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3.1 Condições Mínimas Capazes de Proporcionar a Ressocialização

3.1.1 Assistência Material

É direito das presas terem assegurada a assistência material que consiste no fornecimento de alimentação em quantidade suficiente e de qualidade, vestuário e instalações higiênicas. Além disto, cada presa disporá de uma cama individual com as respectivas roupas de cama.

3.1.2 Assistência à Saúde

Da assistência à saúde o atendimento médico, farmacêutico e odontológico, em conformidade com o § 2° do artigo 10 da LEP. “Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento”. Sendo que à mulher será assegurado acompanhamento médico, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido.

3.1.3 Assistência Jurídica

É direito assegurado também pela Constituição Federal, a assistência gratuita àqueles que não tenham condições de arcar com as despesas de advogado, sendo obrigação do Estado garantir a defesa técnica de qualquer réu.

Manoel Pedro Pimentel, (1983, p.188):

“Os três pilares básicos da disciplina em uma penitenciária, tão importante quanto o trabalho e o lazer, são as visitas, a alimentação e a assistência judiciária. Destas três exigências comumente

encarecidas pelos sentenciados, a mais importante, parece-nos, é a assistência judiciária. Nenhum preso se conforma com o fato de estar preso e, mesmo quando conformado esteja, anseia pela liberdade. Por isso a falta de perspectiva de liberdade ou a sufocante

sensação de indefinida duração da pena são motivos de inquietação, de intranqüilidade, que sempre se refletem, de algum modo na disciplina. É importante que o preso sinta ao seu alcance a possibilidade de lançar mão das medidas judiciais capazes de corrigir eventual excesso de pena, ou que possa abreviar os dias de prisão. Para isso, deve o Estado – tendo em vista que a maior parte da população carcerária não dispõe de recursos para contratar advogados – propiciar a defesa dos presos.”

3.1.4 Assistência Educacional

A educação é uma ferramenta facilitadora da reinserção social das presas. Sendo que o ensino de primeiro grau será obrigatório, e o ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. Já para a mulher condenada será oferecido ensino profissional adequado à sua condição.

3.1.5 Assistência Social

De acordo com os incisos do artigo 23 da LEP, a finalidade da assistência social é preparar as então detentas para o retorno à liberdade:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;

II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.

3.1.6 Assistência Religiosa

Preconiza o artigo 24 da LEP, “A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.

Ressalte-se que em consonância com os parágrafos do referido artigo, deverá haver local apropriado para os cultos religiosos e, nenhuma presa ou internada será obrigada a participar de qualquer atividade religiosa.

3.1.7 Assistência ao Egresso

A assistência ao egresso consiste em orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade; na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de dois meses – Art. 25, LEP.

CONCLUSÃO

A prisão reflete uma realidade triste, uma cena comovente de abandono, uma condição de miserabilidade. É evidente que necessitamos punir, a punição é a garantia de uma sociedade equilibrada, na qual os limites que atingem os direitos alheios serão respeitados, ou pela própria consciência de justiça, ou ainda por ter a certeza de que aquele bem jurídico a ser atingido é protegido pelo sistema.

Uma sociedade sem limites seria um holocausto público, não haveria paz social e a convivência seria um campo de batalhas, aonde os mais fortes sobreviveriam, e os mais fracos precisariam ser submissos aos fortes. Não é possível vivermos em uma sociedade totalmente livre, onde cada um haja de acordo com o seu entendimento do que é certo, os limites são positivos, são garantidores, porém, estes limites também precisam respeitar as condições mínimas de dignidade que devem ser garantidas aos transgressores.

O consumo de drogas é uma epidemia mundial, que assola até mesmo as regiões mais pobres, e não é espantoso que o Estado, no seu poder-dever de agir, ao tentar erradicar com este problema que destrói a vida de muitas pessoas e de suas famílias, se utilize do poder mais severo, o direito penal. Dado o princípio da intervenção mínima que assegura a criminalização excepcionalmente de condutas de efetiva gravidade e que atinjam bens fundamentais, é completamente compreensível a aplicação do direito penal aos crimes de drogas, afinal, estamos diante do bem mais precioso, a saúde pública, ou mais abrangente, estamos diante da vida, e na maioria das vezes, diante da vida de crianças e adolescentes, sem preparo emocional que acabam se envolvendo neste mundo escuro da drogadição.

Esta pesquisa não tem por anseio a extinção das punições, o que trazemos aqui é o problema do sistema carcerário, o problema enfrentado por mulheres que erraram, e estão “pagando” por estes erros, da forma mais cara que um ser humano pode pagar, com a sua liberdade, com o seu direito de ir e vir, de estar com quem quer, de abraçar seus filhos, de passar uma noite em sua casa. Em contrapartida, estas mulheres querem os seus direitos garantidos, querem um espaço para se inserirem na sociedade, desejam a mudança, ou ainda, aquelas que não pensam na mudança precisam de um apoio, seja profissionalizante ou psicológico, mas precisam de uma oportunidade, para somente depois de se ter tentado poder dizer que essa mulher não quis a mudança, mas as oportunidades precisam ser dadas.

O discurso do senso comum precisa ser superado, afinal, não é com mais injustiça que vamos ensinar o caminho correto. Não podemos ter entidades com as condições que temos

Ao retratarmos o grande aumento da população carcerária, diante da Lei de Drogas, percebemos que o modelo punitivo não tem garantido os efeitos esperados, os crimes continuam se proliferando, neste contexto, as medidas alternativas são um grande trunfo. No momento em que uma mulher perde a sua liberdade, rompe o vínculo familiar, e passa a ser uma presidiária, muitas coisas aconteceram, o psicológico desta mulher jamais será o mesmo, a revolta que ela estabelece perante o sistema, faz com que queira transgredir ainda mais, faz com que queira sair deste sistema que lhe impõe uma pena tão severa, a de estar longe de toda a sua estrutura, a sua base, a sua prole.

As medidas alternativas imporiam um limite, um sinal amarelo, mas evitariam a medida mais drástica, a perda da liberdade. E aí sim, neste momento as mulheres teriam a consciência de que a sua condição de liberdade estava em cheque. E ao mesmo tempo, em que responderiam pelos seus atos ilícitos, também teriam por parte do sistema um incentivo, um apoio para tomarem outros rumos, estabeleceriam outras perspectivas, buscariam uma condição lícita para perseguirem os seus sonhos.

Pode parecer um ideal utópico, porém é o primeiro tijolo que dá início ao castelo. Não podemos perder a esperança de pessoas boas, precisamos insistir em uma

revolução, primeiramente educacional, para começarmos na base a evitar os problemas. Mas conjuntamente, precisamos remediar aquilo que está presente na sociedade.

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