrantes japoneses. Os agricultores, que representavam mais da metade de todos os imigrantes na década de 1950, diminuíram para menos de 20%

no final da década de 1970, surgindo muitos médicos, farmacêuticos, contadores, advogados, etc. Esta maior participação e visibilidade desempenhou um papel benigno na melhoria da opinião pública face à comunidade de origem japonesa.

Com o aumento do estatuto social dos imigrantes de segunda geração e o aumento dos imigrantes de terceira e quarta geração, a taxa de casamentos entre imigrantes japoneses e pessoas exteriores à comunidade aumentou acentuadamente.

Situação de miscigenação segundo geração

187 Comissão de elaboração da história dos 80 anos da imigração japonesa no Brasil,Uma Epopéia Moderna: 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil, São Paulo, Editora Hucitec, Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, 1992, p. 376.

188 MORALES, Leiko Matsubara, “O Ensino de Língua Japonesa nas Escolas Comunitárias no Período Pós-Guerra”, Estudos Japoneses, n.º 31, 2011, pp. 81-98.

Geração Índice de Miscigenação

2.ª 6,03%

3.ª 42%

4.ª 61,62%

A tabela acima mostra a situação de miscigenação de acordo com as diferentes gerações. A taxa de casamentos mistos na segunda geração foi de apenas 6,03%, mas aumentou para 42% na terceira geração e 61,62% na quarta.

Em resumo, depois de aprender as dolorosas lições que os conflitos trouxeram, tanto a comunidade imigrante quanto os próprios imigrantes começaram a se integrar gradualmente na sociedade brasileira de forma positiva. Na comunidade imigrante, eles construíram um novo sistema social com trocas e interações frequentes com a sociedade local, e proporcionaram vários níveis de proteção social aos imigrantes japoneses que nela viviam. Para se integrarem, os imigrantes japoneses passaram a dar importância à educação e ao trabalho em diversos campos, inclusive no campo político.

Além disso, o casamento fora da comunidade também se tornou cada vez mais aceite e comum, e os imigrantes de terceira e quarta geração aceleraram essa tendência. Várias associações foram formadas para ajudar a comunidade japonesa a enraizar-se no Brasil. Desta forma, uma classe média estável de origem japonesa formou-se na sociedade brasileira, dando forma a um grupo com recursos financeiros e educacionais. Ao mesmo tempo que esta classe média garante a estabilidade interna da comunidade imigrante, ela também exerce a sua própria influência na sociedade brasileira, tornando-se uma ponte de comunicação entre ambas. O aparecimento destes imigrantes também representou o fim da situação caótica do pós-guerra, e a comunidade japonesa se integrou verdadeiramente na sociedade brasileira e passou a fazer parte de um Brasil mais vasto.